sábado, 24 de março de 2012

Os equívocos que às vezes dão certo e às vezes não

Certas coisas na vida tem a capacidade de interagir de maneira que o mal entendido acaba tomando como destino as linhas da história. Seja ela contada, cantada ou versada, não importa. O que importa é como ficam gravadas no tempo e o jeito é conviver com elas.

Lembro que um dos primeiros exemplos disso, são os famosos chifres que algumas representações esculturais do profeta bíblico Moisés têm, ornando o alto de sua testa.  O Louvre tem uma destas imagens meio mal explicadas, que a primeira vista jamais seriam uma dedicatória artística a um personagem tão ligado a Deus como ele.

O certo mesmo é que alguns copistas da idade média acabaram em algum desleixo deixando-se deslizar do aramaico para o latim e “face acobreada” acabou sendo traduzido como “testa com cornos” e assim o pobre Moisés herdou os chifres, já que os artistas tinha pavor de contrariar as escrituras e irem parar no inferno ou na fogueira, que dá no mesmo.

Uma história de equívocos, também me lembra de Istambul e sua Mesquita Azul. Uma joia do império otomano. Adornada com seis minaretes, quando o normal são quatro; onde o muezim chama os fieis a orar nas cinco vezes do dia.

Construída por Arhmet, o sultão.  As ordens foram para construir um dos minares de ouro. Talvez para diminuir custos o arquiteto do sultão aproveitou-se de que a palavra ouro e o número seis tem quase a mesma grafia no árabe. Acabou tendo seis colunas de granito ao invés da ostentação proposta pelo monarca.

Muitos equívocos tendem ao esquecimento, mas sua história acaba gravada em bronze, o que lhe confere a imortalidade. Casos esdrúxulos como as histórias da politica amapaense, merecem estas doces pinceladas, já que o anedotário é vasto e os casos de políticos caricatos são fartos.

Alguns veem a vida como se fosse uma caixa de música que tal qual o tambor grafado toca incessantemente a mesma melodia e volta ao principio sempre em um comando harmônico eterno.

Desviam, mentem, posam como paladinos da moralidade eterna e probidade sem fim. Ostentam em mansões e carros o fruto do ocaso das moedas. Vilipendiam o pobre povo que neles creem como sendo a salvação de todo o mal, o Messias prometido.

Criam exércitos para militar suas causas sem propósito, a fim de fazer dos inocentes uteis, a infantaria de seus despautérios e sandices.  Mentem sem se preocupar com a procedência do passado. Perdem-se em números variáveis de prestações de pagamento e de contas com os justos e afins.

E no fim de tudo, acreditam em si mesmos, como dúzias de Hitlers que acabam tendo a certeza de que o que fazem é o certo e o duvidoso é obra do destino que parece que em nenhum momento lhes virá o juízo sobre as consciências pesadas e tão pobres de qualquer forma de moralidade.

Palavra se gravada em bronze é eterna. Mas os pulhas sempre carregam uma lima nos bolsos como todo bom e velho bandido, na iminência de ter sempre uma barra da cela a limar, e nas palavras gravadas em bronze desbastar...

terça-feira, 20 de março de 2012

E com a isca se identifica o peixe

Particularmente sou um entusiasta do xadrez. Na pratica depois de Sun Tzu é a melhor forma de se enfrentar os desafios de uma guerra, não que estejamos em guerra no sentido literal da palavra, mas então a vida não é uma guerra?

Sejamos justos. Prefiro sempre enfrentar meus adversários com uma abertura antiga chamada Tarakoss. Abertura para quem não se dá com o tabuleiro é a forma com que iniciamos uma partida e da qual será o divisor de águas para lograr êxito.

A estratégia é simples, tal qual numa pescaria, com intuito de se afastar os peixes miúdos que só estragam a isca, se joga um grande arenque defumado nas águas e espera-se que pequenos e inúteis moradores do fundo d'água se entretenham com o arenque enquanto se pesca um grande e belo troféu.

No xadrez costuma-se usar um bispo para levar o adversário a pensar que está dando uma baixa considerável no adversário, cercando-o com diversos peões enquanto o bispo atrai a atenção e fica cercado por peões.

Eis então que a rainha se movimenta pelo tabuleiro, dando grandes baixas no adversário fazendo-o da a derrocada e pavimentando o caminho para o mate.

Em uma guerra física, como as que não vemos mais em tempos de botões e bombas de efeito devastador, o bispo é sacrificado.

Mas estamos no universo da estratégia do tabuleiro e das guerras de ideias. E neste universo, assim como no tabuleiro, o bispo volta à mesa incólume após seu trabalho de eminencia parda. Para novamente deflagrar novas aberturas par o inimigo.

O resto? Simplesmente é para os que entendem do que fazem afinal o jogo é sempre para maestros e nunca para meros aprendizes. 

segunda-feira, 19 de março de 2012

E assim chega José...

A vós, São José, recorremos em nossa tribulação e, depois de ter implorado o auxílio de Vossa Santíssima Esposa, cheios de confiança solicitamos também o Vosso patrocínio. 

Por este laço sagrado de caridade que Vos uniu à Virgem Imaculada Mãe de Deus, e pelo amor paternal que tivestes ao Menino Jesus, ardentemente Vos suplicamos que lanceis um olhar benigno para a herança que Jesus Cristo conquistou com seu Sangue, e nos socorrais em nossas necessidades com o Vosso auxílio e poder.

Protegei, ó Guarda providente da Divina Família, a raça eleita de Jesus Cristo. Afastai para longe de nós, ó Pai amantíssimo, a peste do erro e do vício. 

Assisti-nos do alto do céu, ó nosso fortíssimo sustentáculo, na luta contra o poder das trevas; e assim como outrora salvastes da morte a vida ameaçada do Menino Jesus, assim também defendei agora a Santa Igreja de Deus contra as ciladas de seus inimigos e contra toda adversidade. Amparai a cada um de nós com o Vosso constante patrocínio a fim de que, a Vosso exemplo e sustentados por Vosso auxílio, possamos viver virtuosamente, morrer piedosamente e obter no céu a eterna bem-aventurança. 

Amém.

domingo, 18 de março de 2012

Crítica Literária: Retratos Imorais - Ronaldo Correia de Brito

É uma ação típica dos literatos rejeitarem seus primeiros escritos, mesmo os publicados, sob a alegação de que a ingenuidade dos exercícios literários iniciais destoa da estética que se vai construindo com o passar do tempo, à custa de muita leitura, reescrita e autocrítica. Há, no Brasil, muitos casos conhecidos, como o de Autran Dourado, que nunca lançou em livro os contos que publicava semanalmente em O Estado de Minas, ainda antes dos 20 anos, e como o de Ferreira Gullar, que não inseriu nas edições de sua poesia completa Um pouco acima do chão, seu marco de estreia, de 1949.

No entanto, com Retratos imorais, seu novo volume de contos, Ronaldo Correia de Brito faz um movimento inverso: após alcançar espaço entre nossos maiores prosadores (talvez o reconhecimento que vem tendo ainda não seja o mais justo, mas o fato é que sua obra o situa entre os melhores), o cearense traz ao público textos de uma fase em que ainda se formava como escritor, entre o final da década de 70 e o início da de 80.

O leitor familiarizado com as páginas densas de Faca, O livro dos homens e Galileia vai perceber em Retratos imorais um nítido desnível, visto que o autor dá passos vacilantes ao buscar sua voz literária entre a temática da brutalidade escancarada e a da ambiguidade humorística, entre a concisão discursiva e a descrição detalhista, entre a linearidade narrativa e a disposição fragmentária de vozes, e entre a abordagem mais restrita do Recife (cidade onde Ronaldo mora há anos) e a mais ampla do Ocidente, geográfica e culturalmente falando, expandindo-se aos Estados Unidos (aliás, esta dicotomia do local e do universal é por vezes falsa, e o autor a resolve muito bem).

O livro não chega a comprometer a bibliografia edificada até então, mas, ressalvando alguns lances de alto nível (deve-se dizer que há também textos atuais), ele também não a engrandece neste momento de maturidade, servindo mais como fonte de comparação, a fim de que vejamos o quanto evoluiu o autor — do que como obra independente na sua unidade.

Na esteira das virtudes de Retratos imorais, deve-se destacar dois feitos notáveis, dignos das melhores páginas de seu autor. O primeiro deles é Catana, uma trama finamente elaborada e tensamente desenrolada. Quatro profissionais estão envolvidos numa cirurgia de alto risco, tentando salvar a vida de um bandido. Além do ofício, os dois cirurgiões, a anestesista e a instrumentadora têm em comum o desejo de evadirem-se de suas realidades e o dilema causado por estarem entre o cumprimento do dever e a possibilidade de interromper a vida de um criminoso:

Os outros contos do livro revezam-se entre claudicantes e de firmes passos, mas sem que nenhum deles chegue a ser desprezível ou gratuito. Mesmo nos momentos de menor força, Retratos imorais exibe a vocação de Ronaldo Correia de Brito para fazer da literatura uma fotografia das diversas faces do real, as quais se formam e deformam pelo seu fio de corte seco, amolado nas fendas e nas pedras dos sertões nossos de cada dia.

Retratos Imorais
Autor: Ronaldo Correia de Brito
Editora: AlfaGuara
Ano de Edição: 2012
Nº de Páginas: 184
Preço:  R$ 37,00
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