sexta-feira, 1 de abril de 2016

Em barco que explode todo mundo afunda


Uma novidade no Brasil atual é que pela primeira vez desde o desembarque de Tomé de Souza, em 1549, o braço do Estado está investigando, encarcerando e punindo personagens de uma secular oligarquia política e econômica desta terra de Santa Cruz. Diante dessa novidade, Os personagens centrais são explosivos asteriscos. Em graus variáveis, estão mais próximos do problema do que de sua solução.
O processo de Impeachment, Dilma Rousseff, Michel Temer e Eduardo Cunha e até Lula são ingredientes secundários de um momento muito maior. Vice-presidente de olho na cadeira da titular é coisa comum. Oposição querendo derrubar o governo também é coisa que acontece sempre, quase corriqueira.
O STF investiga os presidentes da Câmara e do Senado. Foram parar na cadeia o dono da maior empreiteira do país, um poderoso banqueiro e o líder do governo no Senado. Dois ex-diretores da Petrobras fizeram a limpa com delações premiadas. E vários são os já sentenciados pela corte de Curitiba.
Neste momento impar, foram presas as pessoas que se comportavam como se estivessem em tempos nababos e que se achando os sobas desqualificavam a Operação Lava-Jato, mas acabaram se dando conta de que a festa acabou e passaram a colaborar com o Ministério Público.
Uma parte do Ministério Público e do Judiciário dissociou-se de uma secular tradição que protegia os maus costumes das oligarquias política e econômica (mas não na sua totalidade).
De um lado do ringue está a doutora Dilma que não respeita delatores desde os tempos do VAR-Palmares; eleita por um partido que teve dois presidentes e dois tesoureiros no xilindró. Do outro, Cunha, líder de uma poderosa bancada pluripartidária, apanhado com uma fortuna escondida no banco Julius Baer.
Os petistas dizem-se perseguidos, mas, entre os 68 políticos investigados, seu partido está empatado com o PMDB (ambos com 12 notáveis). A taça ficou com o Partido Progressista, que pelo jeito progrediu muito, com 31 acusados. O PP tem uma peculiaridade: abriga um plantel de doutores cujas raízes remontam ao tempo da ditadura.
Símbolo máximo e decano dessa grei é Paulo Maluf. Olhando-se para as empreiteiras que tiveram executivos encarcerados chega-se a empresas poderosas desde a metade do século passado.
Ferida, a oligarquia está atemorizada. É comum ouvir-se a pergunta: “Onde é que isso vai parar?” Em geral, ela significa outra coisa: “Será que vai chegar a mim?” Também é frequente a advertência: na Itália, a Operação Mãos Limpas desaguou em nove anos de poder de Silvio Berlusconi com suas bandalheiras.
Novamente, a frase tem outro significado: “É melhor deixar tudo como está.” A Mãos Limpas italiana obrigou a oligarquia italiana a mudar de modos. Berlusconi perdeu os direitos políticos e a batalha para não pagar na cadeia os 11 anos a que está condenado. Matteo Renzi, o atual primeiro-ministro da Itália, não tem as ligações perigosas dos cardeais da extinta democracia cristã, nem as traficâncias da última geração de políticos socialistas. A “Mani Pulite” não transformou a Itália numa Nova Zelândia, mas tornou mais arriscado o ofício de roubar.

Com isso, Dilma pode ou não continuar na Presidência. Mas, para a oligarquia ameaçada, isso não tem importância. O que se precisa é quebrar os ossos de parte do Ministério Público e de parte do Judiciário. E isso sim, está cada vez mais difícil.
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