A primeira viagem internacional
que fiz tinha uma escala em Madri. Lembro-me desta viagem bem mais do que das
outras, não só por ser a primeira viagem para fora das fronteiras de nossa
ensolarada América, mas também por ter tido o constrangimento alheio ao ver
como uma brasileira foi tratada no setor de imigração espanhol.
Só não a chamaram claramente de
prostituta, mas faltou pouco, muito pouco, até que teve ser passaporte carimbado e foi devolvida
para seu país de origem. Isso tudo aconteceu
no espaço de meia hora entre o desembarcar e o retornar à contenção para
aguardar um voo de retorno.
Este não foi o único fato
acontecido por lá, na verdade devem ter ocorrido centenas ou quem sabe milhares
de casos como este. Quando um brasileiro
ou brasileira tentava descer em solo espanhol e ser taxado de "imigrante morto
de fome" ou de "prostituta", ficava a escolha do oficial da imigração supor sobre
nós.
O Brasil era sempre visto com
desconfiança, afinal pertencíamos ao terceiro mundo (era assim que se referiam
a nossa economia nos anos 80), como se o brasileiro viesse de alguma galáxia
extremamente primitiva para ser tão bem vindo à Europa como pernil na sinagoga.
Esta politica xenófoba não era
exclusividade do velho mundo, recordo da citação de J. Edgar Hoover quando
comandava o FBI nos anos 30 e alardeava aos quatro ventos que a maior baboseira
que os EUA podiam ter feito foi inscrever no pedestal da estátua da liberdade: “Venham a mim
as massas exaustas, pobres e confusas ansiando por respirar liberdade. Venham a
mim os desabrigados, os que estão sob a tempestade. Eu os guio com minha
tocha."
Segundo ele, era um convite a toda escória do mundo para ir viver à custa do Tio Sam.
Segundo ele, era um convite a toda escória do mundo para ir viver à custa do Tio Sam.
Mas o mundo dá muitas voltas e
atualmente o colapso das grandes economias mundiais tem cada vez mais levado a
um processo de imigração às avessas, de onde partem hoje americanos e espanhóis
rumo à república das bananas do terceiro mundo.
Ávidos pela receptividade
brasileira vêm em busca de empregos e condições de vida melhores e são recebidos
com sorrisos e o calor que só em terras brasilianas sabemos gerar. Bem
diferente da receptividade humilhante a qual os brasileiros eram sempre
submetidos, alijados a cantos e filas das salas de imigração, a lidar com as carrancas dos oficiais de imigração.
Os antes persona non grata made in Brazil assim como os chineses,
que fartamente descobriram o calor do capitalismo, passaram a ser tão bem
vindos quanto se fossem membros seculares da família Rockfeller ou Rothschild.
Novos tempos, novas visões e diretrizes
se adaptando para as realidades do século XXI. Nunca em minha vida achei que
iria ver uma massa de norte americanos clamando emprego fora de Neverland ou
que veria os tão empertigados espanhóis tendo que colocar cadeados nas latas de
lixo para que o próprio povo espanhol não coma os restos dos poucos que ainda
tem com o que se sustentar...
Eis que ainda deve chegar o tempo
em que o fomento externo se estagne de tal maneira que lamentavelmente, mas sem
perder a empáfia veremos os mesmos algozes que humilharam tantos cidadãos
brasileiros, irem para as campanhas de turismo receptivo implorar pela volta
das “prostitutas”.