sábado, 3 de setembro de 2011

O Mestre dos Magos

A bela Paris no primeiro quarto do século XX passou maus bocados. A crise foi tanta que até mesmo o maior patrimônio da Cidade Luz entrou em estado de penúria, a torre Eiffel começou a oxidar e a prefeitura não tinha dinheiro nem para as despesas essenciais, imaginem desoxidar 325 metros de aço.

O austro-húngaro Victor Lustig, homem que falava diversos idiomas e se orgulhava de seu refinamento e cultura, conseguiu dar o grande golpe da sua vida vendendo a Torre a um industrial incauto, que acreditou que a Torre seria leiloada como sucata. Lustig era reconhecido não apenas por sua audácia, mas, sobretudo pelo seu conhecimento de psicologia humana; podia avaliar uma pessoa em minutos, descobrindo seus pontos fracos, e tinha um verdadeiro radar para detectar otários.

Aproveitando que a prefeitura de Paris estava em dificuldades financeiras (ainda sob reflexo do período pós-guerra) que a impedia inclusive de dar a devida manutenção ao monumento oxidado, Lustig se instalou na suíte mais elegante do Hotel de Crillon, em frente à Place de la Concorde, com uma ótima vista da Torre para sua futura vítima. Com a ajuda de um falsificador conseguiu várias folhas em branco, envelopes e selos com o timbre da prefeitura e convocou por escrito os cinco mais importantes negociantes de sucata do país, para lhes propor um grande negócio que exigia o máximo de discrição.

Os cinco interessados foram ao encontro de Lustig que, em meio a canapés e taças de champanhe, lhes revelou que havia sido destacado pelas autoridades municipais para vender a Torre Eiffel à melhor proposta. Enquanto explicava as dificuldades financeiras que obrigavam a prefeitura a se desfazer do monumento, observava seus interlocutores para saber qual deles era o mais ambicioso e ingênuo. Segundo Lustig, a prefeitura Após 48 horas recebeu cinco envelopes fechados com propostas de compra.

Independente do valor, só se interessou por aquele que achava que cairia mais facilmente na mentira. Convocou-o no dia seguinte para lhe comunicar que sua proposta era a que tinha sido aceita. Ao perceber a desconfiança do industrial, Lustig teve outra idéia brilhante: "Mas você sabe que nestes casos costuma-se fazer chegar discretamente ao senhor prefeito certa quantia em dinheiro vivo, para agradecer o apoio", disse Lustig, ao que o novo dono da Torre aceitou imediatamente. Claro que o fato de pedir uma propina por fora não deixava dúvidas de que o negócio era sério.

No dia seguinte o feliz comprador chegou a ver Lustig com uma pasta cheia de cédulas, e acertou voltar à tarde para assinar a transferência oficial. Porém, foi surpreendido com a notícia de que Lustig tinha feito as malas, pago a conta e deixado o hotel com destino desconhecido. Para não passar publicamente por otário, o comerciante sequer prestou queixa contra Lustig. E a Torre Eiffel segue sendo um monumento de propriedade da prefeitura de Paris.

O Amapá não é Paris, apesar de estar fronteiriço a um dos departamentos da França. Mas com certeza tem seu Lustig. O feliz proprietário da Tocantins Mineração Ltda.

O cidadão é quase um poltergeist na arte de se fazer ausente em qualquer situação cabulosa que envolva seu nome Jorge Augusto Carvalho de Oliveira. Foge da justiça do Trabalho como o canhoto da cruz.

Consegue enfiar na Papuda, gente graúda do poderio local como o ex-governador Waldez Góes & clã. E mesmo assim continuar no cenário local sem nenhum arranhão. Sinceramente acho que esse sujeito deve estar quase empareando com Mister M para um quadro no Fantástico. Afinal as peripécias mágicas que ele faz, são dinas de tais aplausos e ovações.

Nosso Victor Lustig comprou a ICOMI por R$ 1,00 (primeira mágica), trocou o nome de sua empresa para conseguir adaptações quanto a pagamento de royalties (segunda mágica, talvez um aperitivo) e finalmente: Montou um escritório digno de Muda Hassanal Bolkiak - Sultão de Brunei), lá em copacabana, ocupando um andar inteiro do predio. (Grand finale)

Reuniu-se com várias potenciais empresas compradoras do minério que está estocado no Amapá. Fechou negócios, ganhou dinheiro a rodo. E não satisfeito, resolveu também ressuscitar os mortos; já que a ICOMI é falecida e extinta segundo os registros públicos.

Mesmo assim se você chegar a Serra do Navio vai deparar-se com placas e mais placas (novas) delimitando o terreno e identificando-o como sendo da falecida mineradora de Augusto Antunes e o Generalato da ditadura. Enfim o cara é bom mesmo. E com certeza deve ter lido a história de austro-húngaro Lustig, por que fez o dever de casa com riqueza de detalhes.

O Amapá, assim como o cliente lesado de Lustig, também fez a lição de casa; nem se quer deu queixa e muito menos se deu ao trabalho de reclamar publicamente. Talvez pelo mesmo motivo: Para não passar publicamente por otário, quem sabe...


*** Contribuição - Diário do Pará

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O livro da cara

Enfim o mundo interage de maneira mais dinâmica e ao mesmo tempo impessoal, onde cada um diz o que quer e para quem quer, sem mesuras nem limites.

As pessoas informam seus passos como no "Meu querido diário", se fazem as unhas, se comem lancham ou se entram na porta da boate.

Trincheiras se desmancham ao som de diálogos as vezes ininteligíveis ou até mesmo acalorados papos de alta linhas sobre as mais variadas comendas.

Fotos, beijos, politicagem, propaganda de festas, shows, boates e restaurantes. Um universo miscigeno de tudo que você puder imaginar e como puder imaginar.

Parabéns, se você conseguiu se localizar no longo e avassalador universo do famigerado Facebook, então ganhe um doce. Ele existe e tem conquistado cada vez mais simpatizantes, levando a invenção do turco para o museu dos sites de relacionamento.

Milhares de pessoas aderiram a este monte de bits e bytes na opção de se isolarem cada vez mais do mundo e do contato real, do velho corpo a corpo, na intenção de amealhar o maior número de vínculos como numa gincana, mais ainda bem que são chamados de amigos e não de seguidores como acontece em um sistema semelhante, o Twitter.

Seguidores me lembra muito a rotina de uma seita ou algo parecido, onde o guru sempre induz seus criados a alguma pratica retórica cabulosa e sem sentido, bem mormoriana.

Mas desavenças a parte, fico feliz e ver pessoas do passado retornando ao futuro e falando de seus futuros, alguns com uma cumplicidade e veemência onde só se caberia ao pé do ouvido, e hoje cabe para o mundo inteiro tomar conhecimento e posse.

A violência nas ruas talvez seja a grande culpada desse comportamento neófito que se propaga. Hoje vejo as coisas mais as claras e depois de 20 anos educando os filhos dos outros, afastando-os da burrice, das drogas, do desencaminho e até mesmo servindo de "Pai escora" para os que se sentiam desamparados de orientação, não é possível que hoje eu não possa me dar o direito de puxar algumas orelhas...

Ou de Dizer: Vai lá fora garoto ver o mundo!

Um importante fato que nunca conseguimos lembrar é justamente o mais importante que omitimos de nós mesmos. Nossa integridade e bem estar, que na maioria das vezes esquecemos em prol de tantas coisas desta vida maluca.

Minha única fé no facebook é o grande surgimento de poetas e filósofos prosperando como larvas no esterco, é quase como se a grande Grécia tivesse retornado. Mas não sou tão otimista assim, pois a Grécia nos deu Platão e Sócrates. Mas também trouxe Onassis e azeite de oliva de má qualidade.

*** Contribuição - Diário do Pará

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Enfim a barriga!

Barriga é um sinônimo bem estruturado para situações em que a rotina se avizinha e indicia que as coisas tomam um ar de "vai ser sempre assim".

Que autor de novela não teme a famosa fase da barriga, em que a novela chega a um estágio em que a mesmice e a encheção de linguiça, fazem com que a audiência caia durante esta fase que antecede a conclusão do folhetim.

A barriga também chega aos homens e mulheres e não vem só encaminhada pelos chopes a mais ou muita cerveja não queimada caloricamente. Os tira-gostos eufóricos, as linguicinhas e petiscadas, as frituras mareadas de saturação explícita e uma arteriosclerose ou os candidatando parrudinhos a um stent futuro nas coronarianas e imputes safenares.

A barriga também cresce na gravidez, traz consigo a esperança de uma nova vida mas contém efeitos colaterais que só uma mulher pode descrever. Ao parir e pairar ao mundo um pequeno humanóide meio enrugado mas por fim também com a protuberância saliente ao pé do abdome.

Serpentes também assumem sua grande pança ao engolir suas capivaras e jacarés ou meramente um roedor menor; depende muito da serpente e da boca, que lhe trará assim uma barriga proporcional a boca voraz do engolidor.

Enfim chegamos a tão mal falada barriga, que embarriga muitos e desfaz-se a poucos, afinal o mundo sem barriga não existe; se ela é benéfica de alguma forma, não posso afirmar, já a tive já a perdi, já tenho saudades dela. Fisicamente acho que podemos encaixá-la na anatomia humana como cabeça, tronco, barriga e membros, nem sei se ela se encaixa como adeno do abdome ou se já é um membro independente.

Mas a barriga que mais deve incomodar a todos deve ser não a protuberante aquisição abdominal, particularmente até acho alguma bonitas e sexys, afinal elas personificam algumas pessoas e as fazem características; imaginem o Jô Soares sem a barriga? Ou como o Fausto Silva ficou com uma cara de doente terminal após perder sua terminação adiposa. Ou até os anjinhos barrocos dos diversos altares, sem a roliça porção que os deixa menos severos na sua divindade.

Barrigas a parte, uma relação entre duas pessoas é um exemplo em que a barriga nunca deve se criar. Com ela vem o sinônimo de uma rotina que enfim é a gazua do relacionamento sepulto. Nunca a queira, seja sempre calórico e sarado em uma relação a dois, ainda mais quando dividirem o mesmo teto. Aí as chances de a pança crescer são enormes.

Acompanhe a linha do dia entre você e seu cônjuge, se ela começar com algo que se repete diariamente como o por do sol e terminar religiosamente com um beijinho de boa noite com cara de sessão da tarde antecedido por vale a pena ver de novo. Tenha calma! Você padece de uma grande protuberância, daquelas que se assemelham a do Dino da Família Dinossauros.

Mas calma, com toda a barriga, mesmo as que são partes integrantes das pessoas, tem chance de sumir. Dá trabalho, queima-se muita energia, esforça-se muito, passa-se aperto e fome, fica-se com os músculos doloridos e a vontade de desistir é grande. Mas o esforço vale à pena.

Mas como nem todo mundo tem uma grande força de vontade, acabam sendo vencidos pela barriga e sendo dominados e enfim silenciados por ela. Mas diferente da barriga física que requer um grande esforço ou até sacrifício de dor (se você optar por uma bariátrica) a barriga relacional não tem seu plano "B": Faça o que não se pode fazer com sua barriga física, se caiu na rotina, malhe, malhe, malhe. Mas da emocional, não desista esta não se pode trocar...

*** Contribuição - Troppo

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Queima de Arquivo

Chapeuzinho Vermelho era uma menina que um dia resolveu levar para avó, que morava no interior da mata, broas que sua mãe fez. Só que ela não sabia que a avó era alérgica a broas, então, um grande Lobo amigo da vovó, que não queria magoar a garota, se vestiu de vovó enquanto a verdadeira se trancou no guarda-roupa. O Lobo comeu as broas e Chapeuzinho Vermelho, sem desconfiar de nada, ficou feliz por ter levado os pães para a avó e todos foram felizes para sempre. A clássica história da Chapeuzinho Vermelho que ouvimos quando pequenos não aconteceu bem assim, não é mesmo? Se depender do Ministério da Educação, as próximas gerações ouvirão da mesma forma ‘diferente’ a história do país. A História do Brasil, segundo uma denúncia feita pelo jornal Folha de S. Paulo, edição do dia primeiro de maio, nos traz uma matéria cujo título é “Livros aprovados pelo MEC criticam FHC e elogiam Lula”. Lá, a reportagem aponta que o MEC (Ministério da Educação) aprovou livros de História para o ensino fundamental com os fatos distorcidos. A redação cita trechos e nomes dos livros aprovados que dão a veracidade ao título da matéria, indo contra ao compromisso do órgão ‘responsável’ (MEC) de que o conteúdo não deve conter doutrinação política.

Que quem conta um conto aumenta (ou omite) um ponto, não é novidade nenhuma, mas quando isso abrange a esfera educacional a coisa fica mais séria. A educação é o bem mais valioso de uma nação porque passa a fazer parte de uma referência cultural, tendo uma importância ideológica forte. Como educador não posso aceitar a relevância da história de uma sociedade diz respeito de sua relação com o mundo através da escrita, memória, tempo e trajetória e é ponto fundamental na construção de uma nação e seus valores, alterá-los é um crime intelectual que impacta na cultura e na formação dos jovens, ou seja, no futuro de um povo. O aprendizado do regime soviético e também dos nazistas (para citar os mais explícitos) mostra muito bem ao mundo como a informação pode manipular, e desses casos a história está recheada. Ao observamos a história da própria História podemos ver que ela sempre sofreu do mal de Alzheimer, que se esquece e modifica fatos desde a ditadura militar, ou então fatos como a segunda guerra mundial e outros tantos como os que transformam o exemplo de hoje similar ao que a ex-URSS fazia com a educação.

O co-fundador do Partido Comunista Italiano, Antonio Gramsci (referência do pensamento de esquerda no século 20 e quem desenvolveu o conceito de cidadania que vivemos hoje), acreditava que a escola era a principal entidade de transformação social. Para ele a verdadeira revolução só poderia ser feita pela educação e não pelas armas, guerra ou milícia. É através da infiltração gradual de conceitos na cultura, o que abrange escolas, igrejas, imprensa, universidades, e meios de interação social, que se pode transformar ideologicamente uma nação. Estratégia essa parece estar sendo adotada pelo governo brasileiro que está agindo de forma totalitária na formação dos cidadãos. Os novos livros de história deturpam os fatos favorecendo o PT, atualmente no poder, e desmerecendo outros governos anteriores à gestão do país.

Algumas dessas diversas releituras vistas no livro “História e Vida Integrada”, por exemplo, apontam o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) enumerando apenas os pontos negativos como, como crise cambial e apagão, e traz críticas às privatizações. O fim da gestão FHC aparece no tópico “Um projeto não concluído”, que lista dados negativos do governo. Por fim, diz que “um aspecto pode ser levantado como positivo”, citando melhorias na educação e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Ao falar do Lula o livro cita a grande “festa popular” da posse e diz ele “inovou no estilo de governar” ao criar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. O escândalo do mensalão é citado ao lado de uma série de dados positivos, tendenciosamente colocado. O professor Claudino Piletti, co-autor do livro “História e Vida Integrada”, da editora Ática, concorda que sua obra é mais favorável ao governo Lula. “Não tem o que contestar”, afirmou.

A questão de longe é política, não devemos confundir o sentido partidário da informação com uma questão tão rasa. O assunto abrange a esfera filosófica por envolver a formação de um cidadão. Política e filosofia sempre se encontraram, mas não se bicam tanto, Platão que o diga. O mais interessante é que o episódio dos nossos atuais livros de história escritos à moda soviética, fazendo nossos jovens engolirem propaganda política ao invés de conhecimento, suscita uma obra clássica de ficção escrita em 1949. George Orwell escreveu um livro chamado 1984, que retratava uma visão futurista do mundo. Seu romance anti-utópico retrata a vida de Winston Smith, que trabalha no Ministério da Verdade e tem a função de reescrever e alterar dados históricos de acordo com interesses políticos. A arte imita a vida, e a vida ainda surpreende a arte.

A política sabe que a educação é alicerce de um povo, mantê-la precária é sustentar-se no poder. “Os males não cessarão para os homens, antes que a raça dos puros e autênticos filósofos chegue ao poder”, são as palavras de Platão na Carta VII de A República. Este tipo de atentado intelectual transforma o que vivemos hoje, a Idade Mídia (Século XXI), em Idade Média (século XIII), trazendo de volta a inquisição, colocando na fogueira a verdadeira história do Brasil.

O que não podemos admitir é que se reescrevam a história que vivemos do jeito diferente do que vimos que despreze; nós que somos testemunhas vivas da história do Brasil. Não podemos aceitar que se banalize ainda mais a educação que sofre ainda com termos advindos da ditadura militar, onde temos “disciplina” como nome das matérias de ensino, “grade” como conjunto das mesmas e que os alunos precisam dar uma “prova” de que são capazes. Precisamos aguardar e ver o que a Procuradoria-Geral da República irá dizer sobre o fato. A retirada dos livros de circulação e tipificação dos crimes aos responsáveis são de máxima urgência, se ainda há moral e compromisso com a ética no Ministério da Educação, o caso deve ser visto com prioridade para que a verdade seja o centro da formação do futuro do Brasil.

Só falta agora os livros suprimirem Janari, Barcelos e Capiberibe (pai) dos rotineiros da ocupação do Setentrião, só pelo simples fato de não terem agradado a todos, quer seja por indicação durante a ditadura ou por simplesmente terem em algum momento esquecido de que governavam para o povo.


*** Contribuição - A CRÍTICA

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Deixe eu falar filho da...



Quem tem boca fala o que quer. É o que dizem as más (ou boas) línguas, mas na prática as coisas estão acontecendo de forma problemática. As crescentes discussões que se têm visto no cotidiano em relação às diferenças nos mostram que se expressar todos querem, mas respeitar, nem sempre. 

A vontade própria acaba passando por cima das outras e com isso alguns limites se rompem. Aquela velha história que a professora fala para as crianças em sala de aula que “sua liberdade acaba onde a do coleguinha começa” é uma verdade imutável, mas quem define essa tênue linha entre a liberdade e a ofensa? 

Este é um velho problema de nossa civilização e um antigo companheiro da sociedade. Nos anos 60, por exemplo, os universitários americanos adotaram os direitos humanos como ideologia apostando numa mudança de mentalidade das pessoas para reconhecer a igualdade em mulheres, negros e gays. Com isso o “politicamente correto” começou a doutrinar o verbo orientando a mudança de alguns termos como “negro” ao invés “preto”, “homossexual” ao invés de “bicha” e mais tarde se estendendo para outros como “deficiente físico” por “portador de necessidades especiais”, “gordo” por “sobrepeso” e diversos jargões que soem ofensivos e preconceituosos.

Apesar do termo “politicamente correto” ter surgido com Mao Tsé-tung nos anos 60 e referir-se a uma rígida conduta com a linha ortodoxa do Partido Comunista, hoje o termo é empregado como um manual de sociabilidade, se é que isso existe. Porém o fato é que o politicamente correto tem suas contradições e ela implica a própria liberdade de expressão. Se por um lado temos como preceito que somos livres para expressar opiniões, por outro o politicamente correto diz que nem tudo deve ser dito.

Dizer “sai da frente” ou “com licença” pode ter o mesmo efeito, porém são nitidamente diferentes. É exatamente isso que Charles Sanders Peirce, filósofo, matemático, físico e astrônomo que fundamentou a lingüística, quis dizer com a tríade da semiose que segue um modelo aristotélico. “Um signo (linguagem), seu objeto (escrita e a fala) e sua interpretação (entendimento)” compõe a estrutura da linguagem que Bertrand Russell complementa mais tarde como algo que tem existência própria, independente do sujeito ou de sua experiência, linha bastante parecida com uma das sumidades da lingüística, Ferdinand de Saussure.

Liberdade de expressão é um direito que está na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, na Declaração Universal dos Direitos do Homem e, claro, em nossa constituição. A liberdade de expressão é ligada diretamente ao conceito de democracia e a partir dele se tornou universal para todos os habitantes da terra. Os dois maiores exemplos de liberdade de expressão têm figuras mundialmente conhecidas. A primeira que vou citar é Sócrates, este ilustre pensador marcou o pensamento filosófico e norteia valores de hoje, isso no ano de 399 a. C. A liberdade de expressão de Sócrates custou caro para ele, que por defender sua palavra foi condenado à morte, tomando cicuta acusado de perverter a juventude e inculcar novos deuses. A morte de Sócrates nos mostra como exemplo de alguém que lutou pelo direito de defender seus pensamentos. A história de Jesus Cristo não é diferente, também morreu por defender seus ideais.

A liberdade é, sem dúvidas, uma das maiores conquistas do ser humano, e a modernidade deturpa seu sentido com a idéia de que a liberdade é poder fazer tudo. Mas isso não é liberdade, isso é, na verdade, egoísmo. E para confundir ainda mais o conceito, acredita-se que o limite é a negação da liberdade e, muito pelo contrário, não é isso. Hegel defende esta visão de maneira exemplar afirmando que delimitar é a maneira em que podemos gozar dessa liberdade com maior plenitude. Essa chave de compreensão abordada na obra “Princípios da Filosofia do Direito” nos mostra que a tese hegeliana sustenta que a liberdade é “querer o que se faz e não fazer o que se quer.”

O que pode ser complicado de assimilar é o respeito ao próximo. Digo isso porque instintivamente o ser humano tem a missão de estar acima do seu semelhante. Na verdade, semelhantes é sinônimo de concorrentes. O mundo dos Homens é uma eterna disputa, desde quem tem as roupas mais caras, o carro do ano, o sapato da última coleção, os amigos mais bacanas, o melhor lugar da fila, mais seguidores no Twitter, o smartphone da vez, o iPad 3.200 e por aí vai. A cultura fica infectada com um comportamento que não favorece nem a liberdade e nem o respeito, promove uma competitividade insalubre. Enquanto isso, notícias como gente que incendiou um índio porque “acharam” que ele fosse um mendigo, ou então o espancamento de numa empregada doméstica porque “acharam” que ela fosse uma prostituta e ainda a agressão que arrancou a orelha de um pai que abraçava seu filho porque “acharam” que os dois fossem gays continuam aparecendo nas manchetes, evidenciando a imaturidade intelectual que acontece como uma peste em nossa geração. O que é mais curioso é que essas barbáries aconteceram porque “acharam”, como se o fato deles “serem” justificasse tais atos, no mínimo, pré-históricos.

É de chocar-se com notícias dos recentes conflitos em Londres e também o absurdo da parada hétero que virou chacota para o resto do mundo e envergonha pelo ideal pequeno e mesquinho de uma luta por ‘igualdade’ infantil como criança mimada. Aliás, diga-se de passagem, eu nunca vi espancarem uma pessoa na rua por desconfiarem que ela seja heterossexual. O que eu quero é acreditar na visão de Cazuza de que o Brasil vai ensinar o mundo.

O interessante é que isso me lembra a visão de Huxley que se encaixa perfeitamente nesta questão. No livro Os Demônios de Loudun ele diz que em todos os níveis do ser humano, seja físico, psíquico e até moral, toda a tendência gera, automaticamente, a sua oposta. Quando executamos qualquer movimento, um grupo de músculos se estimula e os opostos ficam inibidos. Para a consciência a coisa funciona da mesma forma, cada “sim” tem uma força que evoca seu correspondente “não”, dessa forma somos tentados, ou pelo menos lembrados, que há um caminho subversivo.

Antes de perguntar se fulano é homossexual, ciclano é negro, beltrano é pagodeiro, pense que antes de tudo isso eles são seres humanos. Então, deixe eu falar filho da PUTA, desde que a puta não seja a sua mãe, e se ela for também eu não tenho nada que interferir na liberdade de escolha dela, se eu concordo ou não com a conduta dela este é um problema meu, mas devo-lhe respeito. A diferença entre o absurdo e a lógica está em aceitá-lo, somente isso. Liberdade tem ligações com responsabilidades que por sua vez é intrínseca com a reflexão. Acreditar que alguém é mais ou menos que você por raça, sexualidade, religião ou qualquer coisa do tipo nada mais é que uma instabilidade própria da auto-afirmação, e como um professor de uma amiga me disse “o preconceito não é racional, pois é sempre baseado em alguma avaliação emocional”, ou seja, pura insegurança.

*** contribuição - FOLHA PRESS

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Fênix, Il nome suo nessun saprá!...

A caminhada após mais de um ano se aproxima da tranquilidade. Imensamente não contemplo mais grandes ambições mortais, não que tenha me tornado imortal ou por que tenha desejos de morte ou sei lá o que passa na cabeça mundana do mundo e a na minha. Apesar de saber que sou mundano.

Passei um bom tempo sem postar, pois as ocupações de um mundo dinâmico sempre me retiram a atenção, e isso me tira de qualquer outra forma de lampejo ocupacional, apenas me concentro, vivo e faço acontecer.

Minha última aventura foi no mínimo mais humana do que os frios números pelos quais fui finalmente derrotado. Aprendi que não se deve mudar a natureza humana dos fatos e não se deve tentar resolver todos os problemas do mundo antes que os nossos estejam resolvidos. Mas no fundo me confesso um grande apaixonado pela vida. Embora os seres humanos continuem frívolos e temerosos de que seu mundinho seja modificado pelas mãos de alguém que tem uma estrela mais ofuscante.

Salvo em alguns casos, quando deveria ter sepultado velhos esqueletos que ainda vagam insones pelo mundo e de vez enquando me assombram o sono, tudo tem estado mais tranquilo. Tentar modificar as coisas nas vidas dos outros é uma tarefa meio divina demais para este mero caminhante que vos escreve, mas no fundo, quando fazemos isso e vislumbramos o poder que isso nos faz ter ao mudar uma vida, ao mudar um toque, ao trazer uma alma para o caminho, se é o certo não sei, mas acho que seja.

Ainda ontem o amor de minha vida me disse ao pé do ouvido durante a missa: "Se eu resolvesse seguir o caminho de Deus e para isso tivesse que abrir mão de você, o que voce faria?"

Respondi da maneira mais sensata e menos egoista possível: "Eu aceitaria com a maior honra da minha vida que voce seguisse a Deus pelo seu coração, da forma com Ele te chamar."

Hoje não vomito pragas nem queimo carros nem despejo ANFO em tanques de combustível. Não mais me sinto preparado para levar ao ares o que não me agrada, nem que seja em pensamento de ações vingativas. Afinal, quando se tem um objetivo, as outras coisas circundantes, como a vaidade humana por exemplo, não tem nenhum efeito sobre nada.

Hoje só tenho um grande pesar; o de saber que a vaidade que um dia tive e o apego monumental a uma vida obsequiosa e opulenta, me fazia ser igual a gente que hoje desprezo pela pequinês de seus atos e a diminuta capacidade de ver que as coisas não são só aqui.

É um grande sacrificio, abrir mão do que se ama em prol da felicidade do outro lado. Enfim acho que minha longa jornada está quase chegando ao seu objetivo, não diria ao fim, pois o fim só vem com a morte e isso nem chega a ser o fim mesmo. Mas quando se chega ao patamar em que todas as coisas da vida perdem a grande importância perante o Hoje, o Agora e o Sempre; sinto-me cada vez mais próximo de um passo evolucionário de corpo e de mente, quase como se uma grande chama me fizesse arder em brasas e enfim me decompusesse em cinzas, para só agora então...

As penas vermelhas e douradas de uma fênix de bico negro, emergissem de um monte de pó emaranhado do que um dia fui: Um grande monte de cinzas.

*** contribuição - FOLHA PRESS

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