quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A politica de cuidar


Parece que agora a moda das campanhas eleitorais mudou seu rumo. Antes, nos horários de propaganda eleitoral, a vedete eram as “obras públicas”, supostas melhorias que seriam realizadas para o bem da população, coisas que iam bem além do poder do mandato de um político. Hoje por exemplo não aparecem mais tantos candidatos a prefeito desavisados de que não podem prometer além do que sua alçada permite, ou candidatos a vereador prometendo grandes campanhas de asfaltamento em massa. Mas eles existem.

Mas agora a bandeira é do “cuidar das pessoas”. Como bem sabemos a política brasileira existe bem antes da república em 1889. Podemos até ir mais ao passado e afirmar que vieram na carona das caravelas de Cabral.

A politicagem populista veio até com o Imperador que queria vender as joias da coroa para aplacar o sofrimento do nordestino. E com o Getúlio bancando o pai dos pobres, no afã de abiscoitar para si tal título honorífico da “politica do cuidar”.

Boa vontade política ou não, a questão do cuidar das pessoas tem sido mais fortemente abraçada, pois psicologicamente, quem não gosta de sentir que tem alguém cuidando da gente? Mas aos candidatos uma advertência divina: Deus cuida de nós, mas não se envolve em políticas públicas! Por isso não contem com Ele no horário eleitoral. Muito menos com milagres messiânicos para cumprir certas promessas como abrir o rio Amazonas.

Mas se tudo isso fosse verdade mesmo, não teríamos tanta gente morrendo nas portas dos hospitais por falta de médicos e profissionais de saúde que faltam nos feriados e também nos dias úteis, alegando baixos salários. Mas e o cidadão que é atendido por este serviço? Que às vezes nem salário tem. Quem se aventura a cuidar deles de verdade?

Se cuidar das pessoas fosse uma política de verdade, não sofreríamos tanto ao ver nossas estradas e ruas em péssimo estado, mesmo sabendo que pagamos os impostos destinados a esse “cuidado com as pessoas”. Ficamos chocados ao constatar a situação das farmácias em postos de saúde e hospitais sem o medicamento mais elementar e onde o socorrido chega e é colocado em uma maca quando uma há e lá fica a espera da chegada do Zé da foice.

Afinal, quem cuida de nós? Quem se importa, se o aparelho de Raios-X do pronto socorro está quebrado há mais de dois meses, se as ambulâncias do SAMU são insuficientes para atender pelo menos a metade da demanda de urgências a que são destinadas. Se apenas 9% das pessoas “cuidadas” tem plano de saúde particular.

Se as pessoas fossem tão bem cuidadas assim, certamente não teríamos idosos vegetando nos pontos de ônibus, esquecidos pelos motoristas que parecem ter participação acionária no capital social das empresas de ônibus, pois não param para os idosos que tem direito à gratuidade assegurada por lei, mas que ficam com o olhar indignado pelo “cuidado” prometido e esquecido.

Seria bom se os políticos realmente cuidassem de nós e de nossos direitos como cidadãos que os elegem para esse fim, mas cada vez que se elegem, cuidam apenas do próprio umbigo e voltam quase quatro anos depois para dizer que querem cuidar de nós mais um pouco, mais um mandato, mais tempo ou um novo tempo pois não foi suficiente o que lhes foi outorgado pelas urnas e por isso só conseguiram cuidar de si mesmos.

Certamente se cuidássemos de nós, teríamos mais lixeiras nas ruas. Com certeza, o fornecimento de água não sofreria interrupções enormes a energia elétrica não seria uma piada de mau gosto e o transporte público seria uma maravilha. Teríamos mais segurança ao andar nas ruas. Mas estas coisas parecem cada vez mais parecer item de uma sociedade utópica em que cada vez mais um quer “cuidar” do outro.

Mas como não somos nenhum tipo de sociedade de abelhas ou formigas em que o cuidado coletivo é instintivo e hereditário. Penso que cada vez mais se torna um sonho distante acreditar na promessa de que alguém quer cuidar de mim, senão por amor. Mas para ter-se amor e cuidar de alguém é necessário primeiro conhecer e estar próximo. Senão a próxima promessa de campanha será o amor platônico entre candidato e eleitor. Aí já é demais.
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