quarta-feira, 11 de março de 2015

A moral, (ou a falta dela)

Quando se vê um discursos de políticos pedindo o fim do financiamento privado em campanhas eleitorais, tentando jogar a conta nos bolsos dos contribuintes, ou até mesmo aquele personagem já caricato por comprar votos falando de probidade, nos questionamos: que moral é essa?
Nossa cultura se baseia na crença predominante de que a moral surge com o intuito de cristalizar as verdades e definir as noções de “Certo” e “errado”. Mas quando é cegamente reproduzida, pode ocasionar efeitos contrários ao seu real objetivo, que seria a convivência harmônica entre os indivíduos de uma mesma sociedade.
A moral existe. E o indivíduo que nasce naquela cultura, irá reagir a ela, sendo de acordo em algumas coisas, desacordo em outras, mas enfim, sempre a partir de algo pré-formulado. Ou seja, suas atitudes não são ações, são reações, construções.
A incoerência começa a surgir quando essa reação á moral é baseada na conveniência e não no conhecimento.
É mais ou menos assim: Se trair é imoral, mas a vontade é grande, eu me lembro daquele conceito machista de que “homem é assim mesmo” e faço. Depois eu vou ao padre aliviar a minha culpa e acredito no conceito cristão de que “o importante é se arrepender”.
No entanto, sou capaz de esquecer rapidamente o machismo, quando chegam as contas e chamo a minha linda esposa pra dividir. E aproveito pra falar mal dos padres pedófilos, no momento em que eles me pedem um trocadinho pra mudar a pintura da igreja. E assim, sempre que eu preciso, eu mudo os meus padrões morais e faço um verdadeiro leque de conveniência.
Isso é o que chamamos de “falsa moral”, ou seja, a utilização de justificativas morais para poder cometer confortavelmente os deslizes e viver de acordo com o que melhor o convém.
A diferença entre o falso moralista e os demais errantes, é que ele afirma estar dentro dos padrões morais, se acha muito correto. Além de se sentir no direito de julgar os demais.
Quando na verdade, a moral não existe pra isso. Ela existe para disciplinar uma dada sociedade, de forma que as pessoas tenham um padrão de “certo” e “errado” razoáveis para viver bem em comunidade.
Alguns vão copiar os padrões ditos “corretos”, outros irão confrontá-los, outros irão propor mudanças que com o passar do tempo poderão se tornar efetivas, mas todos trabalhando “a partir” dela e não “a representando”.
Porque o falso moralista, na verdade se acha o próprio representante da moral, o dono da verdade, mediador entre o certo e o errado. E isso é utópico, portanto, falso. Porque a moral é um padrão não uma realidade praticável em sua plenitude. E nem se faz necessário, porque o próprio exercício de uma conduta moral é subjetivo. Enquanto a moral é objetiva.
Outra coisa interessante nas pessoas que seguem cegamente alguns preceitos morais, é que elas têm a sensação de que aquilo sempre existiu e sempre existirá. Quando na verdade, muitas vezes aquele preceito nem existia há algumas poucas décadas atrás, ou se existiam, eram abomináveis. E de repente, passou a ser louvável.
E muitas vezes, uma mesma pessoa, segue crenças opostas e conflitantes, e acreditam estar tendo uma conduta retilínea. Na verdade, por si só, aquelas crenças não são coerentes nem com elas mesmas.
Por exemplo, alguém já viu a venda um São Francisco de Assis com uma manta caríssima e com detalhes em ouro? E o pior, uma pessoa que se diz devota comprando? Por acaso a pessoa que produziu e principalmente, a que está comprando, conhece os ideais franciscanos?
Será que alguém já viu uma mãe gritando com o filho e pedindo pra que ele faça silencio? E se questionou a noção de silencio essa criança tem?
O que se vê muito são campanhas agressivas contra a agressividade, violência para solucionar violências, medos para evitar perigos, individualismos procurando companhias, saudades de quem não quer que volte... E são assim as falsas procuras, falsas soluções, baseadas na falsa moral.

Pensar antes de falar, conhecer antes de seguir, e fazer silencio na ausência de algo melhor a dizer, faz parte de uma conduta coerente. Seja ela imoral ou não.
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