terça-feira, 2 de abril de 2013

O caos de Sofia


Passou-se novamente mais um dia universal da mentira. E mesmo não achando sentido para as razões de uma data tão inútil. Há de se achar de quando em vez um encaixe para o infame dia.

Após o suposto “fenômeno natural” no porto da mineradora Anglo em Santana, que por algum viés divino foi a única penalizada pela “ira do rio”. E tão logo se tratou de dissipar uma série de explicações que parecem coisa de primeiro de abril.

A mais surreal senão a beira de um absurdo, foi a de que a cobra Sofia resolveu se acomodar no leito do rio e sua cauda encostou na beira do porto, levando para o fundo do velho “mar dulce de Pizón a estrutura de carga, o minério da Anglo e as vidas que esvaíram-se sob lama, minério e descaso.

Descaso este que emana de todas as partes: Da atual mineradora que utiliza uma estrutura dos tempos da ditadura e não depositou uma só libra esterlina para adequar um porto surrado de guerra aos ares da modernidade. Da falta de cobranças do poder público para que ações de remediação decorrentes da degradação gerada pela retirada e escoamento do minério. E senão a mais chocante; a evidente falta de estrutura do próprio poder público para lidar com sinistros desta natureza.

Faltou de tudo durante o acontecido. Faltou pulso de um Estado que tanto já serviu de depósito de matéria prima para os canhões do mundo. Faltou determinação para exigir da empresa que tomasse as providencias necessárias para as buscas das vítimas e o atendimento psicossocial das famílias que acamparam em desespero às portas fechadas da mineradora.

Mas o fato que talvez seja o de maior indignação não só para as famílias das vitimas, mas como para toda a população. Foi ver que até mesmo na hora da morte não se tem a dignidade também negada em vida. Foi o que se viu durante o resgate dos três primeiros corpos das vitimas da “cobra Sofia” no porto da Anglo.

Não havia um carro tumba para remover os corpos e por isso os mesmos foram jogados na caçamba de uma caminhonete do corpo de bombeiros, como se fossem apenas um escombro, sem valor, sem família, sem dignidade. Que não merecesse pelo menos, se é que isso dá alento, um fio de respeito. As famílias indignadas ao ver passar o que um dia foram seus entes queridos, cobertos com plástico aluminizados e amontoados uns sobre os outros.

Já se tornou rotina, dentro deste quadro, o governo habilmente deslocar a culpa da falta de planejamento e da infra-estrutura para os fenômenos naturais ou ocasionais. Mas especificamente neste caso o drama tinha uma explicação. Estúpida, mas existente:

Os dois carros tumba que existem na Policia Técnico Científica do Amapá estão parados por falta de manutenção. E por mais incrível que possa parecer, não foram consertados por falta de pagamento à oficina prestadora de serviço.

Após fatos como este é que me questiono se não sou tão rígido quanto a existência do dia da mentira, pois, pelo menos para esta gestão que colhe flores e vive na terra do leite e do mel. Todos os dias parecem ser primeiro de abril

A triste tendência é que, em situações de desastres, sejam eles originados das espreguiçadas de Sofia ou não. Caso ocorram com um numero maior de vitimas. Não sejamos obrigados a rever cenas dramáticas como as que se passaram com o desastre do Novo Amapá. Onde montes de corpos se amontoavam sobre caminhões, rumo a cova coletiva.

Mas pelo menos aquela época, se fez tudo o que se podia fazer para resgatar os corpos, que embora nas condições terríveis em que se encontravam. Ainda assim puderam ter alguma dignidade na hora da morte.
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