Até
um passado não tão distante, o prato preferido do nortista era o açaí, peixe
frito ou charque e a tradicional farinha de mandioca. Itens indispensáveis na
cesta básica de paraenses e amapaenses. Mas ao nos depararmos com os já
inacessíveis preços do peixe e do charque, fica fácil entender por que o prato
da população mais pobre tem ficado cada vez mais vazio a cada dia que se passa.
Mas
a pá de cal não foi jogada em cima do açaí como era de imaginar, mas sim em
cima da secular herança indígena que nos foi dada através da cultura da
mandioca e seus derivados. A farinha está cada vez mais distante das
possibilidades do prato nosso de cada dia.
Galopantes
variações de preços, causadas pela ação famigerada de atravessadores tem
elevado o preço do item às nuvens, por uma causa ainda não conhecida. Pois ao
contrario das culturas de cacau e banana que foram dizimados em décadas
passadas pelas pragas da vassoura de bruxa e Sigatoca-negra. Da mandioca não se
tem noticia de lavouras arrasadas por pragas ou intempéries meteorológicas.
Hoje,
com menos de seis reais o amapaense não leva à mesa um item que aos poucos vem
se incorporando ao cardápio das iguarias inacessíveis, quase como um caviar ou
trufas. Talvez devêssemos nos perguntar que atitude esta sendo tomada para
conter esta especulação desenfreada em cima do preço da farinha de mandioca.
Afinal
se um quilo de farinha de trigo de boa qualidade, que tem a capacidade de
fartar cinco pessoas e custa em torno de três reais e vem a partir de um insumo
importado, como é o caso do trigo. Porque a farinha de mandioca, de produção
regional consegue se alavancar em quase cem por cento acima do trigo? Esse
ainda é um mistério até agora sem solução.
Como
era de se esperar, a tribo dos que moram no reino de Oz e não no Amapá,
resolveu se pronunciar com um pacote milagroso de incentivos para tentar
diminuir a importação de farinha de mandioca oriunda do estado do Pará.
Sabe-se
que o Amapá, não produz nem um terço do que se consome entre mujicas e pirões de
seu dia a dia. Talvez se fossemos buscar a origem disso em décadas passadas,
seríamos forçados a nos lembrar do famigerado PDSA, que sob o manto milagroso
de “uma atitude de um homem de visão” foi instituído para somente levar o Amapá
na direção contraria daquele desenvolvimento a que se propunha.
Dezenas
de tachos e fornos de farinha foram distribuídos pelos municípios amapaenses. O
único porém nesta desastrada ação, é que ela tinha mais foguetórios e
falatórios do que planejamento e ação. O resultado a gente já conhece: O tal
plano de desenvolvimento sustentável foi às favas e com ele os brios de seu
idealizador mor em sobreviver a sombra desta catarse desenvolvimentista.
Talvez
seja esta a maior lição aprendida pelos entusiastas que hoje já não mais
defendem a “reinvenção da pólvora” de Capiberibe e sua trupe. Mas pelo que se
vê, não à boca miúda, mas em alto e bom som é novamente o governo do estado
estar acenando para os agricultores com esmirrados um milhão e meio, em um segmento
que precisa de investimentos sólidos e não esta pantomima, que com a cara meio
sem graça forçam a governadora em exercício a endossar. Com este valor
irrisório, não se faz nem ao menos uma roça de mandioca para abastecer um
quarto do consumo do estado, imagine incentivar a redução da importação do
produto.
Prova
concreta que o que se sabe de menos é fazer projetos sérios e que se proponham
a resolver uma crise como esta. Mas como no passado, os foguetórios e
falatórios parecem brotar da terra em uma velocidade e custo bem maior do que o
que a mãe natureza consegue fazer florescer a boa e velha mãe Mani para aplacar
a fome do amapaense que clama pelo amido da terra.