Parece
que agora a moda das campanhas eleitorais mudou seu rumo. Antes, nos horários
de propaganda eleitoral, a vedete eram as “obras públicas”, supostas melhorias
que seriam realizadas para o bem da população, coisas que iam bem além do poder
do mandato de um político. Hoje por exemplo não aparecem mais tantos candidatos
a prefeito desavisados de que não podem prometer além do que sua alçada permite,
ou candidatos a vereador prometendo grandes campanhas de asfaltamento em massa.
Mas eles existem.
Mas
agora a bandeira é do “cuidar das pessoas”. Como bem sabemos a política
brasileira existe bem antes da república em 1889. Podemos até ir mais ao
passado e afirmar que vieram na carona das caravelas de Cabral.
A
politicagem populista veio até com o Imperador que queria vender as joias da
coroa para aplacar o sofrimento do nordestino. E com o Getúlio bancando o pai
dos pobres, no afã de abiscoitar para si tal título honorífico da “politica do
cuidar”.
Boa
vontade política ou não, a questão do cuidar das pessoas tem sido mais
fortemente abraçada, pois psicologicamente, quem não gosta de sentir que tem
alguém cuidando da gente? Mas aos candidatos uma advertência divina: Deus cuida
de nós, mas não se envolve em políticas públicas! Por isso não contem com Ele
no horário eleitoral. Muito menos com milagres messiânicos para cumprir certas
promessas como abrir o rio Amazonas.
Mas
se tudo isso fosse verdade mesmo, não teríamos tanta gente morrendo nas portas
dos hospitais por falta de médicos e profissionais de saúde que faltam nos
feriados e também nos dias úteis, alegando baixos salários. Mas e o cidadão que
é atendido por este serviço? Que às vezes nem salário tem. Quem se aventura a
cuidar deles de verdade?
Se
cuidar das pessoas fosse uma política de verdade, não sofreríamos tanto ao ver
nossas estradas e ruas em péssimo estado, mesmo sabendo que pagamos os impostos
destinados a esse “cuidado com as pessoas”. Ficamos chocados ao constatar a
situação das farmácias em postos de saúde e hospitais sem o medicamento mais
elementar e onde o socorrido chega e é colocado em uma maca quando uma há e lá
fica a espera da chegada do Zé da foice.
Afinal,
quem cuida de nós? Quem se importa, se o aparelho de Raios-X do pronto socorro
está quebrado há mais de dois meses, se as ambulâncias do SAMU são
insuficientes para atender pelo menos a metade da demanda de urgências a que
são destinadas. Se apenas 9% das pessoas “cuidadas” tem plano de saúde
particular.
Se
as pessoas fossem tão bem cuidadas assim, certamente não teríamos idosos
vegetando nos pontos de ônibus, esquecidos pelos motoristas que parecem ter
participação acionária no capital social das empresas de ônibus, pois não param
para os idosos que tem direito à gratuidade assegurada por lei, mas que ficam com
o olhar indignado pelo “cuidado” prometido e esquecido.
Seria
bom se os políticos realmente cuidassem de nós e de nossos direitos como
cidadãos que os elegem para esse fim, mas cada vez que se elegem, cuidam apenas
do próprio umbigo e voltam quase quatro anos depois para dizer que querem
cuidar de nós mais um pouco, mais um mandato, mais tempo ou um novo tempo pois
não foi suficiente o que lhes foi outorgado pelas urnas e por isso só
conseguiram cuidar de si mesmos.
Certamente
se cuidássemos de nós, teríamos mais lixeiras nas ruas. Com certeza, o
fornecimento de água não sofreria interrupções enormes a energia elétrica não
seria uma piada de mau gosto e o transporte público seria uma maravilha. Teríamos
mais segurança ao andar nas ruas. Mas estas coisas parecem cada vez mais
parecer item de uma sociedade utópica em que cada vez mais um quer “cuidar” do
outro.
Mas
como não somos nenhum tipo de sociedade de abelhas ou formigas em que o cuidado
coletivo é instintivo e hereditário. Penso que cada vez mais se torna um sonho
distante acreditar na promessa de que alguém quer cuidar de mim, senão por
amor. Mas para ter-se amor e cuidar de alguém é necessário primeiro conhecer e
estar próximo. Senão a próxima promessa de campanha será o amor platônico entre
candidato e eleitor. Aí já é demais.