Analisar
a crise da Petrobras sob a ótica da gestão de crises, neste momento, torna-se
tarefa difícil. Primeiro, porque não se conhece ainda toda a extensão do que já
está sendo chamado “o maior caso de corrupção da história do país”. Muito menos
todos os efeitos dessa crise nos resultados e na reputação da empresa. Segundo,
porque não está bem claro, até por falta de esclarecimentos da empresa, qual a
defesa da diretoria para as denúncias feitas pelos acusados, que se
beneficiavam dos grandes contratos da companhia.
Como
analisar essa crise, se ainda faltam tantos elementos para realmente sabermos o
que aconteceu? Além disso, não se sabe até onde irão as investigações da
Operação Lava Jato.
Se
no mensalão, as cifras da CPI dos Correios eram de “milhões”, com o estrago na
reputação de políticos, empresários e demais envolvidos, como conhecemos, agora
o que emerge das delações premiadas são “bilhões” de reais. A Polícia Federal
calcula que o esquema teria movimentado cerca de R$ 10 bilhões, há vários anos.
O banco americano Morgan Stanley calculou que as perdas da Petrobras com os
desvios podem chegar a R$ 21 bilhões, com base nas declarações do ex-diretor
Paulo Roberto Costa, ao confessar propinas de até 3% sobre o faturamento dos
últimos anos.
Portanto,
as dimensões dos desvios são incomparavelmente maiores do que as do mensalão.
Delatores falam em propinas de R$ 200 milhões a operadores do PT, PMDB e PP. O
que leva a questionamentos que transcendem as apurações do Ministério Público e
da Polícia Federal.
Não
custa perguntar. O que faziam a Auditoria Interna, a Gerência de Controladoria
e a área de Compliance da Petrobras, desde 2003, como revela a história
pregressa do “Paulinho”, amigo e íntimo de políticos e até do ex-presidente
Lula; e a de seus colegas diretores? Como esses órgãos explicam que diretores e
gerentes da empresa, responsáveis por áreas que gerenciavam obras de bilhões de
reais, pudessem, à revelia do presidente, da diretoria e do conselho de
administração desviar tantos recursos, durante anos, sem que nenhum desses
colegiados desse um sinal de alerta?
Afinal,
eles auditavam o quê? Sob esse prisma, podemos admitir que coisas muito piores
podem ter acontecido na estatal, sem que ainda se saiba. Ou sem que os órgãos
de controle da empresa tivessem tomado conhecimento. O que mais irá aparecer?
Os empregados titulares desses órgãos não deveriam responder por “gestão
temerária” ou outro tipo de crime ao não alertar a direção da empresa para os
malfeitos da quadrilha?
Não
seria demais também inferir que, se diretores e gerentes, como os até agora
acusados e presos, além de outros suspeitos de receberem propina, conseguiram
“operar” um megaesquema de corrupção, o que não teria acontecido ou está
acontecendo com os peixes miúdos, que fazem licitações menores, patrocínios,
promoções e demais compras da empresa?
Quem
garante que esses negócios estejam corretos? Ou seja, o esquema de corrupção
escancarou uma dúvida para o mercado, acionistas, fornecedores: como é
conduzida (e quem fiscaliza) a gestão financeira da Petrobras, diante do que
está sendo revelado? Qual a garantia para o mercado de que falhas semelhantes
não mais ocorram? Um único gerente, Pedro Barusco, subordinado ao diretor
Renato Duque (este, segundo a imprensa, indicado por José Dirceu), demitido e
preso na 7ª. fase da operação Lava-Jato (gerente este que aceitou delação
premiada) fechou acordo para devolver R$ 260 milhões. Estamos falando de um único
operador.
Diretor
e gerente são considerados pelos investigadores da Operação como os principais
operadores do PT na Petrobras de 2003 a 2012. Não se descobrisse mais nada
nessa investigação, só o que esse diretor e gerente fizeram bastaria para
derrubar toda a diretoria e conselhos da Petrobras, no mínimo por omissão.
Paulo Roberto Costa, diretor por oito anos, já revelou e admitiu devolver mais
de R$ 20 milhões na Suíça. A Suíça bloqueou US$ 23 milhões, de três contas do
ex-diretor naquele país.
Como
diz um empresário paulista, “quando um simples gerente tem uma conta bloqueada
no exterior no valor de US$ 20 milhões, fica difícil imaginar até onde foi o
esquema na empresa que deveria ser o principal motor da economia brasileira,
num momento em que ela patina”. (Folha de São Paulo, 16/11/14).
Funcionários,
acionistas, fornecedores, investidores estrangeiros, bancos, a sociedade
brasileira devem estar se perguntando agora, o que levou a Petrobras a essa
crise grave, uma das mais deletérias de sua história? Por que empresas da
importância de uma Petrobras afundam em crises graves, no caso, esta de
dimensões ainda não calculadas, e não conseguem estancar a sangria? Lembram-se
da crise da British Petroleum-BP, em 2010, com a explosão de uma plataforma, no
Golfo do México, e todos os desdobramentos? Passados mais de quatro anos, a
empresa responde até hoje por passivos de bilhões de dólares e a reputação não
conseguiu ainda apagar as manchas que poluiram as costas de cinco estados
americanos.
Os
especialistas em Crisis Management dizem que as organizações acabam envolvidas
em crises graves, porque se sentem imunes, acima do bem e do mal. Há uma certa
soberba, autossuficiência, desdenham das chamadas “bandeiras vermelhas”, que
seriam os sinais das crises. Elas seriam tão grandes, que não acreditam que uma
crise poderá ameaçá-las. Na crise econômica de 2008, cunhou-se até uma
expressão para ironizar grandes corporações, principalmente bancos, que se
achavam invulneráveis às crises e, por isso, não quebrariam: “Too Big To Fail”,
O termo propiciou até mesmo a produção de um filme e a edição de livro, com o
mesmo título, de autoria de Andrew Ross Sorkin, nos Estados Unidos.
Apesar
da ironia, elas quebraram de fato. Não há organização invulnerável a qualquer
tipo de crise. Uma outra premissa para
as crises atingirem grandes corporações é a chamada “arrogância do líder”. Elas
seriam tão grandes, tão admiradas, líderes no seu segmento de mercado, com
tantos negócios, que, acreditam, uma crise não teria potencial para as afetar.
Diante do gigantismo, haveria um afrouxamento dos controles.
Podemos
citar os casos da Toyota, com uma grave crise em 2011, envolvendo defeitos nos
carros, principalmente nos Estados Unidos, que a levou a fazer o recall de 12
milhões de veículos. A GM, que enfrentou problemas financeiros em 2008 e,
agora, também nos Estados Unidos, sofre outra crise por defeitos nos carros. A
Enron, que desapareceu do mercado pelos escândalos financeiros, em 2001. E o
Lehman Brother, símbolo da derrocada dos bancos, a partir de 2008. São várias
grandes corporações que foram tragadas pelas crises. No Brasil, recentemente, tivemos a saga das
empresas “X” do empresário ilusionista Eike Batista, que causou prejuízos
incalculáveis ao mercado e aos acionistas. Ele já sentou no banco dos réus.
O
problema da Petrobras poderia ser uma combinação de “arrogância do líder” com o
aparelhamento. A companhia é vítima da doença das estatais. São as joias da
coroa, cobiçadas a cada troca de guarda no Palácio do Planalto. Todo mundo quer
comandar e influenciar. Caem no colo dos governos e acabam sendo usadas por
eles como se fossem capitanias hereditárias. No atual governo, temos, com a
Petrobras, outros dois exemplos de empresas que sofreram as consequências do
aparelhamento, uso político e irresponsabilidade.
As
diretorias foram loteadas, entregues a apaniguados e “companheiros”. Acabaram
usadas apenas para fazer caixa para eles próprios e para os partidos. Correios
e Infraero foram outras duas vítimas da mesma doença, que agora contamina e
corrói a reputação da Petrobras. As consequências todos conhecem. O que
assombra os brasileiros é a possibilidade de que esses esqueletos estejam no
armário de outras estatais e, de repente, possam vir a público nos assombrar
com escândalos semelhantes.
Não
adianta ficar com pruridos políticos ou minimizar a presente crise na
Petrobras, como fazem políticos da base aliada e o governo, sob a ótica de que
os descalabros atuais não são diferentes dos ocorridos em outros governos. E a
atual crise seria apenas mais uma. Ou que o governo “permitiu” apurar e por
isso a corrupção parece ter aumentado. Governo nenhum deveria insinuar que
apurar corrupção pelos órgãos de estado, como a Polícia Federal, MPU, TCU,
seria uma liberalidade desse governo aos brasileiros. Apurar ilícitos deveria
ser ato permanente de gestão de todo governo sério.
O
fato objetivo e incontestável, que o governo prefere não discutir para não
ferir as delicadas sensibilidades dos aliados do Congresso, é que as indicações
políticas para as diretorias da Petrobras nesse governo estão no cerne da crise
atual da empresa. As acusações que emanam dos depoimentos são estarrecedoras,
se comprovadas. Envergonham não apenas os empregados honestos da Petrobras, mas
todos os brasileiros. Desrespeitam os acionistas, principalmente os minoritários,
que confiaram suas economias numa empresa com um nome respeitável no mercado,
mas com a reputação tremendamente abalada pelos malfeitos.
Caciques
políticos (e o Brasil tem tantos) indicam apaniguados para os cargos nas
estatais para quê? Por que entregar esses cargos estratégicos aos prepostos? E
como eles escolhem os afilhados? Escolheriam os candidatos, pelo menos, pelo
curriculum? Pelos bons serviços prestados ao país? Seriam os mais preparados?
Claro que não. Naturalmente, esses pseudopatriotas só querem os cargos para
“usá-los” em proveito próprio ou dos partidos; para se locupletarem, enquanto o
apaniguado ficar no cargo. Paulo Costa tinha uma tabela de propina que entregou
à PF, com o nome dos favorecidos (pelo menos de três partidos PT, PMDB e PP) ,
que recebiam o “pedágio” das obras contratadas pela Petrobras.
As
revelações dos acusados à PF e ao MPU, tanto do lado dos diretores ou
empregados da Petrobras, quanto dos corruptores, e dos que concordaram com a
delação premiada, mostram uma organização criminosa que agia desde o início do
governo Lula, dentro da empresa, e resolveu saquear a Petrobras, num esquema
que faria corar de vergonha a máfia italiana, pela sofisticação, extensão e
capacidade de organização.
Um
dos delatores, Júlio Camargo, executivo de empreiteira, revelou que o operador
do PMDB negociou uma propina de R$ 15 milhões, fruto da intermediação na
aquisição de sondas de perfuração para a Petrobras. E indicou outro diretor,
Nestor Cerveró, em nome de quem agia o lobista. Cada depoimento acaba se
transformando num “case” de crise. Pela longevidade e grandeza, eles
demonstram, portanto, como eram frágeis os controles da Petrobras.
O
que a sociedade brasileira quer entender é para que seis conselheiros do
Conselho de Administração da Petrobras se reuniam de dois em dois meses, com o
objetivo de controlar, supervisionar, analisar e aprovar as diretrizes da
empresa. Afinal, não é essa a função de um Conselho de Administração? Os
Conselhos da Petrobras (aí incluídos a diretoria, conselho de administração e
fiscal) sabiam realmente o que os mais graduados executivos da empresa faziam?
O ex-presidente Sergio Gabrielli já declarou na CPI da Petrobras (que termina
em dezembro) que nunca soube dos desvios. Como disse Editorial da Folha de S.
Paulo, “Governo, Petrobras, Congresso e líderes políticos ainda demonstram uma
inércia próxima da conivência”, na apuração dos malfeitos da Petrobras. “Isso
precisa acabar”.
Para
o jornalista Carlos Alberto Sardenberg, em artigo no jornal O Globo, “é
evidente que as diretorias da empresa e seu Conselho de Administração fizeram
uma péssima gestão. Como é que não perceberam que o negócio estava errado?” O
professor de governança corporativa Alexandre Di Miceli, da FEA-USP, disse ao
jornal Valor Econômico que "o desgaste da reputação da Petrobras é o
principal aspecto desta crise", o que engloba incertezas no plano
financeiro, endividamento, planos de investimento, expectativas de receitas e
rentabilidade. "É um momento em que chegamos ao fundo do poço e alguma
coisa vai ter que acontecer, não se pode mais empurrar com a barriga".
Quais
os erros cometidos na gestão dessa crise? Em abril passado, escrevemos neste
site o artigo “O que a Petrobras precisa fazer para sair da crise”. Mal sabíamos
àquela altura a extensão e os tentáculos desse escândalo. Na ocasião, acenamos
com os primeiros erros na condução do imbróglio, a começar pela escolha da
presidente da Petrobras, Graça Foster, como “gerente da crise”. Ela foi várias
vezes ao Congresso explicar o inexplicável. Tornou-se a “cara” da crise, o que,
sob o prisma da Gestão de Crises, não é recomendável. Nesses casos, a gestão da
empresa precisa ser segregada da crise e, quando o CEO assume a tarefa de
gerenciar a crise, dificilmente tem condições de tocar o negócio. Ou pelo menos
não terá todas as energias voltadas para a gestão da empresa.
Provavelmente,
Graça Foster (vamos dar um voto de confiança, por enquanto) não soubesse
naquele momento até onde iria essa crise. E tinha o benefício de ter assumido o
cargo na gestão Dilma, fato que teria sinalizado uma mudança na direção.
Recomendávamos,
no artigo, a contratação de uma consultoria especializada em Gestão de Crises
para tentar pelo menos mitigar o impacto do escândalo na reputação da empresa.
A Petrobras demorou a reagir. E quanto reagiu foi reativamente. Só agora no fim
do ano, pressionada pelas auditorias externas, que se negaram a assinar o
balanço da empresa, por não terem certeza da situação financeira, ela contratou
escritórios independentes de auditoria para fazer uma varredura na empresa.
Para piorar o cenário, a Security Exchange Comission-SEC, órgão regulador do
mercado acionário americano, também abriu investigação para apurar
irregularidades na Petrobras.
O
Gabinete de Crise, que deve estar mobilizado full time, desde março passado,
quando estourou a crise da empresa, provavelmente tem pouca autonomia. Pela
influência e ascendência, por ter sido ministra das Minas e Energia, a
presidente Dilma deve ter o controle absoluto das ações do Gabinete de Crise,
que não deve ter liberdade para fazer o que quiser. Com isso, ficam bastante
restritas até mesmo as ações reativas da empresa. Pois elas sempre terão um
viés mais político do que gerencial.
Ou
seja, a Petrobras, ao não ter autonomia, pode estar sendo vítima de seu tamanho
e das implicações de sua crise, podendo se tornar símbolo – se a crise não for
bem administrada – do fracasso da gestão do governo Dilma. Uma das condições
para um gabinete de crise funcionar e ser efetivo numa crise é o poder de
decisão, a confiança absoluta do board da organização e a liberdade e coragem
de tomar decisões que realmente encaminhem a solução da crise.
Um
dos exemplos de que a Petrobras patinou nos esclarecimentos, foi o episódio que
envolve a empresa holandesa SBM Offshore, fornecedora da companhia. A
multinacional fez um acordo com o Ministério Público da Holanda para pagar US$
240 milhões em multas e ressarcimentos para evitar processo judicial por ter
feito “pagamentos indevidos”. Ou seja, propina a funcionários da Petrobras. Em
abril de 2014, a Auditoria da Petrobras não encontrou indícios de
irregularidades, na atuação da empresa, confessada por ela mesma. E a CGU agora
veio a público informar que investiga 20 funcionários da Petrobras por suborno
recebido da empresa holandesa. Por que só agora?
No
artigo publicado em abril, recomendávamos que, se a empresa quisesse
administrar essa crise efetivamente, deveria se livrar dos pruridos políticos e
fazer o que recomendam os especialistas numa situação tão grave. Afastar
imediatamente todos os suspeitos dos cargos. Melhor ainda: a presidente Dilma
deveria ter demitido toda a diretoria, quando o escândalo veio a público, em
março. Com isso, teria sofrido menos pressão na campanha eleitoral, preservado
em parte o nome da empresa de ficar sob bombardeio e teria dado um sinal ao
mercado e à sociedade de que estava disposta a esclarecer tudo e não poupar
ninguém.
Os
“pushers” da crise da Petrobras acabaram sendo o Ministério Público, a Polícia
Federal e o Juiz Federal, Sergio Moro.
Daí saem as notícias que alimentam a imprensa. Ou seja, a empresa, o
governo, o Congresso Nacional perderam o controle da crise, a comunicação e o
“timing”, por falta de competência, interesse ou medo. Ou foram atropelados
pelos fatos.
Os
episódios protelatórios envolvendo as duas CPIs, criadas para apurar, ou melhor
para enganar os incautos, são vergonhosos para o Congresso Nacional. Muitos
políticos, com receio de aparecerem nas delações dos acusados ou para preservar
os colegas, tentaram fazer uma acomodação, um arremedo de CPI. Blindaram os
depoentes, até mesmo com treinamentos, ao combinar perguntas e respostas nos
depoimentos. Pela displicência em apurar, foram atropelados pela PF e pelo MPF.
A
CPI virou apenas uma palco para holofotes. O governo, mais especificamente o
Palácio do Planalto, agiu apenas reativamente, quando a oposição ou a imprensa
intensificavam as críticas à gestão da Petrobras. A presidente Dilma se sente
pessoalmente atingida porque não é segredo que a empresa, desde o governo Lula,
sempre esteve sob o seu radar. Ela foi ministra das Minas e Energia e tinha
controle absoluto sobre a empresa.
O
ministério das Minas e Energia, a quem a empresa está subordinada, se omitiu
totalmente. O ministro da pasta, além de sumir na crise, provavelmente (como
acontece na gestão de energia, prestes a ter uma crise grave) não sabe 10% do
que está acontecendo. Se depender desse ministério, a reputação da Petrobras já
teria afundado de vez nas profundezas do Pré-sal.
A
Petrobras também ficou refém do governo e do Congresso. As respostas
burocráticas da empresa não serviram para esclarecer as denúncias. Investidores
nacionais e internacionais foram mais bem informados pela imprensa (com todos
os riscos inerentes à reportagens feitas no calor do período eleitoral) e pelos
depoimentos publicados do que pela empresa, até porque muito provavelmente
grande parte dela, incluindo funcionários e acionistas, se sente tão
surpreendida pelas revelações que saem dos porões da Polícia Federal quanto os
demais cidadãos.
Finalmente,
para culminar o desfecho surrealista desse escândalo, os brasileiros ainda
precisam aturar declarações de advogados que certamente deveriam fazer parte do
“festival de besteiras que assola o país”.
Mário Oliveira, advogado do lobista Fernando Soares, disse que “no
Brasil não se faz obra pública sem acerto”, tentando com isso justificar o que
seu cliente fazia, provavelmente. Ele pode ter acertado no atacado, mas perdeu
no varejo. Como a dizer que seu cliente fez, porque todo mundo faz. Além de
ofender todos os brasileiros, quis equiparar ao seu cliente milhares de tantos
homens públicos honestos que não fazem o jogo do chamado “Grupo Vip”.
A
outra pérola dos porões do escândalo é a afirmação de advogados das grandes
empreiteiras de que elas foram ou são “vítimas” de extorsão, no escândalo da
Petrobras. Elas superfaturavam os contratos e depois pagavam propinas a
servidores e políticos, além de intermediários, porque seriam prejudicadas nos
contratos ou em negócios futuros, se não o fizessem. Em bom português, isso se
chama chantagem. Ou pelo menos poderia ser considerado "crime de
concussão", quando um agente público exige para si ou para outrem vantagem
indevida.
Chantagem
ou concussão - não importa - deveria ter sido denunciado pelas empreiteiras.
Certamente, muitas empresas ou empresários já foram vítimas desse tipo de
crime, nem por isso aceitaram. Esse crime se resolve com denúncia, escancarando
e expondo o chantagista à execração pública. Se todo o mundo ficou quieto,
admitindo-se como verdade o depoimento de pelo menos dois executivos de
construtoras, é porque o “negócio” não era ruim para ninguém. Digamos que
funcionava como uma “ação entre amigos”.
Ao fim
e ao cabo, estamos diante de uma crise que desafia até os maiores experts
internacionais em gestão de crises. O mais lamentável de tudo isso é que um
grupo se apossou da Petrobras, sob o beneplácito das autoridades que a
comandavam, a começar pelo presidente da República, e fizeram gatos e sapatos,
sem que nenhuma dos órgãos de fiscalização da empresa ou do país descobrissem.
Custa
acreditar que ninguém fora do círculo dos poderosos que saqueavam a empresa
tenha sequer ouvido falar ou tenha percebido os negócios ilícitos que ali se
praticavam. O desserviço que essa quadrilha fez ao país e a uma das marcas mais
poderosas do Brasil é bastante semelhante ao que os 800 milhões de litros de
petróleo, vazados pela British Petroleum-BP, fizeram no Golfo do México, em
2010. Mancharam definitivamente a reputação da empresa, causando um estrago
econômico, financeiro e reputacional que levará muitos e muitos anos para ser
recuperado.