sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Um demagogo ruim


Dois dias depois de sair do hospital e ainda se recuperando da primeira sessão de quimioterapia para tratar de um câncer na laringe, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contrariou a ordem médica de falar pouco. Na manhã de quinta-feira, ligou “iradíssimo” para o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, para se queixar dos resultados brasileiros no Relatório de Desenvolvimento Humano, apresentado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) na última quarta-feira.
A bronca de Lula, desgostoso com os números que mostraram um avanço tímido do Brasil no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), movimentou Brasília. À tarde, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, reuniu-se com a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, para acertar uma resposta ao Pnud. Em seguida, Tereza convocou, às pressas, uma coletiva de imprensa, na qual reclamou de dados defasados do país utilizados no cálculo do Índice de Pobreza Multidimensional (IPM) — e não no IDH — e afirmou que o governo brasileiro desconhece a metodologia da pesquisa, embora o país participe do levantamento desde a primeira versão, em 1990.
Tereza destacou serem de 2006 os dados utilizados para chegar ao IPM — que mede privações de serviços essenciais independentemente da renda, apontando 2,7% da população brasileira com necessidades graves. “Foi a partir de 2007 que se incorporou um contingente grande do Bolsa Família, que houve a valorização do salário mínimo, o programa de agricultura familiar integrada ao programa de alimentação escolar, melhoramos o acesso à energia com o Luz para Todos. Então, se esses avanços fossem computados, certamente teríamos um salto muito maior”, disse a ministra, sem precisar quantas posições o Brasil subiria no IPM caso os progressos mais recentes estivessem no cálculo do Pnud, exatamente por não “conhecer a metodologia”.
A ministra tampouco não soube explicar os motivos que levaram as Nações Unidas a não considerar estatísticas atualizadas, depois de uma solicitação nesse sentido que o governo brasileiro teria feito no início deste ano. “Por que (os dados) não foram incorporados? É uma boa pergunta”, limitou-se a declarar.
A ministra Tereza Campello negou, entretanto, que a motivação para uma coletiva de última hora sobre o assunto tenha vindo de queixas de Lula, sugerindo desconhecer o telefonema dado pelo ex-presidente a Gilberto Carvalho. Mas a versão não se sustentou. “O presidente Lula nos deu um telefonema iradíssimo sobre os números do Pnud, dizendo que não era justo, e que a gente tinha que reagir”, comentou Carvalho, durante um seminário internacional com o embaixador da Itália, no Palácio do Planalto.
O ex-presidente não teria concordado com os critérios considerados pelos técnicos do Pnud. Falando como se estivesse no governo passado, quando era chefe de gabinete de Lula, Carvalho disse que o ex-presidente teria cobrado uma crítica aos dados. “O presidente ficou preocupado com a primeira visão que houve, nós estamos o colocando a par de tudo que aconteceu. Ele está bem, vigilante e acompanhando cada fato.”
O secretário-geral também defendeu que os parâmetros da pesquisa não retratariam a realidade brasileira. “Com todo o respeito, entendemos que vale a pena uma discussão em torno da metodologia usada. Temos consciência de que nossos indicadores sociais cresceram e seguem crescendo. Nossos técnicos vão sentar com os técnicos do Pnud para discutir isso”, adiantou Carvalho.
Ainda durante o seminário, Carvalho deu outro exemplo de como a atuação de Lula no governo, especialmente com a presidente Dilma Rousseff, continua firme. “No dia em que fomos visitá-lo no hospital, mal a presidente entrou, ele já começou a falar como ela tinha que se comportar no G-20, o que tinha de dizer (...) Está atento e vigilante a tudo”, destacou o secretário-geral.

Nota Final:
A revista semanal inglesa The Economist trouxe um artigo sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com as implicações políticas do diagnóstico do câncer na laringe. O texto faz uma comparação na divulgação da doença de Lula e do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que optou por mantê-la em sigilo. A revista só não explica o por que de Lula achar que nosso IDH é tão bom, mas tão bom que ele não foi se tratar no SUS.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Manifestar é preciso...


A gratificação natalina, mais tarde instituída nacionalmente como décimo terceiro salário, instituída em 1962 e regulamentada em 65, especifica que todo o trabalhador tem direito a 1/12 avos da remuneração por mês trabalhado.
Embora muitos críticos sejam veementes em dizer que tal benefício na verdade é um engodo dos cálculos entre o ano com 52 meses. E que na verdade é uma disposição mascarada da forma de devolver ao trabalhador algo que saiu sorrateiramente no decorrer do ano em curso como se fosse uma aplicação de médio prazo.
Vale lembrar que Getúlio Vargas instituiu tal benefício e depois dessas como de outras ações em benefício do trabalhador brasileiro, lhe rendeu a alcunha de “pai dos pobres”. E depois disso nenhum governo mexeu nesse tema.
O caso mesmo gira em torno de algo que tem se tornado a lenda urbana mais difundida nos meios informais de comunicação. Na verdade existe sim uma proposta da bancada do empresariado brasileiro para que se limitem alguns benefícios concedidos ao trabalhador. Talvez por essa polêmica o 13º seja tão alvo das críticas.
O que me assusta, não é a ficção ou firula em torno do fim do 13º, mas sim a passividade com que as coisas têm sido levadas pela população e a corda solta que tem sido afrouxada cada vez mais ao longo dos anos. Os “príncipes do povo” que deveriam resguardar os direitos de quem lhes colocou no emprego dos sonhos, parecem não se preocupar com nada e a população menos ainda.
Em um paralelo recente, vimos quase um milhão de franceses em manifestação nas ruas de Paris, pelo simples fato da aprovação da Lei do Primeiro emprego. A pressão foi forte e a polêmica lei fez até mesmo com que o premier Allain Juppé a retirasse às pressas de pauta seu projeto previdenciário.
De 1984 a 2006,os franceses deram um show de como uma manifestação, que as vezes truculenta, ajuda a fazer com que os políticos entendam que devem respeito e obediência aos direitos da população e a não do governo.
Infelizmente aqui no Brasil ainda temos um comodismo muito grande e uma passividade extremamente complacente com as atitudes condenáveis dos representantes do povo. As vezes parece que os brasileiros acreditam menos no voto, menos nas casas legislativas e mais ainda no poder das paradas gays, pois por incrível que pareça elas atraem multidões.
Quem sabe um dia essa lenda urbana, como a do fim do 13º, um dia seja mesmo votada às escuras, aprovada, e apresentada ao povo. E quando enfim a população perceber que foi ludibriada nas sombras e no apagar das luzes do congresso, como muitas vezes acontece, resolva acionar os organizadores das paradas gay, para produzir uma manifestação digna de brigar por seus direitos.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A Banca do Destino

Um dia feriado para se recordar os finados. Não poderia esquecer de postar algo não tão funesto para não enevoar o dia. Assim como não falar de futebol em época de copa do mundo; vamos procurar ser mais criativos e não achincalhar os vivos pelo menos hoje.
Mas vale lembrar que a soberba ainda caminha solta sobre a terra e como não pode faltar, vamos deixar para um finado, morto, falecido; dar o recado do dia. Deixo para meu conterrâneo Billy Blanco, que se foi este ano, em meados de julho, a missão de dar o recado musicado através de uma criativa peça que apesar de ser da “Época da Bossa”, ilustrou muito bem as crônicas de costumes do Rio de Janeiro, nos dourados anos 50. E a lição ainda cabe nos dias de hoje.
Apesar de ser uma espécie de acerto de contas para um relato que Dolores Duran fizera ao compositor, sore um fato preconceituoso ocorrido na década de 50 no beco das garrafas lá em Copacabana. 
Havia um homem que ia aos shows de Dolores por que gostava muito dela, porém odiava negros e Dolores era negra.
O “Doutor” ia ao show todas as noites, sentava-se a primeira fila de mesas, mas sempre de costas para o palco. Não dirigia uma única palavra a ela por que não falava com negros, sequer a olhava! Quando queria uma música, dirigia-se ao garçom com um bilhetinho na mão: “Manda a neguinha cantar esta aqui!”
Profissional paciente era Dolores, que sempre atendia aos pedidos do “Doutor”. Um dia muito aborrecida com a grosseria do sujeito pedante, contou a história a Billy, que de imediato compôs o samba “A Banca do Distinto” para na noite seguinte, Dolores lavar a sua honra e cantar o samba ao sujeito:
Não fala com pobre
Não dá mão a preto
Não carrega embrulho
Prá quê tanta pose, doutor?
Prá quê esse orgulho?
A bruxa que é cega
Que carrega a gente
E a vida estanca
O infarto lhe pega, doutor
E acaba essa banca
A vaidade é assim
Põe o homem no alto
E retira a escada
Mas fica por perto
Esperando sentada
Mais cedo ou mais tarde
Ele acaba no chão
Mais alto o coqueiro
Maior é o tombo do côco
Afinal, todo mundo é igual
Quando o tombo termina
Com terra por cima
E na horizontal.
Sábias palavras para o caminho de todos nós...
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