O declínio econômico está seguindo uma trajetória tão previsível, dia após dia, que as pessoas que realmente entendem o mecanismo dos ciclos econômicos nem precisam ler as notícias. É perfeitamente possível intuir o que vai acontecer em seguida, pois tudo está acontecendo como se fosse um exemplo saído de um livro-texto - ainda que a mídia insista em reportar tudo com aquela contínua sensação de novidade.
As reportagens da imprensa sobre a recessão têm sido como os relatórios de um hipotético comitê que, sem saber nada sobre a lei da gravidade, tenha sido designado para observar e comentar o que acontece quando objetos são abandonados de lugares altos.
Eles se põem a escrever inúmeros e repetitivos relatórios sobre como os objetos caem - uma mudança bizarra e indesejável dos eventos -, e em seguida saem formulando maneiras de impedir que isso aconteça, sempre por meio de alguma intervenção externa. No caso, eles recomendam pacotes de socorro financeiro, gastança, pacotes de estímulo, mais regulamentações e inflação.
Tudo o que o cidadão quer é um pouco da atenção deles para poder explicar uma coisa simples: o que está ocorrendo é parte da estrutura da realidade em si, e não há nada que vocês possam fazer para parar isso. Podem tapar os olhos, trocar os espelhos, dar cambalhotas, conjeturar, falar e reclamar o quanto quiserem. No final, a verdade é uma só: a recessão é uma reação necessária e inevitável ao boom anterior. E ela deve poder seguir desobstruidamente seu caminho até o final.
Na semana retrasada, por exemplo, vimos a taxa de desemprego do Brasil subiu para 11,4%, de acordo com as estatísticas oficiais. É aí que vemos a face humana da recessão. Trata-se também de uma inevitável reação ao boom. As pessoas que estavam empregadas em excesso nas indústrias estimuladas pela bolha agora serão levadas dos setores em declínio para os setores viáveis - a um sério custo de transição. Os salários se ajustarão para baixo e as pessoas abandonarão os empreendimentos economicamente insustentáveis e irão para aqueles mais economicamente viáveis.
Mas a maneira como tudo isso é reportado é o suficiente para enlouquecer qualquer um. A imprensa faz parecer que tudo é algo perfeitamente corrigível. É como se as ordens do comitê político central, uma vez executadas, restabelecessem de pronto a normalidade. Um banco está quebrando? É melhor alguém socorrê-lo logo! Os preços dos imóveis estão caindo? Que se gaste trilhões para estimulá-los! As pessoas estão perdendo seus empregos? Ora, vamos criar trabalhos para elas - ou vamos simplesmente subsidiar o desemprego com mais auxílios-desemprego, fazendo com que ele dure mais tempo.
Falando particularmente sobre o desemprego, esse é de longe o quesito que mais trouxe calamidades durante o século XX. O problema em si é largamente artificial, no sentido de que o desemprego é criado pelos ciclos econômicos (ciclos de expansão e recessão). E estes, por sua vez, são consequência direta de uma política monetária frouxa implementada pelo banco central. Qualquer sociedade que tenha uma moeda sólida e estável não terá problemas de desemprego. E assim seria porque, como Mises explicou, em um livre mercado todo o desemprego é puramente voluntário.
Mas, nas economias flageladas pelos ciclos econômicos, não é apenas o capital que é erroneamente direcionado para setores insustentáveis; o trabalho também é atraído pelas bolhas criadas pelo crédito subsidiado. Quando essas bolhas estouram, os empregos são eliminados. E esse é um efeito dominó, que flui de um setor a outro. A consequência disso é a ocorrência maciça de alterações por toda a estrutura da economia.
Não há razão alguma para supor que a mão-de-obra seja menos capaz de se transferir de uma linha de produção para outra do que o capital. Porém, quando você tem sindicatos, pisos salariais mínimos, benefícios obrigatórios, custos trabalhistas, encargos salariais e outras intervenções, essas transferências acabam levando mais tempo do que deveriam - e é aí que começamos a ver o alto desemprego que vem perdurando cada vez mais.
A maneira mais segura de garantir que o problema pior é tentar consertá-lo por meio de seguro-desemprego, gastos governamentais com bolsas, empregos públicos e coisas do tipo. Todas essas intervenções apenas atrasam o necessário e inevitável ajuste, além de prolongar e piorar a crise.
Infelizmente, a classe política não dá a mínima para fatos e lógica. Assim, ela segue em frente com seu arsenal de medidas destrutivas, sob o sempre entusiasmado apoio da mídia, repetindo todos os trágicos erros do passado. A conclusão lógica é que essas pessoas podem criar todo o desemprego que quiserem, desde que elas continuem tentando "fazer algo" quanto a isso. O público apoia as medidas porque esse é um assunto que está entre os mais alarmantes e assustadores de todo o campo econômico. Afinal, "certamente a classe política pode fazer alguma coisa para resolver isso!".