quarta-feira, 22 de junho de 2011

A casa dos velhos ditosos


A ética busca aquilo que é bom para o indivíduo e para a sociedade. A Ética não brota espontânea. É fruto de um esforço do espírito humano para estabelecer princípios que iluminem a conduta das pessoas, grupos, comunidades, nações, segundo um critério de Bem e de Justiça. O Bem e a Justiça constituem uma busca.

Um dos mais importantes desdobramentos da Ética refere-se à Ética das profissões. Toda profissão tem sua ética. Seja o motorista reservado quanto ao que ouve dentro do carro quando transporta seus clientes. Seja o comerciante ético cobrando o justo preço pelas mercadorias que vende. Seja o profissional da enfermagem ético tratando com respeito o corpo do enfermo. Seja o advogado ético, fiel ao patrocínio dos direitos do seu cliente. Seja o médico ético servindo à vida e procurando minorar o sofrimento humano.

E a magistratura tem uma Ética? Obviamente que sim.

A magistratura é mais que uma profissão. A Ética do Magistrado é mais que uma Ética profissional. A função de magistrado é uma função sagrada. Daí a advertência do Profeta Isaías: “Estabelecerás juízes e magistrados de todas as tuas portas, para que julguem o povo com retidão de Justiça”. Somente com o suplemento da Graça Divina pode um ser humano julgar.

A sociedade exige dos magistrados uma conduta exemplarmente ética. Atitudes que podem ser compreendidas, perdoadas ou minimizadas, quando são assumidas pelo cidadão comum, essas mesmas atitudes são absolutamente inaceitáveis quando partem de um magistrado.

A imparcialidade. Nada de proteger ou perseguir quem quer que seja. O juiz é o fiel da balança, a imparcialidade é inerente à função de julgar. Se o juiz de futebol deve ser criterioso ao marcar faltas, ou anular gols, quão mais imparcial deve ser o Juiz de Direito que decide sobre direitos da pessoa. A função de ser juiz não é um emprego. Julgar é missão, é empréstimo de um poder divino. Tenha o juiz consciência de sua pequenez diante da tarefa que lhe cabe. A rigor, o juiz devia sentenciar de joelhos. O juiz deve ser honesto. Jamais o dinheiro pode poluir suas mãos e destruir seu conceito. O juiz desonesto prostitui seu nome e compromete o respeito devido ao conjunto dos magistrados. Peço perdão às pobres prostitutas por usar o verbo prostituir, numa hipótese como esta.

Mas como testemunhei hoje, não em juízo, mas in locco, a conduta réproba de um magistrado, que ao sentir o calor da pressão embotando sua toga, mudou de opinião. Como que alguém que se decide tão rapidamente e de posse da luz processual, pode se achar indeciso? Ou se equivocar? Sabe-se que errar é humano e perdoar é divino, mas não tão divina é a decisão do togado?

Acredito que os recentes escândalos mostram que o Judiciário precisa passar por uma reforma geral, que institua o controle externo sobre os juízes e também sobre seus colegas advogados, que na maioria funcionam como um elo fundamental da corrupção do Judiciário. Já que a justiça não chega a quem precisa, que é lenta e derrapa quando tenta ser ágil. Vejo também um Ministério Público tomado pela vaidade de alguns de seus promotores.

O Conselho Nacional de Justiça é uma boa ideia. Da maneira como ele está proposto, com uma maioria de membros do Judiciário, não levaria a nenhuma diminuição da importância do juiz: daria transparência e a imparcialidade à apuração das faltas disciplinares. Deveria haver conselhos superiores de Justiça nos Estados e um conselho federal para apurar ações dos membros dos tribunais junto ao Supremo Tribunal Federal. Os conselhos deveriam ser compostos de membros do Ministério Público, de advogados, além de pessoas indicadas pelo Congresso e pelas Assembleias Legislativas. Por outro lado, o Conselho de Ética da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) deveria ter magistrados e advogados. Tem de ser uma via de mão dupla: se os advogados requerem participação nos órgãos de controle da magistratura e do Ministério Público, deve haver representação da magistratura e do Ministério Público na comissão de ética dos advogados.

Os juízes não perceberam quanto cresceriam se existisse o controle externo. Eles teriam transparência, autoridade e não seriam acusados de corporativismo. Se houvesse desconfiança, haveria mecanismos para afrontar essa desconfiança. Acho que isso não é nenhuma diminuição. Quem tem poder tem de estar sob controle.

Também, mas não é só isso. O clima espiritual de nosso tempo de consumismo desenfreado, a constante convicção da impunidade no Brasil, apesar de tantos escândalos denunciados e apurados, contribuem mais para a corrupção togada. Está sendo esquecido também o problema dos advogados. Onde existe juiz corrupto, existe um advogado corruptor. Deve haver uma atuação mais rígida da OAB nesse campo. O exame de ingresso na ordem tem de ser cada vez mais rigoroso para barrar essas coisas. A reforma do Judiciário tem de passar por isso também.

Tem de haver mudança na mentalidade do Judiciário. A reforma tem de começar, a meu ver, pela quebra dessa estrutura encastelada, dessa visão clânica dos juízes. Deve mexer com a forma de escolha dos juízes: ela não deve ser feita apenas pelo saber dos manuais de Direito de segunda linha que pululam pelo país, que são objeto de elaboração de perguntas de concursos para a magistratura. É preciso dar mais atenção à teoria geral do Direito, à filosofia do Direito, à sociologia do Direito. O problema maior é nesse campo: os juízes não têm esse conhecimento. O nível caiu muito. O juiz hoje é um especialista de manuais porque os bacharéis são assim, as faculdades têm formado gente assim. O juiz não pode apenas fazer concurso. É fundamental que ele tenha, a meu ver, um tempo anterior de prática na área jurídica, como advogado, promotor, defensor público, para sentir o que é a defesa dos interesses desatendidos pretendidos à Justiça. Até para baixar um pouco a crista do jovem, sabedor dos alfarrábios, que acaba de assumir o posto de juiz. Seria interessante que os juízes aprovados num primeiro concurso fizessem um curso de juiz, como acontece com os diplomatas no Itamaraty. Para quebrar a noção de que o juiz é Deus. Especialmente os jovens têm essa arrogância de ditar a justiça. Ao longo do tempo, o juiz vai vendo que também está sujeito a problemas, e vai quebrando a sensação de onipotência. Isso é fundamental.

Quem sabe assim, quando eu freqüentar novamente uma sessão plenária, onde sete togados verbalizam o saber alfarrábico, possa me sentir mais seguro de que a decisão não foi tomada por que eu assim a quis, mas que foi em prol da teoria geral do direito, usada com sabedoria por seus guardiães. E não com a sensação de que havia uma etiqueta de 100% Off na testa de cada magistrado.

Mamma mia i nostra


Você pensa em escrever um livro, mas aí pensa melhor. Adia. Anos, às vezes. A verdade é que sempre imaginaram que escrevo livros de viagem, que tento descobrir o traço ilusório que pode ou não definir a identidade nacional, dizer com termos amplos e genéricos que esse lugar é assim, aquele lugar é assado. Alguém sempre pensa: mas eu conheci franceses que não eram nem um pouco engraçados. Ou: mas eu estive lá, e não achei nada romântico, miserável ou interessante. Ou, pior ainda: afinal, quanto tempo esse escritor ficou lá? Dois, três meses? Como é que ele pode conhecer bem o lugar? Como é que ele pode me revelar algo que não os fenômenos triviais que qualquer turista perceberia, como conversas num bar ou coisas entendidas pela metade na rua? Nesse ponto, tudo não passa de um exercício de reportagem convincente, ou daqueles romances de Alexandre Dumas, que falam de modo tão cativante de um país que o autor nunca visitou.

Quando cheguei à Itália, em 1951, com mais vontade de fugir dos amigos e da família e levar a vida em paz do que de ir a algum lugar específico, jurei que nunca escreveria sobre o país. Já existem livros demais sobre a Itália. Sem ter ainda publicado nada, minha única intenção era escrever outro romance antes de desistir e encontrar algo gostoso de fazer. Eu não estava "coletando material".

E ainda assim... os lugares são diferentes. Admiravelmente diferentes. Talvez, na época, eu não me tivesse dado conta disso plenamente. E, mesmo que se tirem os traços individuais, os hábitos das classes sociais, o conflito de gerações e, claro, as variadas manifestações de personalidades diferentes, continua a existir um substrato da identidade nacional. Os franceses são franceses por alguma razão; os alemães são previsivelmente alemães; os italianos, como eu ia descobrindo devagar, indiscutivelmente italianos. Então, depois de estar vivendo neste país - quantos, cinco, seis, sete anos? Raramente saindo da aldeia onde eu morava, da pequena cidade de Verona, onde eu trabalhava, aos poucos me conscientizei de que dispunha de elementos que não colocaria em romance algum, ou não no tipo de romance que gosto de escrever. Nesse momento, eu só precisava de um editor que me desse um puxão de orelha, e lá estava eu fazendo o que sempre dissera que não faria.

Contudo, o problema persistia: como abordar essa coisa da italianidade sem cair no clichê, sem simplesmente apelar para aquilo que todos já sabem? Talvez essa não seja uma questão que realmente se possa desprezar, mas a solução, se existia, parecia ser escrever somente sobre as pessoas e os lugares que eu conhecia intimamente, meus vizinhos, minha rua, minha aldeia, nunca me aventurar no território do jornalista, nunca adotar o ponto de vista do viajante que está de passagem. O que significava um único livro de viagem e nada mais; pensei comigo mesmo, com a desculpa de manter a consistência, enquanto escrevia os últimos parágrafos. Afinal, só conhecia esse mundo na Itália. Meu prédio, minha rua. O único lugar que eu sentia ser realmente meu. O que mais escrever sobre o país?

E então, no verão seguinte, boiando no Adriático naquela manhã, com o sol meridional me cozinhando os miolos mesmo na água deliciosamente fresca, ocorreu-me que havia outro mundo que eu conhecia aqui, ou começava a conhecer: o mundo das crianças, do meu próprio filho, dos filhos dos meus vizinhos e, por que não, das crianças mais velhas para as quais lecionei durante anos na universidade. Assim, eu podia escrever um livro sobre esse mundo e tudo que o cerca: como começou, o que ele abrange, onde deverá terminar. E talvez a idéia começou a ganhar a premência de uma correnteza rápida pela água, a obviedade da luz brilhante do sol nos meus olhos fechados, sim, talvez, no instante em que chegarmos à última página deste conto, tanto o leitor quanto principalmente eu comecemos a entender como um italiano se torna italiano, como acontece; como aconteceu, pois se passaram anos.

Dia após dia se repetem as inevitáveis canções do verão: vozes roucas e embargadas que fazem rimas de amor banais. E há um monte de petiscos. Todos seguram uma pizzetta com guardanapos engordurados. Eu Nadei de volta. O garoto nas pedras conseguiu fazer a namorada tirar o sutiã, sem ter imaginado que alguém se aventurasse para lá dos quebra-mares. Ou talvez sem se importar. Em todo caso, mantive a cabeça baixa e depois precisei olhar de novo, para me desviar do ajuntamento de pedalinhos mais perto da praia. Passei pelas crianças da colônia, já cansadas de estar na água, mas aparentemente sem permissão para sair. Elas devem ficar um tempo no mar todos os dias, para respirar o iodo. As mães contavam com isso quando as mandaram para lá. Assim como esperavam que elas não se afogassem. A atraente professora dava duro para inventar jogos, que as crianças preferiam ignorar.

Voltei ao guarda-sol, me enxuguei, levei as roupas de praia e os brinquedos e os protetores solares e as revistas para a cabine de banho, e então me juntei ao meu sogro para o nosso aperitivo.

É um ritual mediterrâneo muito cultivado e apreciado. É nesses momentos que me sinto feliz de ter vindo para cá. À sombra de um emaranhado de trepadeiras, há um terraço com algumas máquinas de jogo assediadas por meninos de dez anos, a maioria se esticando para ver por cima dos ombros dos poucos que pegaram nos controles. Há uma jukebox acionada por duas adolescentes, que usam roupas minúsculas encantadoras e sogro, gordo, chapéu branco empurrado para trás na careca com pintas, coloca uma pizzetta nas mãos ansiosas, depois se recosta para apreciar o vinho, a lingüiça recheada com azeitonas e o espetáculo das jovens bonitas que desfilam e rebolam da rua para a praia e de cá para lá, com praticamente nenhuma roupa no corpo. São os nossos melhores momentos juntos. Nós nos entendemos perfeitamente bem. Vinho, depois um cigarro, talvez. Uma sensação extraordinária de bem-estar, o garotinho relativamente quieto, para variar, com o rosto melado de pizza.

Como muitos italianos, meu sogro gosta de parecer sofrido. Ressalto que ele já conseguiu compensar demais a antiga privação. Ele dá risada. O homem nunca tem mais bom humor do que quando está comendo e bebendo longe das mulheres da família. Chama uma garçonete, que, claro, o conhece e sabe de tudo de que ele gosta e não gosta, e pede outro prato de tira-gosto e mais dois copos de vinho. Por que não? Quando uma criança termina a pizzetta e começa a incomodar, o vovô põe duas fichas na mão dela e lhe diz que vá ao cavalo de balanço mecânico. Aquela garota simpática vai colocar as fichas para ele. Isso dá ao velho a oportunidade de cumprimentar com o chapéu a gordinha de doze anos e fazer todos os sinais possíveis para lhe pedir que banque a babá.

Estamos começando a nos acostumar a essa glória do verão quando a minha mulher chega. Isso; devo dizer, é muito incomum. Em Pescara, a hora do aperitivo é para ser a folga das mulheres, o horário em que os homens "cuidam do filho", comprando, como a neta logo descobriu, a cooperação dela de todas as maneiras.Talvez ela tenha vindo porque hoje é o último dia; amanhã de manhã, voltaremos de carro para o norte, para o calor opressivo do verão veronês.

Rita senta-se sorrindo e, surpreendentemente, não nos repreende por termos despachado o garoto para uma menina. Eu esperava o pior. Não por fumar na frente dela. Nova surpresa, ela pede não um copo de vinho, mas um gingerino: agridoce, vermelho, açucarado, caro demais. Não devia beber álcool, diz ela mesma.

Rita não é assim. Delicadamente, pergunto se as lojas estavam cheias.

Ela diz que não foi fazer compras. A mamma dela está preparando pasta e fagioli para o almoço. Não é o meu prato predileto. Nisto, ela cai na gargalhada. Saiu da praia para verificar o predictor dela, diz. E deu positivo.

O dela o quê? Não entendi porque ela pronunciou a palavra com sotaque italiano, escandido, como só poderia fazer ao falar em italiano com o pai. Só assim vejo como envelhecer não é tão ruim...

terça-feira, 21 de junho de 2011

Pedro onde cê vai eu também vou... Ora pois


Seu Pedro, português não! Natural de Funchal não é portuga é Madeirense, D. Pedro tinha uma quitanda na Augusto Montenegro, (o que prova que ele não era mesmo luso) e era fã de Camões e Eça, mas não conseguia se quer escrever uma carta sem ajuda.

Pronto, vou dizê-lo: sou um sujeito de meia-idade. Diz que é nesta altura da vida que um homem entra numa espécie de crise existencial. Já tem passado e aparentemente ainda lhe resta algum futuro. No meu caso a situação é “ligeiramente” diferente: não sei para que me serve o passado nem sei o que hei de fazer com o futuro. Vender legumes, batedeiras, apontar jogo do bicho ou gasolina batizada para os incautos desesperados não é propriamente algo que nos eleve à academia de artes e letras sequer do Burundi. E porque é que um tipo que se dedicou ao nobre oficio de comerciante haveria de querer ser reconhecido como um intelectual de elevadíssima estirpe? Porque era isso que eu queria.

Está claro está que me esqueci de escrever uns romances, uns livros de poemas. Também não entrei em nenhuma peça ou sequer constei como figurante em nenhum filme de terceira categoria. Não escrevi nenhuma teoria política nem fiz nenhuma observação particularmente genial sobre o significado democrático do consumo de querosene num vôo de Caracas para Lisboa.

E é aqui que entra o âmago da história da meia-idade e se demonstra que a verdade verdadeira sobre esta idade estúpida é afinal que existe uma amostra de passado, mas não há nenhuma espécie de futuro. Um cidadão tenta escrever um post (já não é nada mau) sobre a qualidade da democracia em Fornos de Marabá e aparece logo um irônico comentador: “Ei vovô, tu sabes é vender água sanitária caseira (muito boa e muito em conta, por sinal). Deixa-te de merdas”. Ou então, mandar uma reflexão brilhante sobre o fim do apoio à criação de lagartas para adubo a um qualquer jornal. Primeira pergunta: “então e que outras coisas escreveu?” “Bom, escrever, escrever, só as etiquetas de preço da seção de corte na feira nova do Barreiro, serve como CV?”

A um homem de meia-idade resta-lhe apenas uma ambição: ir vivendo. Pensando bem, podia ser pior.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Desmanche, um caso de meia idade…


Sempre me deparo com pessoas no mínimo intrigantes. Resolvi dedicar esta semana para coisas mais lights, como textos para a terceira idade. Ha uns dez anos conheci o Batista, um coroa de bem com a vida e por isso escrevi este conto há alguns anos para ele que pegava qualquer coisa. Achei melhor publicar na íntegra a história deste abençoado.
Sinceridade: não sou do tipo que chama atenção pelo porte físico ou coisa parecida. Já passei dos quarenta, meus cabelos deixaram de ser originais há uns sete ou oito verões e minha protuberante barriga denota o grande sucesso que tive na arte de comer e beber. Minhas rugas procedem da total falta de credibilidade em protetor solar (esse troço não é coisa de homem sério!) aliada a centenas de noites que fiquei sem dormir na expectativa de não ir para casa sozinho.

Ainda bem que para caras como eu (e tem um monte desses por ai) existem os desmanches. O que é um desmanche? Sinceridade: Na mesma proporção de caras como eu, existem mulheres com características semelhantes. Se não são carecas, tem cabelos mal cuidados, se a barriga não é tão grande quanto a minha, tem lá aquela coisa instalada ali na frente. Ruga então?! Não quero falar disso. Voltando ao assunto, um desmanche é um local onde se tem música, bebida, um globo vagabundo rodando no teto, banheiro mal cuidado, etc. O local tem que ser escuro porque, sinceridade: Com muita luz acho que ninguém “pegaria” ninguém. A balada que sempre vou (não vou chamar de desmanche, as mulheres se ofendem, pois há quem diga que estes locais têm estes nomes porque as “princesas” que frequentam o local desmancham a um toque!) fica perto da minha casa, pois não tenho carro e, se arrumo alguma coisa dá para ir a pé até o meu apartamento.

Coloquei minha roupa de passeio, quinzão no bolso (cinco para entrar e o resto para beber e comer um cachorro quente na hora de ir embora) e fui para a caçada. Dancei forró, pagode e lenta (não sei nem como se chama hoje em dia estas músicas de se dançar juntos eu falo lenta e acabou!) com umas dez mulheres diferentes. Já passava das quatro da madruga, eu já num prego do cacete, achando que ia ter de acabar mais uma noite sozinho, deparei-me com uma gata. Não fui agraciado com beleza, mas… papo… bom, papo eu tenho. Aproximei-me. Era uma loira com uma calça preta com listas amarelas (estas calças de ir a academia), uma bota que imitava couro de cobra, um salto bem alto, o cano da bota ia até os joelhos o que dificultava um pouco os movimentos da “mocinha”. Sua blusa era toda cheia de umas coisas brilhantes (não sei o nome destes troços), bem vermelha. Não sei se é moda, mas, tudo bem, eu não estava procurando ninguém para ser modelo e sim tirar o meu atraso. Encostei do lado e comecei a jogar meu charme. Sinceridade: Nem precisei conversar muito. Cinco minutos de conversa e já aceitou ir até minha casa. Eu também aceitaria no lugar dela, pois, o primeiro ônibus que ia até a direção da sua casa só passaria a partir das sete horas.

Fomos caminhando até meu apartamento. Quando passávamos por luzes fortes podia ver com mais clareza seu rosto. Amigos: Se você tem menos de dezesseis anos e/ou estômago fraco aconselho interromper a leitura a partir deste momento, pois daqui para frente a coisa começa a ficar quente. Tinha mais rugas que um maracujá esquecido na fruteira, já não sabia se era loira ou morena. Quero dizer era morena, pois o cabelo estava do ombro para baixo loiro e para cima preto. Segundo ela, a próxima grana que ganhar de diarista vai dar um jeito no cabelo. Sinceridade: A dona era até gostosa, mas feio era o diabo, ela era horrível. Mas eu não queria ela para bater foto, além do mais não aguentava mais a secura. Precisava de uma mulher, nem que fosse ela. Abri a porta do meu apartamento e já fui beijando e socando a mão em tudo quanto é lugar, aí, como toda mulher faz, começou - Para com isso! Que é que você tá pensando!? - Tudo bem. Todos nós passamos por isso, até as feias tem direito àquelas frescuras do início. Dei mais um beijão e já coloquei a mão no bolso e peguei umas balas pra ela. Compreensível: Quatro horas da manhã, fumando, bebendo, qualquer um fica com bafo na boca.

Como toda mulher que você põe no carro ou leva para seu apartamento, (até as feias são assim!) já começou com aquele papinho - Acho que está na hora de ir embora. A gente tem que passar por isso. Tudo bem, tô ali prontinho e tem que ter esta fase! Bom, fiz minha parte: Conversava um pouco, beijava um pouco, passava a mão, pegava a mão dela e colocava em cima da minha calça, sabe como é, todo aquele ritual básico. Passados longos dez minutos desta interminável lenga lenga, a Marta (este não é o nome real mas vamos deixar como se fosse), deixou eu tirar sua blusa. Quando tirei a blusa encontrei um enorme obstáculo: estas cintas que apertam o corpo para tampar um pouco a gordura. Tirei aquele troço. Meu Deus! Sinceridade: O cheiro que saiu dali de baixo, se minha tara não fosse do tamanho do Pão de Açúcar, eu teria brochado, mas achei até compreensível afinal, ficar a noite toda dançando com aquele negócio quente enrolado no corpo, não podia dar em outra coisa. Passados uns cinco minutos meu nariz já havia se acostumado com o cheiro. Pra quem já tinha beijado a boca fedendo a cigarro, um CC não ia matar. Tirei o corpete (foi assim que ela chamou o negócio) e comecei a chupar os peitos. Tava meio salgado quero dizer, estava bem salgado, mas, vamos lá, era para comer mesmo! Que mal tinha estar temperado?

Fiquei ali com aquela coisa flácida na boca por uns cinco minutos até que finalmente a Marta me apalpou, quebrado a barreira entre o - acho que vou embora e o acho que vou te dar. Começamos então a fase final. Ela com a mão em mim e eu com a mão na sua ahhhh (fica bonitinho este nome!). Não deu dois minutos de dedinho e já veio com aquela outra famosa - Eu quero! Eu quero! - como se não quisesse desde o começo, mas, tudo bem, respeito. Se não respeita, fica com fama de insensível e… bom, deixa para lá, vamos ao que interessa. Como todo bom cavalheiro, tirei a mão de lá e coloquei no nariz para “reconhecer o gramado”. Sinceridade: Minha sorte é que pinto não tem nariz, se tivesse acho que não encararia a parada.

Começamos a nos despir. Fui abaixar sua calça e me deparei com as botas: Preciso comentar do cheiro que saiu de dentro das botas? Se tivesse lugar, poderia jurar que ela escondeu um gato morto em cada pé. Pensei em dar a primeira tomando um banho, talvez melhorasse um pouco as condições. Fomos até o banheiro e, para variar, estava sem água. Sinceridade: Estava louco para dar uma… Comi ali mesmo dentro do banheiro (Sim. Usei camisinha!!!). Comecei sentado na privada, depois encostei a Marta na parede do banheiro e peguei ela por traz. Pra não gozar muito rápido, fiquei contando quantas bolas de celulite que ela tinha na bunda. Quando chegou em vinte e cinco, ela pediu para mudar de posição, eu estava tão empolgado com a minha estatística que nem percebi que ela batia a cabeça na parede com força e acho que já estava machucando. Fomos para o corredor do apartamento (no banheiro não tem espaço para ficar deitado). Fomos terminar na cama. Dei aquelas gozadas de arder o canal. A Marta disse que gozou três vezes! (quem será que está mentindo eu ou a Marta?).

Depois que gozei, tirei a camisinha, dei aquela conferida para ver se estavam todos ali; amarrei a ponta e joguei no lixo. Entrei então naquela parte conhecida pelos homens como o cúmulo da eternidade (Cúmulo da Eternidade: Os minutos entre depois que você goza e a hora em que você leva a mulher embora).

Sinceridade: Com pinto mole não há a menor possibilidade de encarar a Marta! Já nos preparativos finais para ir embora disse que estava com fome. Meu quinzão já tinha ido para o espaço (As balas não foram de graça!!). Perguntou se não podia pedir uma pizza ou comer um cachorro quente. Para não ficar feio para minha cara, ofereci-lhe para fazer algo para comermos. Nossa que romântico! Pronto! Só faltava a baranga achar que gostei dela! Fucei os armários e achei um Miojo. Na geladeira tinha uma destas latas de molho pronto de tomate que fazia uma semana que estava lá.

Fiz a gororoba. Tinha uns dois ou três tomates que só parti em quatro e coloquei junto para tirar aquele ar de anemia do prato. Sentamos e comemos. Comi pouco, a Marta acho que fazia uma semana que não comia. Não deveria ter colocado aquele molho. A Marta comeu um monte e começou a passar mal. Ficou com dor de barriga. Fiquei com um pouco de dó dela. Fazer número dois na casa de alguém que você acaba de conhecer, não é o “sonho” de nenhuma mulher. Lá foi a Marta. Quase seis horas da manhã, nenhum barulho na rua, a porta do banheiro não fecha direito. Sinceridade: Nunca uma mulher tinha ido ao banheiro perto de mim (não para número dois!) e logo na estreia tive direito a show de efeitos sonoros que colocariam Morricone e Vangelis na defensiva. Aquele barulho de quando você acelera uma motoca velha, denunciava a forma líquida que a coisa estava vindo. Minha TV queimada, o rádio meu irmão havia pego emprestado. Tive que ouvir a sinfonia do começo ao fim. Ouvi quando ela tentou puxar a descarga (estava sem água, lembra?), quando tentou abrir a torneira para lavar as mãos, ambos sem sucesso. Veio então nossa heroína daquela batalha que achei não ter mais fim. Foram quinze minutos de barulhos de motoca e de água escorrendo. Ela saiu do banheiro deixando lá toda a sua obra, deu uma cheirada na mão, esfregou-as e me abraçou. Eu sabia que o cheiro que eu estava sentindo era do banheiro, mas, eu tinha a sensação de que vinha da sua boca.

Dei-lhe minhas últimas balas. Aquelas mãos passando em meu rosto como quem quer fazer um carinho, não sei quanto tempo poderia aguentar. Pegou no meu pinto de novo, viu que estava mole e disse: - Vou levantar o bebê de novo (bebê?). Abaixou minha calça e começou a me usar como bala. Sinceridade: Uma é sempre uma. O danado mesmo com todo aquele cheiro de enxofre no ar (ele não tem nariz, lembra?) ficou em pé de novo. A moça então resolveu escancarar: Começou a fazer um streap (nem sei escrever isso!).

Preferia o anterior, mas, tudo bem, vamos respeitar o ritual, para não parecer insensível. A sala estava meio escura e ela, achando que estava realmente me agradando com aquelas incontáveis bolas de celulite (tinha parado na vigésima quinta, lembra?), acendeu a luz. Quando tudo ficou mais claro olhei para aquelas nádegas e pensei: Cara, a gorda tem um monte de espinhas. Na verdade para meu espanto ou alívio (já não sabia mais o que pensar) não eram espinhas. Eram algumas sementes do tomate que coloquei na macarronada. A diarreia deve ter escorrido por toda sua bunda e papel higiênico não limpou tudo que podia e elas ficaram por ali grudadinhas. Peguei minha cueca, dei uma cuspida, limpei em volta e comi a Marta de novo.

Sete horas da manhã a Marta pegou o ônibus e foi embora. A água voltou às dez horas. Não quero mais tocar neste assunto.


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