terça-feira, 18 de setembro de 2012

Uma cota de vergonha


Já não é de hoje que o maravilhoso sistema de cotas para ingresso no ensino público superior, criado pelos morubixabas que habitam o MEC em tempos de prosperidade da educação, nos faz crer que realmente vivamos em algum país do G-5 e não no bom e velho Brasil da educação “mãe Joana”.

O governo federal opta em resolver o problema da maneira mais fácil e com isso cria uma hostilidade sócio-racial que mais tarde pode fazer parte do conjunto das dívidas que a sociedade brasileira tem com a nação negra desde os tempos da servidão colonial.

Mais sinistro ainda é o fato de que os próprios beneficiários deste sistema cerceador da isonomia de direitos do cidadão saberem que o problema não é só socioeconômico já que na concepção bitolada dos criadores do sistema de cotas; melanócito parece ser sinônimo de neurônio.

Mas partindo do princípio de que tudo o que é mais fácil, rende números maravilhosos nas estatísticas parnasianas apresentadas pelo MEC nas bem elaboradas peças publicitárias do governo federal. Prefere-se rebaixar a qualidade universitária de acordo com o péssimo padrão do ensino básico, que é a verdadeira raiz do problema.

Com atitudes dessa natureza a educação de base ao invés de ser ré confessa na falência de um sistema caduco e carente de reformas e de investimento sério é envolvida em um manto de prosperidade como aquele sofá velho e roto do qual colocamos um lençol limpo para receber as visitas e parecermos elegantes.

Fora o fato de que os penalizados seguintes serão os jovens; filhos de pais que cansados das mazelas do ensino público e que tendo também tido a mesma formação, com alguma prosperidade conseguem colocar o filho em uma instituição particular e verão que os filhos sofrerão a desqualificação de serem excluídos do sistema de cotas.

Vergonha quotizar a raça, a pobreza e a desigualdade social de um país, com um factoide de tamanha afronta a qualquer brasileiro que tenha, apesar da humildade, a dignidade de se submeter à tão vil atitude, evidentemente uma exclusão social ao invés de inclusão.

Resgatar uma dívida da nação em relação aos desfavorecidos economicamente ou aos injustiçados socialmente é a justificativa para a criação infame das cotas. Mas desde quando a inserção de indivíduos que foram desfavorecidos sim de seu direito de receber uma educação de base com a qualidade que lhe é de direito, é a solução para a excelência do ensino superior?

Investir maciçamente no ensino fundamental e médio, sem engodos ou paliativos ainda é a melhor solução, mas uma politica séria, nada de extemporâneos MOBRAIS ou soluções do gênero, só assim corrigiremos as distorções  e deformações do ensino brasileiro. Algo que já deveria ter sido feito desde os tempos em que a democracia foi restituída neste país.

É inadmissível que atualmente à luz de todo o conhecimento que nossa sociedade humana já conquistou que o governo e os determinadores dos caminhos da sociedade continuem a acreditar que as características fenotípicas ou a condição social sirvam de critério para selecionar, classificar, distinguir ou agrupar seres humanos. Isso nunca vai deixar de ser um atraso e um fracasso com a educação brasileira.


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