Bertold
Brecht não errou um só milímetro ao desferir a pérola “O que é roubar um banco,
em comparação com fundar um banco?” Na verdade o contexto fica desfocado quando
colocamos sob a luz de fatos contemporâneos que cada vez mais nos indignam
menos, afinal o que é uma falta de ética ou um pecadilho diante de tantos
quadros indecentes que vemos diariamente?
Como
um Marco Feliciano que nem consegue mais chocar as minorias que diz comandar de
sua comissão desacreditada e que passou despercebida sua tragicômica incursão
diante do ministro da justiça para pedir clemência para seu correligionário de
fé, acusado de estupro.
Ainda
assim já não conseguimos mais nos indignar profundamente quando um dos
pressupostos bastiões da justiça suprema, o ministro Ricardo Lewandowski,
aparece estampado na Veja, como o benfeitor na arte de aprovar as reprovadas
contas de campanha tanto dos mensaleiros quanto da própria Presidente da
República.
No
mais ladino dos jeitinhos brasileiros, aparecem casos que a cada dia chocam menos,
afinal a teoria da banalidade do mal já chegou a tal patamar, que se perde mais
tempo em defesas teatrais, em brejeirices sem fim no intuito de perpetua-se no
palco sob os holofotes eternos do poder.
Estes
e outros fatos nos encaminham para uma contracultura tão intensa da ausência da
ética que logo, logo vejo um futuro negro onde estaremos ensinando às crianças
que a melhor educação é ensiná-los a serem bandidos.
Mas,
antes de chegarmos a isso, façamo-nos uns cândidos questionamentos: podemos
melhorar, em termos de sociedade, no que se refere ao respeito da lei e da
ausência dela? É possível convencermo-nos, e convencermos os outros, de que
seguir os preceitos éticos ainda são absolutamente necessários? Ou viveremos
nas exceções?
Afinal
temos essa mania de ensinar a nossos filhos a seus filhos a virtude da ética,
mas ao mesmo tempo fechamos os olhos tanto na hora de ultrapassar um sinal
vermelho quanto na hora de nos abstermos de manifestação diante das formações
de quadrilha que fervilham como larvas no esterco em quase todos os segmentos
da sociedade.
Ocorre
então que no Brasil a lei tem papel mais indicativo do que prescritivo. Todos
concordam que se deve parar no sinal vermelho – e a grande maioria o faz. Mas a
pressa, o fato de não estar vindo um carro pela outra via ou a demora no sinal
justificam eventualmente passar no sinal vermelho.
A
lei deixa de ser lei para se tornar uma referência, apenas; ou, pior, algo que
espero que os outros respeitem absolutamente, mas que infringirei quando acham
“justificado” fazê-lo. É o que se vê principalmente nas eloquentes defesas de
políticos pilhados no ato infame e por muitas vezes utilizam daquelas retóricas
já obsoletas que não convencem mais.
Em
alguns casos, usam até eventos distorcidos e que de tão rebuscados
desconhecem-lhe o efeito, como em uma recente defesa política na qual se
invocou a infame “espada de Dâmocles” como sinônimo réprobo de justiça
infalível. Vale lembrar ao usuário, que tal expressão é uma alusão,
freqüentemente usada, para representar a insegurança daqueles com grande poder
que podem perdê-lo de repente devido a qualquer contingência ou sentimento de
danação iminente. Logo, mesmo que por acidente aplica-se perfeitamente na
situação atual do usuário em sua passagem no conselho de ética do senado.