sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Debate, mas onde já?

O próprio termo já esclarece: “debate”, o ato de duas ou mais pessoas, que queiram colocar suas ideias em questão ou discordar das demais sempre tentando fazer prevalecer sua própria opinião ou sendo convencido das opiniões opostas.

Neste conceito o que a gente vê nas rádios e emissoras de televisão durante este período que antecede as eleições, nada mais é do que um brocado muito mal bordado, um arremedo do que seria uma oportunidade de cada candidato emitir sua opinião que na prática seria seu projeto de governo. Mas o que ocorre nada mais é do que uma luta de rua desnecessária, onde cada um pinta os defeitos do outro com mais detalhes do que uma obra renascentista.

Afora isso, nada mais que se aproveite se tira das sofríveis horas de bate-bate e nenhum debate. Com isso a ausência de alguns candidatos é logo sentida, pois alguns não veem nenhum proveito prático nesse desgaste em suas campanhas ou simplesmente não vê nenhum debate nos tais “debates”.

Durante o tempo entre o fim da ditadura militar, passando pelas eleições indiretas, até finalmente chegar a nossa vez de escolhermos por nossa própria conta e risco os representantes do povo, recordo-me apenas de um único debate que pôde realmente ser chamado assim.

O que reuniu personagens icônicos da política brasileira como Mario Covas, Ulysses Guimarães, Leonel Brizola, Paulo Maluf, Roberto Freire, Aureliano Chaves, Ronaldo Caiado, Afif Domingos, Lula, Fernando Collor, Enéias Carneiro e com direito até a Silvio Santos que substituiu Armando Correa aos 44 do segundo tempo como postulante à presidência do Brasil.

Dentre outros que disputaram em 1989 a presidência da república recém redemocratizada com as primeiras eleições diretas após o mandato de José Sarney. Foi a eleição com o maior número de candidatos de que se tem história. Afinal naquela época ainda não se tinham as catitas das coligações, já que a república engatinhava na democracia recém concedida.

Debate histórico seguindo o modelo americano, com regras e dinâmicas que permitiram cenas inesquecíveis e discursos memoráveis, pois sim, chamado debate realmente debate. Afinal este mesmo modelo proporcionou a Kenedy destronar Nixon, e a exemplo daqui elegemos naquele ano, Collor – uma promessa de renovação...

O debate foi bom, mas Collor renunciou em 1992 para escapar de um impeachment deflagrado por seu irmão Pedro e os detalhes do que acontecia realmente na “casa Dinda”, sede residencial do presidente naquele mandato.


Enfim, prova viva de que debate não elege o melhor candidato, mas apenas o que tem ideias que conseguem penetrar fundo as meninges do eleitor e fincar-se como semente mesmo que de daninha erva. Mas não significa exatamente sinônimo de quem tem as melhores ideias, tenha o melhor desempenho para os anseios do tão esperançoso eleitor que ainda empresta seus ouvidos a tanta abobrinha que tentam alcunhar de debate.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Roda viva

Roda moinho, roda gigante, roda moinho, roda pião.... Chico tem cada profecia.

E nessa roda que leva ao final de mais um pleito eleitoral amapaense, o que não falta é gira-gira entre aliados e adversários, que dormem lado a lado entre carícias e juras de amor e acordam em litígio na manhã seguinte.

Casos já históricos de infidelidade, ou até mesmo de coisas indizíveis num artigo público são corriqueiros nos últimos dias que antecedem o computo das urnas sobre a vontade popular.

Um dos exemplo mais dissonantes dessa roleta é quem vai ficar com Dilma. Sabe-se que pelas bandas da política tucuju, quem iniciou o brado de apoio à candidata à reeleição, por incrível que pareça, não foi seu partido o PT, mas sim seu aliado de todas as horas em regime nacional o PMDB e logo em seguida os outros partidos da base aliada da presidenta Dilma, o PDT e PP.

Sabe-se que por aqui, giro vai, giro vem o PT comandado pela ala fiel até os elásticos das “underwear” do partido que governa o estado, demorou a se decidir se apoiaria sua maior estrela para mais um mandato abençoado pelo papa Luis Inácio.

Conversa foi, conversa veio e após ser cortejado com mundos e fundos, o PT estadual foi para o balaio e lançou até candidatura ao senado, com pompa e circunstância, na dança de roda promovida pelo PSB, que sabe-se de outros carnavais não ser propenso a cumprir o que promete.

Mas o mundo gira e a terra roda, e eis que o avião de Eduardo Campos, candidato do PSB nacional rejeitado pelo seu partido no Amapá, rodopia sob o litoral paulista e o candidato faz sua última viagem para o eterno, abrindo o caminho para Marina Silva sambar.

O que fez então o PSB tucuju? Antes mesmo da vela do sétimo dia apagar correu para os braços de Marina e escamoteou Dilma sem dar nem mesmo um roliço caramelo para o PT estadual, até mesmo por que o avião de Doralice nem sequer girou a hélice.

E assim o dilema do giro de casais parece se perpetuar mais ainda, já que depois de enfrentar esta súbita troca de candidato a presidente, o danadinho PSB também resolveu mudar sua opção para o senado. Já que o PT não rendeu o ibope que se esperava. O DEM entrou na roda e veio dançar, para isso claro tendo que renegar aliados de longa data para abraçar sua nova roda de amigos.


E assim tem sido, roda moinho, roda pião... candidato ao governo gira gira aparece como candidato ao senado ou a coisa alguma. Em dez dias a gente tira a dúvida quando a roda parar de rodar...

terça-feira, 1 de julho de 2014

Para ver o futuro é preciso quebrar o retrovisor

Em uma sociedade econômica moderna, a produtividade é o pule de dez. Mas temos uma realidade brasileira muito diferente do que já ocorre no mundo globalizado ha um bom tempo. Desde os anos 80, época em que o governo federal lançou a Política Industrial, Tecnológica e do Comércio Exterior centrada na inovação de lá pra cá não inovamos nem produzimos nada que impulsionasse a política industrial brasileira.

Não fugindo dessa realidade, temos os estados brasileiros que nasceram com o perfil equivocado de que por estarem dentro da Amazônia deveriam ter vocação para o extrativismo e eterno berço de commodities para dar um falso testemunho de conservação do velho “pulmão do mundo”. Esquecendo-se que nesse novelo os principais emuladores de produtividade, inovação tecnológica e o desenvolvimento industrial estão atrelados diretamente à educação como projeto de longo prazo.

Com isso a baixa neste crescimento tem como marco de sepultamento o desatrelamento do ensino técnico em conjunto com o ensino médio na década de 90, que tendeu a uma cada vez menos expressiva procura por parte da massa estudantil em detrimento ao crescimento de vagas nas universidades, criando uma geração de pretensos chefes e muito poucos chefiados.

O Amapá não escapou desta vocação, de onde o ensino técnico praticamente adotou a formação de normalistas e técnicos em contabilidade. Mas muito pouca expressão da indústria que vocacionalmente veio a relampejar com o natimorto projeto Jarí e mais tarde com o a atuação da ICOMI.

Políticas desenvolvimentistas nem vamos falar, já que na verdade apesar da interligação recente ao sistema elétrico nacional e a construção de hidrelétricas não usufruí disso e nosso potencial se quer foi estimado para criar uma estratégia desenvolvimentista. Na verdade nem se teve a boa vontade de planejar qualquer estratégia.

Essa inquietação é cada vez mais gritante quando se vê minúsculas províncias no meio do cerrado brasileiro esticarem os braços e agarrar-se avidamente ao setor primário, ao desenvolvimento, mas de maneira planejada, sem as velhas manias demagógicas de catar coquinhos na floresta.

Esta página, senão um capítulo inteiro regurgita teimosamente na garganta dos entusiastas das políticas de desenvolvimento, nos precursores da inovação, que tristemente vem ao Amapá a dar-se de cara na porta por não ver expectativas além da velha politicagem e compadrio que entra e sai das cadeiras da gestão a cada dois pares de anos.

Exemplos como esses vão criando uma história do “já teve” ou “já foi assim” mas vão entrando nos anais da história como um estado que amorfo ainda não definiu seu perfil mesmo depois de mais de duas décadas, deixado para trás por caçulas do mapa geográfico do Brasil, tonando-se uma eterna Pasárgada.

E com isso o tempo vai passando, empresas, negócios e oportunidades batendo a porta, mas ninguém abre, e as que ficam tem pouco a contar, senão a epopeia clássica de viver num estado esquecido pelas políticas de desenvolvimento cujo maior feito no momento foi o de extinguir uma fábrica de Coca Cola, servindo de exemplo de que nem aqui o filão inventando por John Pembertom conseguiu frutificar.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A culpa é nossa

Nos folguedos de fim de ano as pessoas não conseguem mensurar as consequências do abuso do álcool e os estragos causados por esta irresponsabilidade na vida do alheio. Durante a virada do ano, como qualquer morador de Macapá, fui até a orla receber o ano novo as margens do rio Amazonas. Claro que não fiquei até o sol raiar, pois as pernas já não permitem mais essa empreitada.

 Mas ao passar lá pela orla pela manhã a ver tantos notívagos que amanheceram, nos leva apensar que talvez não se dimensione o grande vilão não só dessa noite em particular, mas de todas as outras noites e dias não seja o comerciante, vendeiro ou barman que abre a tampa da garrafa que embebeda a quem se dispuser a uns tragos transloucados. Afinal a mensagem explícita nos canais de propaganda é de quem bebe, vive cercado de belas louras e morenas, todas bem torneadas e com a malhação em dia.

 Que por lá pelo reino das espumas embriagantes ao perfume do lúpulo, vivemos em praias paradisíacas, quase como a fonte da juventude, já que não aparecem as imagens já tarimbadas do “velho cachaceiro” da esquina, cuja rua tem sempre o seu exemplar nesta peças publicitárias.

 Claro que estes comerciais não exploram as alucinantes imagens veiculadas naqueles programas policiais que aparecem lá pelo meio dia ou nas ave marias. Nem pensar em expor num desses comerciais etílicos, além daquele corridinho murmúrio; “beba com moderação”. As ressacas e sessões de vômitos, ou muito menos aquela dor de cabeça característica de quem tomou cerveja pouco maturada e com excesso de diacetil na dose.

 Isso sem falar nos pegas, rachas e dribles nas blitz da Lei Seca, coisas dignas do finado Paul Walker, que, diga-se de passagem, foi pro andar de cima em função de acidente de trânsito, não se sabe se sob efeito de álcool ou não, mas, para exemplo dos pés de cana isso pouco importa, o que interessa é meter o pé de cana no acelerador.

 Também a gente não vê nessas peças inspiradas de bebidas alcoólicas exibidas em horário nobre (de preferência no futebol de quarta feira!). O número de famílias arrasadas pelos problemas de alcoolismo de pais, filhos e até a velha vovó que devia estar na cadeira de balanço ao manejo de agulhas de tricô, mas que em alguns casos caiu nas frestas do balcão do bar. Isso sem falar nos menores de idade que voltaram para casa (os que tiveram sorte!) trocando as pernas ou nos pais de família de sentaram a mão nas patroas que perderam as estribeiras e as esperanças de livra-los do reino do álcool.

 Não se vê nestes comerciais os capotamentos, atropelamentos e até as inúmeras arvores e postes que tombaram sob a égide dos abusadores do álcool. Ou até mesmo os revoltantes casos em que responsáveis pelos inúmeros acidentes com vítimas fatais que perderam o direito oficial de dirigir, mas que não dão a mínima para isso e continuam atrás do volante.

Então de que adianta termos um código rígido de regulamentação do trânsito, blitz da Lei Seca, campanhas da PRF, campanhas do Detran. Se no frigir dos ovos o álcool continua tendo uma campanha publicitária mais atrativa do que a das campanhas de segurança no trânsito? Será que se terá que apelar para campanhas com mulheres seminuas e jovens alegres e sarados na praia para tentar conseguir a atenção dos irresponsáveis que assumem a direção de um veículo sob efeito do álcool? Não, isso também não adiantaria, com certeza os bêbados não conseguiriam captar a mensagem de maneira adequada...
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...