sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Entrevista da semana - Roberto Bolaños

O ator e humorista mexicano Roberto Gómez Bolaños, 82, protagonista e criador dos longevos seriados Chaves e Chapolin. No último dia 20, Roberto Bolaños passou o dia dando “retweets” de presente a seus mais de 2 milhões de seguidores. Em 2012, o ator e humorista mexicano completará 40 anos de carreira e receberá diversas homenagens em países como Brasil, México, Colômbia, Argentina, Bolívia, Guatemala, Equador, Peru, Costa Rica, Estados Unidos e Nicarágua.  "Chaves" é sucesso absoluto em mais de 90 países, com cerca de 300 milhões de espectadores. Ele estava no twitcam, concedendo a princípio uma entrevista por telefone para uma jornalista da qual não consegui identificar o nome ou para onde trabalha, durante a entrevista, ele falou um pouco sobre a responsabilidade de ser o Chaves e visto como tal durante todo este tempo, de como era gigante ser visto como aquele ícone puro da época.

Coisas da Vida - Em sua opinião, por que seus programas até hoje fazem sucesso no Brasil e América Latina?

Roberto Gómez Bolaños - Não imagino por quê. E isso não é falsa modéstia. Já passou muito tempo, os programas seguem com o cenário antigo, e as pessoas de muitos lugares continuam gostando. Agradeço a Deus por isso, mas não sei o motivo. Acho que os programas são bem-feitos, pelo menos foram feitos com muito carinho e honestidade. Espero que tenha influído, mas não tenho certeza.

Coisas da Vida - Chaves foi inspirado em algum garoto em especial?

Bolaños - Não houve um, porque me dei conta de que esse garoto pobre existia em muitos lugares, não só na América Latina. Todos eles têm a esperança que queria comunicar com Chaves, que, apesar de não ter brinquedos, café da manhã e muitos amigos, brincava com entusiasmo, e o futuro o acompanhava. Espero que tenhamos isso na América.

Coisas da Vida - Há a intenção de fazer novos programas ou talvez um filme?

Bolaños - Queremos fazer um programa, mas o problema são os bons horários, que não existem hoje na grade da televisão. Qualquer coisa eu não aceito. Seria outra série, porque "Chaves" já cumpriu seu propósito, já teve seu ciclo, e seria como enganar o público estando eu já tão velho. Mas posso fazer outras coisas, sobretudo tenho personagens como o Chompiras e a Chimoltrúfia, com quem me divirto muito ainda.

Coisas da Vida - Seu filho está fazendo um desenho animado do Chaves, não?

Bolaños - Sim, mas não sei muito como anda o projeto, porque eu disse para ele fazer o que quisesse, e não pergunto mais até ir ao ar.

Elenco de "Chaves"  em visita ao Panamá
Coisas da Vida - Como foi a briga com Carlos Villagrán [Quico] e Maria Antonieta de las Nieves [Chiquinha]?

Bolaños - O caso de Villagrán faz mais de 30 anos, isso separou o grupo. O programa continuou por muito tempo sem ele. Entrei com uma ação e ganhei facilmente. O problema, nos dois casos, foi que eles disseram serem os criadores dos personagens, mas o criador sou eu, que lhes permiti trabalharem fazendo esses papéis sem cobrar um centavo de comissão. Aqui, no México, ninguém mais os contrata. Isso me dói, não me irrita, porque gosto deles; foram amigos. Não me atrapalha porque não me prejudica. (esta frase é uma pérola) Ao contrário, fui eu quem lhes dei tudo o que eles têm. Mas não me importa, não tiraram nada de mim, então façam o que queiram.

Coisas da Vida - Chaves começou numa época em que não se investia muito em licenciamento de produtos infantis, como hoje...

Bolaños - Chaves fez muito licenciamento, mas em sua maioria era pirata. Minha mulher diz que, se eu pudesse cobrar algo disso, assim como a Xuxa tem uma ilha, eu teria todo um continente. Sou admirador de Xuxa, acho uma excelente cantora. Uma vez me pediram para escrever programas para ela. Eu os faria em espanhol e alguém os traduziria, mas não tive tempo. O convite foi feito em Buenos Aires, faz tempo.

Coisas da Vida - Os personagens são cercados de lendas, como um acidente aéreo em que todos morreram etc.

Bolaños - Isso acontece com várias pessoas conhecidas. Matam os que estão vivos e ressuscitam os mortos, como Emiliano Zapata, Carlos Gardel. A mim já mataram umas quatro ou cinco vezes. Não sei por quê. Embora isso hoje aconteça um pouco menos, porque os meios de comunicação aumentaram sua capacidade e velocidade de desmentir esse tipo de boato quando aparece.

Coisas da Vida - No livro, o senhor faz referências à história do Brasil. Por quê?

Bolaños - Sempre me interessei pela história latino-americana. Creio que o Brasil é o país com o melhor futuro em todo o mundo.

Coisas da Vida - Por que não visitou o país?

Bolaños - Tínhamos contrato para apresentações com nosso grupo de teatro. Até aprendi coisas em português. Mas houve um problema político no Brasil. Ocuparam alguns lugares em protesto, entre eles aonde íamos nos apresentar. O problema foi com Collor [manifestações pró-impeachment]. As pessoas que haviam nos contratado cancelaram a apresentação por causa disso. Iríamos a São Paulo e talvez ao Rio. Se fosse hoje, não iria caracterizado como Chaves nem Chapolim, porque sou muito velho e as pessoas ficariam desiludidas. Iria como alguém normal, porque tenho vontade de conhecer o país e agradecer a boa acolhida que tiveram meus programas.

Coisas da Vida - O livro tem conotação política. O senhor fala da invasão espanhola no México, da briga com os EUA. Por que essa opção?

Bolaños - Nosso passado foi muito complicado. Mas aqui os enfrentamentos são de mexicanos contra mexicanos. Além disso, temos um vizinho muito difícil... Procuro não ter preconceitos. Não gosto do rancor nem da vingança. Isso disse muitas vezes no programa: "Temos de preparar o futuro". Para mim, não resta muito tempo, mas tenho filhos, netos e logo haverá bisnetos. Quero que eles e todos os habitantes deste planeta tenham uma vida melhor. A política é inevitável. Ninguém consegue ficar fora dela.


Entrevista Coletiva no Estados Unidos
Coisas da Vida - No seriado "Friends", os atores ganhavam até US$ 1 milhão por episódio. E em "Chaves"?

Bolaños - [risos] Pode soar falsa modéstia, mas ganhava muito menos. Hoje, quando vejo quanto recebe um ator coadjuvante só porque ganhou o Oscar... É um disparate. Ganhávamos bem menos. Quando fazíamos turnê, ficava com 20%, e os demais com o resto. Mas ficávamos felizes. O dinheiro nunca deve ser um objetivo. Se for consequência, é bom.

Coisas da Vida - O senhor conhece algo da televisão brasileira? Os "Trapalhões", por exemplo?

Bolaños - Algumas coisas, mas minha diversão favorita é futebol.

Coisas da Vida - Que mensagem o senhor deixaria para seus fãs no Brasil?

Bolaños - Vou deixar uma mensagem que não tem nada a ver com o que faço. Quando me perguntam qual foi meu maior êxito, respondo que foi deixar de fumar. Recomendo à juventude e a todo mundo que não fumem. Larguei o cigarro há 11 anos, depois de fumar por 40. Há coisas de que já não consigo me desvencilhar: catarros, um pequeno enfisema pulmonar que não diminui, pigarros, problemas na garganta. Fumar é a estupidez maior do mundo!



"Chaves fez muito licenciamento, mas em sua maioria era pirata. Minha mulher diz que, se eu pudesse cobrar algo disso, assim como a Xuxa tem uma ilha, eu teria todo um continente".




Entrevista concedida via twitcam em 20/01/2012

AVISO AOS LEITORES

As postagens do fim de semana: Crítica Literária e Entrevista da semana estão sendo postadas Hoje (sexta feira 27/01) pois o autor vai estar impossibilitado de postar neste período. Mas voltamos à rotina normal na segunda feira (30/01). Agradecemos a compreensão de nossos leitores.

Crítica Literária: O Magnífico – Miles J. Unger

O livro, O MAGNIFICO de Miles J. Unger mostra a saga do capital financeiro perante a Igreja e os Estados, influenciando a Reforma Protestante na Alemanha, transferindo todo capital sob a proteção dos Bancos Capitalistas e dos Estados que acolheram, como Reino Unido e Alemanha. Mundo das finanças de onde Lourenço era expoente usurário.

A capital da Toscana, na época de Lourenço de Médici o banqueiro que mudou os rumos do mundo em sua época, era uma cidade de contrastes: seu notável esplendor artístico fulgurava em uma sordidez inigualável que reinava nos quartos de suas habitações coletivas superlotadas e consumia-se nos excessos pagãos e nos sermões apocalípticos do padre dominicano Savonarola. A República Florentina deu origem tanto à perfeição sobrenatural da Primavera, de Botticelli, quanto ao realismo audaz de Maquiavel.

Com o complemento textual, retrata Lourenço de Médici referido historicamente como “Il Magnifico”. Lourenço que foi o mais importante patrono e também um renomado poeta, envaidecendo a sua vida como a de um gênio em tempos nada pacíficos.  Contribuiu para história quando encomendou uma opinião a Maquiavel, que o fez através de uma carta e que transformou em um livro, O Príncipe.

Neste rigoroso retrato de Lourenço de Médici, a narrativa arrojada de Miles Unger nos revela o esplendor e o horror do que foi o notável reinado deste “governante não coroado de Florença”, fazendo jus à fama de o mais intrigante príncipe do Renascimento. Batendo em poder apenas os “Borgias” de Lucrécia e Alexandre (o Papa).

Resultado de uma pesquisa obstinada, essa narrativa envolvente e detalhada mostra um personagem fascinante, que governou Florença em um dos mais glamorosos períodos da turbulenta história da Itália, que consegue ser ao mesmo tempo popular e erudito. Leitura de fácil digestão e sem a necessidade de conhecimento dos preciosismos da idade média naquele país, é também elucidativo sobre a gestão dos principados da Itália no mesmo período.


Vale apena!

O Magnífico: Lourenço de Médici, genialidade em tempos violentos.
Miles J. Unger
Tradução: Andrea Gottlieb
Editora Larousse do Brasil
544 Páginas
R$ 69,90 

A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos

Ontem A máxima de que a seara do trabalho pelo próximo, já não conta com tão poucos trabalhadores para seu pastoreio, afinal, dificilmente em vida contemplei tamanha cena, que mais me lembrava Francisco de Assis, em sua oração de dualidades.

Ver amigos se abraçando, rivais se confraternizando e até adversários levantando bandeira de trégua para se unirem, sem palco eleitoreiro, despidos por um momento da capa partidária e unidos por um objetivo válido e justo. A campanha Amapá contra o câncer,  uma campanha empenhada em arrecadar donativos para o Instituto Joel Magalhães - IJOMA, entidade assistencial que cuida de pacientes carentes portadores de câncer.

Acompanhei com intermitência a programação ao longo do dia, passei por lá em quatro momentos distintos do dia e o que vi foi o forte enjangamento de pessoas que superaram barreiras, de pessoas que fizeram com que Globo, Record, Band,  SBT e Rede TV estrarem juntas com seus principais comunicadores, assim como os nomes do rádio fizeram questão de estarem presentes também.

Partidos políticos com ideologias contrárias também deram as mãos e viu-se PT e PSDB jogando tênis de mesa literalmente. Cenas como essa em que a solidariedade rompe barreiras e fazem até mesmo com que a parte mais radicas das relações, mandasse um emissário ainda que tímido, para que a total ausência de sensibilidade não fosse questionada.

A luta continua, o padre Paulo em sua incansável luta contra o câncer, não o dele mas o que também consumiu parte de sua família, e de ser rebanho, conclama para que não pare por aqui, que as ações de doações, mostre que com ações paralelas ou não, é importante sabermos que não necessitamos só dos meios oficiais para poder exercer nosso amor ao próximo.

Fico feliz em ter ajudado da maneira que me foi possível, através de aquisição de adesivos para doar aos amigos, camisas para aumentar o regimento de militantes da causa e a energia pessoal além da doação financeira advinda de mim e de meu escritório de representação, uma gota de água em um oceano de ações que podem ser propostas e executadas.

Vamos nos empenhar nessa luta, ouvir o clamor daqueles que precisam e se preciso colocar as falsas ideologias politicas na lista dos males oncológicos, pois quando nos despimos de todas as máscaras ideológicas quando humilde nos tornamos, somos capazes de fazer todas as maravilhas que a obra de Deus pode ajudar a realizar. Pois para quem tem fé em si e nos outros, quando se quer se faz...

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A Banda vai passar

Sob fogos e palmas nesta  quarta-feira, 25, o governador do Estado Camilo Capiberibe assinou o convenio com a Telemar Norte/Leste – Oi, o convênio que vai viabilizar a chegada da internet Banda Larga para o Amapá.

A infraestrutura para o empreendimento foi viabilizada por uma série de entendimentos que o governador iniciou logo no primeiro trimestre de seu mandato e concluir solicitando aos governadores dos estados envolvidos a anuência para possibilitar o projeto. Divididas as despesas orçadas inicialmente em R$ 32 milhões. O que deve ligar o Amapá por triangulação às redes nacional e internacional de fibra óptica, viabilizando assim a chegada da rede de alta velocidade.

Como os recursos para o investimento excedem a margem orçamentária do Estado, o governador recorreu à reversão de recursos do ICMS para possibilitar a contra partida e o restante do investimento, que para somente a iniciativa privada, não havia interesse em implantar devido os altos custos e a rentabilidade baixa do mercado.

Como tal empreendimento por linhas gerais só seria possível com a chegada do linhão de Tucuruí em dois anos, o governador resolveu antecipar o empreendimento que trará benefícios ao Estado e contribuirá para a diminuição do isolamento ao qual o Amapá se encontra diante do País e melhoria das comunicações e serviços que dependem da comunicação de dados.

A oferta de conexão internet rápida nos moldes propostos pelo Programa Nacional de Banda Larga (PNBL) já atende desde o ano passado a mais de 700 municípios brasileiros que já contam com internet a preço popular oferecida pelas concessionárias de telefonia fixa com conexões são de 1Mbps a 35 ao mês (ou 29,90 reais nos estados que abriram mão da cobrança de ICMS).

Em três anos, o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL) poderá chegar a 3,6 milhões de domicílios do País. Esse é o objetivo da Telebrás. A ideia, segundo a prestadora de serviços de telecomunicações, é beneficiar 14,6 milhões de habitantes com acesso à internet de baixo custo e alta velocidade.

Para viabilizar a iniciativa, serão investidos 62,5 milhões de reais, repassados pelo Ministério das Comunicações, até 2014. Serão utilizados 2,8 mil quilômetros de fibras ópticas e deverão ser construídos 64 pontos de presença no trecho da rede Norte da Telebrás.

Com esta atitude o governador Camilo inicia um momento de que talvez precise para gaseificar o embaçado primeiro ano de mandato, onde os empreendimentos mais expressivos de infraestrutura não foram realizados e apenas pequenas obras oriundas do mandato anterior foram concluídas e algumas reformas executadas.

Com a assinatura do convênio, inicia uma expectativa da população pelos próximos seis meses, o prazo mencionado para a conclusão das fases executivas do projeto. Vamos aguardar o desfecho e quem sabe nessa ação a comunicação passe realmente a ser mais rápida e as ações mais eficientes.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Como se apoderar do filho alheio

Hoje tomei café com uma boa noticia, e não foi em alusão ao meu programa de radio preferido. Mas apesar de tomar conhecimento de que o Ministério do Trabalho e Emprego divulgou os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), onde o Amapá aparece com um saldo de geração de empregos na ordem de 7.256 novos postos de trabalho criados e um saldo negativo de apenas 59 postos encerrados, fiquei meio surpreso que não só pelo fato dos divulgadores dos números serem o Governador Camilo Capiberibe e logo em seguida a primeira dama Claudia, mas por reivindicarem para o governo do PSB o mérito pela criação de empregos.

Curioso com a suposta paternidade fui atrás do DNA para realmente tomar ciência da situação. Afinal se no primeiro ano o momento do primeiro trimestre foi para organização da administração, o segundo trimestre de enxugamento financeiro e pagamento de restos da gestão anterior e o terceiro trimestre para planejamento das ações. No mínimo é bem curioso que se tenha gerado esse saldo positivo de empregos via ações do poder público em apenas um trimestre.

Partindo do princípio de que a economia amapaense se baseia no comércio, mineração e a construção civil, fui buscar as origens destes postos de trabalho que fatalmente tiveram mais de 65% oriundos destes setores econômicos.

O comércio, apesar de ser uma das expressões econômicas mais fortes do setor privado na capital, passou por tumultuados momentos em 2011 que teve queda de -2,7% em relação a 2010, comparando com o Tocantins, por exemplo, que teve um crescimento de 25% no mesmo período. Sendo que o Brasil apresentou um crescimento de 1,4%. E que o varejo amapaense registrou o único índice negativo da região norte (-9,7%), ainda assim ficou para trás em relação ao mesmo Tocantins que cresceu nesse período (30,7%).

O mesmo comércio apresentou tímidos índices de crescimento quando analisados individualmente; móveis e eletrodomésticos (4,1%), supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,6%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, perfumaria e cosméticos (1,1%), livros, jornais, revistas e papelaria (1,1%), veículos, motos, partes e peças (0,9%) combustíveis e lubrificantes (0,8%), material de construção (0,6%) e artigos de uso pessoal e domésticos (0,6%). 

Mesmo com essa retração do mercado e da falta de qualquer incentivo ou fomento do poder público nas ações do comércio varejista na expectativa de crescimento, no segundo semestre, criou postos de trabalho prevendo um crescimento provocado pelo período natalino em 214 postos de trabalho,  o que não se confirmou.

Na construção civil ter-se-ia a aposta maior, devido à profusão de obras, públicas e privadas, mas a expressão destes segmentos não foi tão crescente como se alardeia. Afinal o Amapá ainda tem um custo na construção civil entre os mais altos do país, o que diminui os incentivos neste setor que sofre agora uma retração muito mais rápida do que se previa no início da efusão da construção civil privada. Sendo que o custo Amapá na construção civil cresceu em 2,52% enquanto que no mesmo período o custo São Paulo por exemplo, ficou em 0,60%.

A mineração no estado do Amapá apresentou o maior índice de crescimento de todo o País este ano, ou seja, uma variação positiva de 484,6%, com a marca de US$ 22,8 milhões.  Sendo o crescimento nas exportações de minério de ferro, passando de US$ 4.676.399,00  am para os extraordinários US$ 11.143.461,00 am, um crescimento de mais de 102% nas vendas do produto amapaense, passando de uma participação de 25,24% na pauta das exportações do Amapá, considerando o acumulado do ano. E contribuindo com 12% da arrecadação estadual e se fossem fiscalizados e taxados como em outros estados esse percentual seria bem maior.
(Nota Post Script - Os dados "am", tratam-se da diferença em valores das exportações, e não do faturamento bruto das empresas mineradores, pois tal informação só é possível de divulgação após a divulgação pública do Balanço Anual das empresas, o que ainda não ocorreu. Assim com o preço estimado do minério de ferro para este dado foi usado como base o de US$ 135,54 referentes a 30/11/2011. Esta informação adicional deve-se ao fato de para alguns leitores terem entendido de maneira equivocada a leitura estatística.

O investimento estrangeiro também teve sua fatia na economia, mas nada comparado ao apogeu de 2000 onde os investimentos alcançaram os US$ 25 milhões. A agropecuária e o extrativismo nos sub-setores de grãos e fruticultura contribuíram com 3% na balança comercial e os derivados de madeira (cavacos) para extração de celulose entraram com 13%.

Como se vê, nada mais do que a construção civil que entrou com 292 postos de trabalho, teve tanto impacto quanto o do comércio em que tiveram uma paridade de valores. Distando da mineração que contribuiu com quase um terço a menos (87 postos).

Os demais postos de trabalho gerados a margem da informalidade estão entre as empresas de comércio de serviços, onde a grande massa está alocada em empresas de segurança patrimonial e serviços gerais, que dependem do poder público, mas não como forma de geração de emprego, mas por uma necessidade da terceirização dos serviços, pois esta demanda não aumentou nos últimos 5 anos.

Fico me perguntando quais ações de fomento aconteceram nos agronegócios, se o Governador só foi tomar conhecimento da realidade deste segmento, quando esteve recentemente no Mato Grosso onde a realidade lá é de crescimento e geração real de emprego, renda e divisas. Ou de fomento a construção civil, se as obras públicas empregaram menos que o setor privado. Ou se quer de algum fomento na indústria da mineração que apesar de contribuir com 12% da arrecadação fiscal do Estado, de vez em quando se tem que mediar algum conflito nas regiões de garimpo ou coisa pior.

Alegar a paternidade sobre um curso natural do mercado, mesmo com a omissão por parte do poder público e a agonia do setor varejista, é ser demais cômico ou até mesmo, achar que a maioria da população não consegue ler números que por muitas vezes, como estes que eu citei neste artigo, saíram dos anúncios do próprio governo. Que talvez precise ir ao programa do Ratinho por dois motivos: Um para o teste de DNA o outro pela comicidade do caso...


FONTES:
IDV - INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO DO VAREJO
CAGED - MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO
AGENCIA AMAPÁ DE NOTÍCIAS
MME - MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA
MDIC - MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDUSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR

As formiguinhas começam a voar com as chuvas

Contrariando a máxima de que não se consegue empreitar nenhuma obra pública em período chuvoso. O que tem deixado no minimo a opinião pública de olhos abertos é esta vasta gama de movimentação por parte dos poderes em apresentar resultados que sejam visíveis à população.

Por parte do Governo do Estado e da Prefeitura de Macapá e também dos demais municípios do Estado. Como formiguinhas invernosas, mostra claramente o cunho eleitoreiro das medidas. A guerra por exposição vem em uma hora em que os pré-candidatos já declarados, como o próprio prefeito tenham a necessidade de manter a visibilidade. O que alguns pré-candidatos ainda enrustidos, ou caminhem por uma via perigosa, como a deputada Cristina Almeida que tem buscado ibope nas assistências erradas ou os pré-candidatos que ainda nem sabem que o são e que ainda esperam o carnaval passar para poder subir no trem da alegria.

Por ora na profusão de obras prometidas, as mais expressivas como o hospital metropolitano, o shopping popular e o canal da Mendonça Junior, ainda continuam sem solução e fatalmente não devem ser mencionados nesta festa de micro-obras e inaugurações-relâmpago, como as que o governador promoveu em dezembro para pelo menos dar alguma expressão ao seu embaçado primeiro ano de gestão miraculosa.

Mas como nem só de obras públicas se faz um bom marketing eleitoral, alguns políticos tem levado "a sério" as politicas públicas e feito verdadeiras cruzadas de sol a sol ou de chuva a chuva melhor dizendo, e nem guardando o sétimo dia, tem se empenhado em mostrar ações de suposto peso milagroso imediato, que todos sabemos, se não cultivados no pós-eleições, podem acabar nem germinando.

O caso da delegação italiana que esteve em Macapá, fazendo sua auto-análise de viabilidade de parceria econômica, mas se não bem costurado, não passa de palavras vazias, como as do Consul da Bélgica que esteve por aqui no ano passado, bateu muitas fotos com personalidades regionais, mas quando a firula passou, voltou para Bruxelas e ninguém mais o procurou para saber o futuro das intenções proclamadas.

De estrangeiros em estrangeiros, uma delegação de cubanos aportou na capital, também com intuito de cooperação nas áreas de ciência e tecnologia, saúde e educação. Uma coisa é certa, se a parceria também incluir os modelos de gestão aplicados em Havana, provavelmente a família Castro deva fazer um intercambio com a família Capiberibe para um upgrade neste nicho administrativo em que as duas famílias "socialistas" se entendem divinamente bem.

Ainda aguardamos o que a Prefeitura de Macapá pode fazer para entrar na dança das obras públicas, já que diferente do Governo do Estado, onde segundo o gestor correm rios de dinheiro sob uma impecável gestão. Mas que por enquanto segundo o gestor municipal, nada deste fabuloso tesouro pingou nos cofres municipais via repasses de arrecadação, que parece ter sido estagnado propositadamente com intuito de fazer com que a fala na PMM seja a  que falta dinheiro e gestão.

Nas outras cidades amapaenses, a festa tem sido prometida em grande parte pela prefeita Euricélia Cardoso que listou para o segundo semestre uma  lista de inaugurações de obras que trazem benefícios para Laranjal do Jari.

O mesmo caroço de tucumã, tem ruído o prefeito de Santana, Antônio Nogueira, que contando com o festejado repasse anunciado em palanque e balões no ano passado, ainda espera os R$ 10 milhões, dos quais apenas 5% apareceram na cidade, sendo que Nogueira contava com o vultuoso repasse para concluir suas principais obras na certeza de produzir com isso seu sucessor.

Vou colocar minhas barbas de molho por enquanto na água das chuvas, e aguardar para ver se as obras de fato, como o aeroporto, o estádio zerão, a ampliação do do hospital de emergências, o término da pavimentação da BR 156, as estruturas de apoio à ponte binacional no Oiapoque. Obras estas sim que tem uma expressão não só eleitoreira, mas que também, são capazes de fomentar o turismo o desenvolvimento e a infra-estrutura necessária ao Estado do Amapá.

Por enquanto as crianças brincam de fazer política e movem suas ações e empenham esforços para penduricalhos pós-desenvolvimento, como jogos e brincadeiras, internet veloz para propiciar chats animados e bondinhos que só levam o Amapá para o fim da linha: o fundo do rio Amazonas...

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Lá e cá, aqui e acolá...

As vezes não conseguimos visualizar um quadro por completo devido a proximidade com os detalhes fazer com que os mesmos não possam ser definidos pela nossa visão. Isso acontece muito com os quadros de Claude Monet, que devem ser apreciados a certa distancia para não se perder os detalhes.

Embora eu não concorde com o valor atribuído a tão famigerada verba indenizatória disponibilizada pela Assembleia Legislativa do Amapá, também não sou conivente com a hipocrisia de quem diz que recebe um valor inferior, mas esquece de dar alguns detalhes que fariam com que o debate alcançasse patamares mais altos. Os dados são todos de domínio público, mas o brasileiro é preguiçoso para ler e prefere acreditar sempre na fonte que considera mais crível pelas famosidades que carrega nos ombros.

Mas vamos analisar algumas coisas do ponto de vista da Câmara dos Deputados, lá em Brasília, que tem em seu contracheque os vencimentos mensais de R$ 16.512,09 (vamos dar o desconto do IR de retém 27,5%), restando R$ 11.971,20. Para um cargo onde os pré-requisitos básicos são: Saber ler e escrever e ter um título de eleitor e uma filiação partidária. Com o atenuante de que ainda acrescidos a esses proventos salariais, ainda há os benefícios do décimo terceiro, décimo quarto e dependendo do número de sessões extraordinárias até pode chegar a um décimo quinto.

Uma verba de gabinete de R$ 60.000 para manter até 25 assessores e os insumos necessários para manter um gabinete.  Outros auxílios como o de aluguel de moradia no valor de R$ 3.000 mesmo que o deputado seja morador fundador de Brasília, recebe do mesmo jeito, Sarney fazia isso apesar de ter uma casa própria em Brasília. 

Somando-se com o valor de R$ 4.000 para gastar com selos e cartõezinhos de credito para celular. E para nunca ficar sem saber o que acontece na mídia, tem R$ 1.000 para assinaturas de jornais e revistas, não importa se é a Veja, Época ou a Playboy, em alguns casos até G Magazine.

E ainda tem R$ 9.000 para saracotear Brasil a fora com passagens aéreas. Onde não importa se o parlamentar vai a uma convenção do seu partido ou ao batizado da afilhada em Rio Branco, afinal ninguém precisa justificar o uso da verba desde que seja para eles mesmos.

Como a saúde do parlamentar é importante para que em nenhum momento ele desaponte suas bases faltando a uma importante sessão por uma gripezinha, existe o reembolso total com serviços médicos e odontológicos, sendo que o custo médio desse plano de saúde “chapa branca” foi de R$ 8.000 por parlamentar em 2011.

E chegando nela a tão famigerada Verba Indenizatória; para os parlamentares de Brasília é de R$ 15.000 e tem como destinação o ressarcimento de despesas com combustível, alimentação, hospedagem e consultorias do parlamentar. Não importando se é para comer no Fazano´s, se hospedar no Burj Al´arab ou encher o tanque com hidrogênio líquido. Se tem nota, ressarce. Quanto a consultoria, vale o mesmo, pode ser jurídica e até mesmo estética, está na verba.

O que se percebe é que no frigir dos ovos o discurso acalorado de deputados que andam por ai alardeando que só tem uma verba indenizatória de R$ 34.000 e nada mais, é uma grande e deslavada hipocrisia, afinal eles não citam o restante dos benefícios, que em nenhum momento parecem ter alguma relação direta com o bem comum do cidadão. Mas como uma forma de ter um bom padrão de vida e poucas preocupações por uma legislatura.

A verba da ALAP é sim muito aquém da realidade de um Estado pobre, e deixa realmente uma imagem de que os deputados locupletam-se nas vantagens do cargo. Sem exceções, todos tem feito uso da tal verba que pode ser até R$ 100.000, mas em nenhum momento se esclarece o que se faz com os retornos não gastos pelo parlamentar na diferença do gasto para o limite, dentro do caixa da Assembleia.

Mas uma atitude é acertada, já que a mesa diretora, embora tenha exagerado no valor, teve seu momento de lucidez em agregar todos as vantagens indenizatórias em uma única rubrica  e considerando que todos os penduricalhos foram suprimidos a um e que deputado estadual no Amapá não recebe por sessão extraordinária.

Como os deputados já são remunerados normalmente pelas suas funções. Eu não vejo, diante da necessidade de uma reunião extra, que haja uma remuneração adicional assim como acontece na Câmara Federal. Ainda mais que eles foram eleitos, e se apresentaram como candidatos de forma voluntária, para o trabalho que exercem. 

Eu sou a favor de um subsídio único, condizente com o papel que o deputado representa, e que tudo seja votado nas (reuniões) ordinárias. Sou a favor de acabar com verbas indenizatórias, auxílio-moradia e reuniões extraordinárias em nível federal. E pelo menos utilizar a ideia de verba única utilizada aqui por lá e o valor da verba indenizatória usado lá venha para cá.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Quando não se sabe jogar, guarda-se a bola...

Em meio aos acontecimentos do dia, alguns rompantes meio descabidos foram alvo de comentários da população em geral, pelo menos aquela que tem uma leve noção da realidade que os cerca. O que significa a maioria da população amapaense que respira politica.

O que amanheceu como um festejo e muitos folguedos pelo aniversário de Mazagão, uma batalha real se mostrou. Mas não entre mouros e cristãos. Mas sim em equipe, já que parece que nosso cabo de guerra deixou de ter três pontas e cada vez mais um dos lados enfraquece e o outro ganha reforço.

Moises Sousa, como bom articulador de pavio moderado, tem se mostrado um aprendiz de jogador muito aplicado, apesar de seu temperamento que às vezes perde as temperas, resolveu articular aquele momento do “pega na mão e pede desculpas” entre o governador Camilo Capiberibe e o prefeito Roberto Góes.

Mas com a calmaria de Gilvam e seu governo paralelo, foi prudente não afrontar o Governo do Estado com um convite ao ex-senador, já que os ânimos já estão inflados demais nesses dias que ainda distam muito das eleições municipais. Mas na verdade teria sido até uma atitude embora contraproducente, talvez até útil para fechar o espaço deixando pela total ausência de qualquer representante da administração estadual.

Alguns até tentaram remediar a ausência completa, pela presença senão incomum, ou comum da deputada Cristina Almeida que parece não ter seguido a dica de seu colega de bancada o deputado Agnaldo Balieiro que não compareceu para dar apoio à Cristina que posou de ovelha do sacrifício às justificativas de defender a ausência de seu grupo politico.

É bem verdade que a politica do governador Camilo Capiberibe tem se mostrado de um improviso digno do teatro de revistas para lidar com as adversidades políticas pelas quais não parece estar preparado ou pelo menos as orientações de quem lhe devia dar experiência tem mais atropelado as coisas e dado uma série de tiros colaterais e fogo amigo do que resultados em si. Alguns preferem apostar em uma vaidade como eu antes acreditava ser, afinal os brios de um homem às vezes excedem sua razão, mas já mudei de opinião quando ouvi as palavras do jovem governador a tentar remendar ações inconsequentes tomadas sabe-se lá por quem durante suas férias.

A ausência de pelo menos um representante que fosse, nem mesmo da vice governadora transparente Doralice Nascimento, que naquele horário atendia a delegação de uma escola de samba local. Durante a audiência pública promovida pela ALAP, vem só ressaltar que o desinteresse em estabelecer políticas de boa vizinhança com a administração municipal e o legislativo estadual, por parte do governador, e a grande gana de manter um governo sací, ou seja apoiado em uma só perna, pois a muleta que de vez em quando periga sair, dentro em breve deve deixar o apoio ao PSB que possivelmente contar apenas com militantes desvairados e políticos de uma mesma base partidária, o que já se sabe de longa data, não só os cientistas políticos como os políticos em si, é freio de mão puxado no tempo regulamentar de mandato.

Moisés continua dando tiros certeiros, e na marginal, Gilvam continua fazendo seu jogo e queimando lenha molhada para o governo ter lágrimas nos olhos. Por enquanto o prefeito tem tentado sair do marasmo de sua administração, mesmo com as torneiras dos repasses de tributos municipais fechadas à chave inglesa pelo Governo do Estado.

Tempo não há mais para estabelecer um novo código tributário municipal para substituir o jurássico existente, o que gaseificaria os cofres da prefeitura. Quem sabe a oxigenação da gestão de Roberto Góes não incorra nos modelos de experimentação.

Coisa que madame presidente Dilma pode se dar ao luxo, pois tem acertado nas sua reforma ministerial ao colocar técnicos frios mas que entendem do mètier nos pontos chave. Mas ela está só no começo de mandato e esse é um luxo que não lhe custa caro, já que está com um índice de aprovação histórico. Já a reforma do secretariado de Camilo, podemos dizer que são fruto da natureza que levou Jacinta Carvalho à cova, um concurso público muito mais atrativo e estável levou o procurador geral Marcio Figueira para as terras papa chibé. E uma propina não transparente levou Mirian Correa para a terra do nunca.  O resto é bravata...

Et longue vie à l'or française

Um pingo de embaço enevoa a vinda eleitoreira de Nicolas Sarkozy à Guiana Francesa, o precioso Departamento mineral da França. Sendo o segundo caça votos que chega ao departamento ultramarino este mês, pois Francois Hollande já estivera recentemente para pedir o apoio para governar a França dourada.

Mas o que o cerimonial do presidente, já havia previsto muitas alterações na agenda do presidente, entre elas o cancelamento da vinda ao Brasil, pois apesar das obras da ponte binacional sobre o rio Oiapoque estrem concluídas do lado francês, do lado brasileiro, nada além de um grande cuvão, existe para inaugurar.

Como as pretensões francesas estão sobre o olhar do garimpo de ouro, cobiçado a longa data por ambos cidadãos fronteiriços, tem cada vez mais preocupado o lado francês. Uma prova disso foi a coincidência da vinda do presidente francês e o episódio ocorrido entre garimpeiros de mais uma fronteira adjacente, o Suriname. E brasileiros que garimpam no território francês.

O confronto desta vez aconteceu no Distrito de Dorlin a sudeste da Guiana. Motivado por acerto de contas entre garimpeiros pelo controle de uma cobiçada área que tem produzido bastante ouro para o comércio ilegal na Guiana Francesa. Vitimando nove brasileiros na sexta feira.

Apesar de ser um confronto que passaria despercebido em um momento qualquer, mas com a presença de Sarkozy no território, fez com que o presidente anunciasse um reforço nos dispositivos de segurança. Após o evento o comandante da Gerdanmerie, a policia local do departamento relatou a Sarkozy o evento e destacou a preocupação advinda dos confrontos em áreas de garimpo tem crescido exponencialmente com a imigração ilegal, na sua maioria de brasileiros advindos do Oiapoque.

A informação do comandante de que os grupos estariam portando armas de grosso calibre e algumas até de uso exclusivo do exercito, fez com que a atenção se voltasse ao combate extensivo dos garimpos ilegais dentro do território francês.

Com o discurso em tom de campanha, Sarkozy conclamou as nações fronteiriças a ajudar a combater a mineração ilegal de ouro nesta conturbada região. Inclusive o endurecimento da lei, no tocante ao que ele chamou de “crime grave”. Propondo inclusive pesadas penas para quem transportar produtos não autorizados utilizados como insumos em áreas de garimpo.

Do outro lado da fronteira, a inércia do Itamarati e do governo federal em atuar nesta área parece fluir ao sabor das correntes. Enquanto a França anuncia um reforço na sua policia urbana e em sua guarda de fronteira, o lado brasileiro ainda sonha com a abertura de um portal do paraíso da França Dourada. ..

domingo, 22 de janeiro de 2012

Ensaio - l'ultima Sede Vacante

Conheci Zé das Palmas há uns ‘trocentos’ anos. Vivemos a mesma infância pobre e sem rumo. Mas partimos em anos e momentos diferentes para caminhos que se cruzavam com intermitência.

Em suas efemérides, Zé das Palmas teve uma vida agitada, ganhou muito dinheiro, mas dele nunca tirou proveito à usura. E sempre se preocupou com as vincendas mesmo que já estivessem quites, afinal elas sempre estariam por vencer a mais uma vez.

Um dia ele saiu afora, conheceu o Brasil e o mundo, de pés descalços. Este mundo de Deus. E ele quis ser deus, criou seu próprio mundo, de factóides e adereços dos mais diáfanos, e um dia esse mundo ruiu. E como o deus de pés de barro que era; Zé das Palmas perdeu seu mundo.

Beijou a mão de cardeais e bispos, olhou o Papa na sacada e viveu quatro sede vacante, observou reis e rainhas passeando de coche a pompa e circunstância. Sentou-se à mesa com governadores e gente influente estava ao seu lado. Tinha grandes afetuosidades do empresariado por onde passou. Mas nunca foi um deles. Afinal tinha o poder para fazer fazerem, mas não o de fazer seu.

Teve poucos amigos, de se contar nos dedos, não porque fosse desconfiado, mas por que não os tinha mesmo. Sua língua era ferina demais para conquistar afeto fraternal. Irmãos; também os teve, mas os perdeu de vista neste mundo grande demais.

Mulheres; teve poucas, mas a apenas três devotou sinceridade enquanto as amou (ou acho que nunca deixou de amá-las), mesmo que o contrário não lhe tenha sido recíproco para algumas delas. Sem exceção, todas o levaram a alguma forma de ruína de maneira indelével às suas finanças, moral ou pessoal.

Nunca me lembro de o Zé das Palmas ter me dito que adulterara em seus casamentos. Poder até que podia se quisesse. Era um sujeito galante quando queria sê-lo. Miscigenava os temperamentos entre o garboso amante e o alcaide algoz em frações de segundos.

Passados alguns anos, após sucessivas desgraças morais e relacionais, perdeu tudo. Não ficou com mais que uma mala, mala essa que mais parecia um catadióptrico do que uma mala em si. No mais tudo ficou para trás, sem importância, sem interesse, apenas ficou para trás.

Os poucos amigos que tinha. Se foram também e o esqueceram tão rápido quanto o diabo esfrega um olho. As amizades efêmeras de Zé das Palmas não tiveram raízes fortes nem profundas o bastante para se arraigar ao tempo.

Zé das Palmas não teve família vivente ao seu lado, pais que o amassem com veio de proximidade e não de incômodo. Os poucos familiares que dele se lembram, lembram tão pouco que mal dá para abrir uma linha. Acho que mais o conheci do que os outros. Seu gênio de cão hidrófobo oscilava a ter afronta a juízes togados e homens armados de foice e berro. Não se entregava, lutava sem pouso até que a última verborragia vomitada como uma praga vencedora fosse de sua garganta a sair.

Pragmático, sei que teve filhos lá pelas bandas por onde morou. Alguns vivos, alguns mortos, mas ao se dar o fato de que nem um deles se lembrou ou procurou Zé das Palmas, deve ter sido pela ciência de morto estar, pelo esquecimento das genitoras ou pelo ódio transmitido à prole pelas mesmas. Mas que diferença isso faz agora?

Tisnado, cansado, achincalhado, sovado, humilhado e despido de qualquer dignidade possível a um ser humano. Calçando um chinelinho quase havaianas. Com um calção bem surrado e uma camisa de algodão, com resquícios de “Vote Almir 45”. Zé das Palmas adentrou a recepção do Hospital da Ordem Terceira com uma cédula de identidade nas mãos.

Sozinho e sem dono, seu peito doía. Ficou algumas horas sentado em uma cadeira de rodas, tomando analgésico endovenoso, e balbuciando nomes de gente que o defenestrou em um passado já esquecido para uma tímida auxiliar de enfermagem que o atendia.

Ao ver o médico, a auxiliar perguntou o que fazer e o médico disse-lhe secamente: Nada! Zé das Palmas estava no final, apenas paliativos lhe seriam um consolo. Deu-lhe um cigarro de filtro branco. Dentre os incontáveis que já havia tragado às ventas, mais um não lhe mataria mais do que isso. Deu uma última tragada faminta.

Zé das Palmas se entregou, berrou o nome de sua última esposa, pediu perdão a auxiliar de enfermagem que nada entendia daquele balbucio sem propósito: “Menti para você, não quero morrer com essa bala no peito! Perdão!”

Urrou; como um bicho balado, urrou de dor, de sede, de fome, mas não pediu água nem alimento. Seus bálsamos eram outros incomutáveis. Lembrou-se de Santo Antão das Almas, lá nas brenhas do Centro-oeste de onde saíra. Urrou novamente, pediu pela filha. Atirou-se para frente, "se seu peito fosse um canhão, naquele momento teria disparado seu coração".*

Mas não o fez. O projétil no seu peito saiu pela culatra e de tanto desgosto, se esfacelou dentro do tambor toráxico. De todas as mazelas que se podia lembrar, recordou de todos os rostos e nomes de todos os que passaram por sua vida. Talvez como último grande alento para si, regozijou por ainda lembrar-se de todos. Viu seu filme passar...

Não rezou nem fez as pazes com Deus; subjugado pelas tantas orações consideradas extraviadas no rumo do céu, afastou-se Dele e nunca mais pronunciou Seu nome. Postergou uma longa cruzada de idas e vindas no rumo do paraíso.

De súbito, uma luz se acendeu. E assim como qualquer ser orgânico, seja ele animal ou vegetal, busca a luz nem que seja um mero fio da luminosidade. Zé das Palmas foi até ela. Já não sentia mais dor, o cansaço se fora, seu corpo sujo e pobre jazia na cadeira de rodas.

Lembro-me que em seu velório, além de mim tinham mais umas seis pessoas, talvez o número certo para segurar as alças do humilde caixão de Eucatex, providenciado pela prefeitura aos indigentes da cidade através do serviço social funerário. Mas só haviam quatro alças. Mesmo assim dois seguraram o ataúde de papelão pelo meio, para que sua fragilidade não se mostrasse antes do sepultamento.

Das viúvas não se ouviu nem se viu nenhum carpir, nem quando o caixão desceu aos sete palmos do cemitério de São Jorge. Afinal Zé das Palmas só foi aplaudido enquanto vida tinha e batia palmas para si mesmo.

Vai com Deus Zé!

*Trecho de Moby Dick de Herman Melville
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