quinta-feira, 10 de maio de 2012

A Luz da mediocridade hipócrita


Acompanhamos nos últimos anos uma onda conservadora ganhando força e disputando a sociedade, como exemplo disso temos a eleição presidencial passada, onde o debate se deu em torno de questões progressistas e contraditoriamente rechaçada por uma parcela conservadora da sociedade.
Da demagogia ao falso moralismo: a gorda e o magro travam suas piadas sem gosto enquanto apenas assistimos sem surpresa ao espetáculo!

O falso moralismo é tão pusilânime quanto à hipocrisia. Infelizmente estes dois elementos estão na ordem do dia quando analisamos o quadro atual do Amapá, onde um tenta escapar do fundo da lama vestindo-se de marrom. Certamente que para a tal da democracia isso não contribui em nada.

Não vou fazer abordagem na politica, muito já se fala disso. Mas polarizando dois temas bem polêmicos; de um lado, se encontra a cretina discussão em torno do aborto. Não que o tema não seja importante, mas na boca dos moralistas o discurso da vida plena, se afoga na praia quando vemos tantos mortos vitimados pelos mais diversos motivos, sendo o maior a própria violência.

Provocar os grupos pró e contra o aborto para construir a imagem de ser pró-vida ou contra a vida é deprimente. Fico surpreso com a incrível (in) capacidade que estes péssimos atores têm de macular qualquer discurso político relevante. De um lado, aquela sombra humana, do outro, aquela em prol da democracia tentando a aproximação aos membros do clero, provar que não são inimigos da vida. De qual vida?

Trazer este tema juntamente com as velhas demagogias religiosas, as quais a contribuição ao dia a dia é irrelevante tem sido um total desrespeito ao bom senso. O aborto é um tabu, um dos ícones do discurso teológico, um dos elementos mais significativos do maniqueísmo, da ignorância que ainda vigora em nosso país. Nem a igreja tem legitimidade para discuti-lo, muito quem não paira para saber o que se sente, nem eu estou habilitado a criticar ou defender.

Por outro lado, o tema do homossexualismo, outro tema importante e ainda repleto de idiossincrasias sociais. Declarar o seu apoio ao homossexualismo significa exatamente o quê? Prova não se é preconceituoso? Ou que se é 'liberal'? Quem não acha graça de piadas de mau gosto sobre gays? O discurso é tão rasteiro que se metamorfoseia em uma cacofonia desesperadora!

Certo dia uma ONG de lésbicas entrou com processo judicial para retirar crucifixos das repartições públicas gaúchas. Em que mal está a imagem do Cristo crucificado a condenar opções sexuais? Cada um é responsável pelo seu cada qual. Mas nem por isso vamos entrar com ação e retirar o Cristo do alto do corcovado só por que temos vergonhas de nossas escolhas ou do falso moralismo novamente implícito.

Mas nada disso importa; todas as mesmices, as bazófias, todas as pieguices e descabidos, todos esses discursos desastrosos, todas as denúncias serão fundamentalmente esquecidos, já que eles representam a grande maioria de uma sociedade que está acostumada a ser dirigida não pelo seu melhor, mas por aquilo que ela mesma traz no seu cotidiano. Como todos nós, o prazer está em observar a crise, mas nunca em construir uma sociedade social responsável e participativa.

Curioso é que aqueles que tanto difamaram estejam, agora, surpresos com a própria difamação, mas nenhum dos lados realmente se incomoda em nos jogar na cara a nossa própria falta de vergonha por permitir um espaço político tão medonho, risonho e até desprezível, no qual o pior é a regra do dia. Através de suas mesquinhas discussões populistas perdemos mais uma oportunidade de (re) descobrir o que realmente somos o que realmente esperamos e o que devemos assumir para compartilhar com ações e reações efetivas, para não continuarmos passivamente assistindo a este ridículo teatro mambembe. Ainda que este seja mais fácil do que realmente construir alguma coisa ou pelo menos assumir alguma responsabilidade. Pelo menos (mas não todos), sempre podemos nos socorrer dos canais por assinatura ou apenas desligar a televisão e o rádio! (o que é outra imoralidade e covardia).

Recorda-me muito o Paulinho da viola que em seus acordes produziu “Falso Moralista”, fazia tempo que não acompanhava uma postagem a uma música, mas acho que hoje vou matar a saudade.


Falso Moralista – Paulinho da Viola

“Você condena o que a moçada anda fazendo
e não aceita o teatro de revista
arte moderna pra você não vale nada
e até vedete você diz não ser artista
Você se julga um tanto bom e até perfeito
Por qualquer coisa deita logo falação
Mas eu conheço bem o seu defeito
e não vou fazer segredo não
Você é visto toda sexta no Joá
e não é só no carnaval que vai pros bailes se acabar
Fim de semana você deixa a companheira
e no bar com os amigos bebe bem a noite inteira
Segunda-feira chega na repartição
pede dispensa para ir ao oculista
e vai curar sua ressaca simplesmente
Você não passa de um falso moralista.”

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