sexta-feira, 18 de maio de 2012

Vamos morrer abraçados!


Esta semana a greve no setor de educação completou 30 dias de muitas polêmicas e partidários pró e contra o movimento dos educadores, que capitaneado por um sindicato de identidade abalada pelos meandros políticos parece fazer com que ao mesmo tempo em que se avança um passo se retroceda dois.

As mesas de negociação tem tido de tudo menos consenso e ponderação de ambos os lados e ao que tudo indica o tão sonhado piso não alcançará nem o alicerce sonhado pelos mais ferrenhos defensores, ou pelo menos uma adequação decente a uma profissão que é mãe de todas as outras.

Dei muitos anos de aulas aos mais diversos segmentos e fases da educação. Sei bem a dura vida de um professor, que entrega boa parte de sua juventude e saúde em função daquilo que acredita e ainda mais quando se doa de corpo e alma sabendo que riquezas e glorias não o aguardam no fim do túnel da aposentadoria, que muitas vezes vem por um calo nas pregas vocais ou por que se deu pelo dever cumprido, de muitas lutas inglórias.

Tentar jogar o manto da politica em um movimento sindical reconhecido como justo e legal, é dar um tapa nas faces de educadores que ao contrário de muitos que coabitam nas relações político-partidárias e se beneficiam disso tentando marginalizar os professores que somente buscam não o justo nem o suficiente, pois ambos não chegam nem perto do retorno digno à profissão, é crime maior, mas não o punível pelo CPC, mas pelo pecado do menosprezo com a classe a ação de muitos dissidentes de uma causa una.

As mesas de negociação se mostraram um grande engodo, pois não há negociação e sim oferta pronta e esta não se negocia nem se discute; se proclama. Mas ao alardear que se debate socialmente, tanto os prepostos do governador, quanto os representantes da classe em litígio, é bravata para quem nada vê por trás das paredes de eucatex da sala de reuniões.

Veem-se membros da própria classe que em concubinato com interesses e benesses governistas que saem à cata de correligionários a bancar os apátridas e contribuir com firma para forçar uma assembleia geral e assim arraigar as ideias desferidas pela proposta governista de que 15,56% é mais do que justo, é o peso e a medida de quanto vale o trabalho de cada um deles.

Vejo sindicalistas que banhados pelo mar e queimados pelo sol de tantas lutas por tantos direitos, hoje se confessarem indignados ante a intransigência dos prepostos governistas, que em um ato sem medidas de desprezo à classe. Anunciaram negociações a torto e a direito, quando na verdade na ultima rodada, o que se viu foi nada mais do que despeito puro e o brilho de ódio nos olhos de quem vê uma mácula no mundo perfeito e maravilhoso pintado em campanha aos quatro cantos do Amapá.

Alegando que se o governo sofre desgaste o sindicato também terá suas feridas. Em tom de forte contenda de fera acuada, viu-se nas palavras de um destes gestores de auditório a máxima de que não se arredará um pé em função do já ofertado e que se for para morrer, que morram todos abraçados.

Politica de quem nada tem a somar ou ideias para se equacionar problemas e que no fim de tudo, vê-se que nem gerir, nem negociar e nem mesmo saber a hora de “colocar os trapinhos na mucuta e pegar o beco”, como se diz no submundo, é de conhecimento de uma turba que se instalou pelas urdidas fazendas da mãe destino, costuradas pela linha da sorte. Hei de ver; que como já dizia meu autor favorito: Não há bem que sempre dure, nem mal que dure para sempre. Mas não morro abraçado em vala comum por uma ideia natimorta de uma ideologia capenga.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Navalha na carne dos juros


Na cabeça de Bertolt Brecht a Ópera de Três Vinténs ambientada no Soho, um bairro que abriga a boemia de Londres, contando a história do carismático anti-herói Macheath, apelidado de Mac Navalha. Cercado de mendigos, ladrões e prostitutas, Mac Navalha, um estereótipo de Don Juan do submundo, miscigena o amante, o cavalheiro e o ladrão. A trama que poderia ser uma comédia situacional é um grande celeiro onde são desveladas as verdadeiras relações sociais, políticas e financeiras contidas nessa história de amor ordinária.

Mas não foi para fazer uma crítica literária sobre Brecht que dispensa tais catarses, mas sim sobre uma fala do personagem que me remete a corroborar o pensamento de Maílson da Nóbrega sobre as ações dos bancos em detrimento à falácia governista de bancar o indulgente e fazer a usura desaparecer.

Mas (...) o que é roubar um banco comparado a abrir um banco?

Assim já dizia o anti-herói de Brecht. Colocando abertamente o poder usurário das casas bancárias contrariando até a bíblia, que o condena. Mas os bancos serão mesmo os Mac Navalhas da história do brasileiro ou simplesmente apenas demonizamos o lado errado da moeda?

Afinal é unanime se falar mal de governos, sogras e bancos. Pois o pensamento institucional é de que um banco será sempre uma porta de vidro com moças sorridentes e rapazes engravatados onde você entra e pega dinheiro emprestado dando como garantia a sua alma e a certeza de que você não precisa do dinheiro.

Desde que o ser humano descobriu que se pode intermediar valores auferindo lucro por isso, os bancos já tem esta imagem comprometida perante o publico. Os serviços de intermediação financeira ainda são muito pouco entendidos pela população e considerados caros demais até pelos abastados da vida.

Eu até compreendo que a presidente Dilma queira ser a mãezona de muitos PACs e outros feitos heroicos dentre eles a luta colossal contra os juros bancários. O discurso populista de Dilma no dia do trabalhador encheu de lágrimas qualquer um que tenha um carnê com no máximo 80 folhas impressas por códigos de barras e valores a pagar a diminuir o volume ao longo dos anos. A presidente ao dizer que não crê que um sistema bancário dos mais sólidos e lucrativos, continue com juros tão altos.

Talvez a presidente nunca tenha atrasado uma fatura do seu cartão de crédito e sentido o peso da mão dos juros draconianos praticados pelas administradoras em função do risco cliente-inadimplência. Ou que jamais tenha precisado recorrer a um empréstimo sem garantias alienáveis.

Realmente os juros em países da Europa são menos exorbitantes do que no Brasil, mas temos que convir que a politica fazendária nestes países fez as coisas chegarem no estagio em que estão atualmente; uma Europa em crise de riscos de quebra não de bancos, mas de nações inteiras.

Talvez o processo de demonização dos bancos brasileiros seja menos avassalador do que reza a lenda, de que banqueiro faz de nossas vidas o que Mefistófeles pretendia com doutor Fausto. Talvez não haja só uma perversidade das instituições e concupiscência dos donos de bancos. Mas também existam as maiores expressões de vilania e  sejam as tributações das transações financeiras e o volume de recursos que os bancos são obrigados a recolher ao Banco Central. Em ambos os casos não há comparativo existente ao brasileiro em nenhum canto do mundo.

Talvez a politica futura, bem futura se depender da boa vontade de governo e banqueiros. O cadastro positivo, que seria uma espécie de premiação para o bom pagador. Que hoje paga a conta dos juros junto com o risco do inadimplente. Seja beneficiado com juros mais baixos, condizentes com a sua condição de honra contratual. Mas estes são mecanismos que dependem de muita vontade multilateral dos envolvidos. Coisa que a presidente parece ainda não compreender: O mercado financeiro sofre interferências sim, mas jamais aceita a coleira e amansa diante de uma canetada presidencial.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Cada um com seu cada qual


O senador Fernando Collor de Melo, mais do que o deputado Francisco Everardo Oliveira Silva (o tiririca), deveria se achar um estranho no ninho, mais do que o deputado e ex-comediante tiririca, já que fazer parte da comissão de educação da câmara dos deputados não deve ser um papel tão ruim para uma pessoa com grandes dificuldades de leitura e escrita, como é o caso do deputado que no inicio do mandato foi inquirido para verificação se dominava escrita e leitura.

Dadas as dificuldades do MEC em gerir procedimentos como o ENEM e outras peripécias não muito louváveis, talvez a presença de tiririca na comissão de educação faça alguma diferença crítica. Mas no caso de Collor, o papel que ele tomou para si é bem mais esdrúxulo que um analfabeto funcional na comissão de educação, até por que as deficiências de tiririca se resolvem com aulas particulares do abecedário, já as culpas de Collor, talvez sejam caso de absolvição divina.

Ao perder o mandato de presidente da República e os direitos políticos há 20 anos, depois de uma conturbada e ampla investigação no congresso. Collor esperou no limbo, aparecendo em programas de futilidades, falando de como a vida é bela (sem a casa da Dinda), e subitamente em 2010 amealhou um mandato de senador pelo estado de Alagoas, que parece ter tudo; menos memória.

Memória também parece não ter Collor já que atualmente investido no papel de tarefeiro dos interesses dos petistas mais fundamentalistas que um dia foram seus carrascos mais implacáveis.  Mas o que se surge é um Collor reencarnado, com pose e arrotos de moral e bons costumes. O arauto da moralidade em pessoa e alma (ainda restará alguma?).

Poderia eu expressar alguma indulgencia sobre um homem que teve depositada toda a confiança de uma nação e que por um átimo tirou tudo de cada um dos mais pobres? Por que eu teria esta indulgencia, esta contrição forçada só por que nosso ex-presidente costurou junto com uma equipe econômica venusiana o confisco da poupança de cada um dos reticentes brasileiros durante seu curto período no planalto.

Mesmo com a pena cumprida, ainda não consigo deglutir as ações deste moço, mesmo que os anos tenham passado, mesmo que tenham devolvido a minha e as muitas poupanças em 18 sofridos meses, nem mesmo pelos amigos que vi entrarem em decadência e alguns até mais radicais, ou deram golpe no seguro ou colocaram mesmo a azeitona na testa, por causa das brincadeiras de Collor.

O ex-presidente faria um papel mais crível no ostracismo, da de politico que pagou por seus erros e foi escrever livros do tipo Barbara, Bianca ou Sabrina. Mas nada disso é crível, já que Collor conseguiu na justiça a única coisa que mais lhe interessava para os seus planos futuros: a isenção de culpa. Já que de todos os crimes de que foi acusado, a justiça lhe deu esterilidade processual, pois nenhum dos processos contra ele prosperou. Mas no final de tudo no tribunal de nossa consciência ainda pesam sobre o pesado mea culpa.

Mas revestido do manto da moralidade e idoneidade, vemos um Collor com o poder de investigar pessoas dentro da CPI do Cachoeira. O mesmo sujeito que quando presidente da República tinha um esquema de arrecadação de propinas comandado por PC Farias que foi unha e cutícula desde os tempos da tesouraria da campanha presidencial. O mesmo PC que gerenciou uma rede de doleiros, contas-fantasma e laranjas, que abasteciam com extorsão de empresas, cobrindo até mesmo as despesas pessoais e o modo de vida nababesco de Collor na casa da Dinda. Antes caçador de marajás, depois o próprio soba.

O estilo colorido de ser se arraigou pelo congresso. Deputados se orgulhavam de pertencer à Nova República das Bananas de Alagoas e marchavam armados (literalmente!) com Collor rumo a um novo Brasil que só existia nas cabeças de Kandir, Magri e Zélia que fazem muito bem em se manter na ostra pela eternidade em que estão.

Esses arroubos de moralidade, justaposta e anacrônica ainda reverberam na minha perturbada cabeça, assim como as palavras de Pedro Collor ao desabar o esquema do mano presidente e de uma Elba (antes eram carros da Fiat, agora são eletrodomésticos) suspeita.

Ou até mesmo a lembrança mais pungente ao assistir a votação sobre a cassar ou não cassar Collor. De todos os 503 deputados da época, meu cérebro só consegue lembrar-se de um único parlamentar, que com corpo avantajado e voz de barítono, tecia loas, como um nazista na forca, ao defender e elogiar até o fim a justificativa de seu voto contra cassar Collor. O atual presidente do PTB e denunciador do mensalão após ser excluído do propinoduto: Roberto Jefferson.

A concha é grande tem espaço para muitos...
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