O
conceito errôneo que alguns analistas educacionais fazem das teorias
construtivistas, faz até parecer que o construtivismo veio de um planeta
distante, onde a civilização que o criou não tem nada mais do que dois
neurônios para educar e muitas cartilhas, uma para cada ação da vida para
dominar seu comportamento social.
Os
que condenam o construtivismo, o fazem talvez por acreditar que o papel da
educação nesta pratica é uma via de mão única onde o papel do mestre é apenas
de expectador do real passante; o aluno. Jogar a responsabilidade de como
aprender sobre os ombros do aprendiz não é estúpido. É cruel. E é só mais uma
das muitas interpretações equivocadas que se disseminou, pela falta de
conhecimento, estudo e informação.
Com
isso acabam criando vertentes inexistentes no processo construtivista, como se
fosse uma ideologia que se molda de acordo com a vontade do ideólogo. Gerando
bobagens como construtivismo brando, radical, ou outras excrescências do gênero.
Aconselho a estes “doutores da lei” que vale à pena estudar mais, apropriar-se
dos conceitos que envolvem o construtivismo, perceber suas ações, suas bases
teóricas, obter referências de sucesso, especialmente em nosso país. E não
comparar Brasil com Suécia ou Macapá com Estocolmo.
Acreditar
que o construtivismo é um sonho é quase como se afirmássemos que a mente humana
não é capaz de criar e sim apenas acumular o conhecimento pronto, embalado e
carimbado com o selo de aval do MEC. Que pelo jeito é o que vale como símbolo
da verdade suprema.
Enquanto
não nos acostumarmos que a educação é um processo criativo constante, de onde o
que hoje parece ser o ápice do conhecimento, não passa de um efêmero pensamento
amanhã. Já que assim como a humanidade, o conhecimento está em constante fase
de evolução e crescimento.
Se
não crermos nisso não outra há saída, só nos restaria a tradicional cartilha,
igual para todos, com seus conteúdos pré-estabelecidos, sem oportunidade de
considerar as diferenças, nem tampouco as mudanças no mundo e na infância. Depois
disso o próximo passo é nos vestirem com as mesmas roupas e nos chamarem por números
ao invés de nomes, pois nossa individualidade estaria extinta.
Seguir
o modelo, preencher o pontilhado, responder estudo dirigido com a cópia da
resposta dada pelo professor, treinar, treinar, treinar. Resta saber que
individuo está sendo considerado, para ser formado para que mundo? Para qual
sociedade? Com quais parâmetros? E será que depois disso ainda seremos
indivíduos?
A
sociedade, hoje, requer um ser participativo, cooperativo, criativo e autônomo.
Como tornar cidadãos conscientes, atentos à heterogeneidade e multiplicidade de
situações e autônomos. O conteudismo cerceador já teve sua era. O convite do
construtivismo é perceber o entorno, respeitar as diferenças, aprender nas
interações sociais com o outro, considerar a historicidade, ver o mundo com
outras lentes que não apenas as instituídas e formalizadas pela escola e
sociedade.
Ter
oportunidade de opinar, errar, pensar, dialogar. Este lado que os ideólogos do
conteudismo de latas de ervilha trazem é apenas uma faceta do que significou,
de início, uma filosofia mal interpretada. Dizer que “ao ser exposto
repetidamente àquela grafia que se refere a um objeto conhecido, ele acabe por
assimilá-la, como por osmose” é o fim do bom senso e da falta de leitura e
compreensão sobre a psicogênese da língua escrita e o verdadeiro sentido do
conhecimento.
Alguns
educadores tradicionalistas ao afirmar que em um país como o Brasil, onde as
carências educacionais são agudas, em especial a má formação de professores, a
existência de um método rigoroso, de uma liturgia de ensino na sala de aula, é
quase obrigatória.
Será?
Esquecem-se de que é justamente por conta destas carências e diferenças, é que
há que de se pensar em novas formas de abordagem que atendam às especificidades
dos regionalismos e particularidades.
Por
isso está na hora de parar de apedrejar o construtivismo sem conhecimento de
causa, deixar de repetir o jargão que tantos dizem a respeito. E que de nada
contribui para o proveito da educação e da construção do indivíduo pensador e
tomador das suas próprias decisões que são construídas em parte pelo velho “binário
do sim ou não”, mas que pode evoluir para o vasto contexto do “Porque Sim ou do
Porque Não”.