quarta-feira, 14 de agosto de 2013

E a ética deixa de ser lei

Bertold Brecht não errou um só milímetro ao desferir a pérola “O que é roubar um banco, em comparação com fundar um banco?” Na verdade o contexto fica desfocado quando colocamos sob a luz de fatos contemporâneos que cada vez mais nos indignam menos, afinal o que é uma falta de ética ou um pecadilho diante de tantos quadros indecentes que vemos diariamente?

Como um Marco Feliciano que nem consegue mais chocar as minorias que diz comandar de sua comissão desacreditada e que passou despercebida sua tragicômica incursão diante do ministro da justiça para pedir clemência para seu correligionário de fé, acusado de estupro.

Ainda assim já não conseguimos mais nos indignar profundamente quando um dos pressupostos bastiões da justiça suprema, o ministro Ricardo Lewandowski, aparece estampado na Veja, como o benfeitor na arte de aprovar as reprovadas contas de campanha tanto dos mensaleiros quanto da própria Presidente da República.

No mais ladino dos jeitinhos brasileiros, aparecem casos que a cada dia chocam menos, afinal a teoria da banalidade do mal já chegou a tal patamar, que se perde mais tempo em defesas teatrais, em brejeirices sem fim no intuito de perpetua-se no palco sob os holofotes eternos do poder.

Estes e outros fatos nos encaminham para uma contracultura tão intensa da ausência da ética que logo, logo vejo um futuro negro onde estaremos ensinando às crianças que a melhor educação é ensiná-los a serem bandidos.

Mas, antes de chegarmos a isso, façamo-nos uns cândidos questionamentos: podemos melhorar, em termos de sociedade, no que se refere ao respeito da lei e da ausência dela? É possível convencermo-nos, e convencermos os outros, de que seguir os preceitos éticos ainda são absolutamente necessários? Ou viveremos nas exceções?

Afinal temos essa mania de ensinar a nossos filhos a seus filhos a virtude da ética, mas ao mesmo tempo fechamos os olhos tanto na hora de ultrapassar um sinal vermelho quanto na hora de nos abstermos de manifestação diante das formações de quadrilha que fervilham como larvas no esterco em quase todos os segmentos da sociedade.

Ocorre então que no Brasil a lei tem papel mais indicativo do que prescritivo. Todos concordam que se deve parar no sinal vermelho – e a grande maioria o faz. Mas a pressa, o fato de não estar vindo um carro pela outra via ou a demora no sinal justificam eventualmente passar no sinal vermelho.

A lei deixa de ser lei para se tornar uma referência, apenas; ou, pior, algo que espero que os outros respeitem absolutamente, mas que infringirei quando acham “justificado” fazê-lo. É o que se vê principalmente nas eloquentes defesas de políticos pilhados no ato infame e por muitas vezes utilizam daquelas retóricas já obsoletas que não convencem mais.


Em alguns casos, usam até eventos distorcidos e que de tão rebuscados desconhecem-lhe o efeito, como em uma recente defesa política na qual se invocou a infame “espada de Dâmocles” como sinônimo réprobo de justiça infalível. Vale lembrar ao usuário, que tal expressão é uma alusão, freqüentemente usada, para representar a insegurança daqueles com grande poder que podem perdê-lo de repente devido a qualquer contingência ou sentimento de danação iminente. Logo, mesmo que por acidente aplica-se perfeitamente na situação atual do usuário em sua passagem no conselho de ética do senado.
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