Nos folguedos de fim de ano as pessoas não
conseguem mensurar as consequências do abuso do álcool e os estragos causados
por esta irresponsabilidade na vida do alheio. Durante a virada do ano, como
qualquer morador de Macapá, fui até a orla receber o ano novo as margens do rio
Amazonas. Claro que não fiquei até o sol raiar, pois as pernas já não permitem
mais essa empreitada.
Mas ao
passar lá pela orla pela manhã a ver tantos notívagos que amanheceram, nos leva
apensar que talvez não se dimensione o grande vilão não só dessa noite em
particular, mas de todas as outras noites e dias não seja o comerciante,
vendeiro ou barman que abre a tampa da garrafa que embebeda a quem se dispuser
a uns tragos transloucados. Afinal a mensagem explícita nos canais de propaganda
é de quem bebe, vive cercado de belas louras e morenas, todas bem torneadas e
com a malhação em dia.
Que por lá
pelo reino das espumas embriagantes ao perfume do lúpulo, vivemos em praias
paradisíacas, quase como a fonte da juventude, já que não aparecem as imagens
já tarimbadas do “velho cachaceiro” da esquina, cuja rua tem sempre o seu
exemplar nesta peças publicitárias.
Claro que
estes comerciais não exploram as alucinantes imagens veiculadas naqueles
programas policiais que aparecem lá pelo meio dia ou nas ave marias. Nem pensar
em expor num desses comerciais etílicos, além daquele corridinho murmúrio;
“beba com moderação”. As ressacas e sessões de vômitos, ou muito menos aquela
dor de cabeça característica de quem tomou cerveja pouco maturada e com excesso
de diacetil na dose.
Isso sem
falar nos pegas, rachas e dribles nas blitz da Lei Seca, coisas dignas do
finado Paul Walker, que, diga-se de passagem, foi pro andar de cima em função
de acidente de trânsito, não se sabe se sob efeito de álcool ou não, mas, para
exemplo dos pés de cana isso pouco importa, o que interessa é meter o pé de
cana no acelerador.
Também a
gente não vê nessas peças inspiradas de bebidas alcoólicas exibidas em horário
nobre (de preferência no futebol de quarta feira!). O número de famílias
arrasadas pelos problemas de alcoolismo de pais, filhos e até a velha vovó que
devia estar na cadeira de balanço ao manejo de agulhas de tricô, mas que em
alguns casos caiu nas frestas do balcão do bar. Isso sem falar nos menores de
idade que voltaram para casa (os que tiveram sorte!) trocando as pernas ou nos
pais de família de sentaram a mão nas patroas que perderam as estribeiras e as
esperanças de livra-los do reino do álcool.
Não se vê
nestes comerciais os capotamentos, atropelamentos e até as inúmeras arvores e
postes que tombaram sob a égide dos abusadores do álcool. Ou até mesmo os
revoltantes casos em que responsáveis pelos inúmeros acidentes com vítimas
fatais que perderam o direito oficial de dirigir, mas que não dão a mínima para
isso e continuam atrás do volante.
Então de que adianta termos um código rígido de
regulamentação do trânsito, blitz da Lei Seca, campanhas da PRF, campanhas do
Detran. Se no frigir dos ovos o álcool continua tendo uma campanha publicitária
mais atrativa do que a das campanhas de segurança no trânsito? Será que se terá
que apelar para campanhas com mulheres seminuas e jovens alegres e sarados na
praia para tentar conseguir a atenção dos irresponsáveis que assumem a direção
de um veículo sob efeito do álcool? Não, isso também não adiantaria, com
certeza os bêbados não conseguiriam captar a mensagem de maneira adequada...