terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Insistindo no erro


Até um passado não tão distante, o prato preferido do nortista era o açaí, peixe frito ou charque e a tradicional farinha de mandioca. Itens indispensáveis na cesta básica de paraenses e amapaenses. Mas ao nos depararmos com os já inacessíveis preços do peixe e do charque, fica fácil entender por que o prato da população mais pobre tem ficado cada vez mais vazio a cada dia que se passa.

Mas a pá de cal não foi jogada em cima do açaí como era de imaginar, mas sim em cima da secular herança indígena que nos foi dada através da cultura da mandioca e seus derivados. A farinha está cada vez mais distante das possibilidades do prato nosso de cada dia.

Galopantes variações de preços, causadas pela ação famigerada de atravessadores tem elevado o preço do item às nuvens, por uma causa ainda não conhecida. Pois ao contrario das culturas de cacau e banana que foram dizimados em décadas passadas pelas pragas da vassoura de bruxa e Sigatoca-negra. Da mandioca não se tem noticia de lavouras arrasadas por pragas ou intempéries meteorológicas.

Hoje, com menos de seis reais o amapaense não leva à mesa um item que aos poucos vem se incorporando ao cardápio das iguarias inacessíveis, quase como um caviar ou trufas. Talvez devêssemos nos perguntar que atitude esta sendo tomada para conter esta especulação desenfreada em cima do preço da farinha de mandioca.

Afinal se um quilo de farinha de trigo de boa qualidade, que tem a capacidade de fartar cinco pessoas e custa em torno de três reais e vem a partir de um insumo importado, como é o caso do trigo. Porque a farinha de mandioca, de produção regional consegue se alavancar em quase cem por cento acima do trigo? Esse ainda é um mistério até agora sem solução.

Como era de se esperar, a tribo dos que moram no reino de Oz e não no Amapá, resolveu se pronunciar com um pacote milagroso de incentivos para tentar diminuir a importação de farinha de mandioca oriunda do estado do Pará.

Sabe-se que o Amapá, não produz nem um terço do que se consome entre mujicas e pirões de seu dia a dia. Talvez se fossemos buscar a origem disso em décadas passadas, seríamos forçados a nos lembrar do famigerado PDSA, que sob o manto milagroso de “uma atitude de um homem de visão” foi instituído para somente levar o Amapá na direção contraria daquele desenvolvimento a que se propunha.

Dezenas de tachos e fornos de farinha foram distribuídos pelos municípios amapaenses. O único porém nesta desastrada ação, é que ela tinha mais foguetórios e falatórios do que planejamento e ação. O resultado a gente já conhece: O tal plano de desenvolvimento sustentável foi às favas e com ele os brios de seu idealizador mor em sobreviver a sombra desta catarse desenvolvimentista.

Talvez seja esta a maior lição aprendida pelos entusiastas que hoje já não mais defendem a “reinvenção da pólvora” de Capiberibe e sua trupe. Mas pelo que se vê, não à boca miúda, mas em alto e bom som é novamente o governo do estado estar acenando para os agricultores com esmirrados um milhão e meio, em um segmento que precisa de investimentos sólidos e não esta pantomima, que com a cara meio sem graça forçam a governadora em exercício a endossar. Com este valor irrisório, não se faz nem ao menos uma roça de mandioca para abastecer um quarto do consumo do estado, imagine incentivar a redução da importação do produto.

Prova concreta que o que se sabe de menos é fazer projetos sérios e que se proponham a resolver uma crise como esta. Mas como no passado, os foguetórios e falatórios parecem brotar da terra em uma velocidade e custo bem maior do que o que a mãe natureza consegue fazer florescer a boa e velha mãe Mani para aplacar a fome do amapaense que clama pelo amido da terra.
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