Em polvorosa ficou o nordeste durante o ultimo sábado desde que um rumoroso boato sobre a extinção do Bolsa Família, o programa federal que superpopularizou o ex-presidente Lula, rendeu-lhe um segundo mandato e de brinde, produziu sua sucessora a presidente Dilma Rousseff.
A falsa informação de que o programa Bolsa Família seria extinto causou correria, confusão e tumulto em muitos estados do Nordeste. O boato levou centenas beneficiários a tentar sacar o dinheiro em casas lotéricas e terminais de autoatendimento da Caixa Econômica Federal.
No Maranhão a boataria e o desespero começaram após um atraso no cronograma de pagamento do benefício e como a correria aos bancos foi além do normal, muitos terminais ficaram sem dinheiro e foram depredados. Também houve tumultos na Bahia, Alagoas e Piauí.
Segundo a nota do MDS (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome), "não há qualquer veracidade nos boatos relativos à suspensão ou interrupção dos pagamentos do Programa Bolsa Família e não há qualquer possibilidade de alteração nas regras do Programa”.
Mas o que mais intriga é a dualidade da dependência que as camadas mais humildes da sociedade têm para com o programa. Já que de um lado foi responsável pela diminuição do índice de miseráveis no Brasil, rendendo para Lula, votos e um crescimento desproporcional das glândulas lacrimais toda vez que esboçava emoção ao falar dos tais resultados alcançados.
Mas o outro lado da moeda também é intrigante quiçá trágico; pois ao visitar algumas localidades onde existe um grande número de beneficiários do milagroso benefício, vê-se também que ele trouxe um efeito colateral antagônico a miséria: O ócio.
Dez horas da manhã de uma terça feira em uma comunidade ribeirinha. Famílias sentadas na varanda das casas, a jogar dominó e bebericar café, enquanto o patriarca embala-se em uma rede. Quadro que seria comum num domingo. Mas ao olhar para os fundo do domicílio vê-se a casa de farinha com o tacho frio, a horta com algumas ervas daninhas e nenhuma galinha a ciscar no terreiro.
Em uma incursão curiosa ao perguntar a um dos frenéticos batedores de dominó se há farinha de mandioca para vender, a resposta me vem taxativa: “Não fizemos farinha não moço, agora a gente compra na venda com a bolsa família!”.
E por aí vai o rol das atividades das famílias que tinham algum complemento na agricultura familiar, esvaindo-se na escora do programa que ao invés de ensinar a pescar, dá o peixe já embrulhado. Onde nenhuma exigência é cobrada para que se mantenha o clima de paz e tranquilidade. Mas não sou leviano de generalizar todas as famílias e coloca-las no mesmo conjunto universo. Mas vale lembrar que se formos atualizar os números dos miseráveis considerando a inflação, surgem como que por magica 22 milhões de novos miseráveis com ou sem bolsa.
Mas o que é preocupante é que não são apenas casos isolados e sim cada vez mais comuns. Que viaja muito pelas estradas Brasil adentro deve lembrar-se do farto comercio de beira de estrada onde os produtores rurais comercializavam seus produtos com os veículos que passavam. Hoje não, apenas os esqueletos das barracas permanecem na beira da pista.
Talvez isso explique o porquê da correria aos terminais da Caixa Econômica ao mínimo sinal de que as bolsas seriam extintas. O desespero talvez, não seja o de perder a bolsa, mas em si o que ela tem proporcionado à maioria dos beneficiários: Um estímulo não só ao ócio, mas a criação de uma dependência econômica familiar que se arraiga cada vez mais e que com o tempo se torne secular e nunca mais possa ser extirpada dos costumes da classe mais pobre, que pensou receber um tesouro e no fim de tudo recebeu apenas um incentivo para estender o gozo do fim de semana para uma vida inteira.