Imagine a seguinte cena:
na hora do almoço, você passa na frente de um grande centro comercial, cheio de
restaurantes. Ao lado deles, você vê de relance um estande com uma grande placa
que diz "Dinheiro de graça".
Você passa mais perto para
ver do que se trata e na frente do estande, vê uma placa menor com a indicação
do valor disponível. Estudantes estão dentro do estande e no balcão está uma
pilha de notas de dinheiro no valor estabelecido.
Se a expressão "de
graça, até injeção na testa" fosse verdadeira em todos os momentos, as
notas de dinheiro se acabariam logo. O processo seria todo tão rápido que as
suas chances de chegar a tempo no estande seriam ínfimas. Provavelmente, você
nem teria ficado sabendo que havia uma distribuição de notas de dinheiro de
graça no seu percurso do almoço.
No entanto, algo não
parece certo. Aqui parece reinar uma outra expressão, preferida por
economistas, de que "não existe almoço grátis" (por sinal, apropriada
para a ocasião). Estamos sempre certos de que existe alguma intenção escondida
ou uma pegadinha pronta. Afinal, por que alguém distribuiria dinheiro de graça,
sem ter nada em troca?
Neste caso, o motivo é
simples: para estudar o nosso nível de desconfiança. Se você foi um dos que
passou pelo estande que Dan Ariely, autor de "Previsivelmente Irracional"
montou em uma manhã em um centro comercial em Cambridge, no Massachusetts, as
chances de que você parou para pegar a sua nota de dinheiro gratuita são
baixas.
Quando a placa dizia que
você podia pegar uma nota de US$ 1, apenas 1% dos passantes foram buscar a sua.
Conforme a oferta subia (para US$ 5, US$ 10, US$ 20), o número de pessoas que
pegava uma aumentava, mas ainda assim, muito pouco. Mesmo quando ofereceram US$
50, apenas 19% dos passantes parou para pegar uma nota.
"Claramente, a grande
maioria acreditou que era algum tipo de truque de tal forma que não valia a
pena nem perguntar", relata Ariely. Afinal, vemos tantos esquemas dúbios,
empresas corruptas, ofertas enganosas e propagandas exageradas que somos todos
muito desconfiados, até de quem não precisa.
O alto nível de
desconfiança generalizada encontrado com este estudo revela um cenário grave,
pois a confiança funciona como um "lubrificante" da economia, segundo
Ariely: "quando as pessoas confiam umas nas outras, elas tendem mais a
comprar, emprestar e conceder crédito". Sem confiança, temos mais
dificuldade de acreditar em quem merece e até de se manter correto, em um mundo
onde todos tentam tirar vantagem dos outros.