No
conceito dos verbetes, a cegueira é uma incapacidade orgânica que impede
parcial ou totalmente o sentido da visão. É uma condição de falta de percepção
visual, devido a fatores fisiológicos ou neurológicos. Enfim, a incapacidade
orgânica de ver.
Mas
também, popularmente é tida como cegueira a falta de percepção ou de apreensão
da realidade, do significado das coisas ou acontecimentos; a falta ou perda de
bom senso, de lucidez, ou da capacidade de raciocinar, especialmente devido a
sentimento ou emoção intensos.
Do
mesmo modo, e mais usualmente ainda, cegueira significa ignorância, fanatismo,
paixão exacerbada, intensidade no afeto, obcecação, tudo que perde o sentido da
racionalidade para se fazer sem limites.
A
cegueira, vista sob o aspecto do forjamento do irreal, provoca situações tão
conflitantes que, na maioria das vezes, torna o indivíduo alheio à realidade e
passivo de ser reconhecido até como insano, completamente tomado de loucura
diante do absurdo que extasiantemente cria.
Haveria
de se indagar, então, por que uma pessoa tida como normal, de repente não
consegue enxergar aquilo que para os outros está tão claro. Ou, de outro modo,
o porquê de uma pessoa simplesmente não querer perceber determinada realidade
naquilo que está à sua frente, ao seu lado, no seu convívio.
São
assim os casos de militantes que de tão fanáticos por um candidato, mas tão
apaixonados mesmo que aonde chegam, pregam suas virtudes, seu senso humanista,
seus gestos benevolentes, sua inatacável condição de pai dos pobres e defensor
dos oprimidos; o justo e o senhor da moralidade e da verdade. E falam sobre
planos, sobre o muito que iria fazer, sobre as maravilhas do mundo nas mãos do
seu candidato.
Mas
aonde chegam também encontram alguém para dizer: muito cuidado com o que dizem
e defendem, pois se observarem desapaixonadamente, se tiverem mais um pouco
mais de atenção no seu deus-candidato, logo saberão que o mesmo não passa de um
aproveitador e chegado à aos desvios da conduta pregada.
Exemplos
de cegueira se alastram por todos os cantos e meios. Nos seios familiares, nas
instituições, e também nas religiões, seitas e crendices. A religiosidade vazia
impõe tamanha cegueira que se abdica da divindade para o apego a ídolos e
falsos profetas. Despersonalizando totalmente o indivíduo, aos poucos o
transforma num mero objeto sem identidade e sem qualquer tipo de resistência.
Então é a hora em que o espertalhão, aquele que tem o olho aberto demais,
começa a agir
E
enquanto os cegos continuam a tatear em seu mundo “perfeito” afundados no
abismo da ignorância, o todo poderoso senhor da moral, ética e da verdade lhe
dirá a beira do abismo: Vem que te dou asas, basta fechares mais uma vez os
teus olhos...