sábado, 4 de setembro de 2010

O copo cheio de vida

Bom dia caro leitor,

Interrompo hoje a terceira parte da crônica sobre a terra de Dalai Lama, para postar um texto de mim mesmo para quem se sentir assim.

Quando comecei a escrever esse blog, era uma pessoa arrogante e cheia de mim mesmo, achava que podia tudo (ainda acho um pouco), achava que o mundo era meu e os outros apenas tomavam espaço. Mas confesso hoje, que quando comecei a escrever, eu era ateu de carteirinha, incrédulo de tudo que viesse da divindade de Deus, mas após passar este tempo no exílio, por ironia eu que tanto ensinei na minha vida, passei a ser o aluno da vida.
Comecei a aprender que nem tudo que eu queria eu teria ao meu tempo, talvez por que a resposta de Deus não fosse imediata quanto eu ansiava, mas que tudo tem seu momento tem tempo de ir e vir, de chegar e de partir.
Meu aprendizado, em controlar a ira que habitava em mim, de controlar a arrogância e a empáfia que afloravam e me fazia ser uma pessoa temida e odiada. Minha sina de não esperar o poder vir e sim tomá-lo a força, como Napoleão tirando a coroa das mãos do Papa e coroando a si mesmo imperador.
Hoje confesso que abri inicialmente uma fresta da porta para Deus olhar e ver o ser humano tão insignificante que eu era. Que a falácia e a surrealidade me faziam um fantoche de mim mesmo como titereiro.
Então abri a porta por completo, e me vi em um novo mundo, olhei para dentro de mim e vi minha alma triste e jogada no fundo de um poço de lodo tão escuro quanto minha vida e era denso e viscoso que não deixava minha alma planar e viver dentro de mim em paz.
Amigos, confesso que ser pai e ter tido este momento de descoberta, foram as experiências mais perfeitas e incríveis da minha vida inteira. Hoje sou um novo homem, há algum tempo disseram que eu morri. Na verdade eu morri mesmo. O ser humano que habitava este corpo seco e esquálido realmente não existe mais, está sob toneladas de atos ruins e falhos, de factóides e desgraças, de ira e de ganância. Mortus est.
Deus tem me ajudado a cada dia de minha vida a ver o mundo, me ajudou a despejar o conteúdo do copo cheio que eu era, e encheu-me de graça e paz. Renovado, louvo ao meu criador e eu como criatura tenho apenas mais uma missão para completar a obra que me incumbiu Deus. Levar esta mesma esperança de renovação a todos que o buscarem nos momentos de tribulação ou de paz, e dizer-lhes que não sou mais ateu, que creio e que todo aquele que crê terá uma vida eterna.
Agora depois de buscar minha paz, vou em busca da pessoa que amo e da luta para fazê-la ver que Deus presente em nossas vidas nada nos faltará.

Bom fim de semana e fiquem com Deus.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Dalai 2


Na verdade, essa deveria ser "Londrina" e não tibetana, mas vamos lá. Leicester Square fica entre dois pontos bem conhecidos pelo turista que visita a capital inglesa: Covent Garden e Piccadilly Circus ao norte de Trafalgar Square. Não é sem motivo que cito um cinema no texto do livro. Leicester (fala-se Lester) tem inúmeros deles. No mais famoso, Odeon, um ingresso chega a custar £8 (cerca de R$30). Mas vale pelo charme.
Eram três e cinco quando olhei para o relógio. Apesar do ar rarefeito e do travesseiro de oxigênio estar praticamente no fim, não acredito que tenha sido a altitude o motivo de todo o mal. A maldade que impregnava o ambiente não vinha de fatores externos, eu sabia. Estava em mim e não parecia querer ficar escondida por muito mais tempo.
Levantei, acendi o terceiro ou quarto cigarro da noite, algo proibido na altitude de 3.700 metros de uma terra proibida e fui à janela. À minha frente, a imensidão do Himalaia. Abaixo, dois prosaicos carros estacionados em um pátio imundo. O silêncio da madrugada era cada vez mais alto no quinto andar de um hotel sem nome. O único movimento era o da fumaça dançando na trajetória esperada tendo a cordilheira como pano de fundo. A calma que eu tanto buscara servia agora de combustível à minha insônia.
Perdido no topo do mundo. E o que me resta são as formas de uma fumaça pairando no céu tibetano. Formas que lembram templos, monges, papiros, montanhas, chás e velas de manteiga de yak, degustações de pulmões de carneiro, frio, muralhas, trilhas, trocas, mais frio, mantras, imagens protegidas por vidros, budas seculares, muito frio, palácios invadidos, chineses, cabanas, bandeiras, fé, um frio insuportável, crianças, rajadas, frio...O vento cortava meu rosto às seis da manhã quando despertei do pesadelo na minha primeira noite em Lhasa, a lendária capital do Reino do Tibet.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Dalai 1


Vermelho. Para onde quer que eu olhasse era só o que via no aeroporto internacional de Beijing (Pequim) desde que há intermináveis 15 minutos aguardava minhas malas aparecerem na esteira. Não havia meio-termo. Tinha realmente deixado toda e qualquer referência no continente europeu. Aqui, olhos puxados que em nada lembram os das colônias espalhadas por São Paulo, disciplina no andar, fala ininteligível, escrita ainda mais incompreensível. E o vermelho. Dominante, intimidador, complementar às fardas dos militares dispostos na seção de imigração e que pareciam enxergar o meu quase absoluto temor.
O dia anterior havia sido tranqüilo em Londres. Roteiro básico e obrigatório: Westminster, Buckingham, Big Ben, Tâmisa, ônibus de dois andares, Soho, táxis clássicos moderníssimos, Heathrow, vôo. E pesadelo. Acordado e absurdamente prosaico.
Uma viagem ao oriente pode requerer pré-requisitos mais nobres como necessidade de auto-descobrimento, evolução espiritual, vocação aventureira, mas há uma lista de itens mundanos obrigatórios para a viagem: a minha era extremamente detalhada e quase interminável. Uma rota que se anuncia proibida justifica a minúcia do relatório que recebi da agência que organizou a expedição e que lembrei de checar assim que o avião deixou Londres: Listaram praticamente todos os itens de minha bagagem.
Entre as centenas de passageiros do Boeing 747-400 da British Airways com destino a Beijing no início da noite de 31 de agosto havia apenas um brasileiro. Alguém que, do assento 28G, com os olhos arregalados observava o documento a ser preenchido sobre a febre amarela, sem ele não podemos descer em solo chinês.
Proibido. Febre-amarela. Declaração de saúde. Vacinação. A cerca de 1.200km/h, acima das nuvens, minha única lembrança era de um pequeno cartão amarelo esquecido sobre o criado mudo de meu apartamento. Se era aventura o que procurava ao deixar o Brasil, ela começava ali, com a total e irrestrita incapacidade de mudar a situação. E ainda faltavam mais de 15 horas até chegar ao continente asiático.
Na esteira do aeroporto de Beijing, é a terceira vez que uma de minhas malas passam por mim. Um funcionário da companhia aérea faz menção de ajudar, mas permanece apenas observando o rapaz que aperta com toda a força o papel com a declaração de saúde para o governo chinês, sem tirar os olhos das paredes vermelhas.

Estou na China. Proibido de pisar no solo que é a porta de entrada para o reino tibetano.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

É tudo o que se quer...


Quando o cansaço bate a sua porta, o corpo padece. Mesmo que um longo período de jejum de esforços tenha existido, mesmo assim o corpo padece, pois o jejum mesmo assim foi uma incessante busca por um objetivo. Muitas vezes nos achamos apto a realizar os doze trabalhos de Hércules ao mesmo tempo, mas vemos que em um mundo onde não estamos sozinhos, muitos atrapalham mais do que ajudam a realização das atividades às vezes até simples e que requerem um imediatismo externo.
Hoje vejo que sou muito egocêntrico e que se o mundo tivesse uma dúzia de mim mesmo seria possível realizar até mais do que doze trabalhos simultaneamente.
Mas a utopia é sempre uma saudável memória, mesmo que resida nos neurônios uma vontade intensa de ser um exército de um homem só, onde apesar de se achar coberto das razões humanas, o mundo não é perfeito.
Como dizia Milton, "o mundo é um lugar bom e ainda vale a pena se lutar por ele".
É tudo que se quer...

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Vai agosto, com gosto...


Mais um mês se despede, fico imaginando o que vem por ai. Semana da pátria? Isso já está muito descaracterizado, o brasileiro nem sabe mais se a mama é brazuca ou África, mas afinal qual foi sua África? Que marca fica para o fim do mês além das contas a pagar e as falácias das promoções em mês pobre de festividade e gastanças.
Agosto se vai, com gosto ou não, se deixou gosto amargo, azedo, salgado ou doce, pode ser até umami.
Nos despedimos de agosto com o gosto das eleições por vir, dos momentos que adentram a longa espera que do inferno leva a perdição, quase igual a Milton em Praíso Perdido.
Não nos esqueçamos de olhar de vez em quando a caixa com os apetrechos natalinos, para ver se a árvore não foi carcomida pelas traças de doze meses ou se as lampadinhas ainda piscam intermitentemente, quase igual a passagem dos meses que tem sido tão rápidas quanto a freqüência dos pisca piscas.
Enfim, mais um rotineiro mês se vai dando a outro seu lugar nessa longa dança da vida, que vai fazendo 2010 se despedir aos poucos, deixando a velocidade de orquídea para velocidade de chita.
Bom começo de mês para todos, que Deus esteja cada vez mais presente em nossas vidas.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

É preciso encarar a vida


Ela tinha 90 anos e uma agenda extensa de compromissos pelo país. Presidente de uma das principais entidades em prol da inclusão de pessoas com deficiência visual do mundo, Dorina Nowill diz que é preciso entusiasmo para superar as dificuldades da vida.
"É preciso encarar a vida como ela aparece. Não se pode disputar com a vida", aconselhava Dorina Nowill, há mais de 60 anos trabalhando para que os cegos tenham as mesmas oportunidades na vida que os demais.
Paulistana, cega em uma década em que o mundo estava começando a ver, Dorina de Gouvêa Nowill nasceu em São Paulo em 1919. Com 17 anos ficou cega por causa de uma patologia ocular. Mas isso não acabou com sua vida. Ao contrário: a cegueira a transformou em uma mulher que não desiste e batalha sempre em busca de seus objetivos. Dorina adorava estudar e a cegueira não a barrou. Na época, havia poucos livros em Braille para estudantes cegos. Assim começou sua missão de vida: reuniu um grupo de voluntários e criou a Fundação para o Livro do Cego no Brasil, que mais tarde viria a ser a Fundação Dorina Nowill.
Dorina Nowill não desistiu dos estudos e foi a primeira aluna a matricular-se em São Paulo, numa escola comum, onde estudou com alunos com visão normal e formou-se professora. Na seqüência, estudou nos Estados Unidos. Quando retornou ao Brasil, implantou a primeira imprensa Braille para produzir livros em Braille e não parou mais.
Internacionalmente, trabalhou com organizações mundiais de cegos em órgãos da ONU (Organização das Nações Unidas), na qual representa o Brasil. Recebeu vários prêmios (nacionais e internacionais) que rendem uma lista extensa.
Além de toda a atividade, ainda resta tempo para a mulher Dorina: ela era casada com Edward Hubert Alexander Nowill, mãe de cinco filhos e avó de 12 netos. Escreveu o livro “... e eu venci assim mesmo”, uma autobiografia que conta seus 50 anos de trabalho.
Conheci Dorina em uma convenção para acessibilidade e inclusão na década de 90, fico muito honrado de ter conhecido tão batalhadora mulher e hoje prantear sua partida.

Vai com Deus Dorina! Tua luta não morre hoje, nem tua história.

Dia triste mas, com visão de futuro.

domingo, 29 de agosto de 2010

Exemplos eficientes


O trabalho infantil é condenável e proibido por lei. O Estatuto da Criança e do Adolescente, que está completando vinte anos, veda até o aprendizado em condições insalubres e perigosas. Mas será que isso significa que as crianças não devem fazer nada? Até que ponto um menino pode ajudar a família nos serviços domésticos? Em Minas, um pai que educa os filhos transmitindo um ofício, orientando as tarefas.
Existem coisas que são mostradas para nós e que às vezes passam despercebidas e as vezes marcam. Hoje pela manhã, assisti ao Globo Rural pela Globo News como de costume, embora eu não seja do meio a que se destina esse programa, sempre assisto com atenção as curiosidades apresentadas e as noticias do mercado de agronegócios no Brasil.
Mas uma reportagem em particular me toucou fundo. Atualmente temos visto uma degradação dos valores da família e da criação dos filhos, a cultura dos pais ausentes gera filhos problemáticos, ou em alguns casos a exploração do trabalho infantil está na outra ponta desta tênue linha da criação dos filhos.
Em particular a reportagem sobre os meninos carreirinhos de Urucúia - MG me deixou muito feliz em ver que uma família atípica formada de Pai que ficou viúvo com filho de colo, madrasta que assumiu os filhos do companheiro e a vida simples, mas produtiva que vivem na roça.
Cedo os meninos recolhem lenha para casa dos pais e para a casa da avó a quem chamam carinhosamente de "mainha", e conciliar as atividades do lar. Mãozinhas firmes debulhando milho para servir o galinheiro. Mãozinhas nos tetos aprendendo a ordenhar a vaquinha. Vi a farra no curral, menino fazendo de conta que é peão. Compenetrado, sentadinho no banco, no be-a-bá da religião com a escola que fica à uma hora de ônibus da casa deles, assim como as brincadeiras comuns do interior, de se banhar na vereda, andar de cavalo e ajudar o pai a tocar o gado.
Imagens como essas, marcar a vida da gente e nossos pensamentos urbanos decadentes nos quais tentamos sob decreto, tentar ensinar os filhos, de onde a omissão de um estado moderno nos faz cada vez mais nos distanciarmos da família como ela foi concebida, parta ser uma instituição sólida da qual derivamos para uma vida social plena e farta.
O que mais me emocionou foi quando o repórter ao se despedir dos meninos, foi saudado com um "bença", e ele quase sem ação replicou: "Deus te abençoe" fechando com chave de ouro a mostra de um exemplo da maneira simples mas eficiente na arte de ter uma família.

Deus abençoe a todos neste domingo e em todos os outros.
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