sábado, 28 de setembro de 2013

A vaca e a submissão



A cada dia que se passa, nos intriga mais ainda como as ações explicitas de submissão conseguem indignar menos o já combalido cidadão brasileiro. Não ponhamos a submissão como um ato de obediência, já que a mesma não é opressiva e requer um código de conduta para ser obedecida. Já a subserviência é forçada, é humilhante, macula a existência do cidadão e o que é pior: Faz com que ele sinta que esta fazendo a coisa certa!

De exemplos fartos temos a história, que desde o caso mais famoso, como o dos soldados nazistas que até hoje negam veementemente que estivessem fazendo algo tão terrível quanto à culminância do holocausto. Ou dos militares brasileiros que até hoje negam a ditadura como ferramenta de opressão e morte.

Mas o pior da subserviência é ser consciente dela e mesmo assim sem ao menos calcular as consequências futuras de decisões unilaterais e nem um pouco altruístas, simplesmente pela comodidade de ser capacho por isso lhe render alguns vinténs.
Casos de subserviência explícita têm tomado as pautas dos noticiários amapaenses dia sim e no outro também, como a já conhecida submissão do PT ao governo PSB, que mesmo com a decisão nacional de seu partido, se recusa a largar o osso em troca de meia dúzia de benesses que diretamente só trás proveito uma pequena parcela do grupo político altamente fracionado que é a legenda no estado.

De maneira alguma toma-se o papel de advogar por uma causa em que há uma estreita relação entre as dinâmicas cíclicas dos negócios, da hegemonia de ideologias, da tendência para o esquecimento da inevitabilidade das crises, da prática de crimes de colarinho branco, de comportamento político face aos "mercados" e das concepções nada éticas.
O mesmo ocorre com a própria sociedade industrial, que se submete a uma inércia tão grande quanto o próprio universo paralelo em que parecem orbitar todos os tomadores de decisão, sejam eles pertencentes ao poder público ou privado. O caso da Anglo American, que parece se despedir do Estado pela porta dos fundos em uma obscura negociação com o Grupo Zamin que pagou uma bagatela pelo gordo espólio da mineradora britânica.

Apesar dos pesares o Amapá parece não ter aprendido a dura lição de que deve deixar de ser esse palco da ficção de um Estado rico, farto e de belezas mil. Pois essas dramáticas situações atuais de quebra da saúde, segurança e educação parecem que nada nos ensinaram. Tal qual estas manifestações que mais serviram para vender jornais e revistas e abarrotar o noticiário televisivo, mas que enfim não deram em nada.   Pois assim como antes, agora as manifestações da crise são semelhantes e os erros políticos também. Como diz Galbraith, "os desastres financeiros são rapidamente esquecidos". Economistas e políticos têm memória curta.

Éramos uma sociedade atrasada, condicionada e fechada, e parece que continuamos a sê-la. Copiando como no passado se fazia no Brasil colônia uma vida quase europeia no vestir e no agir. Mas por baixo de anáguas de tule e casacos de linho continuamos com a sudorese equatoriana a emanar os odores nada agradáveis, e quanto a isso, não há perfume francês que resolva!

Resta-nos então nos questionarmos: Até quando esse papel submisso da população se perpetuará? E não adianta vir com aquela retórica já ruminada pelo tempo de que a resposta vem nas urnas! Ela não vem! Não vem por que elegemos presidentes, governadores, parlamentares de toda espécie; de gladiadores, passando por salteadores até chegar à massa maior: a dos saqueadores! Mas não elegemos a presidente da Petrobras que leva a empresa à bancarrota sem dizer nenhum pio sobre a desvalorização e o endividamento da empresa. Não elegemos os Procuradores Gerais que engavetam processos e muito menos os juízes que em troca de uma aposentadoria tranquila em um apartamento na bela Paris, vendem suas almas e seus juízos para sentenças que menosprezam a pouca inteligência que resta à plebe.

Então de que adianta ter o poder de eleger um presidente? Se vangloriar de ser o empregador, o contribuinte dos impostos que patrocina toda esta festa? E continuar a ser eternamente a vaca de presépio subserviente e inerte que volta e meia tenta dar uma chifrada nos incautos, mas que na prática mesmo se tornou tão acomodada em seu papel servil, que não lhe resta outro triste destino senão o de ser carne enlatada.
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