segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Pode Tudo, até o que não deve

‘Stamos em pleno mar. ’ Assim começa uma das mais eloqüentes obras de Castro Alves, em “Navio Negreiro”. Narrando o passo de uma das naves que traziam a mais farta mercadoria de comércio entre a África e o Brasil. Os escravos.

Passados os anos, desde os floreios de Isabel com a pena dourada a extinguir o oficio escravo nas terras de Vera Cruz, eis que vemos uma pitoresca artimanha da gestão do partido dos trabalhadores, sob as barbas do gigante que adormeceu após as breves espreguiçadas dadas em junho.

Certamente a maior cortina de fumaça criada para tirar o foco verdadeiro desta transação comercial, não é o programa “mais médicos”. Acho louvável a atitude de acrescentar mais profissionais a esta área tão carente da saúde pública. Mas questiono sim as condições inauditas deste verdadeiro tratado comercial entre Brasil e a ilha de Fidel, onde a mercadoria, não é a velha muamba de charutos e rum e sim um grande contrabando oficial (se é que tal antítese se permite!) de um dos produtos tipo exportação mais abundantes em Cuba: médicos!

Enquanto os noticiários se abundam em tirinhas sobre os desocupados médicos das terras de acá, que arranjam tempo em sua atribulada agenda para desferir xingamentos aos colegas cubanos em aeroportos da vida. Uma verdadeira escarrada nas faces das leis trabalhistas brasileiras; daquelas que fazem as pagina da CLT tremularem como uma brochura sem valor. Acontece em segundo plano.

Há de se perguntar ‘otras cositas mas’ acerca do estranho processo comercial de  importação. Afinal se tenta a todo momento enaltecer a generosidade dos dez mil reais pagos aos médicos como se fosse a libertação sem Che Guerava do povo cubano, que vem ao Brasil de Dilma e Cabral, sem eira, nem lenço e muito menos documento, já que seus passaportes sem visto os cerceiam do direito de ir e vir.

Há de se questionar o papel da OPAS nesta alva transação, afinal qual seria ele? Dar algum viés de legalidade a um ato rompante de escamotear-se sob os panos da lei brasileira? E por onde andam os senadores transparentes?

E não a ultima, mas a mais rompante de todas: Se do total pago pelo erário brasileiro é de dez mil reais pelos serviços dos médicos, sendo que de acordo com as inúmeras partilhas divulgadas pela mídia, dois mil e duzentos reais vão para a família do médico que teve que ficar lá em Cuba e um mil e oitocentos reais pingam nas mãos do médico. Que força oculta diz que o povo brasileiro tem que enviar seis mil reais por cabeça para o governo da Ilha?

Fazendo-se uma matemática de boteco, chegamos aos números mais escaldantes. Se forem quatro mil médicos a seis mil cada um, em um mês dona Dilma mandaria depositar vinte e quatro milhões não de pesos, mas de reais na Ilha da fantasia, o que perfaz a pitoresca quantia de duzentos e oitenta e oito milhões de reais após um ano de trabalhos “humanitários” dos médicos cubanos.

Nada, nada é uma bela comissão, já que em nenhum momento mais uma vez se estabeleceu se vão pagar alguma coisa para a OPAS. Afinal OPAS pra que? Se tudo foi fruto das manifestações de junho como afirma o governo, considera-se então que esta foi a operação internacional do serviço público mais rápida de que se tem noticia na história deste país.

São perguntas sem resposta, ou de resposta tão misteriosa que deveria servir de base para algum documentário do Discovery Chanel, daqueles que tentam dar explicações para ETs e sereias. Mas com certeza fica mais fácil enredar estes mitos do que as entrelinhas dessa estranha importação petista, que é no mínimo exótica, já que os precedentes jurídicos ficaram nas areias do mar e na espuma da praia, para manter a poesia.

Na certeza de que o PT realmente Pode Tudo, não percamos tempo em nos digladiar questionando o sexo dos anjos ou a nacionalidade dos médicos, isso é irrelevante, percamos mais tempo tentando esmiuçar esta nova era aquariana inaugurada por Lula e reinaugurada por Dilma. Afinal que mal há? É apenas dinheiro público, nem importa se voltar para cá em forma de caixa dois ou três, como uma vez disse Lula – o santo. Isso é normal.

Comecei com Castro Alves e com ele me despeço nas palavras do canto III do mesmo poema: “É canto funeral!... Que tétricas figuras!... Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!”
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