Em
um dos muitos momentos da gloriosa Roma, dos Césares e suas divindades
especulares ao próprio orifício umbilical, se pregava a loa de que sempre que
um grande general que esteve à frente das legiões em campo de batalha e dela
saia vitorioso. Para comemorar mais uma das muitas expansões do império de
Roma, se fazia uma fabulosa procissão pelas ruas da cidade com o triunfante
general a frente do povo que o saudava.
Essa
senão outra era a honraria máxima que um cidadão romano poderia obter do povo,
fora o trabalho hercúleo que deveria se predispor para dela desfrutar. Para
isso deveria derramar pelo menos o sangue de cinco mil soldados inimigos,
humilhar os generais derrotados e leva-los a ferros. Tendo enfrentado um
exército inimigo de igual ou superior força a legião comandada e acima de tudo:
Tinha que conduzir ao seio de Roma, a sua tropa remanescente.
Apesar
de toda esta pompa e circunstancia com a qual os generais triunfantes, alguns
como o próprio Júlio Cesar assentaram-se sobre o trono do mundo antigo. O povo
romano também levava em alta conta a modéstia pessoal, e em consequência disso
desdenhava de qualquer demonstração de soberba.
Mas
então o que seria dos generais vitoriosos na hora de desfrutar do gozo das
aclamações? Dos ípis e urras? Das salvas
e ovações? E quem sabe até de fogos coloridos se os chineses já os tivessem
compartilhado com os romanos.
Para
evitar este momento de absoluta oportunidade de desenvolvimento da soberba, o
triunfante general carregava a tira colo, na mesma biga, um escravo fiel que
tinha uma única função naqueles momentos; sussurrar de quando em quando no
ouvido do herói: memento mori! Que sabiamente lembrava ao general a sua posição
de homem, humano e mortal. “Lembre-se que um dia você vai morrer!”
Esta
era apenas uma das muitas maneiras de o escravo lembrar ao amo não só a parte
bonita da filosofia e da temporaneidade, mas também de um sacolejo no bom
estilo do “cala a boca e fica na tua que logo, logo todo mundo vai engolir esta
farsa de humildade forçada”. Talvez esta seja uma das vantagens do latim; tecer
abstrações tão sólidas quando a ponta de uma adaga.
Esta
talvez não seja uma verdade comprovada pela história, mas é indiscutível que se
trata de uma criativa ideia que poderia ser muito bem copiada pelos chamados
políticos-popstar. Aqueles que só veem um objetivo em seu mandato: Conseguir um
próximo! Mesmo que para isso tenham que vender até a genitora no mercado em
Rabat.
Estes
tipinhos que tentam a todo custo encarnar uma quimera de Rodolfo Valentino com
Michael Jackson. Não perdem uma oportunidade se quer de estar na ribalta, seja
por que motivo for. Não importa se em batizado de cachorro de alguma socialite
afetada, ou saracoteando de microfone em microfone pelos corredores do
Congresso Nacional. Não importando se a matéria vai sair no JN ou na reprise
das quatro da manhã de algum jornal tapa brecha.
Para
eles tudo é motivo de publicidade. Desde os momentos mais singulares das suas
atividades até os mais íntimos se possível for. Em alguns casos a mesma
população que imita a romana do passado com a ojeriza à soberba dá-lhes corda
para o próprio cadafalso e eles vão em frente, atirando-se para a morte desde
que isso lhes traga um momento de flashes e de microfones para a fanfarrice de
sempre.
Até
mesmo as suas obrigações constitucionais outorgadas pelo sufrágio embora sejam
atos comuns da rotina, lhe são motivo para alarde da mídia que às vezes não tem
muito que noticiar e novamente para preencher as lacunas, lá estão eles: as
estrelas cada vez mais cadentes e por que não decadentes?
Pois
é parte dos anais da física moderna mostrar-lhes que assim como os generais
romanos de outrora tinham seus fieis escudeiros a proclamar-lhes a efemeridade
da vida. Talvez nossos políticos de reality show tenham o bom e velho Isaac
Newton a esperar-lhes às portas do destino e lhes mostrar não intimamente, mas
sim abertamente que tudo o que um dia sobre a gravidade leva para baixo. E ao
que me consta, aqui pelo mundo real a “gravidade” tem título de eleitor e ficou
mais exigente dos tempos de Roma pra cá.