Uma
novidade no Brasil atual é que pela primeira vez desde o desembarque de Tomé de
Souza, em 1549, o braço do Estado está investigando, encarcerando e punindo
personagens de uma secular oligarquia política e econômica desta terra de Santa
Cruz. Diante dessa novidade, Os personagens centrais são explosivos asteriscos.
Em graus variáveis, estão mais próximos do problema do que de sua solução.
O
processo de Impeachment, Dilma Rousseff, Michel Temer e Eduardo Cunha e até
Lula são ingredientes secundários de um momento muito maior. Vice-presidente de
olho na cadeira da titular é coisa comum. Oposição querendo derrubar o governo
também é coisa que acontece sempre, quase corriqueira.
O STF
investiga os presidentes da Câmara e do Senado. Foram parar na cadeia o dono da
maior empreiteira do país, um poderoso banqueiro e o líder do governo no
Senado. Dois ex-diretores da Petrobras fizeram a limpa com delações premiadas. E
vários são os já sentenciados pela corte de Curitiba.
Neste
momento impar, foram presas as pessoas que se comportavam como se estivessem em
tempos nababos e que se achando os sobas desqualificavam a Operação Lava-Jato,
mas acabaram se dando conta de que a festa acabou e passaram a colaborar com o
Ministério Público.
Uma
parte do Ministério Público e do Judiciário dissociou-se de uma secular
tradição que protegia os maus costumes das oligarquias política e econômica
(mas não na sua totalidade).
De
um lado do ringue está a doutora Dilma que não respeita delatores desde os
tempos do VAR-Palmares; eleita por um partido que teve dois presidentes e dois
tesoureiros no xilindró. Do outro, Cunha, líder de uma poderosa bancada
pluripartidária, apanhado com uma fortuna escondida no banco Julius Baer.
Os
petistas dizem-se perseguidos, mas, entre os 68 políticos investigados, seu
partido está empatado com o PMDB (ambos com 12 notáveis). A taça ficou com o
Partido Progressista, que pelo jeito progrediu muito, com 31 acusados. O PP tem
uma peculiaridade: abriga um plantel de doutores cujas raízes remontam ao tempo
da ditadura.
Símbolo
máximo e decano dessa grei é Paulo Maluf. Olhando-se para as empreiteiras que
tiveram executivos encarcerados chega-se a empresas poderosas desde a metade do
século passado.
Ferida,
a oligarquia está atemorizada. É comum ouvir-se a pergunta: “Onde é que isso
vai parar?” Em geral, ela significa outra coisa: “Será que vai chegar a mim?”
Também é frequente a advertência: na Itália, a Operação Mãos Limpas desaguou em
nove anos de poder de Silvio Berlusconi com suas bandalheiras.
Novamente,
a frase tem outro significado: “É melhor deixar tudo como está.” A Mãos Limpas
italiana obrigou a oligarquia italiana a mudar de modos. Berlusconi perdeu os
direitos políticos e a batalha para não pagar na cadeia os 11 anos a que está
condenado. Matteo Renzi, o atual primeiro-ministro da Itália, não tem as
ligações perigosas dos cardeais da extinta democracia cristã, nem as
traficâncias da última geração de políticos socialistas. A “Mani Pulite” não
transformou a Itália numa Nova Zelândia, mas tornou mais arriscado o ofício de
roubar.
Com
isso, Dilma pode ou não continuar na Presidência. Mas, para a oligarquia
ameaçada, isso não tem importância. O que se precisa é quebrar os ossos de
parte do Ministério Público e de parte do Judiciário. E isso sim, está cada vez
mais difícil.