‘Stamos
em pleno mar. ’ Assim começa uma das mais eloqüentes obras de Castro Alves, em
“Navio Negreiro”. Narrando o passo de uma das naves que traziam a mais farta
mercadoria de comércio entre a África e o Brasil. Os escravos.
Passados
os anos, desde os floreios de Isabel com a pena dourada a extinguir o oficio
escravo nas terras de Vera Cruz, eis que vemos uma pitoresca artimanha da
gestão do partido dos trabalhadores, sob as barbas do gigante que adormeceu
após as breves espreguiçadas dadas em junho.
Certamente
a maior cortina de fumaça criada para tirar o foco verdadeiro desta transação
comercial, não é o programa “mais médicos”. Acho louvável a atitude de
acrescentar mais profissionais a esta área tão carente da saúde pública. Mas questiono
sim as condições inauditas deste verdadeiro tratado comercial entre Brasil e a
ilha de Fidel, onde a mercadoria, não é a velha muamba de charutos e rum e sim
um grande contrabando oficial (se é que tal antítese se permite!) de um dos
produtos tipo exportação mais abundantes em Cuba: médicos!
Enquanto
os noticiários se abundam em tirinhas sobre os desocupados médicos das terras
de acá, que arranjam tempo em sua atribulada agenda para desferir xingamentos
aos colegas cubanos em aeroportos da vida. Uma verdadeira escarrada nas faces
das leis trabalhistas brasileiras; daquelas que fazem as pagina da CLT
tremularem como uma brochura sem valor. Acontece em segundo plano.
Há
de se perguntar ‘otras cositas mas’ acerca do estranho processo comercial de importação. Afinal se tenta a todo momento
enaltecer a generosidade dos dez mil reais pagos aos médicos como se fosse a
libertação sem Che Guerava do povo cubano, que vem ao Brasil de Dilma e Cabral,
sem eira, nem lenço e muito menos documento, já que seus passaportes sem visto
os cerceiam do direito de ir e vir.
Há
de se questionar o papel da OPAS nesta alva transação, afinal qual seria ele?
Dar algum viés de legalidade a um ato rompante de escamotear-se sob os panos da
lei brasileira? E por onde andam os senadores transparentes?
E
não a ultima, mas a mais rompante de todas: Se do total pago pelo erário
brasileiro é de dez mil reais pelos serviços dos médicos, sendo que de acordo
com as inúmeras partilhas divulgadas pela mídia, dois mil e duzentos reais vão
para a família do médico que teve que ficar lá em Cuba e um mil e oitocentos reais
pingam nas mãos do médico. Que força oculta diz que o povo brasileiro tem que
enviar seis mil reais por cabeça para o governo da Ilha?
Fazendo-se
uma matemática de boteco, chegamos aos números mais escaldantes. Se forem
quatro mil médicos a seis mil cada um, em um mês dona Dilma mandaria depositar
vinte e quatro milhões não de pesos, mas de reais na Ilha da fantasia, o que perfaz
a pitoresca quantia de duzentos e oitenta e oito milhões de reais após um ano
de trabalhos “humanitários” dos médicos cubanos.
Nada,
nada é uma bela comissão, já que em nenhum momento mais uma vez se estabeleceu
se vão pagar alguma coisa para a OPAS. Afinal OPAS pra que? Se tudo foi fruto
das manifestações de junho como afirma o governo, considera-se então que esta foi
a operação internacional do serviço público mais rápida de que se tem noticia
na história deste país.
São
perguntas sem resposta, ou de resposta tão misteriosa que deveria servir de
base para algum documentário do Discovery Chanel, daqueles que tentam dar
explicações para ETs e sereias. Mas com certeza fica mais fácil enredar estes
mitos do que as entrelinhas dessa estranha importação petista, que é no mínimo
exótica, já que os precedentes jurídicos ficaram nas areias do mar e na espuma
da praia, para manter a poesia.
Na
certeza de que o PT realmente Pode Tudo, não percamos tempo em nos digladiar
questionando o sexo dos anjos ou a nacionalidade dos médicos, isso é
irrelevante, percamos mais tempo tentando esmiuçar esta nova era aquariana
inaugurada por Lula e reinaugurada por Dilma. Afinal que mal há? É apenas
dinheiro público, nem importa se voltar para cá em forma de caixa dois ou três,
como uma vez disse Lula – o santo. Isso é normal.
Comecei
com Castro Alves e com ele me despeço nas palavras do canto III do mesmo poema:
“É canto funeral!... Que tétricas figuras!... Que cena infame e vil... Meu
Deus! Meu Deus! Que horror!”