Em 2005 dei uma consultoria à Prefeitura de Macapá, onde na época era João Henrique o ocupante do Palácio Laurindo Banha. Meu trabalho consistiu em fazer um diagnóstico profundo das estruturas municipais de saúde para prever as demandas tanto de medicamentos quanto de equipamentos correlatos de uso perene e efêmero.
Visitar in locco as UBS fazia parte do trabalho e a situação era calamitosa, afinal, coisas básicas faltavam para atendimento da população. Às vezes via-se a angústia dos funcionários, médicos e demais profissionais de saúde em estarem impotentes diante da situação difícil em que eram obrigados a exercer os cuidados à saúde populacional.
Em certas unidades me sensibilizava até ao ponto de em algumas vezes aviar algumas receitas de quem nada tinha para aplacar a enfermidade do momento, e às vezes até mesmo os diretores dos postos também faziam o mesmo em ato de altruísmo. Mas, não dava para fazer isso com todos os pacientes, afinal, para isso existe a saúde pública e seus mantenedores como Estados e Municípios, assim como seus titulares das respectivas secretarias de saúde.
Talvez, digo, talvez, tenha sido esta mesma sensação de impotência e a necessidade de pelo menos desenvolver um trabalho menos frustrante, tenha levado a diretora do Hospital de Emergências a pedir em caráter de urgência o empréstimo de medicamentos básicos e alguns mais específicos à Secretaria Municipal de Saúde.
Não só a diretora do HE, mas a diretora do Hospital da Mulher, também apelou à Secretária de Saúde do Município para o empréstimo de medicamentos de mesma natureza, assim como também de insumos para diagnose e administração de fármacos, como filmes para radiologia e agulhas hipodérmicas.
Enquanto a administração estadual, não sabia, ou pelo menos fingia não saber, a situação foi cômoda, até mesmo pela incipiência da administração da CAF, órgão que cuida dos suprimentos às unidades de saúde do estado, que por muitas vezes alegou inúmeros motivos para a falta de medicamentos e insumos, incluindo o mais esdrúxulo: “Os fornecedores estão de recesso”.
O caos na saúde é bastante evidente para quem quiser ver, menos para os olhos anuviados de quem não quer dar o a mão à palmatória ou quem não faz uso dela e se acha no direito de dizer que tudo está bem e maravilhoso é.
Já que, como Estado e Município estão sob a administração de partidos declaradamente imiscíveis, o Governo do Estado se recusa a reconhecer o caos, tanto que em novembro passado o sindicato dos profissionais de saúde solicitou ao governador que declarasse estado de calamidade pública, para que pudessem ser feitas as ações de compra emergencial dos suprimentos médicos. O governador se recusou.
A prefeitura da capital afirmou estar com estoque regular e com sobras, devido ao planejamento nas compras de medicamentos e suprimentos para que os postos do município não fiquem deficitários para o devido atendimento. O prefeito também se manifestou sobre o caso afirmando que embora o material seja a título de devolução posterior, quando o estado regularizar seu estoque.
O governo do estado em uma atitude digna de “Roswell” nega veementemente que o caso tenha acontecido e que tenha autorizado o pedido de empréstimo aos estoques do município, e que os estoques do estado tiveram déficit, mas já está solucionado.
Talvez o governador tenha esquecido que questões de saúde, não conhecem relógio nem pedidos de postergações. Simplesmente acontecem e necessitam de expedito auxílio para sua convalescença breve. Mas como é de se esperar de quem não utiliza o serviço público de saúde e não se integra às suas necessidades rotineiras, não tem como se importar com o que acontece ou deixa de acontecer nos corredores abafados dos hospitais e unidades de saúde, só que conhece é quem faz uso.
Por via das dúvidas, para que a situação, considerada uma saia justa bem vexatória, não se repita novamente, o Governo do Estado resolveu exonerar a diretora do Hospital de Emergências. Quando o óbvio seria fazer a compra dos materiais e medicamentos necessários à população. Até a data de publicação deste, não se sabe se o governador voltou atrás na exoneração.
Enfim, quando o sapato não lhe aperta o calo da dor, o calo da vaidade dói mais, quiçá, não importa se a responsabilidade é do estado ou do município, na verdade o jogo é dos brios e do garbo, em busca de uma vaidade, que sem sombra de duvida ou de excessos de eufemismos, se paga com sangue e com vidas!
Tragam-me uma Dipirona por favor...