Passou-se
novamente mais um dia universal da mentira. E mesmo não achando sentido para as
razões de uma data tão inútil. Há de se achar de quando em vez um encaixe para
o infame dia.
Após
o suposto “fenômeno natural” no porto da mineradora Anglo em Santana, que por algum viés
divino foi a única penalizada pela “ira do rio”. E tão logo se tratou de dissipar uma
série de explicações que parecem coisa de primeiro de abril.
A
mais surreal senão a beira de um absurdo, foi a de que a cobra Sofia resolveu se
acomodar no leito do rio e sua cauda encostou na beira do porto, levando para o
fundo do velho “mar dulce de Pizón” a estrutura de carga, o minério da Anglo e
as vidas que esvaíram-se sob lama, minério e descaso.
Descaso
este que emana de todas as partes: Da atual mineradora que utiliza uma
estrutura dos tempos da ditadura e não depositou uma só libra esterlina para
adequar um porto surrado de guerra aos ares da modernidade. Da falta de cobranças do poder público para
que ações de remediação decorrentes da degradação gerada pela retirada e
escoamento do minério. E senão a mais chocante; a evidente falta de estrutura
do próprio poder público para lidar com sinistros desta natureza.
Faltou
de tudo durante o acontecido. Faltou pulso de um Estado que tanto já serviu de
depósito de matéria prima para os canhões do mundo. Faltou determinação para
exigir da empresa que tomasse as providencias necessárias para as buscas das
vítimas e o atendimento psicossocial das famílias que acamparam em desespero às
portas fechadas da mineradora.
Mas
o fato que talvez seja o de maior indignação não só para as famílias das
vitimas, mas como para toda a população. Foi ver que até mesmo na hora da morte
não se tem a dignidade também negada em vida. Foi o que se viu durante o resgate dos três primeiros
corpos das vitimas da “cobra Sofia” no porto da Anglo.
Não
havia um carro tumba para remover os corpos e por isso os mesmos foram jogados na caçamba
de uma caminhonete do corpo de bombeiros, como se fossem apenas um escombro,
sem valor, sem família, sem dignidade. Que não merecesse pelo menos, se é que
isso dá alento, um fio de respeito. As famílias indignadas ao ver passar o que
um dia foram seus entes queridos, cobertos com plástico aluminizados e
amontoados uns sobre os outros.
Já
se tornou rotina, dentro deste quadro, o governo habilmente deslocar a culpa da
falta de planejamento e da infra-estrutura para os fenômenos naturais ou ocasionais. Mas especificamente
neste caso o drama tinha uma explicação. Estúpida, mas existente:
Os
dois carros tumba que existem na Policia Técnico Científica do Amapá estão
parados por falta de manutenção. E por mais incrível que possa parecer, não
foram consertados por falta de pagamento à oficina prestadora de serviço.
Após
fatos como este é que me questiono se não sou tão rígido quanto a existência do
dia da mentira, pois, pelo menos para esta gestão que colhe flores e vive na
terra do leite e do mel. Todos os dias parecem ser primeiro de abril
A
triste tendência é que, em situações de desastres, sejam eles originados das espreguiçadas
de Sofia ou não. Caso ocorram com um numero maior de vitimas. Não sejamos obrigados a rever cenas dramáticas
como as que se passaram com o desastre do Novo Amapá. Onde montes de corpos se
amontoavam sobre caminhões, rumo a cova coletiva.
Mas
pelo menos aquela época, se fez tudo o que se podia fazer para resgatar os
corpos, que embora nas condições terríveis em que se encontravam. Ainda assim puderam ter
alguma dignidade na hora da morte.