A cada dia que se passa, nos
intriga mais ainda como as ações explicitas de submissão conseguem indignar
menos o já combalido cidadão brasileiro. Não ponhamos a submissão como um ato
de obediência, já que a mesma não é opressiva e requer um código de conduta
para ser obedecida. Já a subserviência é forçada, é humilhante, macula a
existência do cidadão e o que é pior: Faz com que ele sinta que esta fazendo a
coisa certa!
De exemplos fartos temos a
história, que desde o caso mais famoso, como o dos soldados nazistas que até
hoje negam veementemente que estivessem fazendo algo tão terrível quanto à
culminância do holocausto. Ou dos militares brasileiros que até hoje negam a
ditadura como ferramenta de opressão e morte.
Mas o pior da subserviência
é ser consciente dela e mesmo assim sem ao menos calcular as consequências
futuras de decisões unilaterais e nem um pouco altruístas, simplesmente pela
comodidade de ser capacho por isso lhe render alguns vinténs.
Casos de subserviência
explícita têm tomado as pautas dos noticiários amapaenses dia sim e no outro
também, como a já conhecida submissão do PT ao governo PSB, que mesmo com a
decisão nacional de seu partido, se recusa a largar o osso em troca de meia
dúzia de benesses que diretamente só trás proveito uma pequena parcela do grupo
político altamente fracionado que é a legenda no estado.
De maneira alguma toma-se o
papel de advogar por uma causa em que há uma estreita relação entre as
dinâmicas cíclicas dos negócios, da hegemonia de ideologias, da tendência para
o esquecimento da inevitabilidade das crises, da prática de crimes de colarinho
branco, de comportamento político face aos "mercados" e das
concepções nada éticas.
O mesmo ocorre com a própria
sociedade industrial, que se submete a uma inércia tão grande quanto o próprio
universo paralelo em que parecem orbitar todos os tomadores de decisão, sejam
eles pertencentes ao poder público ou privado. O caso da Anglo American, que
parece se despedir do Estado pela porta dos fundos em uma obscura negociação
com o Grupo Zamin que pagou uma bagatela pelo gordo espólio da mineradora britânica.
Apesar dos pesares o Amapá
parece não ter aprendido a dura lição de que deve deixar de ser esse palco da
ficção de um Estado rico, farto e de belezas mil. Pois essas dramáticas
situações atuais de quebra da saúde, segurança e educação parecem que nada nos
ensinaram. Tal qual estas manifestações que mais serviram para vender jornais e
revistas e abarrotar o noticiário televisivo, mas que enfim não deram em
nada. Pois assim como antes, agora as
manifestações da crise são semelhantes e os erros políticos também. Como diz
Galbraith, "os desastres financeiros são rapidamente esquecidos".
Economistas e políticos têm memória curta.
Éramos uma sociedade
atrasada, condicionada e fechada, e parece que continuamos a sê-la. Copiando
como no passado se fazia no Brasil colônia uma vida quase europeia no vestir e
no agir. Mas por baixo de anáguas de tule e casacos de linho continuamos com a
sudorese equatoriana a emanar os odores nada agradáveis, e quanto a isso, não
há perfume francês que resolva!
Resta-nos então nos
questionarmos: Até quando esse papel submisso da população se perpetuará? E não
adianta vir com aquela retórica já ruminada pelo tempo de que a resposta vem
nas urnas! Ela não vem! Não vem por que elegemos presidentes, governadores,
parlamentares de toda espécie; de gladiadores, passando por salteadores até
chegar à massa maior: a dos saqueadores! Mas não elegemos a presidente da
Petrobras que leva a empresa à bancarrota sem dizer nenhum pio sobre a
desvalorização e o endividamento da empresa. Não elegemos os Procuradores
Gerais que engavetam processos e muito menos os juízes que em troca de uma
aposentadoria tranquila em um apartamento na bela Paris, vendem suas almas e
seus juízos para sentenças que menosprezam a pouca inteligência que resta à
plebe.
Então de que adianta ter o
poder de eleger um presidente? Se vangloriar de ser o empregador, o
contribuinte dos impostos que patrocina toda esta festa? E continuar a ser
eternamente a vaca de presépio subserviente e inerte que volta e meia tenta dar
uma chifrada nos incautos, mas que na prática mesmo se tornou tão acomodada em
seu papel servil, que não lhe resta outro triste destino senão o de ser carne
enlatada.