sábado, 11 de fevereiro de 2012

Entrevista da semana - Rodrigo Portugal

Militante ferrenho, com um ponto de vista bem defendido por uma voz que alterna em duas oitavas dependendo do estado de espírito e do tema. Rodrigo Portugal, uma "cria" dos movimentos estudantis que confessa-se um praticante do jornalismo. Já ocupou espaços bem diversos entre Deus e o diabo. Já foi Secretário Estadual de  Juventude e hoje faz a defesa dos seus argumentos de uma maneira irônica e bem divertida no rádio com o programa "O Troco" em parceria com seu correligionário Pedro Da Lua e na Televisão com "Batendo Lata" na companhia do também Pedro mas "Filé". Facebokeando em uma sala de espera no Aeroporto de Val de Cães, encontrei esta figura para uma entrevista que faz com que a gente veja uma outra "versão" do Portugal.



Coisas da Vida: Movimentos estudantis sempre geram bons debatedores em contraponto a politica vigente, você é fruto desses movimentos. Mudou muito entre ser um militante de escola e hoje ser um comunicador?
Rodrigo Portugal: Entrei para a comunicação e primeiro trabalhei no extinto Amapá Estado e depois fui presidente de grêmio. Conhecer a comunicação e todos os seus caminhos facilitam a vida de um militante politico. Pela linha que adoto continuo sendo um militante na comunicação. Totalmente parcial e apaixonado pelo debate. A militância nas escolas é muito mais complicada que em outros segmentos. Somos forçados no ambiente familiar a concordar com tudo que vem da direção da escola e do professor, é cultural... Na minha vida profissional a mudança foi mínima. Sempre fui questionador mesmo!

Coisas da Vida: Lindemberg Farias e Randolfe Rodrigues também se originaram desses núcleos e hoje são Senadores, e o Rodrigo? Tem essa intenção politica ou o cargo de eminência parda lhe apetece mais?
Rodrigo Portugal: O Amapá tem características que proporcionam aos seus habitantes que gostam da politica serem destaques. Posso dizer com qual vereador ou deputado eu quero falar e isso não é exclusividade minha. Entretanto sei que existe um abismo entre ser bem relacionado e conseguir arregimentar votos o suficiente para ganhar uma eleição. Estou preparado para ocupar qualquer função ou missão politica, quando se fala em vontade. Mas sou defensor da existência de um grupo e que alguém vai ter essa atribuição... Como diz uma amiga minha: "se alguém tem que mandar; que seja eu"... (risos)

E assim como o Randolfe e Lindemberg tenho preferencia pelo Senado Federal e nenhuma preocupação com o tempo em que isso vai acontecer...


Coisas da Vida: Você e o Pedro criaram um formato baseado em muitos programas televisivos e radiofônicos e acabaram chegando a uma fórmula própria, que incomoda, informa e às vezes chega a ser perseguidora. Você acredita que isso não é radicalismo em alguns momentos?
Rodrigo Portugal: O estilo de vida provinciana ainda vigente em nosso Estado faz parecer que sejamos inovadores. E não é bem assim. Tudo foi acontecendo; começamos no jornal impresso, resolvemos ir para o radio e fomos convidados para a televisão. Misturamos alguns formatos e passamos trabalhar o humor ácido, coisa que chama a atenção. Colocamos alcunhas nas figuras ilustres e questionamos hábitos intocáveis. Em uma rádio que estava praticamente morta,  abrimos os microfones para a opinião do público e defendemos nossos colaboradores e patrocinadores descaradamente; criamos um clima de guerra entre ouvintes e apresentadores. O povo gostou e divulgou nosso programa.
Na televisão a fórmula da interação foi mantida e ainda não havia Orkut, Twitter e Facebook. Isso que fazemos é um bate papo entre amigos, sem muito tato em alguns momentos, mas com o estilo que todos os ouvintes e telespectadores podem entender. Claro que passamos dos limites em várias situações. E assim funciona na roda de conversa.

Coisas da Vida: A dobradinha no rádio (o troco) e na televisão (batendo lata) tem uma amplitude enorme em todas as faixas sociais e etárias, um dia desses tomei café em uma casa muito simples de uma família humilde e estava sintonizado em vocês e logo em seguida fui de carro para o aeroporto com um empresário amapaense que também ouvia vocês. Isso é indicio de que vocês formam fortes opiniões. Não é um poder muito perigoso?
Rodrigo Portugal: Minha mãe é muito critica e trabalha para muitas autoridades e empresários conceituados e nunca falei para ela ouvir ou assistir os programas. Como ela anda em várias camadas sociais por conta da sua ocupação: um Buffet e vive nas feiras, mercados e distribuidoras, sempre atenta às conversas paralelas. E poucas pessoas têm o nosso sobrenome "PORTUGAL" e ela ficava ouvindo a opinião dos outros sobre o programa de rádio. Ela já lia o jornal e comentava quando a gente se encontrava. E em poucos dias a repercussão do programa chegou aos ouvidos dela por meio de clientes e amigos. É a minha principal referência de como anda a nossa popularidade. Nesse quesito não é mãe coruja. Quando se tem audiência o poder vem junto, só que não tenho crises de egocentrismo, me divirto com a coisa. E reconheço a capacidade de transformação ou mobilização que está em nossas mãos.

Coisas da Vida: O rádio é mais difícil de fazer por que você vende seu produto na entonação e não na postura. Historicamente o rádio criou ícones como Costa Filho, Chacrinha e Arthur da Távola. Mas também levou Givonaldo Vieira e Luciano Pedrosa para debaixo da terra, vitimados por seus desafetos. Você chega a se preocupar com sua segurança?
Rodrigo Portugal: Ter medo é necessário, agora não posso viver em função dele. Minha vida continua no mesmo ritmo, sou um ícone da comunicação, servindo de modelo e exemplo para outros que pensavam não poder entrar na comunicação.

Coisas da Vida: A sua afinidade com o Ex-governador Waldez Góes e o grupo pedetista é muito forte na sua fala e na do Pedro. Assim como a beligerância eterna com o grupo do Senador João Capiberibe. Mas a política é a ciência mais inexata das sociais. Você não corre o risco de no futuro politico que pretende, de militar pelo Socialismo do PSB ou similares?
Rodrigo Portugal: Enquanto o PSB for dirigido pela família Capiberibe essa possibilidade é remota. Já militei em favor da candidatura de João Alberto e fui coordenado pelo filho, Camilo em 98. E passei a acompanhar os movimentos da família PSB. Tudo funciona em beneficio deles e de mais ninguém, não existem chances de crescimento para os militantes enquanto eles não chancelarem. Uma missão quase impossível. No governo do Waldez não ocupamos grandes espaços, particularmente não fui nomeado e nem indiquei ninguém, ao contrario do governo da família PSB, que persegue e impede o crescimento dos que não seguem a linha de raciocínio definida por eles. Fomos aliados publicamente e rompemos da mesma forma, enveredamos pelos caminhos da comunicação na gestão PDT/PP em 2005 e conseguimos apoios e patrocínios mesmo questionando gestores da administração, chegamos a ser perseguidos pelo presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Amanajás, por falar dos valores do duodécimo, claro que falando muita bobagem junto com nossos ouvintes. No curto governo de Pedro Paulo, recebemos o comando da Secretaria de Juventude e ampliamos espaços na gestão. Temos gratidão e fazemos a defesa daquilo que defendemos antes. Além dos laços de amizades que temos com as famílias de Pedro Paulo e Waldez Góes

Coisas da Vida: Retornei há pouco tempo ao Brasil, mas sempre que chego, venho para o Amapá. E um dos movimentos mais incríveis que pude presenciar e olha que já vi muitos, foi a campanha para o IJOMA, que fiz questão de documentar para levar comigo. Você, o Pedro, Caetano, Pedro Filé e o padre Paulo fizeram um trabalho de formiguinha formidável. Mas muitos politizaram o trabalho e chegaram até a denegrir o movimento e o próprio padre Paulo. Em política realmente VALE TUDO?
Rodrigo Portugal: Politica é arte do convencimento e vale tudo para mostrar que o seu ponto de vista é o mais correto, agora ser flexível é fundamental para atingir o maior público possível. Somos agentes políticos capazes de grandes mobilizações estudantis e isso se tornou uma espécie de maldição positiva e não temos problemas em superar as expectativas alheias e as nossas mesmas. No rádio e na televisão, graças a interação e a criatividade invadimos os lares amapaenses. Já em relação ao IJOMA, Cesar Bernardo e Padre Paulo, ficamos envolvidos emocionalmente com a luta do jornalista que precisava arregimentar um exercito de 30 mil pessoas para doarem R$ 2 e resolvemos testar novos limites.
Essa campanha foi feita entre amigos e quase que toda nas redes sociais, a mobilização atingiu, melhor superou tudo que havíamos planejado e o Governo do Estado não cumpriu com o seu papel, através de gestores ou militantes. R$ 500 mil é muito dinheiro para uma mobilização feita por programas que não são considerados sérios, mesmo tendo uma audiência fantástica...

Coisas da Vida: Essa "invasão" que tem acontecido no rádio, de mídia unilateral que às vezes beira o ridículo com entrevistados duvidosos e ouvintes arrendados são mais hilários que as próprias tiradas que vocês fazem no programa. Isso não compromete a credibilidade dos radialistas sérios, como J Ney, Luis Melo, Carlos Lobato e até vocês que tem uma linha cômica, mas informativa?
Rodrigo Portugal: Atrapalha-nos financeiramente já que essas "porcaritas" aceitam qualquer $$$ para anunciar ou entrevistar figuras públicas, nem sempre aquinhoadas de inteligência ou argumentos. E nem podemos reclamar tanto já que entramos pela mesma porta e ganhamos destaque dentro do processo. O mercado vai valorizando o que quer consumir. Nosso Estado ainda vive em função da Avenida FAB e os locatários momentâneos de cada órgão público, e isso provoca a proliferação de porcarias midiáticas a todo instante.

Coisas da Vida: Apesar da negação constante e da veiculação quase como a propaganda nazista, o Governo do Estado tem ido mal nas ações e tem arcado com um alto preço por isso. A falta de conselheiros competentes tem gerado ações como a prisão do Ex- senador Gilvam Borges durante as férias do governador. Você vê o futuro deste governo com alguma perspectiva de mudança real ou declínio completo mesmo que isso penalize seus conterrâneos amapaenses?
Rodrigo Portugal: Esse permanente desencontro de opiniões e ações no GEA demonstra que a candidatura de Camilo foi produzida apenas para dar suporte às campanhas do Pai e da Mãe. Pelo que acompanho esse grupo, o fator surpresa é a falta de sintonia dentro da própria família Capiberibe que é sinônimo de PSB. Deveria ser muito simples eles assumirem as rédeas da gestão. Tem experiência administrativa e politica, podendo imprimir um ritmo acelerado de mudanças no rumo que eles desejassem. 
Não podemos deixar de levar em consideração as informações de bastidores que anunciam uma guerra permanente de vaidades e egos entre os casais dominantes JOAO/JANETE versus CAMILO/CLAUDIA. Para a oposição é fantástico poder deitar e rolar nos questionamentos acerca das incompetências sobre-humanas da equipe da "Mudança"...
Com a aproximação das eleições gerais, o verdadeiro comandante do navio de guerra do PSB vai assumir o comando das ações... E com o Capi, a máquina vai ser usada para garantir a reeleição do filho e da esposa. Claro que com tantos erros não será nada fácil...

Coisas da Vida: O prefeito Roberto Góes teve três anos de seu mandato em comunhão com um governador que além de primo é correligionário do PDT. Mas a PMM não avançou tanto quanto deveria. Você acredita que uma hegemonia partidária na Prefeitura e no Governo do Estado é saudável ou as gestões por ideologias diferentes tendem a estimular o ato de fazer, mesmo que seja por competição? 
Rodrigo Portugal: O Roberto passou dois anos como gestor parceiro do PDT/PP e considero que ainda falta um sendo de responsabilidade do Governo do Estado em compreender que Macapá não pode ser abandonada junto com quase 70% da população. Meu companheiro Pedro Da Lua é adepto da realização de gincanas para estimular o trabalho. E quando o brio dos gestores é tocado, as obras andam com mais velocidade. Esse discurso do PSB não cola mais. Prefeito e Governador devem ter compromisso com o cidadão e não com as suas militâncias, já basta a ocupação dos cargos, que considero legitima...

Estou preparado para ocupar qualquer função ou missão politica, quando se fala em vontade. Mas sou defensor da existência de um grupo e que alguém vai ter essa atribuição... Como diz uma amiga minha: "se alguém tem que mandar; que seja eu"... 


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Farrear com a capanga alheia


Hoje de uma maneira despropositada enquanto tomava meu café no aeroporto, através do Twitter vi a primeira dama do Amapá alardeando uma noticia maravilhosa, corroborada em seguida pelo séquito de secretários militantes do PSB: “O governador assina um acordo de contas com a CEA”!

A princípio a notícia pareceu alvissareira, afinal o que mais se quer é que a empresa saia do profundo abismo em que foi colocada ao longo de uma jornada de administradores que se estendeu por 9 mandatos petistas na administração da empresa, o que lhe valeu um aprendizado: Petistas amapaenses não tem tino administrativo, pelo menos não para energia elétrica!

Mais ainda é de se contar que a situação da CEA tem se arrastado pelos anos com as dívidas em franco crescimento. O que faz de quem pegou esse mandado, o Governador Camilo, um preocupado pela coincidência do período de cadução da empresa. Afinal quem quer ser lembrado por um fracasso? Mesmo não importando que começou a bola de neve, o povo sempre lembrará de quem a estourou. Daí o porquê da pressa, não pela docilidade de seu coração, mas pelo medo que as consequências poderão trazer não só a si, mas para o grupo todo.

Mesmo com alguns desencontros uma comissão sem o governador foi recebida pelo ministro de minas e energia, que por sua ligação estreita com o presidente do senado, tem sido acusado de má vontade. Mas sabe-se que no maranhão apesar da operação em que a governadora absorveu para os cofres do estado as dividas da CEMAR, o buraco era de R$ 600 milhões, o que já difere da CEA com um rombo de R$ 1,5 bilhões, o que já afasta eventuais interessados em privatização.

Embora a proposta do Governo do Amapá seja simplista e muitas das vezes até incipiente, causa estranheza a comparação da proposta sugerida ser semelhante a da CELG, afinal as empresas apresentam endividamentos diferentes (a CELG deve o dobro da CEA) e patrimônios diferentes. A auditoria mostra que elas mesmo assim apresentam mais semelhanças do que com as suas co-irmãs nortistas e centro-oestistas.

Mas como estamos tratando de empresas estatais, o orçamento estadual, nada tem de se relacionar com os demonstrativos das empresas, já que elas tendem a lucratividade e não à filantropia para serem socorridas sempre que o pires seca. Mas a CELG enfim conseguiu assinar sua carta de alforria para o Estado de Goiás, repassando 51% do seu capital acionário à Eletrobrás e um aporte de R$ 3,5 bilhões da Caixa Econômica para que se faça a recuperação econômica e financeira da empresa.

Algumas atitudes um pouco inócuas, mas pelo menos necessárias foram tomadas pelo governador Camilo. Afinal ele pagou R$ 16 milhões em contas atrasadas pelas secretárias e órgãos do governo, dos anos anteriores e até de seu próprio mandato. Claro que pagamentos como esse são meramente figurativos, quando se fala na ação de hoje, que para os mais otimistas reduziria a dívida em mais de R$ 500 milhões, o que não vai acontecer, já que este perdão tributário não depende unicamente da vontade do governador em sua ânsia de “fazer o bem”.

Eis então que surge a maravilhosa notícia, anunciada como a cura do câncer, de que após uma ação conjunta entre a CEA, a Auditoria do Estado e a Secretaria da Receita Estadual que poderiam reduzir em R$ 124 milhões através do perdão do ICMS recolhido pela CEA através das faturas mensais de seus consumidores e não repassados aos cofres do tesouro estadual.

Junta-se então no palácio do governo um séquito de áulicos para ovacionar o perdão de uma dívida. Já que o Estado é o majoritário do controle da CEA, obvio que ao perdoar a dívida dele mesmo, o reflexo se dá nada mais nada menos do que no contribuinte, pois a cada perdão de dívida, a cada calote recebido, a boa sabedoria do sistema econômico manda diluir o prejuízo entre as fontes arrecadadoras, cobrando mais tributos ou mais valores isso é tão antigo quanto a morte e os impostos!

Com a diminuição da dívida total, por que Camilo não tem o poder de perdoar o que a Eletronorte vendeu em energia à CEA e não recebeu, o que, diga-se de passagem, é a maior parte do bolo de R$ 1,5 bilhões da divida da empresa, ainda seriam herdados pelo governo federal em uma nova tentativa de acordo. Ao falar que diminuiu o rombo e melhorou a atratividade da empresa aos olhos de Edison Lobão. Camilo esquece que de uma forma ou de outra quem banca o acordo é o bolso do amapaense que tem que pagar pelos afoitos petistas que administraram a empresa nomeados por mandatos de governadores do atual partido ou do governo anterior.

Sendo que nessa negociata ainda vem a parte “farinha pouca meu pirão primeiro”,  como já houve o louvor de ter pago R$ 16 milhões em contas de energia do próprio  governo, aproveitou-se para abater nesse generoso perdão os R$ 215,5 milhões que GEA deve à CEA. Ou seja, o maravilhoso perdão de R$ 124 milhões, perto do que é devido à CEA é quase 57% menor do que o que foi abatido. Nesse ponto vejo o dedo malicioso dos contadores que sugeriram a solução, eu como conselheiro, o faria.

Com isso o mundo maravilhoso do perdão das dívidas cria um patamar 124 milhões de vezes menor entre a dívida total da companhia. Quem sabe essa operação milagrosa e ao mesmo tempo tão pueril consiga impressionar o ministro Lobão, já que por força de uma vaidade desmedida por parte dos Capiberibes, não tem lá seu apreço pelo governador do Amapá e sua família... Mas politica é isso, nós a criamos e demos formas a ela através de nossos votos incipientes, agora não adianta reclamar antes do final do jogo. Salve a CEA! No duplo sentido...

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Quanto mais velho, mais verde...

Um dia desses fui ao empório Santa Tereza, no mercado municipal de São Paulo, comprar alguns petiscos que só existem lá e na fila do caixa. O operador dizia a uma senhora idosa que em breve os clientes deveriam trazer suas próprias sacolas ou ter que pagar pelas de plástico que antes o supermercado dava para embalar as compras, uma vez que os sacos de plástico não eram amigos do meio ambiente.

A senhora meio que indignada pegou suas compras e disse: - Não havia esse negócio de meio ambiente no meu tempo!

Indignado o operador respondeu: - Esse é exatamente o nosso problema hoje, minha senhora. A sua geração não se preocupou o suficiente com o nosso meio ambiente.

-Você está certo, respondeu a velha senhora, - A nossa geração não se preocupou adequadamente com o meio ambiente... Ao ver os olhos da velinha se perderem em um súbito vazio de pensamento, a luz do que ela pensava me atravessou e pude ver e ouvir a mais bela argumentação que tive oportunidade em minha vida.

...Naquela época, as garrafas de leite, garrafas de refrigerante e cerveja eram devolvidas à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada reuso, e eles, os fabricantes de bebidas, usavam as garrafas, umas tantas outras vezes.

Realmente não nos preocupámos com o meio ambiente no nosso tempo. Subíamos as escadas, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhávamos até ao comércio, em vez de utilizarmos o nosso carro de 300 cavalos de potência cada vez que precisamos ir a dois quarteirões de distância.

Mas você está certo. Nós não nos preocupávamos com o meio ambiente. Até então, as fraldas de bebes eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. Roupas secas: a secagem era feita por nós mesmos, não nestas máquinas bamboleantes de 220 volts. A energia solar e eólica é que realmente secavam as nossas roupas. Os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido dos seus irmãos mais velhos, e não roupas sempre novas.

Mas é verdade: não havia preocupação com o meio ambiente, naqueles dias. Naquela época tínhamos somente uma TV ou rádio em casa, e não uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de um lenço, não um telão do tamanho de um estádio; que depois será descartado como?

Na cozinha, tínhamos que bater tudo com as mãos porque não havia máquinas elétricas, que fazem tudo por nós. Quando embalávamos algo um pouco frágil para o correio, usávamos jornal amassado para protegê-lo, não plástico bolha ou “pellets” de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar.

Naqueles tempos, não se usava um motor a gasolina apenas para cortar a relva, era utilizado um cortador de relva, que exigia músculos. O exercício era extraordinário, e não precisávamos ir a um ginásio e usar passadeiras que também funcionam a eletricidade.

Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o meio ambiente. Bebíamos diretamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas pet que agora enchem os oceanos. Canetas: recarregávamos com tinta umas tantas vezes, em vez de comprar uma outra. Abandonámos as navalhas, ao invés de deitar fora todos os aparelhos ‘descartáveis’ e poluentes, só porque a lâmina ficou sem corte.

Na verdade, tivemos uma onda verde naquela época. Naqueles dias, as pessoas apanhavam o carro e os meninos iam nas suas bicicletas ou a pé para a escola, em vez de usar a mãe como um serviço de táxi 24 horas. Tínhamos só uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nós não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria mais próxima.

Antes mesmo de pensar em abrir a boca para dizer algo em contraponto aos argumentos da tão crítica velinha, ela olhou para mim como se lê-se meus pensamentos naquele instante e com olhar entre o incisivo e o bem humorado, disse: - Então meu filho, não dá vontade de rir quando a atual geração fala tanto em meio ambiente, mas não quer abrir mão de nada e não pensa em viver um pouco como na minha época?

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A síndrome de Casa Grande & Senzala

Na maioria das vezes temos uns insights não muito coerentes com as ideias do pensamento politicamente erudito ou correto, até mesmo pouco ortodoxos para muita gente, mas as finas observações em um meio são sempre grandes mudanças de perspectiva, forço-me sempre que é esse pensamento lúdico que me deixará sempre distante da vida social dos babuínos. Afinal a linha que nos separa é tênue e volta e meia requer remendos às vezes involuntários e instintivos.

Alguns anos atrás, ao visitar, no Rio, uma exposição que não me recordo o nome, mas versava sobre o vestuário do Brasil antigo. Um visitante ilustre comentou comigo algo assim: “É muito interessante perceber como a moda brasileira se divide desde os seus primórdios entre a moda feita na imagem da Casa-Grande e a que é feita na Senzala. Deste momento então passei a ver as coisas de uma ótica colonialista, onde pau de arara e chibata são itens comuns do dia a dia, embora nem percebamos o seu uso diário.

Mas longe de qualquer maniqueísmo e esquematismo radicais e mais longe ainda dessa observação parecer pejorativa para ambos os lados, ela desenha muito da mentalidade brasileira: uma que se liga com a exuberância da ancestralidade européia e outra que se desnuda na ancestralidade africana. Existe um nome em astrologia que gosto muito e serve para o que acabei de descrever: opostos complementares. Uma se preenche com a outra e ao mesmo tempo se opõe.

Assim é e sempre será a vida cotidiana do amapaense. Um eterno vão separando um universo dicotômico, onde uma das divisões sempre ocupará o papel senhorial na casa grande e de vez em quando se revezará com o outro lado nas atribuições mucamescas. Talvez essa rotina social seja a grande responsável pelo processo da indecisão constitutiva entre o moderno e o atraso, entre o gentil e o violento. Lembro-me de uma vez ter ouvido do saudoso Drummond a definição de um quadro semelhante: “esses dois polos contrários como irmãos gêmeos, amarrados, desencapando os dois fios e fazendo ligação direta entre eles”.

Mais uma vez não se dão conta de que o efeito Casa Grande e Senzala se instala em suas vidas, tornando-se comum, tão comum que às vezes acabam tomando a vida de cada um e acomodando-os em uma situação que muito colabora ao conformismo e até mesmo a uma falsa sensação de proteção paternal, que aliada à poderosa mão do quarto poder, cria uma mistura sociológica impar em qualquer região do Brasil, quiçá do mundo. 

Apesar das questões complexas nessa separação, podemos identificar o primeiro grupo citado na comparação com a Senzala, fazendo certas concessões e o segundo com a Casa Grande. Mas existe um terceiro grupo que na opinião ideologizada e de suma e maior importância e em minha opinião do mesmo porte ideologizada considero que é da mesma importância e medida que os outros, sendo que em muitos casos acabam sendo comparados aos moradores da Casa Grande ou amotinados nas Senzalas de acordo com o ponto de vista dos verdadeiros elementos desses conjuntos.

São as mucamas, e escravos de obra que frequentavam a Casa-Grande e que faziam o trânsito entre a Casa-Grande e a Senzala. Sim, ainda aparentemente esquemático, pensar nessas três moradas no Brasil e o pensamento que rodeia cada uma delas, facilita o entendimento que o crítico e o apreciador das ações da sociedade colonizada, dos seus limites e das suas rupturas. Mas isso é assunto muito longo e remete a tantos entendimentos, que nem vale a pena aprofundar...

Rapunzel, joga-me sua alianças!

Em conversa com amigos aposentados da politica, mas ainda com os olhos brilhando pela vontade de volta ao cenário, onde idade não é limite; sobre as eleições que virão, deparei-me com vários questionamentos sobre as alianças formadas pelo PT no governo Lula e para a eleição de Dilma Roussef. Senti, na ocasião, que eleitores com forte perfil progressista estavam desapontados por verem o Partido dos Trabalhadores transigir com personalidades que sempre para a retórica militante simbolizaram o atraso no Brasil.

Sobre o tema, suscitei, como de fato suscito, a seguinte questão: como conquistar mais da metade do eleitorado e governar um país tão complexo como o nosso sem construir um leque relativamente amplo de alianças?

Ao analisar a questão não se pode perder de vista as peculiaridades do nosso querido país. Somos quase 200 milhões de alminhas ávidas por um afago de alguém que ocupe um mandato, não importa se no conselho tutelar ou no palácio do planalto. Sendo nesse universo em torno de 130 milhões de eleitores, espalhados por uma imensa área territorial. Cada região, cada Estado apresenta uma história e uma tradição cultural muito própria. No mesmo sentido, a complexidade da vida econômica, social, cultural e religiosa resulta na formação de grupos com interesses e visões de mundo bastante distintos entre si.

Nesse cenário tropical, nenhuma agremiação partidária conseguiria sozinha, com um discurso e um projeto exclusivistas, eleger-se e governar o Brasil e nem mesmo a “quinta do zé” (meu boteco carioca preferido!). São necessárias, portanto, coalizões e união de forças em torno de um consenso mínimo e de um projeto comum de nação. E nada mais democrático do que isso! Autoritário e antidemocrático seria um grupo político específico tentar impor aos demais sua visão particular de mundo. A verdadeira democracia exige a construção de consensos por meio da negociação e do diálogo.

Outro fato que impõe, inexoravelmente, a formação de alianças mais amplas refere-se às deformações dos sistemas partidário e eleitoral brasileiros. No país, o espectro partidário conta com mais de 26 (vinte e seis!!!) agremiações (graças a Kassab!), que ocasiona uma representação pulverizada no Congresso Nacional. Quando Lula chegou à Presidência em 2002, os partidos PT-PCdoB-PSB-PDT-PV-PPS, à época situados mais à esquerda do cenário político, contavam apenas com algo em torno de 142 Deputados Federais e 17 Senadores, ao passo que a aliança PSDB-PFL-PMDB elegeu 226 Deputados Federais e expressivos 33 Senadores.

Como não estamos em uma série da Globo, governar em tal contexto senão por meio da ampliação do leque de alianças é uma verdade. Atrair um partido com a capilaridade do PMDB para a base governista uma questão de ordem. Por mais popular que seja um Presidente, deverá ele prescindir de instituições como a Câmara e o Senado para governar. Senão como aprovar leis e Emendas Constitucionais sem contar com a necessária maioria nas Casas Legislativas? O discurso de cão raivoso deu lugar a Lulinha paz e  amor em virtude dessa realidade.

Tal realidade se impôs tanto ao governo do petista Lula, quanto ao do tucano Fernando Henrique. Se é verdade que José Sarney foi Presidente do Senado com o aval de Lula, não é menos verdade que Fernando Henrique apoiou para o mesmo cargo o próprio Sarney, além de pessoas da estirpe de ACM e Jader Barbalho. Se é certo que Renan Calheiros também presidiu o Senado com a anuência de Lula, é igualmente verdadeiro que Fernando Henrique o nomeou para o relevante cargo de Ministro da Justiça. Se Geddel Vieira Lima foi Ministro de Lula, também foi líder do governo FHC na Câmara dos Deputados. E por aí vai…

Percebe-se, portanto, que eventuais desapreços que o eleitor tenha quanto às alianças construídas pelo PT não se apresentam como um critério seguro para levá-lo a votar no PSDB e em José Serra. Primeiro, porque o PSDB historicamente já foi bastante próximo de quem hoje condena. Segundo, as atuais alianças de José Serra não gozam de uma estatura ética muito confortável. Basta mencionar as alianças aqui no Distrito Federal com o Joaquim Roriz e com o governador cassado José Roberto Arruda. Terceiro, porque um eventual governo Serra terá, necessariamente, que acomodar esses mesmos personagens que o PSDB questiona.

Penso, em conclusão, que uma política de alianças mais qualificada depende mais de reformas do sistema partidário e eleitoral e do amadurecimento das instituições democráticas do que de uma duvidosa postura ética e moral que os próprios partidos se atribuam.  Não vejo por que alguns partidos tentam logo jogar cal em cima das possíveis alianças por mais profanas que possam parecer, com medo de rejeição talvez, ou pelo senso de moral, ainda que pouco, bata na porta e grite: “-Ei isso é muito feio!”.

Talvez por isso, a vice-governadora Doralice Nascimento (PT-AP) tenha corrido as pressas às redes sociais para negar que o PT estivesse mariscando fora da base do governo PSB. Assim como o deputado estadual Jaci Amanajás (PPS-AP), sob velocidade meteórica, criou um perfil no Twitter, para desmentir que o PPS estivesse de namorico com, pasmem... PSDB e Psol. Não condeno, nem endosso, mas como em politica o que importa é a vitória, espero pelo menos que não se comam vivos após eleitos, ou se condenem a um ostracismo inerte como o governador Camilo Capiberibe, que como Rapunzel, tenta a todo custo jogar suas tranças para tentas pelo menos abocanhar o melhor partido, digo, príncipe!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Exéquias ao Socialismo de calendário

O Papa João XXIII teve um pontificado curto, mas algumas mudanças instituídas por ele em seu pontificado, como o Concílio do Vaticano II, que teve a meta de reformar a igreja católica em 1958, acabando com algumas discrepâncias como a missa em que o sacerdote além de celebrar em latim eclesiástico, ainda o fazia de costas aos fiéis.

Também foi obra deste ato reformista, a criação dos ministérios da fé, de onde muito se tirava o fardo das atividades da messe dos ombros do sacerdote, como o exclusivo ato da Eucaristia e dentre outros sacramentos.

Dentre eles, na região de Hessen onde moro e frequento minha tímida paróquia em meio a tantos metodistas e luteranos, ostento o pomposo título de Ministro das Exéquias, onde me é dada a tarefa de conferir ao defunto ou moribundo à misericórdia de Deus através da incensação, cânticos e orações, dando-lhe o consolo nas agruras da morte.

Neste exequial momento; vejo o socialismo também decair vertiginosamente dos tempos onde esta ideologia fadada ao fracasso sempre foi usada de maneira a transparecer ao povo, que o poder do povo estava com seus líderes geniais, mas no âmago de tudo, nunca passou de uma maneira bem descarada de locupletar-se dos espólios daquilo que diziam ser do povo, para o povo e com o povo. Pura demagogia.

Exemplos vê-se a rodo, Lenin, Stalin, Mao Tsé, e até a famigerada DDR que habitou a Alemanha até a queda do muro. Nem vamos falar dos pré-modernos socialistas que aos poucos começam a ir ocupar seus lugares na fila das exéquias como Kim Jong Il e Fidel (quase lá!). Todos vivendo uma fantasia onde os contos de fadas habitam seus palácios nada humildes, mas que o povo cumpre a risca os preceitos da vida onde tudo é comum e socializado, inclusive a vergonha!

Ver que ainda em tempos modernos levantam a cansada bandeira de acordo com a conveniência do momento e do local, chego a lembrar de Jorge Amado, que sempre que embarcava no avião rumo ao estrangeiro, pendurava no seu varal móvel a alcunha de comunista de sogro anarquista, mas ao retornar ao Brasil, já enredava o populismo de carteirinha.

Talvez com Jorge Amado, os partidários da foice cega e do martelo que já não mais malha, ainda insistam e suas retóricas e gritinhos ululantes de ordem, para tentar impressionar alguma ou outra massa de jovens que nada conhecem da alma socialista e assim como os tais neonazistas, acabam fundando uma seita de neossocialistas alienados, que creem veementemente que seus líderes vivem no ambiente franciscano, superiores as mazelas do capitalismo, comendo repolho com arroz quente e dormindo em alcovas socialmente compartilhadas com o mundo.

Sendo que os pequenos burgueses, jargão comum nos lábios de qualquer neossocialista que se preze, assim como proletariado e camaradagem. Andam em possantes máquinas a diesel e não são tratores do campo, mas Mitsubishis, Hondas e outros brinquedos que estacionam nas garagens de suas politicamente corretas e capitalistas habitações com cercas elétricas e câmeras que talvez tenham até inspirado George Orwell.

Hoje vejo que esses mesmos neossocialistas que tanto apedrejaram os tucanos pelo processo de privatização do patrimônio brasileiro, diga-se de passagem muitos elefantes brancos, mas também mamutes leiteiros como a Vale do Rio Doce, de certo que assim como os neossocialistas, os da direita democrata também prevaricaram e se locupletaram nessas operações. Mas ver os mesmos neossocialistas hoje, privatizando aeroportos, é de fato como se a previsão maia do fim do mundo para 2012 esteja em vias de rachar o solo.

Mais sinistro do que isso, é ver que as ideologias que se dizem sólidas e imutáveis, na politica sucumbem a qualquer vantagem desde que esta lhe traga a vitória, como já se dizia, em politica qualquer aliança vale desde que se vença. Talvez essa politica que tenha levado Psol a pegar os maços de real das mãos dos que exploram o proletariado no ultimo pleito, fazendo assim um senador.

Mas a gota de todas as exéquias é simplesmente ver Psol, PSDB e PPS andando de mãos dadas, em vias apocalípticas, só resta-me então pedir por suas exéquias a misericórdia divina: "Eis-me aqui Senhor, a encomendar esta pobre alma neossocialista que ascende para junto de ti na esperança do perdão de todos os seus pecados dentre eles o maior; de ter existido de fato, sem nunca ter sido de direita, muito menos de esquerda... ". Amém.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Em uma terra distante, um conto onde as fadas não brilham mais

Em uma terra distante existia um palácio iluminado, sem um bom monarca para habitá-lo. Por isso de terras próximas, vários príncipes vieram reivindicar o direito de habitar aquele palácio que reluzia forte como se astro luminoso fosse e por isso se imaginava que sua luz iria brilhar para sempre. Como era de praxe na época o maior Rei da vizinhança, apoiava ou não o príncipe morador do palácio desabitado e luminoso. Mas não interferia da maneira com que tais príncipes administravam ou dos benefícios ou malefícios que faziam no palácio reluzente.

Alguns príncipes até que fingiram ter algum cuidado, pelo menos para mostrar ao rei maior da vizinhança, que o palácio estava em ótimas mãos. Ora de davam uns bailes luminosos, ora se dava um pouco de luz aos menos iluminados sem se preocupar com o preço disso. Mas o que os príncipes não sabiam ou pelo menos fingiam não saber é que a luz não era eterna e um dia a conta iria chegar.

Passados os anos o rei de outrora já estava a sete palmos a longa data e o seu ultimo herdeiro resolveu dar uma olhada no palácio reluzente, como se não soubesse o que acontecera lá ao longo de todo esse tempo, mas como o povo do reino era meio alheio às questões, devido aos excessos de brioches, pantomines e patuscadas. Ninguém se preocupara em saber o que lhes alcançava; afinal o palácio sempre iluminou todo o reino e sua luz era “eterna”.

Mas o certo é que o tempo do palácio luminoso acabara. Afinal depois de tantos desperdícios à luz que fluía sempre abundante, se viu que nada de muito poderia se fazer. Incutido então em uma ideia, talvez prestidigitada por seu conselheiro dos sortilégios.  Sem muito o que fazer, esperar para que talvez a luz se apague de vez, para que se possa por a culpa nos outros príncipes que já passaram, seria uma ideia. Talvez ninguém se incomode com um pouco de escuridão nas horas mais inapropriadas.

Mas o pecado residiria no fato de que todos os príncipes que passaram pelo palácio reluzente, foram apoiados pela família do atual rei ou da do rei anterior. Logo todos os príncipes pertenciam à mesma estirpe e foram apoiados pelos mesmos e dinásticos monarcas que reinaram por lá por tanto tempo. Logo a culpa é solidária. Mas quem gosta de culpa?

A perceber que a luz se apagaria, e nem mesmo culpando os príncipes pelo grande rombo nas fazendas do reino, o monarca cercou-se de seus ministros e do que também era seu conselheiro do oculto ou o oculto em pessoa. Mesmo sem muito conhecer, elaborou um plano para pelo menos tentar repassar o castelo semi-crepúscular à imperatriz com a intenção de fazer com que a “grande mãe” socorresse sem perguntar por que ou sem olhar a quantidade de caixas de moedas do império seriam transportadas nessa operação de resgate.

O que não esperava o rei era que os olhos da fazenda imperial estavam abertos para o plano sem proveito e sem propósito, e enfim a proposta foi negada. O que resta então ao pequeno rei e esperar, esperar por uma salvação que talvez não venha, a não ser pela caducidade do palácio que um dia já foi reluzente, mas que aos poucos perde sua luz e a luz que virá, de alhures sabe-se lá oxalá de onde e quanto custará ao povo do reino que abriu seus olhos muito tarde e talvez não viva feliz para sempre...

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Inocência Presumida, Transitada e Julgada

O embate em torno dos poderes do CNJ ganhou contornos mais claros após a ministra Eliana Calmon ter criticado publicamente a contestação dos poderes do colegiado, afirmando que a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) seria o primeiro caminho para a impunidade da magistratura, que hoje está com gravíssimos problemas de infiltração de bandidos que estão escondidos atrás da toga.

A Associação de Magistrados Brasileiros, que entrou na peleja e chegou a questionar junto ao Ministério Público a atuação da corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, condenava a execração pública das mazelas judiciárias e o suspeito direito de "qualquer pessoa" poder denunciar irregularidades praticadas por magistrados e os critérios de definição de penas a serem impostas a juízes que cometeram irregularidades.

Mesmo sob pouca polêmica da opinião pública que pareceu não entender o âmago do tema, após rejeitar o item mais polêmico da contestação da AMB, o STF ainda precisa finalizar a votação da íntegra da Ação Direta de Constitucionalidade (ADI) que questiona mais de 10 artigos da resolução 135 (que cria o CNJ). A deliberação sobre a ADI só deve terminar na próxima semana. O ministro Gilmar Mendes, um dos favoráveis à maior autonomia do CNJ, colocou em xeque a atuação das corregedorias estaduais para julgar seus magistrados.

Uma vitória apertada, mas simbólica. Por seis votos a cinco, o Supremo Tribunal Federal restaurou os poderes do Conselho Nacional de Justiça. O que significa que, a partir de agora, o CNJ terá competência para instaurar processos contra juízes suspeitos de corrupção e de outros desvios éticos. Uma vitória não só do CNJ, mas também da própria sociedade. E, pela primeira vez em muito tempo, o Poder Judiciário mostrou sintonia com a opinião pública.

A decisão reflete um anseio claro dos brasileiros: não deve haver poderes ou pessoas acima da lei. Em tese, o que se discutia era se o CNJ teria competência para abrir tais investigações antes que elas passassem pelas corregedorias internas dos tribunais. Mas, num ambiente corporativo como é o Poder Judiciário, dificilmente as corregedorias adotariam providências contra juízes corruptos sem que houvesse interferências externas.

Esse embate, de natureza técnica, foi personificado pela ministra Eliana Calmon, do CNJ, que foi a grande vitoriosa, e pelos ministros Cezar Peluso e Marco Aurélio Mello, do STF, que lideraram a resistência aos avanços dos poderes do conselho e se viram derrotados. Mas, agora, seria bom para o Judiciário e para o País que os ânimos serenassem e as questões jurídicas ficassem restritas aos tribunais e fossem menos midiatizadas.

De fato, não convém a uma democracia emparedar e desmoralizar o Poder Judiciário, em generalizações inconsequentes como a dos “bandidos de toga”. Mas também erram aqueles ministros que enxergam o STF como único guardião da moralidade e dos direitos individuais. O que a sociedade pede é transparência, mas também responsabilidade.

A própria Eliana Calmon, que liderou essa cruzada, poderia aproveitar a oportunidade para esclarecer o que de fato aconteceu na Operação Navalha, a maior de toda a história da Polícia Federal, em que, por decisões dela, quase 100 pessoas foram presas e, anos depois, nada ficou de pé. Em muitos casos recentes, o Poder Judiciário foi instrumentalizado em guerras comerciais e políticas, que contaram com o apoio de juízes que trocaram a letra fria da lei pela celebridade passageira.

O CNJ, com seus poderes renovados, pode e deve contribuir para um saudável aprimoramento do Judiciário. E a mensagem é clara: não pode e não há mais intocáveis no Brasil. Por isso as máscaras da santidade devem ser guardadas para as festas de momo que se avizinham.

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