domingo, 24 de outubro de 2010

O tempo

Faz um bom tempo que não entro aqui. Da última vez havia dito que não cruzaria mais o Atlântico, mas as razões do tempo me fizeram voltar rapidamente para enterrar meu último laço de origem, meu pai. Deitado em uma cama de hospital, cercado pelos filhos e netos, reuni minha familia pela última vez para dar adeus a ele.
Já fazem duas semanas, estou de volta ao meu modesto apartamento em Strassburg, triste sim, mas pela quantidade depessoas que o tempo me fez deixar para trás. O tempo este que me esqueceu por alguns longos anos. Agora cobra o seu tributo de ter me esquecido. Apesar de ter dado vida a vaidade reformando, drenando, esticando algumas partes do meu corpo, começo a pensar que estou realmente envelhecendo depois de tanto tempo esquecido pelo tempo.
De que apesar deter lidado com a morte durante todos estes anos, ela me é uma perfeita estranha, um ocaso esquecido pela memória de alguem que nunca morre.
Alguns dias vou ao Hoggerhein, onde Rembrandt está enterrado, jogo algumas nesperas maduras para os pardais e respiro o mármore secular dos jazigos. Convesrso com Rembrandt e volto ao trabalho.
Sempre quis ter a vida que tenho agora, de profunda paz e meditação. Mas a um custo tão alto quanto o preço de uma alma.
Agora que estou sozinho e literalmente sozinho, abro uma stella artois, olho as margens de lago wuhrt e vejo o quanto ainda tenho a fazer e tão pouco tempo...
Mas sinto que após o tempo ter me redescoberto e levado a minha fonte de origem. É só uma questão de tempo até Rembrandt ter companhia.

Bjs.
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