sábado, 24 de julho de 2010

Quando recordar não é viver

As lembranças são de maneira mais simples, a forma de termos um registro do passado e com ele aprender sobre como ter um futuro melhor. Esta frase clichê, diz o que deveria ser feito por todo o ser humano portador do cérebro altamente desenvolvido e dotado de polegar opositor. Mas na verdade isso é um grande embuste para vender livros de auto-ajuda. Afinal continuamos seguidamente a cometer os mesmos erros que o passado nos mostra constantemente que já erramos e insistimos em errar.

A solução mais banal que encontro para os problemas com as recordações, é simplesmente ignorá-las, afinal se não vamos aprender com o passado e corrigir o futuro, é simplesmente perda de tempo guardar na memória, tanto lixo neural.

Afinal recordar, diz a frase: "é viver", mas as plantas não têm cérebro e logo não se recordam, mesmo assim vivem algumas até por séculos!

Logo não temos essa associação tão intrínseca entre lembranças e vida. A revista Veja desta semana fala do poder do perdão. Mas o perdão nada mais é do que uma remissão dos erros cometidos no passado por um ato benevolente do futuro. Ou seja, perda de tempo. Já falamos de desculpas nestes artigos e temos opinião formada sobre sua total inutilidade.

“Assumir o erro, repudiá-lo e demonstrar arrependimento, de um lado, e ser capaz de afastar a sensação de injustiça causada por uma ofensa, do outro – eis a equação de uma das atitudes morais mais nobres e emocionalmente complexas já criadas pela civilização ocidental”.

É assim o chamado comovente da Veja para um assunto tão comezinho. Seria esse um apelo nesse Período de eleição? Afinal se fossemos relevar cada lembrança de casos ocorridos com políticos, com certeza nosso sistema eleitoral já teria mudado drasticamente.

Grande fato mesmo é que lembranças só servem para atos que atinam sentimentos, na vida real em si elas só atrapalham, acorrentam o reminiscente a uma bola de ferro que cresce a cada dia e a cada lembrança.

Deixo as grandes lembranças para autores como Léo Magalhães que junto com Roberto Carlos imortalizaram a lembrança de uma maneira romântica, e a essa maneira, confinaram as lembranças em seu devido lugar.

SEM MOTIVO VOU VIVENDO POR AÍ
POR VIVER
MEUS VALORES TÃO CONFUSOS REPRIMIDOS
POR VOCÊ
TROCO PASSOS SEM SENTIDO PELAS RUAS
SEM SABER AONDE IR
E VIVER JÁ NADA MAIS SIGNIFICA
ATÉ JÁ ME ESQUECI
VOLTO PARA CASA ONDE EU PROCURO
ME ESCONDER
DE PESSOAS QUE ACREDITAM MEUS PROBLEMAS
RESOLVER
MAS EU INSISTO EM CULTIVAR SUA PRESENÇA
MESMO SEM VOCÊ SABER
AINDA ESPERO A CADA DIA SUA VOLTA
É SÓ VOCÊ QUERER
AS LEMBRANÇAS
ME CHEGAM SEMPRE EM NOITES TÃO VAZIAS
E MEXEM TANTO COM MINHA CABEÇA
E QUANDO O SONO VEM O DIA JÁ NASCEU
A DISTÂNCIA
ME TIRA POUCO A POUCO A ESPERANÇA
DE TER VOCÊ COMIGO NOVAMENTE
DE REVIVER AQUELE NOSSO GRANDE AMOR
TANTOS PLANOS, SONHOS FEITOS EM PEDAÇOS
POR VOCÊ
DE TOLICE TANTO AMOR DESPERDIÇADO
POR NÓS DOIS
E NA SOLIDÃO ME AGARRO A QUALQUER COISA
QUE AINDA RESTA DESSE AMOR
PRA SENTIR SUA PRESENÇA NOVAMENTE
SEJA COMO FOR
AS LEMBRANÇAS...

Sábado de poucas lembranças.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Jeová, Alá, Jong e os virais

A Coréia do Norte deu um ultimato aos Estados Unidos e à Coréia do Sul. Devido às sanções impostas pela ONU aos afetados atos de Kim Il Jong, diversos embargos econômicos foram uma faca na carótida da já moribunda e messiânica colônia comunista de factóide.

Kim acha que pode brincar com o mundo numa guerrinha sem graça onde mais parecem adolescentes colocando seus membros sobre a mesa pra ver quem tem o maior, tipicamente freudiano. Obama não abre mão de nada, ainda mais com a chancela de sua pit bull de Estado Hillary Clinton.

Na outra ponta desse isóscele de potências mundiais do auto e exo-terror, temos Armadinejad e seu Irã postulante a potência atômica. Numa beligerância infinita, onde ganha quem superar Kid bengala no quesito tamanho e potência.

É inconcebível que em pleno século 21, com as maravilhas que o ser humano é capaz de criar com a tecnologia, mesmo sem se igualar a Deus, que estes líderes mundiais estejam despendendo, tempo, energia e vidas, quando temos preocupações mais prementes para nos adonar os pensamentos.

O crescimento populacional do mundo tende a chegar a níveis alarmantes, mas ninguém se preocupa em como vamos alimentar este contingente. Novas doenças surgem como que por encantos do pó de pirlimpimpim e somem da mesma maneira. Caso um dia não sumam, talvez se pareiem com o HIV que veio, mas aprendemos a conviver com ele. À custa de uma força-tarefa cientifica com intuito de contê-lo.

A crise do petróleo não tarda, mesmo falando-se em pré-sal com tanta empolgação, quando se fala em tempo geológico, 400 anos são apenas um segundo. E quando acabar? Será que os grandes líderes vão se empenhar em fazer os obsoletos motores de combustão interna a hidrocarbonetos se aposentarem de vez?

Isso sem falar muito profundamente das mudanças climáticas que vem a cada dia diminuindo nossas chances futuras de sobrevivência, afinal não se pode comer e usar o prato como latrina sem conseqüências.

Ponderações como essas, ainda não povoam as mentes dos seres humanos por que ainda é muito cômodo levantar-se de manha e ir ao trabalho, supermercado, posto de gasolina e viver tranquilamente como se essas crises fossem coisa de gringo.

Vale lembrar que num mundo globalizado, não somos mais a platéia do espetáculo, somos parte dele, ainda que como personagens coadjuvantes. Ainda ontem vi uma entrevista de Lula para um telejornal, onde a emoção dele foi desabada por ter emprestado 200 milhões a uma cooperativa de catadores de papel. Será que o choro foi de emoção? Ou por saber que o erário nunca mais vai ver a cor desse dinheiro. Afinal tudo nos afeta.

Fico pensando como um ET veria os seres humanos, antologicamente expressado em um filme Cult como Matrix. Seres humanos chegam se alojam consomem todas as reservas naturais e causam a destruição do meio em que habitam mesmo que isso lhes custe a vida. Os vírus, na verdade nem são uma forma de vida completa, muitos cientistas ainda divergem se o classificam como ser vivo. Afinal ele nada mais é do que um saco de proteínas que se arrasta por ai esperando a oportunidade de alojar seu DNA em alguma célula incauta.

No fundo como um ET diria, somos iguais ao vírus, com a diferença, além do tamanho, é que temos um cérebro para fomentar tanta coisa inútil, como essa briga nuclear e os vírus só têm instinto, no resto é tudo a mesma coisa.

Bom fim de semana e cuidado nas estradas para quem vai para o litoral de carro.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Vinde a mim oh memória da mediocridade!



Esta semana foi uma semana marcante no quesito esquecimento. O ato de esquecer povoa nossas mentes e vidas de uma maneira pungente. Às vezes me questiono quantas vezes deixamos de lembrar as fases boas de uma existência em detrimento a somente lembranças ruins, relevamos os momentos de uma vida inteira apenas pelo que está existindo e não pelo que já não mais existe, é quase como aconteceu na copa da áfrica do Sul, falou-se inúmeras de vezes de Mandela que está vivo e nenhuma vez de Biko que jaz, lembrando que ambos lutaram pelo mesmo ideal na mesma áfrica do Sul.


Mas quando fazemos um retrospecto de nossas vidas, lembramos o quanto fomos de alguma maneira, úteis a um propósito. É um comportamento muito comum para as pessoas que foram demitidas, por exemplo, elas se lembram de tudo que fizeram de útil em seus trabalhos e foram dispensadas por algo inútil.


Num breve relato de uma vida podemos citar inúmeras biografias de infinitos biografados que com características boas ou ruins, entraram para a memorável lista dos eternos. Cada um de nós pode viver este infinito ato dicotômico, onde a beligerância entre o ser ou ter sido útil algum dia, nos assombra como velhos fantasmas guardados em baús de lembranças que só nós temos a recordar.


Faz parte então da índole do ser humano esquecer fatos bons ou ruins, a memória é curta, quase uma RAM que quando sem energia para se manter, exorta os bytes ao limbo de binários incontáveis, um cemitério de recordações. Basta lembrar a memória dos políticos, que como baratas, sempre voltam, aos locais onde a miséria prospera e prometem mundos e fundos, e depois se esquecem de tudo.


Ou a memória dos incautos eleitores que continuam colocando estes mesmos elementos em cargos públicos e continuam afundados na mesma miséria de antes, com algumas cestas básicas a mais. Vinde a mim memória para lembrar-me de que os princípios da mediocridade ainda prosperam como larvas no esterco, mas a boa lembrança se afunda no lodo mais denso que a própria vida das lembranças.

Boa quinta feira

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Hable con ella

Cucurrucucú Paloma. É assim que o filho de dona Canô começa uma ode ao filme de Almodóvar.


No seu primeiro filme do novo milênio, o cineasta espanhol Pedro Almodóvar nos traz uma nova obra sobre relacionamentos entre homens e mulheres, vistos principalmente do ângulo feminino. Porém, a diferença aqui é que as mulheres que protagonizam Fale com Ela estão em estado de coma, na cama de um hospital. O último filme do diretor, Tudo Sobre Minha Mãe – referência ao clássico A Malvada (Tudo Sobre Eva, no original em inglês) – foi homenageado com inúmeros prêmios ao redor do mundo, incluindo aí um Oscar de melhor filme estrangeiro. O tema central permanece – relacionamentos – porém Fale com Ela é um filme totalmente diferente, não em relação ao último do diretor, como também é um dos filmes mais originais do ano.


Temos Benigno e Marco, dois desconhecidos que acabam virando amigos em decorrência do destino: enquanto esperam com toda a esperança possível as mulheres por quem são apaixonados, – Alicia e Lydia – saírem do estado de coma do hospital, acabam tendo uma afinidade muito grande. O interessante disso é que Benigno e Marco, enquanto amigos possuem idéias bastante distintas em se tratando de suas amadas: Benigno possui uma espécie de amor platônico por Alicia, pois apaixonou-se sem ter tido tempo de ser correspondido, antes do acidente dela; Marco, em contrapartida, após o acidente, não consegue definir muito bem seus sentimentos com relação a Lydia, e tem dificuldades de lidar com ela na cama do hospital. Ambos só podem fazer uma coisa enquanto esperam: falar com elas...


Outro ponto interessante é o fato de, embora serem dois homens os protagonistas, o enredo ser centrado nas duas mulheres em coma. Fale com Ela desenvolve sua história através de flashbacks, mostrando as duas mulheres ainda quando fora do hospital. O filme logo avança para um ponto inesperado, e algumas reviravoltas acontecem com os dois homens. Não cabe aqui dizer muito mais, pois isso estragaria um pouco as surpresas, e é muito melhor saborear a história por você mesmo. Mas é apenas importante ressaltar que o roteiro é muito bem desenvolvido, alterando momentos emocionantes (com o uso da música, da qual será falado logo em seguida), com alguns momentos leves e engraçados.

Almodóvar ousa e coloca, inclusive, um filme mudo em preto-e-branco (fictício, é bom dizer) de sete minutos dentro do filme principal, que altera, positivamente, o ritmo do filme. É algo também inesperado e que funciona muito bem, para esquecermos momentaneamente o drama dos personagens principais.


A história é bastante forte, porém Almodóvar tem todo o controle do filme e trata de assuntos como estupro, desejo e morte com a habilidade de um cineasta experiente e, porque não dizer, gênio. Em relação à originalidade citada logo no início, não há como descrevê-la, senão vendo o filme por si mesmo. É uma mistura de fotografia diferenciada (porém sem usar nenhuma técnica nova), com a própria história, as imagens (o filme mostra uma tourada belíssima), tudo em conjunto com a música... ah, a música! O filme ganha ainda mais força com o uso dela.

Destaque aqui para o Brasil, com a participação especial de Caetano Veloso cantando em espanhol uma versão da música Cucurrucucu Paloma, que funciona não só para a platéia como para os personagens do filme, que se emocionam enquanto ouvem. Além disso, há outras referências bem explícitas ao Brasil. Novamente, recomendo a você mesmo assistir para descobrir o que acontece.


Beços a paloma

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