sábado, 21 de agosto de 2010

Mais uma...


Quando eu era criança, esperava ansiosamente as festas de final de ano, me lembro bem que meu pai comprava roupas novas para todos nós em um crediário e ceávamos no natal e esperávamos o ano novo na porta de casa enquanto os vizinhos vinham de porta em porta desejando votos de dias melhores.
Com o tempo isso passou, e a empolgação também, hoje mais vejo com olhos de datas quase festivas mas como dias normais.
Com esta mesma visão de pouca empolgação vejo estas eleições; promessas vazias, gente corrupta querendo continuar ou entrar para avidamente consumir o dinheiro público e causar inveja futura com enriquecimento ilícito.
Não gosto de Dilma, mas fico estarrecido com Serra quando ele promete coisas que beiram o paliativo como se fosse a nova descoberta da pólvora. O ato de criar um ministério da segurança é um exemplo.
Afinal temos uma segurança quase inexistente, uma tolerância ao crime por parte de autoridades mal aparelhadas e mal pagas, que buscam no "bico" ou no crime o complemento de sua renda.
Fico pensando no que um ministério da segurança surtiria de efeito para nossa falta de segurança? Afinal um ministério é um cabide de empregos para várias cabeças pensantes que só tem um objetivo: mamar nas tetas dos cofres públicos com salários pomposos e para enfim blindar seus carros e aumentar a segurança dos condomínios de luxo em que moram. Nada mais.
Lembro de quando era mais jovem, ter uma tranqüilidade quase paradisíaca para andar pelas ruas em horas tardias após vir do lazer da madrugada. Hoje isso é algo impossível de se fazer a não ser que você seja do universo do crime. Na verdade o que nossos políticos deveriam fazer mesmo, não era prometer coisas que não surtem efeito prático e sim consertar o que existe de maneira deficiente. Mas isso não enche os olhos, não dá voto aumentar o salário de delegados e policiais, não dá voto comprar armas modernas e consultar especialistas em problemas de segurança de países que já passaram por crises bem maiores que a nossa e superaram isso.
Lembro quando Rudolph Giuliani assumiu a prefeitura de Nova Iorque e implantou a política de tolerância zero, muitos políticos reprovaram o ato, por questionarem que feriam os direitos constitucionais dos cidadãos americanos, mas na releeleição de Giuliani provou-se que o crime foi combatido e reduzida a taxa de criminalidade naquela cidade. Ponto para ele, que ainda lutou contra um câncer durante a luta contra o crime.
Criar ministérios, decretos e outras bobagens politiqueiras, soam bonito na tela na hora da propaganda, mas na prática mesmo, só conheço um decreto que acabou com a criminalidade e com quase tudo que se chama de direitos humanos, chamava-se AI 5.

Sábado de luta amigos.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Lula, o Donatário


O presidente Lula se despedindo da Presidência no programa eleitoral de Dilma Rousseff, com a música "entrego em suas mãos o meu povo" me lembrou o pior do Brasil. O Brasil dos donatários e das famigeradas Capitanias Hereditárias. Como se não fosse suficiente, ainda há o discurso que infantiliza o povo brasileiro com essa história de pai e mãe do povo. Pura bobagem, como se fossemos crianças órfãs até a posse de Lula.
Desde o "Coronelismo, enxada e voto", de Victor Nunes Leal, o Brasil conhece bem esse pior lado. O do patrimonialismo brasileiro, do qual nasceram outros defeitos: o populismo, o paternalismo, o clientelismo. Com a manipulação das massas, os donatários do Brasil mantêm o poder e o entregam aos seus herdeiros. Além do "deixo em suas mãos", há ainda a ameaça continuista implícita: "Mas só deixo por que vais continuar o que eu fiz". Como se Lula pudesse decidir não passar a Presidência à pessoa que for eleita este ano.
Ninguém duvida que apelos emocionais funcionam em campanha eleitoral. Mas não garantem eleição. Difícil esquecer até hoje o contagiante "Lula lá, nasce uma estrela, Lula lá". Ele perdeu aquela eleição. São muitas as razões do voto e a história eleitoral brasileira é curta demais para que sejam traçadas leis gerais. Mas espera-se que ela não se explique pelo retrocesso por essa visita ao passado.
Por exemplo, a economia americana estava em um dos seus melhores momentos no filnal do governo Bill Clinton e mesmo assim Al Gore perdeu. É bem verdade que Al Gore quis distância de Clinton por causa do escândalo Mônica Levinsky. Se por acaso naquele momento o presidente democrata fizesse uma campanha paternalista cantando e entregando o povo americano nas mãos de Gore como se este fosse um feudo, certamente causaria uma rejeição ainda maior. Mesmo por que lá eles não acham que eleitores passam de mão em mão como uma massa sem vontade própria. Nem mesmo ocorreria a um presidente escolher pelo partido quem deve concorrer a sua sucessão, por que existe o saudável ritual das primárias em que os candidatos enfrentam o desafio de convencer seus próprios militantes. Aqui, nem o governo nem oposição escolhem postulantes de forma transparente.
Vale lembrar que assim como a prática de Portugal em instituir as capitanias para o bem do Brasil se tornou um grande fracasso que só consta nos livros de história para decoreba assim como os afluentes da margem esquerda e direita do Amazonas. Talvez o grande feudo Lulista da estrela torta esteja fadado ao mesmo destino se os órfãos brasileiros aprenderem a votar.

Bom final de semana abençoado para todos!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Macacos Rambo X


Muitos pensavam que faríamos igual aos norte americanos que fazem crise por tudo até por serem chamados de feios. Mas a estreia do filme Z de Stalone e seus milicos bombados da geração woodstock, como Arnold, Willis e só faltando Seagal para completar a panela do caldo de um filme fadado a um fracasso tão sólido quanto aço em rebordo de ustulação.


Não precisamos fazer piquete em porta de cinema para boicotar o filmeco de Mr. Rambo. Basta dar uma olhada na sinopse do "filme" para ver que o rendimento vai estar atrelado a pessoas como meu pai que vê qualquer coisa que tenha movimento nos filmes em DVD que lhe mando. E diga-se de passagem que papai ainda tem um gosto um pouco refinado perante o roteiro antológico de Mr. Rambo.


Ora vamos ser honestos, uma fórmula tão batida como esta, embrulhada, azeitada e passado um verniz bem ordinário, tenha a pretensão de posar de Avant premier do cinema de ação, que diga-se de passagem já teve seu expoente em tempos bem remotos.


Para nós, basta ver que os 60 mil doados a prefeitura de Mangaratiba para a construção de uma estátua memórial de Mr. Rambo, soa no mínimo como a piada pronta do ano. O que Muito me espanta foi uma reportagem da Globo comparando essa proeza de Mr. Rambo a da Diva, eterna musa Brigite Bardot, que ganhou uma merecida estátua em búzios de onde faço questão de me sentar em seu colo e relembrar um cinema, aonde não fui chamado de Jeca que doa macacos de brinde a babuínos anabolizados e bem velhos para o que fazem assim como Jagger caiu em si e resolveu aposentar de vez os Stones. Mr. Rambo já deveria saber a hora de parar com honras e não como a piada do mês.


Saúde às contas penduradas Mr. Rambo!


Abraços da quinta para todos.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Vinho doce, crítica ácida...


Os primeiros goles de vinho entraram na boca de Jonathan Nossiter como remédio. Ele tinha apenas 2 anos de idade quando seus pais instilaram pequenas doses na dieta dos quatro filhos para mantê-los mais comportados. Era uma família americana em Paris – e adepta do costume francês de beber às refeições. Seduzido pelo encanto dos tintos e brancos, Nossiter começou a montar uma adega na adolescência. Uma década mais tarde, o vinho passaria a ser seu ganha-pão.
Hoje, aos 48 anos, Nossiter mora no Rio de Janeiro (ele se naturalizou brasileiro no início deste ano), onde tenta conciliar duas carreiras: sommelier e cineasta. Suas cartas de vinhos estão em restaurantes no mundo todo. Seu documentário Mondovino, de 2004, concorreu à Palma de Ouro em Cannes e rendeu uma série para a TV já exibida em 20 países.
Nesta semana, Nossiter abraça uma terceira carreira: escritor. Ele lança no Brasil o livro Gosto E Poder – Vinho, Cinema E A Busca Dos Prazeres (Companhia das Letras, 298 páginas, R$ 49, tradução de Hildegard Feist). A obra retoma – e leva adiante – pontos centrais apresentados em Mondovino. Suas teses: 1) as forças do mercado – críticos, donos de restaurante e importadores – definem as características que levam ao sucesso de um certo tipo de vinho; 2) isso favorece os grandes produtores que aderem a esse gosto médio e destrói os sabores regionais característicos; e 3) o gosto acaba sendo ditado por quem tem poder.
Como seu controvertido filme, o livro provocou reações desde que foi lançado na França. O influente crítico americano Robert Parker – um dos nomes que Nossiter considera responsáveis pela tendência mundial de produzir vinhos cada vez mais encorpados, alcoólicos, com sabor de carvalho e doces como xarope – acusou o autor de “estúpido” e “intolerante”. Parker é um dos alvos preferidos de Nossiter, ao lado do enólogo francês Michel Rolland (um projetista de vinhos que, no Brasil, prestou consultoria à vinícola Miolo) e da jornalista britânica Jancis Robinson (autora do Atlas mundial do vinho). Ao trio de antigos desafetos, soma-se no livro o espanhol Victor de la Serna, editor do jornal El Mundo e também vinicultor. “Ele é um tubarão, totalmente antiético, usa o jornal para promover seus vinhos e sua região”, diz Nossiter.
Dependendo de como se lê Gosto e poder, parece haver uma guerra no reino das uvas. Nossiter está no front ao lado de pequenos vinicultores da Borgonha e de algumas regiões italianas, os poucos que, segundo ele, ainda não venderam a alma e mantêm em suas garrafas o gosto tradicional do vinho ligado à terra – conhecido pela expressão francesa terroir –, em vez de se sujeitar ao sabor médio globalizado. O terroir, terreno cujas características de solo, clima e plantas definem a identidade do vinho, é para ele um patrimônio da humanidade. A indústria e o marketing, os inimigos a combater.
Seu livro tem o mérito de nos fazer refletir sobre a corrupção no mercado de vinho, sobre os critérios artificiais que interferem na formação do preço de cada garrafa, sobre a formação de um gosto padronizado em todo o mundo e sobre o esnobismo ridículo do “enologuês” usado por quem se diz conhecedor de vinho. Depois de ver no cardápio do L’Atelier Rebouchon, em Paris, uma garrafa de um jovem vinho espanhol a 803 euros, Nossiter escreve: “O consumo do vinho, alçado ao pedestal do luxo, despojado de qualquer relação com prazer e descoberta, torna-se uma descarada expressão da intimidação psicomercantil que chega perto do roubo”. Nem é preciso ter bebido para concordar.
Vale a pena conferir.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Pesquisas no reino de Oz e debates no buraco do coelho


O que nos leva em período de eleições a fazer uma série de considerações bem distintas? Uma delas são as famosas pesquisas eleitorais, afinal, será que no reino probabilístico das estatísticas as pesquisas mostram realmente a vontade do conjunto universo populacional ou são apenas mecanismos de estímulos para que se faça o eleitor pensar: - Ah, não vou votar em fulano pois ele está abaixo nas pesquisas.
Sinceramente acho as pesquisas um grande desserviço para um processo eleitoral, pois a função dela não é de informar e sim de estimular um processo onde o conjunto universo de indecisos acaba se decidindo pelo candidato dianteiro, igual a uma corrida no jockey clube, quase um grande prêmio Brasil em São Paulo.
Deviam ser analisadas pelo crivo da justiça eleitoral como ferramenta de campanha, mas como na maioria dos casos ela serve aos propósitos de quem está no poder, como atualmente, colocando Dilma na dianteira. Acho uma grande imprudência se aparecesse uma boa alma que propusesse dizimar as pesquisas do processo eleitoral brasileiro.
Mas assim como elas podem traduzir um resultado certeiro, também podem traduzir um erro infame. Presenciei isso uns seis anos atrás quando estava em São paulo e assisti no jornal nacional uma pesquisa que colocava uma candidata a prefeitura da capital onde eu morava como vencedora em primeiro turno. Ledo engano, ao desembarcar na capital, dei de cara com os jornais noticiando a vitória do atual prefeito na época que acabara de se reeleger em primeiro turno. O que faz das pesquisas uma verdadeira estrada de tijolos amarelos indo de encontro a um mágico fajuto.
Já o outro extremo da vaidade política, os afamados debates, deveriam realmente ser levados a sério, afinal é um momento ímpar, onde a pessoa do marqueteiro e do diretor e da mesa de edição dos partidos políticos, não podem aparecer para dar uma luz numérica ou uma dica de ataque ao candidato. É algo cara a cara e coragem, acima de tudo preparo técnico e domínio do que se vai propor ao vivo. Mas já tivemos reviravoltas em debates como a que Mário Covas deu em Afif Domingos e debates editados como Collor e Lula. Mas já aprendemos o suficiente para não empreender em erros homéricos no ato de votar. Sinto hoje o universo político decair mais ainda, ficar corriqueiro. Propaganda eleitoral no rádio e TV é gratuita e como tudo que se dá de graça é desperdiçado, com ela não é diferente.
Um hiato se forma em nossos pensamentos, afinal os debates deveriam ser a única ferramenta de propaganda, semanal e em cada emissora, já que é pra dar incentivo fiscal às emissoras geradoras pelo menos que se dê um espetáculo que preste. Afinal o horário eleitoral que se diz gratuito, é bancado pelo erário e deve custar uns 800 milhões esse ano só em renúncia fiscal em prol das emissoras de rádio e TV.
Mas façamos um pacto atual, se debate nesse momento desse o efeito desejado, Plínio de Arruda Sampaio estaria na dianteira fazendo Dilma, Serra e Marina comerem poeira, e os nanicos restantes estariam na toca do coelho de Alice.
Lewis Carrol que me perdoe, mas chapeleiros malucos o Brasil tem 180 milhões para tomar chá, ele só tinha um.

Um forte abraço da segunda feira.

domingo, 15 de agosto de 2010

A sombra da ética na lei



O filósofo Kant ajudou a trocar o combustível da ética de Aristóteles da lenha para os hidrocarbonetos. Nas críticas da razão pura e da razão prática, Kant não trata de nenhuma virtude e prefere falar na profusão do dever, na obrigação do dever, na liberdade ilimitada e compartilhada, no direito como limitador das liberdades.
Kant dizia que só era moralmente legítimo (justo) o direito (lei) que garantisse a cada cidadão uma liberdade de ação compatível com a dos outros. A ética das normas passa a ter uma nova leitura com J. Raws, um dos maiores filósofos americanos, redefiniu justiça, não como uma virtude. nem um direito, mas sim como princípio fundador de uma sociedade bem ordenada. Em sua obra maior, a Teoria da Justiça, Raws procurou uma via de como conciliar direitos iguais em uma sociedade desigual, lançando a base dos fundamentos éticos-jurídicos do moderno Estado de bem estar social.
Floresce o princípio ético do autruísmo. A palavra igualdade dá a vez à equidade e o tribunal da consciência sobe um degrau. Para Raws, não mais é suficiente as leis serem aprovadas com sólidas maiorias e atender as regras da democracia para serem justas. Raws demonstra que nem todos os atos legítimos do governo são atos justos e o dia que apartir de certo grau de decisões injustas corroem a legitimidade dos atos do governo.
Baseado nas premissas de Raws, eu contesto algumas afirmações do ex-ministro Eros Grau, afinal para quem já esteve no topo do supremo tribunal, algumas afirmações do magistrado quanto a inconstitucionalidade da lei da ficha limpa são até mesmo bem incipientes para um juiz de suma presença no supremo.
Ao dizer que a lei da ficha limpa, mesmo se baseando na vontade popular, um juiz não deve levar em consideração a euforia do povo é admissivel, mas comparar a criação de uma lei, de um advento sério, que tem por objetivo satisfazer a necessidade de barrar os candidatos corruptos com um linchamento, que se faz por motivação emocional por caso efêmero de histeria popular é simplesmente atestar que grande parte da população não lê Raws (incluido ele pelo jeito), mas a pequena parte que o leu, infelizmente para o ex-ministro são verdadeiros brasileiros inexistentes.

Bom domingo
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