Meu amigo Wilson Meiler em seu livro “Sucesso é um segredo do coração”, narra uma estória muito legal.
“Conta a lenda, que um velho burro estava pastando distraidamente num campo. Ele não estava prestando atenção por onde pisava e de repente caiu num poço fundo. O burro começou a zurrar e zurrar até que o fazendeiro chegou e viu o burro lá no fundo. O pobre burro estava desesperado e olhou tristemente para o fazendeiro, como se quisesse dizer-lhe: “por favor, tire-me daqui, deixe-me voltar para minha casa”.
O fazendeiro não disse nenhuma palavra... virou-lhe as costas e foi embora. O burro ficou no poço por três dias, que pareceram uma eternidade.
No quarto dia, o fazendeiro voltou com seus três filhos. Todos eles olharam para o burro lá no fundo e ainda se riram dele.
Então, o fazendeiro falou – o poço está abandonado, não há mais água e o burro está tão velho que não vai valer a pena salvar, então mãos à obra... e começaram a jogar terra no poço com o burro lá dentro.
À medida que as pás se sucediam e a terra era jogada sobre o burro, este se sacudia para tirar a terra do lombo. Isto aconteceu durante algum tempo, até que suas patas começaram a ficar cobertas de terra que caia no solo. Para não afundar o burro começou a pisotear o chão, livrando as patas coberta pela terra que caia. E assim foi; as pás de terra eram jogadas, o burro sacudia e pisava em cima; a terra caia o burro sacudia e pisava em cima.
Não demorou muito para que todos vissem espantados que o poço estava sendo fechado e o burro estava saindo do poço para a liberdade.
Liberto do poço, ao chegar em casa ainda meio assustado, o seu neto um burrico ainda jovem, perguntou-lhe como só as crianças sabem fazê-lo:
- Vô, o que é que eu tenho que fazer para quando crescer tornar-me um burro de sucesso assim como o senhor? Ao que o burro velho respondeu.
É fácil meu neto. Para ser bem sucedido tudo o que você tem de fazer é “sacudir e pisar em cima”.
Vamos embarcar na máquina do tempo e retornar lá no início, muito antes do período histórico.
Lá iremos redescobrir que o ser humano tinha uma clarividência natural que lhe possibilitava a convivência direta com os deuses, ele tinha consciência cósmica, mas ainda não tinha consciência de si, para ele, a consciência estava mais presente no mundo espiritual do que no mundo físico, logo ele convivia com seus deuses mais ainda não tinha adquirido a autoconsciência.
Se avançarmos um pouco, lá por volta de 3.000 a.C., na chamada Era Matriarcal, descobriremos que os seres humanos perderam a possibilidade de conviver diretamente com os deuses e o contato agora passava a ser feitos através de sacerdotisas em Oráculos, para receber orientações de como os seres humanos deveriam proceder.
É uma época importante porque na tradição hindu, por exemplo, é o início da Era da Escuridão da evolução humana chamada no sânscrito, língua arcaica, de kaly yoga.
Este é o início da Era Histórica, a partir da qual existem documentos produzidos por representantes das épocas culturais que antecederam a época atual e é o início do patriarcado e de toda a nossa história conhecida.
Nesta época longínqua as sacerdotisas começaram a perder gradativamente a influência e o poder na sociedade, os oráculos entraram em decadência, o último é o oráculo de Delfos cujas ruínas ainda existem no Monte Parnaso na Grécia. Os oráculos foram sendo substituídos gradativamente pelos Templos dos Mistérios.
Nessa época, a consciência do desenvolvimento da humanidade era grupal e não individual.Era a época da “teocracia”, em que a vida espiritual política-jurídica e a vida econômica formavam uma unidade em si e era conduzida pelos templos de mistérios.
A clarividência se extinguira a tal ponto que a morte passou a ser um enigma. O homem vivenciava a interdependência dos fenômenos materiais e espirituais, que os historiadores denominavam de visão orgânica.
Caminhamos mais um pouco nos deparamos com o período grego-romano, é neste período que desperta no ser humano a consciência individual e a palavra “Eu” aparece pela primeira vez. A mitologia é substituída pela filosofia, marcando maior consciência do “Eu”, com isso nasce o intelecto e com ele, a filosofia grega.
Com a tomada da consciência do “Eu individual” cresce o egoísmo e o homem que era, naturalmente, um ser grupal passa a necessitar de leis para que possa viver em grupo. O homem perde definitivamente a ligação com os mundos espirituais, a força de coesão de grupos pelos laços de sangue, a tradição e as normas de comportamento social e o contato com a natureza, dominando-a e destruindo-a.
Caminhamos mais um pouco e chegamos ao Renascimento onde o homem abandona o conceito de terra como mãe nutridora e entra com o conceito de natureza supridora de todos os seus desejos.
Do ponto de vista da ciência, essa mudança alterou também a relação ética e teórica do homem consigo mesmo, inicia-se a era denominada de antropocentrismo que é seguida do racionalismo onde a visão homem/máquina deu origem a um novo método de investigação científica que envolve a descrição matemática da natureza.
Esta mudança provoca importantes transformações e uma sensível evolução científica que tem como conseqüência o aumento do poder de manipulação do homem sobre a natureza.
Nossa máquina do tempo segue viagem posarmos em uma época em que a população rural começa a migrar para as grandes cidades transformando-se em operários, ocupados com a produção e a distribuição de bens industriais.
É o fim do feudalismo que dá passagem para a chamada revolução industrial.
Essa transformação deu origem à automatização do trabalho humano, com inúmeros desdobramentos a partir do final do século XVIII e o homem que era um ser puro com uma clarividência natural começa a viver uma era de homem máquina cujos valores são outros completamente diferentes do que ele construíra ao longo de sua história.
A revolução industrial provoca um acelerado desenvolvimento dos meios transportes fazendo com que os mercados se ampliassem rapidamente. Esta mudança faz com que aconteça uma produção em escala maior, com isso os preços baixaram e muito mais pessoas podiam adquirir bens e serviços. Começamos a vivenciar a chamada era do mercantilismo.
Com a revolução científica em marcha o divino desaparece completamente da visão científica do mundo, deixando um vácuo espiritual que se tornou característico de nossa cultura atual onde a base filosófica passou a ser a divisão cartesiana entre espírito e matéria e o homem torna-se materialista.
Hoje sentimo-nos como individualidades livres, emancipadas, mas, também solitárias no mundo, convivendo com a insegurança cada vez maior, com a escassez e competição por recursos naturais, violência, poluição, aquecimento global, desaparecimento de espécies, etc...
Como resultado de todo o processo de individuação ou emancipação do indivíduo surgem duas forças básicas na alma humana: o egoísmo e o medo.
A força do egoísmo nos faz ver que vivemos como indivíduos conscientes num corpo físico, e o medo porque nos tornamos conscientes de nossa solidão interior.
A força do medo também se individualizou, tornando-se uma marca existencial individual comum ao nosso tempo. São nossos medos: do desconhecido, do risco, da mudança, do fracasso, do futuro, da perda material, da perda das relações, da morte, da perda da saúde física e mental.
Passamos a viver a era do consumo em massa ou a era da imitação onde eu não posso ser o Brad Pit, mas, posso me vestir como ele. Como conseqüência, a partir daí toda administração foi construída com o intuito de melhorar a eficiência e produzir mais e mais para atender a grande demanda, sem nenhuma preocupação com o ser humano.
A facilidade de se conseguir bens materiais gera um vazio existencial e conseqüentemente uma nova busca pelo sentido da vida.
Você deve estar perguntando:
- O que tudo isso tem a ver com a estória do burro?
O grande Sêneca certa vez ensinou que “... aquele que persegue a volúpia e a ela subordina tudo o mais, a primeira coisa de que descuida é a sua liberdade…”
Se atualizarmos os ensinamentos de Sêneca podemos afirmar que “… aquele que persegue o sucesso e a ele subordina tudo o mais, a primeira coisa de que descuida é da sua liberdade…”
Logo, estamos vivendo em uma era em que o homem não compra o sucesso, vende-se a ele e torna-se seu escravo, pois, o homem passa a precisar do sucesso a qualquer preço.
Daí resulta uma vida ansiosa, suspeitosa, temerosa, assustada com os acontecimentos, sem ética e sem os verdadeiros valores. Em função de tudo isso o mundo foi ficando árido, incolor, sem estética, materialista, sem consciência e espírito.
O homem precisa rever o seu conceito de sucesso.
Eu ouso dizer que sucesso é levar a felicidade aos outros, ser feliz, estar em paz, usufruir de conforto, ser querido, ser interessante, conhecer e experimentar, viver de forma ampla...
Sucesso é uma coisa simples, quando imbuída de valores éticos e morais, isto significa que existe um elo perdido na vida pessoal e na vida das organizações.
Logo, precisamos repensar e desenvolver novas crenças, novas conexões, novas competências, precisamos rever o significado da vida, precisamos rever o significado da empresa, pois, a facilidade de se conseguir bens materiais, está gerando uma sensação de vazio e provocando o declínio das instituições mais nobre.
Não será esta a causa de tanta solidão, de tanto estresse e de tanta infelicidade?
Lembre-se nascemos homem e nos tornamos humano.
A escolha de que tipo de seres humanos queremos nos tornar depende de nossas escolhas e estas escolhas implicam diretamente na nossa maneira de ser como pessoas, como executivos, gestores ou gerentes, enfim, como profissional.
Precisamos buscar um novo jeito a ser aplicado para que as pessoas e as organizações possam transformar o trabalho numa experiência que transcenda as ações diárias, no qual a motivação e o entusiasmo venham de dentro para fora naturalmente e isso não será através de uma técnica e sim de um novo valor de vida.
Que tal seguir o conselho do velho burro, sacudir os velhos valores materialistas e pisar em cima para que possamos construir uma nova história para o Amapá, sem pensar relevar os erros do passado para amparar nos erros do presente e nem muito menos, jogar terra no burro, pois quem sabe este, se enterre de vez...