quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Uma lição perdida no tempo


O setor industrial amapaense, na verdade não existe de fato, é apenas uma fábula engendrada por quem nem de indústria conhece o chão. Podemos classifica-lo como um pequeno aglomerado de manufatureiras e extrativistas que na verdade não causam no PIB nem mesmo um leve suspiro.

Mesmo com o setor industrial brasileiro estando bastante aberto ao comércio internacional. Como câmbio real valorizado, e com os preços em dólares de produtos manufaturados exportados e importados pelo Brasil mantendo-se estáveis devido à recessão e ao baixo crescimento na Europa e EUA, a incipiente indústria amapaense parou no tempo.

E já não é um aprendizado novo, pois desde a implantação do polo de extração mangânica pela ICOMI para servir aos interesses da segurança nacional, vemos que a indústria amapaense já nasceu com a sina de não crescer. Com esse hábito arraigado na história da indústria do Amapá gerou-se a incapacidade de responder à competição externa, sendo esta uma das maiores causas da estagnação da indústria.

Mas isso não conta toda a história. O setor industrial é, também, muito menor do que o setor produtor de serviços. O PIB do setor de serviços embora represente mais de 65% do PIB brasileiro, empregando em torno de 60 milhões de trabalhadores, enquanto que o PIB da indústria de transformação representa apenas 25%, empregando um volume de trabalhadores muito menor, em torno de 20 milhões. Mesmo assim não conseguiu-se extinguir o estigma de que ser funcionário público é o melhor a se fazer.

Já que se incutiu desde o berço na cabeça do amapaense que o setor industrial e o setor de serviços “pagam mal” e o melhor é se engajar no exército da viúva do que com o morto em si. Então vem de fora o contingente de migrantes vindos de todos os cantos em busca daquilo que o amapaense parece não querer.

Atualmente setor industrial amapaense está deprimido, sofrendo com a competição externa, afinal, a sereia cantou muito a canção da sustentabilidade e do extrativismo. Quando na verdade tudo se resumiu ao universo da sustentabilidade pela simples ideia de catar coquinhos para ser sustentado.

Dia sim e no outro também, se assentam os atestados de óbito de cada uma das joias da coroa da indústria amapaense que tanto adornaram bravatas nacionalistas de um estado que parece ter parado no tempo e ainda parece não se dar conta disso, quando continuamos a ouvir as mesmas bravatas de meio século atrás.

Muitas das culpas são divididas, afinal, este excesso de nacionalismo de botequim, gerou bazófias e retóricas eternas nas bocas da politicagem e dos muitos Policarpos, mas também abriu as portas para aventureiros e especuladores que não são novidades, desde o velho Ludwig até o contemporâneo Eike, passaram por aqui e amealharam seu quinhão, deixando sempre para trás a terra arrasada de onde não quiseram levar nem o pó na sola dos sapatos.

Exemplos a mil, remontam das mineradoras que se foram, das experiências mal fadadas de indústria extrativista que só existe no reino das sinapses de quem ainda acha que enaltece-las, rende-lhes alguns louros no alto do palanque. Enquanto isso a CEA se vai e se esvai, valendo menos que um vintém furado e na cauda dela vem o atraso maior do que o da omissão.

E nessa omissão, mais um dos marcos da epopeia amapaense também começa a enrolar a bandeira e se evadir do estado. A Jari Celulose que após tantos anos esqueceu-se que o mundo cresceu e que novos e mais baratos produtos assolam o mercado.

Assim como nossos antepassados da Amazônia ocidental se iludiram com o Eldorado da borracha, que fez era na nossa história, gerando tanta opulência no afã de querer ser Europa. Nossos contemporâneos esqueceram que o mundo continua a girar para a evolução. Apostaram em um retrocesso que levou a era de ouro da borracha natural para as páginas dos livros de sexto ano, em detrimento a borracha sintética que substituiu tudo.

Assim caminha a indústria amapaense, sem incentivos, sem energia abundante e de baixo custo, sem norte para que possa andar mesmo estando no próprio norte. O custo de toda essa omissão não por falta de aprendizado; vai chegando todos os dias em faturas e mais faturas que são anonimamente colocadas por debaixo das portas de cada amapaense, que não se exima da culpa, pois assim como diz o dito: “se não por amor, será pela dor”. Agora a indústria agoniza e a nós cabe, senão, enxugar as lágrimas e pagar a conta de nossa própria omissão.

O que resta agora é reiniciar o planejamento de novos objetivos por cima dos escombros do que já se foi. Mas pelo jeito, na linha politica parece não valer muito a busca desses objetivos, mesmo porque produz resultados apenas em longo prazo, e o horizonte politico é o do seu mandato, e não o que garanta o crescimento de longo prazo.
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