segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Vestígios do dia

Dia meio que incomum. Amanhecendo o dia, vi pela janela de meu quarto um alvorecer esfumado, meio gris que com certeza não ventilava os acontecimentos do dia.
Logo cedo liguei a televisão, já que nunca a assisto, nem me comunico com o mundo midiático neste dia que reservo para a família e a resignação a fé. Sou com espanto do falecimento da colega Jacinta Carvalho no domingo. Vítima de uma septicemia provocada por um patógeno ainda desconhecido, que segundo amigos da área da saúde, deve entrar para os anais médicos, pela estranheza do caso.
Sei que onde quer que esteja, com certeza estará amparada pelos que nos ajudam a transitar deste plano a outro. Em nenhum momento se deve designar culpas ao Criador. Afinal nossa passagem faz parte da vida e quando ela se dá por completa, independente da vontade de ficar, mesmo assim devemos partir e os eu ficam devem continuar.
Ao sair, pude comtemplar o alvorecer, uma boa caminhada por Macapá, passando pelo Centro, Trem, Santa Rita e Buritizal para os compromissos do dia. Resolvidos, fui a vinha visita cotidiana para assistir os trabalhos da ALAP, e para minha surpresa, grandes surpresas lá estavam.
Em regime de urgência, foi aprovado por unanimidade o projeto autorizativo que visa reajustar os salários da força da polícia civil que já desde muito fazia verdadeiras peregrinações àquela casa e saiam de lá cabisbaixos por não serem comtemplados.
Como um prêmio a conduta de Paulo José, um dos autores intelectuais da matéria que hoje se despedia do mandado que logo mais será entregue a Ocivaldo Gato. PJ se despediu dos expectadores das galerias, prometeu não chorar, mas homenageou cada um dos deputados presentes, com falas que levaram muitos às lágrimas de emoção, como só mesmo ele sabe fazer.
Fazer rir, fazer chorar. Acho que hoje foi o dia de Paulo José. Cercado pela família, pela história de vida, pelas lutas em tantos mandatos e pela sapiência visceral em tudo o que diz respeito às matérias da lei e das relações transnacionais. Por uma ironia do sistema a ALAP perde um grande, por que não fazer a comparação ao tablado de xadrez. Um bispo.
Em cheque talvez deva ficar a conduta de Agnaldo Balieiro que ameaçou não votar a favor da matéria com a desculpa de não conhecê-la e até mesmo acha-la inconstitucional. Mas sem conhecê-la como ele mesmo afirmou, dificilmente teria instrumentos ou mecanismos para dar tal parecer.
Cristina Almeida também ameaçou ir contra, mas ao ver que sua falácia governista alçava mais o discurso retórico do que a lógica em si. Bem se vê que a oposição aos trabalhos da ALAP tem sido isolada veementemente pelos demais deputados, que como Roseli Matos e Edinho Duarte, ergueram a bandeira do “respeite esta casa!”.
Com os devidos parlatórios a sessão se encerrou. Mais um dia se vai, mais uma sessão da vida encerra seu capítulo. Estamos quase no crepúsculo. As notas esfriam, cada um segue a sua vida cotidiana. Logo, logo o dia se vai e não deixará mais vestígios.

Quando se consegue ver a alma de verdade

Nunca vi um fantasma. Algumas vezes até tive a impressão que algum visitante do além veio até mim com alguma intenção, se negativa ou positiva nunca saberei, pois tais visitantes não disseram a que vieram, sendo assim não pude ver suas verdadeiras faces e nem atestar sua real existência.

Ontem entendi finalmente que para ser ver uma alma, não se precisa tê-la extraído de algum desencarnado, não se precisa ir buscar alguma ferramenta do oculto para aprisionar o espírito e enfim poder vê-lo, nem muito menos sentar-se ao lado dos túmulos. Basta apenas percebe-lo nos olhos de que está vivo e bem vivo.

A alma é algo indescritível, afinal ela emana confiança, quando liberta de todos os casulos que a contém. Percebi isso nos olhos de quem olhei. Vi a pureza da alma, resplandecendo dentro daqueles olhos, que me falavam pela primeira vez em uma vida inteira, não a verdade, mas a sinceridade mais pura e mais sublime que não houve como conter as lágrimas e arrepios pelo simples fato de reconhecer a visão da pureza e sinceridade da alma.

Acredito no que vi, mas sei que não é tão a toa assim que podemos ver o interior do ser humano e visualizar sua alma pura. Uma sucessão de fatos e acontecimentos são necessários para que este momento ocorra, e vejo que cada pessoa tem os seus fatores individuais e por isso, jamais seria possível reproduzir esta cena como uma receita generalizada.

Muitos foram os fatores que me levaram a ter minha visão da criação mais perfeita. Vi a alma do meu amor, e isso não é frase de cartão barato nem adesivos clichês. Vi realmente o interior do meu grande amor, sem interferentes, sem máscaras nem adereços que pudessem me anuviar os sentidos. Nenhuma mentira foi sentida, nenhuma lacuna apresentada.

As palavras que saíram da boca daquele corpo, em nem um pouco seriam advindas de seu estado comum. Palavras que nos atravessam e nos tocam, sem ao menos pedir licença ou ter medo de nos machucar. Ouvi coisas que comumente ouviria de uma boca comum, mas não com a intensidade e sinceridade que consegui sentir quando as palavras chegaram até mim.

Uma reconciliação, um perdão, um recomeço. As palavras chegaram até mim clamando por serem ouvidas e atendidas como se eu pudesse por alguns instantes estar com todos os dons de Deus sem ser Deus. E ao perdoar, ao conciliar e ao atender o clamor de um recomeço não me senti Deus, mas me senti realmente seu filho amado.

Eis-me aqui! Um homem que atendeu ao apelo de uma alma, sublime criação de uma pureza inestimável, que vista sem seus adereços e penduricalhos, mostra-se como algo incapaz de ser mal, de ser profana de ser cruel. Somente amor e verdade, provando assim que nossas almas são parte do próprio Criador.
 Vi sim uma alma, vi sua grande existência, e ela estava viva e clamava por mim, me pedia ajuda, ajuda por seu corpo, pelo ser que a contem. Ouvi então o eco de um mundo em que minha carne não colabora, mas os sentimentos se aguçam. E que o poder de fazer algo de bom, só dependia do meu amor, meu perdão e a minha reconciliação.

Então agora já posso aposentar as histórias de miragens e misuras, que se escondem nas sombras e espreitam e invejam nossa vivacidade humana. Afinal pelo que pude perceber. Algo tão perfeito contido dentro de algo tão falho como nós. Não pode ser senão a compleição de uma existência à outra. Carne e espírito coexistindo e nunca uma sem a outra. Logo assim, fantasmas, espíritos e almas penadas a solta a vagar pelo limbo, simplesmente devem fazer parte do mesmo universo dos unicórnios, fadas e duendes.

A difícil arte de copiar o filho de Deus

Jesus foi um visionário em tudo o que fez durante as mais de três décadas que passou na terra, tentando de alguma forma, mudar o mundo. Talvez na ânsia de fazer o ditado: “uma andorinha só não faz verão” nunca existir; tentou de muitas formas nos ensinar como é realmente ser humano em todos os sentidos e que não há corrupção que a vaidade não leve.
Sem dúvida dois dos seus ensinamentos mais difíceis, segundo a minha concepção, relatados pelos evangelhos; seriam os que retrato neste texto. A comunhão entre todos os mandamentos de Deus dados a Moisés e relatados no êxodo, sendo: “Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo” e o que diz: “Ofereça a outra face”.
Mais difícil não é amar a Deus, afinal crescemos na cultura da imagem de um Deus punitivo, vingador, que basicamente interfere em nossas vidas a ponto de olhar somente nossas falhas e castiga-las com fogo e medo. Da mesma maneira que nos é pintado que quando agimos de acordo com os mandamentos, agradamos a Deus e não fazemos mais do que nossa obrigação, em retribuição a criação.
Sempre assim, perpetua-se esta imagem, de pai para filho, a ideia do Deus que castiga, Deus que não perdoa, Deus que manda para o inferno... Sendo assim como poderíamos amar um ser tão ditoso em virtudes e tão cruel em piedade a ponto de nos pedir para amá-lo acima de tudo e ainda oferecer seu filho como holocausto as dores do mundo. Seria no mínimo dicotômico contar com um Deus que não sentisse que sua criação é mais do que um rato de biotério, adestrado aos botões prazer-alimento.
Amar a Deus sobre todas as coisas é uma missão bem espinhosa, afinal, desapegar-se das coisas do mundo é tão difícil para quem nasceu rodeado delas. Temos um medo profundo de nos livrar de coisas que podemos precisar em um futuro que não sabemos quando, mas que o instinto pede. Assim como os bens e o dinheiro, que em nossa sociedade é quase impossível existir sem a aceitação de que estes bens são necessários à manutenção da vida. Como que há dois mil anos as coisas eram perdulárias em uma sociedade também perdulária.
Mas amar a Deus sobre todas as coisas ainda é possível. Basta crer, não duvidar, e até mesmo se espelhar nas mazelas de Jó. Mas para isso é necessário que tenhamos o estomago para aceitar as perdas que virão nesta busca em atender a vontade do Pai.
Sem dúvida, amar é fácil, mas perdoar é mais difícil, afinal amar requer apenas o objeto do sentimento, a dedicação e o empenho para amar e tentar ter a retribuição deste amor. Mas perdoar, consentir, esquecer algo que nos fere de morte, é bem mais difícil, afinal a dor física que a ofensa nos causa é bem mais profunda, pois carrega no bojo, o rancor, a mágoa, o ódio e o ressentimento. Amar é fácil, já perdoar...
Tentar se deve, a todo custo converter o mal do ódio em pelo menos na aceitação do erro alheio e a busca do perdão. Jesus devia saber muito bem do que estava falando quando preconizou o perdão e o amor. Mas você deve pensar: - Para ele é fácil, ele é o filho de Deus! Mas e nós também não somos?
Nossa única diferença é termos sido criados por Deus, para amá-lo e amarmo-nos como Ele assim nos ama. Já o Ungido, é o fruto da materialização do Espírito Santo de Deus e sua personificação em carne, nos remete ao ato da criação filial. O Cristo também não sabia o que lhe aguardava até que lhe fosse revelado no Monte das Oliveiras seu destino final e mesmo assim em sua humanidade Ele ainda se deteve diante do Pai e pediu que se fosse possível lhe afastasse o cálice de tanto sofrimento e dor.
Mas a lição vem logo a seguir, quando se reconforta com a vontade do Pai ser realizada e não a Dele próprio. Assim vem o perdão, assim vem a oferta da outra face e, por conseguinte a fusão do amar a Deus sobre tudo e ao próximo como a si mesmo  e ainda assim oferecer a outra face à humanidade que já esbofeteara uma face antes.
Como um pré-doutor que oferece sua tese, defende e comprova sua aplicabilidade, Ele nos mostra que seus ensinamentos cabem à realidade e assim são possíveis em tempos bem distintos de vinte séculos de distancia. Mesmo eu que ainda depois de ter aprendido a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a mim mesmo. Ainda luto diariamente para aprender a dar o perdão e oferecer a outra face, mesmo que isso me custe a própria vida. Mas sou humano, vou continuar tentando...
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...