quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Quase igual as eleições de Pompéia

Ceium Secundum é igual aos nossos candidatos ao pleito municipal de 2016. Melhor dizendo: Nossos candidatos são iguais a Ceium Secundum. Mas afinal, quem é Ceium Secundum?
Ele é, antes de tudo, um morto. Ele morreu quase 2000 anos atrás, quando as cinzas do Vesúvio soterraram Pompéia, em 24 de agosto de 79 DC. Ele é, portanto, um morto e uma múmia. Além de ser um morto e uma múmia, Ceium Secundum, no momento da tragédia que matou todos os moradores da cidade, era candidato a um cargo público.
Quando os arqueólogos italianos, no século XIX, desenterraram Pompéia, encontraram alguns de seus cartazes de propaganda eleitoral. Um deles dizia o seguinte:
“Ceium Secundum para duoviro. Seu pai o apoia! ”
É nisso que Ceium Secundum e nossos candidatos se assemelham. Tanto um quanto o outro só possuem um atributo eleitoral: o apoio de quem os gerou. O primeiro tem o apoio do pai, o segundo tem o apoio de inúmeros padrinhos. Mas até agora só ouvimos os afilhados, e uma pergunta ecoa por aí nas cabeças dos formadores de opinião: O que pensam os padrinhos? Afinal se eles nunca falam, nem sobem em palanques, o que será que eles pensam?
Para alguns candidatos o que conta mesmo é quem os apoia, quer seja para duoviro, quer seja para vereador ou prefeito, não importa, pois, nós meros eleitores não sabemos na verdade o que “eles” pensam.
Mas se nossos candidatos são iguais a Ceium Secundum, podemos comparar alguns a Cuspium Pansam. Os cartazes de propaganda eleitoral desse segundo ilustre desconhecido também resgatados nas ruínas de Pompéia, aludiam exclusivamente à figura de seu padrinho:
“Cuspium Pansam para conselheiro.”
Quem pede para votar nele é Fabius Eupor, o príncipe dos libertinos.
Os padrinhos de alguns candidatos, em fotos (não mais em cartazes manuscritos como em Pompéia de 79 DC) pedem para votarmos neles. Na verdade, esses padrinhos, parece que batizaram seus afilhados na última missa de domingo, pois até antes disso, nunca tínhamos ouvido falar deles, nem uma única linha de elogio, ne se quer um rabisco em discurso; nada, nada.
Mas agora eles surgem, vem pedindo votos, com sorrisos e elogios com uma ternura secular, num gesto de pura libertinagem eleitoral tentam incutir na cabeça do incauto eleitor uma intimidade inexistente para com seus afilhados.
Alguns padrinhos tem um grande senso de oportunidade. Se um sagui é capaz de escolher o momento certo para entrar pela janela da cozinha e pegar um cacho de bananas, alguns padrinhos são capazes de escolher o momento certo para atropelar as leis e apoiar seu afilhado. Assim como Ceium Secundum e Cuspium Pansam, as múmias pompeianas, esses afilhados sempre se mantiveram à sombra de alguém e não gratuitamente vão permanecer sob as asas do padrinho.
O curioso de tudo isso, é que ao longo dos anos, quando conseguem adentrar na vida pública, esses afilhados trocam de padrinhos, como um motel troca de lençóis em sexta-feira de pagamento do funcionalismo. Logo no primeiro ano, já os vemos sob novas legendas, sob novos padrinhos, sob novas ideologias, ou simplesmente atrás de uma cerca intransponível entre eles e o eleitor.
Vigiai ó eleitor, vigiai! Pois sobre Ceium Secundum e Cuspium Pansam os pompeianos nada puderam fazer, pois o Vesúvio explodiu em cinzas ardentes antes das eleições acontecerem e nos darem no resultado do pleito; qual foi o melhor padrinho, se o pai de Ceium Secundum ou o príncipe dos libertinos que apoiava Cuspium Pansam.

Por aqui pelo Amapá, não temos o velho vulcão, mas uma força muito mais titânica pode se mostrar mais eficiente contra a eleição de “postes”, “marionetes” e oportunistas. O “Vesúvio das urnas”, o eleitor amapaense.
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