terça-feira, 27 de novembro de 2012

O conto do pato


16 de julho de 1950, duas da tarde. Maracanã lotado. A população brasileira aguardava tensa os minutos finais; 120 milhões de corações sincronizados em uma só batida e quase 200 mil pessoas em vias de surto esperavam para dar o brado de campeão mundial. Ghiggia frustrou o sonho dos brasileiros naquela tarde ao dar o segundo título para o Uruguai pelo gol de desempate; calando uma nação inteira, o que criou a mais decepcionante história da crônica esportiva brasileira.”

Atualmente 12 cidades-sede se preparam com seus monumentais estádios: a Arena do Corinthians em São Paulo, a Arena Fonte Nova na capital baiana, o ambicioso estádio das Dunas em Natal, o velho Beira Rio em Porto Alegre, seguido pela relíquia de 1950: o Maracanã no Rio de Janeiro, o Castelão em Fortaleza, a Arena Pernambuco em Recife, a Arena da Amazônia em Manaus, o Mané Garrincha em Brasília, O Pantanal de Cuiabá, a Arena da Baixada em Curitiba e o Mineirão em BH.

Cidades “criteriosamente” escolhidas para representar o melhor do Brasil, sem deixar de contemplar todas as regiões do continente brasileiro. O fomento que este evento deve trazer à economia soa muito como uma releitura da fábula de Ésopo, sendo que a galinha dos ovos de ouro acabou sendo na versão brasileira, substituída por uma pata.

Com a falácia desenvolvimentista, ao avaliarmos o mundial da África do Sul com o do Brasil. E as ultimas copas, que por foram realizadas em países de grande renda per capta e infraestrutura mais abundante. Veremos que os eventos da FIFA por lá não foram alardeados como um divisor de águas dos diversos setores da sociedade, como agora se vende no Brasil esta quixotesca propaganda para justificar os custos.

Na África do Sul as coisas não mudaram após o evento. O desenvolvimento deixado, senão pelas obras dos estádios, são de longe os da terra prometida de onde jorrariam leite e mel do meio de campo à grande área. Fazendo jus ao trocadilho: a FIFA dá, a FIFA leva. Sendo assim a Copa do mundo também não alterou a rotina dos países ricos que a sediaram.

Somos um país que ainda pode sonhar com uma Copa do Mundo, mas quando temos que abrir brechas na lei, como a gratuidade e meia entrada que são direitos adquiridos, só para satisfazer Blatter e a FIFA, ficamos a mercê do que o pão e circo ainda são capazes de fazer. Enquanto temos tantos problemas internos com a corrupção, a falta de saúde pública decente, educação eficiente. É meio prematuro se festejar a Copa do Mundo.

As obras em aeroportos, principal gargalo do sistema projetado para 2014, devem acontecer, mas com o velho jeitinho brasileiro de sempre. Desenvolvimento econômico nos setores-chave; como portos, indústria, exportação e agricultura não vão sofrer nenhum impacto com a passagem da Copa do Mundo, e nem devem, afinal ela só fomenta imagem, direitos de mídia, propaganda e o turismo, e uns caraminguás para o comercio local de Fulecos.

A Copa brasileira com 2 bilhões de orçamento estourado apenas no primeiro ano das obras, pode quem sabe até se equiparar a Tucuruí; represa construída pelo consórcio Camargo Correa, que durante sua construção teve aditivos de quase 10 bilhões a mais que o previsto. E muita gente lucrou com isso, incluindo a própria Camargo que dobrou seu capital acionário de 500 milhões para 1 bilhão, durante as obras.

A Copa do mundo é nossa! Isso é uma certeza, pelo menos geográfica. Se o título virá, não sei. Mas a pata dos ovos de ouro deve multiplicar o capital ativo das empreiteiras envolvidas nas obras dos estádios e de infraestrutura, com certeza vai precisar de um companheiro para reprodução. Os patos investidores: Como sempre: nós, os contribuintes...

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