sábado, 14 de janeiro de 2012

Crítica Literária: "A Arte da ficção" - David Lodge

“Quando um romance começa? A pergunta é quase tão difícil de responder quanto dizer com precisão em que momento o embrião humano se torna uma pessoa”. Pois essa é só uma parte do começo de A arte da ficção, livro de David Lodge que, após sair em formato convencional, foi lançado na Coleção L&PM POCKET. Nas suas 256 páginas, Lodge oferece trechos de grandes autores para exemplificar os manejos da criação de uma obra literária.

Com Jane Austen, ele exemplifica “o começo”, “o clima” e “o fim”. Usa George Eliot para falar do “autor intrometido”. Thomas Hardy serve para mostrar como se constrói “o suspense”. Virgínia Woolf aparece no capítulo “fluxo de consciência”. James Joyce é o escritor escolhido para demonstrar o “monólogo interior”. A “repetição” fica a cargo de Ernest Hemingway.

Vladimir Nabokov foi escolhido para os leitores entenderem a “prosa floreada”. E ainda há Edgar Allan Poe, George Gissing, Samuel Beckett e vários outros. Ao todo, são cinqüenta artigos que oferecem um incrível passeio pelo universo da ficção. Justamente por usar trechos de livros e oferecer uma linguagem coloquial, Lodge que por mais de vinte anos lecionou literatura na Universidade de Birmingham. Consegue conquistar não apenas aqueles que escrevem (ou que tem pretensões de escrever), mas principalmente os que desejam saber o que se passou na cabeça dos que criaram suas histórias preferidas. Uma leitura esclarecedora e estimulante que agora cabe em todos os bolsos.

Originalmente publicados nos jornais Independent on Sunday e Washington Post, estes textos falam com inteligência ao leitor comum, não apenas a especialistas e acadêmicos. Lodge utiliza sua experiência como premiado romancista, bem como professor e crítico, para revelar truques para leitores e escritores aspirantes. Ironia, divisão em capítulos, narrador não confiável, epifania, coincidências, apresentação de personagens, romances experimentais; "A arte da ficção" é analisada sob estes e outros prismas, e cada tópico é ilustrado por passagens tiradas de romances clássicos e modernos da língua inglesa.

Para oferecer um novo horizonte de apreciação literária, bem como para tornar acessível a todos a riqueza e a variedade da literatura. Termos como "monólogo interior", "metaficção", "intertextualidade" e "polifonia", por exemplo, são explicados com uma clareza pouco vista nas obras de crítica literária. Essas características fazem de A arte da ficção uma leitura essencial para estudantes, escritores iniciantes e qualquer pessoa interessada em entender como funciona a literatura.

Vale a pena conferir:

"A Arte da Ficção"
David Lodge
Editora LP&M em Português
256 paginas
R$ 26,00

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

De Macondo à Macapa

“Macondo é uma cidade de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos”.

Assim Gabriel Garcia Marques descreve a cidade que faria parte de sua literatura em muitos contos, entre eles meu preferido “Cien años de Soledad” no qual retrata a saga de uma pequena vila que desponta ao longo de um século em crescimento populacional, progresso, política, mas cercada das mais estapafúrdias esquisitices que se pode sonhar acontecer em uma cidade.

Mas do universo fantástico de Garcia Marques, podemos importar alguns tópicos do que fatalmente não tem como comparar com a fantasia do criador da família Buendía e seus personagens surreais. À tão incomum capital amapaense.

Assim como Macondo, Macapá nasceu povoado, quase um assentamento, afim de proteger a foz de entrada de um rio estratégico, mas quase sem contato com o mundo exterior. Sua economia ao invés de se basear na Companhia Bananeira se baseou na economia da ICOMI, o que lhe rendeu quase meio século de depredação e exploração, deixando um imenso buraco azul no meio da serra.

Macondo também tinha seus personagens folclóricos, assim como Macapá teve seu momento Barcelos que entrou para o cancioneiro popular como politico anedota, assim como aconteceu com Vargas e Barata. Outros também tentam entrar nesta vida e virar lenda, mas ainda não estão prontos, mas batalham arduamente para isso.

Cada vez mais me convenço que esta terra vive em um mundo realmente paralelo, com políticos que tentam a cada pleito convencer a população de que tudo será diferente e as coisas vão ser melhores, simples tática de convencimento que ainda convence muito, já que a maioria dos pleitos conta com forte aporte de capital para captar o sufrágio legal ou ilegalmente, que vão desde a velha carrada de aterro e as cestas básicas, até novidades como carrinhos de churrasco e ecobikes.

Em uma terra onde o governo é quase uma junta governativa, tantos interessados existem a opinar nos rumos e decisões onde apenas um único eleito teria direito de fazê-lo, é obvio que não tardaria para que mais um aparecesse com o brado de mudar sem esperar, surgindo assim um governo paralelo, perpendicular ou adjacente, que de nada reflete o legalmente constituído, se visto por uma opinião pública dividida em castas, quase sociedade indiana.

O que se esperar de uma cidade onde a mídia que por luta e por ideologia, conseguiu uma liberdade de exposição de idéias e privilégios quase sacerdotais de proteger as fontes, cambem para um dos lados ou para uma das vertentes destas castas, onde dissidentes dentro dos próprios núcleos se digladiam. Não só nas ruas como nos meios disponíveis.

Onde para um povo tão pobre, uma assembleia tenha tantos anseios de gastos que não acompanham a realidade de uma economia que cada vez mais dependente de repasses e mesadas da união, parece sentir-se em outro mundo, quem sabe em Macondo mesmo.

Subir ao mundo, vê-se pseudo-comunicadores exercendo o puro aristotelismo e expondo ao ridículo as suas deformidades, e talvez em um anseio do nada dizer, derramam não só café em cima de seu povo, mas em jocosos atos de ignorar a sua existência amparando-se em argumentos e regras que os blindam de qualquer dano, assim como os vidros peliculados de seus carros não populares.

Em uma terra onde prefeito e governador são primos e pela natureza genealógica desta terra, é muito capaz que não só toda a situação como toda a oposição tenham alguma consanguinidade é de se estranhar as divergências de opinião como se todos estivessem constantemente sobre um tabuleiro de xadrez em beligerância total, onde a natureza de um comportamento maniqueísta cria um clima de rivalidade eterna.  

Terra esta que parece agora ansiar pelos anos duros dos generais de plantão, onde por simples suspeição ideológica se era capaz de desaparecer em uma noite qualquer e nunca mais se ouvir falar de quem quer que fosse o divergente do sistema. Ou que o pároco local tenha que deixar sua messe para ir correr atrás da saúde pública para os que se esfacelam pelo câncer.

A arrogância de cada um se faz pensar o quanto parecem invisíveis, mais do que “transparentes” os principais interessados, que são a maioria, da população que nem politizada é, mas que assiste com perplexidade e muito pouco entendimento do que realmente esta acontecendo a sua volta.

Mesmo com as propostas de mudança, ou esperança de harmonia, sabe-se lá sua cor; branca, verde, amarela ou azul, desde que venha, mas que venha tirar esta mancha de uma terra onde os sortilégios fazem com que tanto prefeito e governador sejam presos, onde senadores e deputados são cassados por compras de voto a prestação, ou de políticos que entram e saem dos mandatos ao humor da interpretação da lei.

Enfim Macondo é aqui em Macapá! Cercada de fantasias, plumas e paetês. Cheia de personagens e personalidades onde mais cedo ou mais tarde um deles assumirá o papel de José Arcádio Buendiá, primeiro protagonista do livro de Gabriel; que sonhava com uma cidade onde as casas tinham paredes de espelho...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O que uma Capivara não faz...

Uma grande celeuma se formou nesta tarde em cima de algo que não era novidade nenhuma para quem realmente sabe como as coisas funcionam na mente de quem realmente tem um plano.

Desde que anunciou o Governo Paralelo, o ex-senador Gilvam Borges iniciou uma cruzada contra o governo dos Capiberibes. Munido de um discurso “revolucionário”, o cruzado Borges anunciou um plano audacioso para afrontar não só o governador, como também ao seu maior desafeto o senador João Capiberibe.

Na manhã de hoje, munido de um trator, discurso e dedo no pavio do canhão, encaminhou-se para a Duca Serra para iniciar uma pavimentação e sinalização da via, onde realmente acontecem muitos acidentes. Dizendo Gilvam, que se o governo oficial não faz o paralelo faz e ensina a fazer. Começaram as obras.

Convidando através da mídia, quem quer que fosse para tomar um cafezinho com ele, Gilvam sentou-se embaixo de uma barraca e aguardou pacientemente o que alguns acharam infantilmente que seriam máquinas da SEINF para ajudar as obras a acontecerem. Ledo engano. Mas quem apostou nas viaturas da policia ambiental, acertou na mosca, já que ao que parece, não só os partidários de Gilvam como ele próprio, aguardavam pelas viaturas.

Inocência total dos estrategistas do governo do PSB, já que a intenção premeditada era exatamente essa. Mas se divulgar perde a graça. E assim foi Gilvam conduzido para o CIOSP do Pacoval, e junto com ele uma massa de curiosos, jornalistas e até mesmo desafetos.

Na noite anterior até ofereci ajuda ao ex-senador, mas ao ver declinar, entendi perfeitamente que a tática de Gilvam era mesmo, se oferecer em holocausto para a cruzada de quem não tem pretensões de concorrer a mandatos na majoritária estadual, mas sim confrontar o governo do PSB e servir do que chamamos de “arenque defumado”.

Políticos, deputados, vereadores e até o prefeito foram até a delegacia para tomar conhecimento do ocorrido que não tardou a pulular na mídia local, nas mídias sociais e até mesmo em velocidade de rastilho a mídia nacional. Missão cumprida, se a intenção de Gilvam era fazer barulho e atrair a isca com o arenque, o governador  seguiu direitinho para a trilha de migalhas de pão, para se perder na floresta da politica que ainda parece não dominar.

Opositores, desafetos e governistas, inundaram as mídias sociais com palavras de escracho e gritos de ordem para dançar em cima do cadáver, como se o cadáver não soubesse que estava lá para posar de mártir imolado. Então vê-se que não só os governistas, como a mídia tendenciosa, pensam homogeneamente com a viseira de cavalo a mostrar-lhes apenas a visão frontal e nunca o panorama total.

Mas enquanto a massa policial de guarda do meio ambiente perdia seu precioso tempo com Gilvam e seu passeio de trator, a defesa civil e o corpo de bombeiros, avaliavam uma maneira de tentar pelo menos salvar as casas situadas no Aturiá, que desabavam enquanto toda mídia perplexa se com um pouco mais de inteligência estratégica teria percebido que o ex-senador queria mesmo era um bom round com o governo,  pelo jeito hoje abateu uma Capivara, daquelas que se deixam pegar por qualquer chumbada ou tiro de sal...

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Delicia de Detran, ai se eu te pego!

Em uma das minhas ultimas visitas ao gabinete de Waldez Góes quando ele ainda era Governador do Estado, presenciei uma cena inusitada, mas engraçada. Uma figura conhecida da politica local adentrou o gabinete, do qual pelo visto tinha livre acesso, e começou a despejar sua primeira frase que dizia assim:

-Waldez esse sujeito do Detran...

Interrompido por Waldez, o sujeito meio empertigado viu a fisionomia do Governador mudar do sempre tênue para umas rugas na testa e com uma voz ríspida e meio aborrecida disse:

-Se você vai falar mal do Coronel Furtado, é bom parar por ai, por que vai perder a viagem, e se continuar, também o amigo.

Na verdade, por mais que eu não goste de militares mandando em algo que não seja em suas próprias casernas, a passagem do Coronel Furtado pelo Detran-AP, além de antipática e mal vista por quem estava acostumado a dar as famosas “carteiradas” em nome do governo, mas também foi a época de moralização do departamento que vinha sofrendo com constantes escândalos, sendo que a maioria envolvia a emissão irregular de carteiras de habilitação, que comprometeram não só a credibilidade do órgão ao longo dos anos, mas como até de políticos, como Antônio Nogueira, atual prefeito de Santana, que entrou na roda das CHN’s que fazem parte do anedotário popular, quando se que chamar um mal motorista, se diz que sua carteira é do Nogueira.

Facilitação da emissão de CNH’s sempre será um alvo fácil para a politicagem, devido ao cerceamento do acesso devido aos custos elevados para se obter uma legalmente. Lembro-me que a essa época, mais de 50 goianos tiraram CNH’s no Amapá, todos com o mesmo endereço em Santana.

Além disso o Detran Amapá também já se notabilizou por emitir a CNH de Ana Paula Felix Miranda, que para quem não conhece é irmã do cantor Bruno, o que faz parceria com Marrone, que também aproveitou a mesma visita ao Amapá para mudar a categoria da sua CNH de B para D. Ambos também “moravam” na mesma casa em Santana.

Maria José Girão é a bola da vez no Detran. As denuncias contra o diretor do Detran-AP são as mesmas de sempre, emissão e negociação de CNH’s para o público em geral dos apadrinhados e “sobrinhos” do PSB.

Coisas como o caso de Aldemir Barreto que se auto-aprovou em todos os exames, por ser irmão do gestor. Senha máster utilizada? Será que João Gomes realmente deu as ordens para os examinadores aprovarem os militantes do PSB? Socialista até morrer?

Carteiradas para tirar carteira. Irônico mas relevante. Em um setor onde desde sempre se tem problemas com as emissões de habilitação, principalmente em um Estado onde o índice de acidentes de transito beira o absurdo em números, e se realmente proceder tal acusação?

Como eu disse há alguns dias no Twitter, quando Camilo anunciou a criação do Núcleo de Combate ao Crime Organizado.  Que o mesmo se fosse pelo menos autônomo em suas investigações teria muito trabalho a fazer. Mas como as orientações do “partido” são para “resolver” tudo para o partido... Vamos torcer para que a efetividade deste núcleo da polícia não perca seu tempo correndo atrás do próprio rabo.

Quem sabe também que depois de Bruno e Marrone terem se beneficiado com o esquema de facilitação para retirada de CNH’s em Macapá, Agora que a moda deles já passou e talvez quem sabe não seja a vez de Michel Teló vir fazer uma fezinha no Detran. Ai se eu te pego....


terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A arte de fazer tudo parecer bem, enquanto alguém acreditar...

O Estado é laico por natureza. Isso significa ser como a Coca Cola, ou seja, agradar a quase todo mundo, enfrentar seu similar de baixo poder de fogo e não apoiar; religião nem política, mas futebol pode, apesar das divergências.

Mas tênue é a linha que separa as diferentes vertentes do fanatismo. O início de qualquer fanatismo consiste, em primeiro, reconhecermos um sujeito ou um grupo a estarem convictos, quando julgam de posse de uma certeza que recusa o teste da realidade. Nietzsche dizia que "as convicções são piores inimigas da verdade do que as mentiras", porque quem mente sabe que está mentindo, mas quem está convicto não se dá conta do seu engano. 

O convicto sempre pensa que sua mentira é a sabedoria incontestável. Até no campo científico, há cientistas correndo o perigo de tornarem-se convictos de suas teses. Quando algumas ideias se tornam supervalorizadas e adquirem um caráter de grandiosidade e absolutismo, tendem a levar os seus sujeitos a abdicarem de seu raciocínio crítico e se tornarem meros objetos dessas ideias. Indivíduos assim submetidos a tão grandes ideias, fazem qualquer coisa para "salva-las" de um possível furo de morte; elas funcionam como muleta existencial. Isso acontece principalmente no meio religioso, mas também pode ocorrer nos meios; político, filosófico  e científico. 

O segundo sinal do fanatismo é quando alguém quer impor a todos de modo tirânico a "verdade" única extraída de sua inspiração ou crença absoluta. Pretende assim a uniformização via linguagem, através de aparência física, rituais e slogans do tipo: "O único Deus é Alá", "só Cristo salva", "Jesus Cristo é o Senhor", "somos o Bem contra o Mal", ”Somos a mudança ao caos..." São expressões de caráter estereotipado, sustentado por uma "estrutura de alienação do saber”, onde o discurso passa a falar sozinho, é uma resposta que está no gatilho, pronta para qualquer emergência que o sujeito não quer pensar. Observem o caráter tirânico, narcisista e excludente dessas afirmativas.

Todos possuem uma visão que nega outros modos de crer e pensar. O mesmo acontece nos autoelogios das pessoas de raça branca e o desprezo pelas outras como proclamam os fanáticos da extrema direita, nas ações violentas de uma torcida sobre a outra, todos, sinalizam que o indivíduo se rende ao grupo e este "a causa". Os recém convertidos de qualquer seita religiosa ou política estão sempre convictos que, finalmente, contemplam a verdade e essa tem que ser imposta a todos, custe o que custar. O indicativo de fanatismo, já dissemos, é quando uma pessoa passa a colocar uma causa suprema (podendo esta ser justa ou delirante) acima da vida dela e dos outros.

Quando o indivíduo e/ou grupo perdem o bom-senso na lógica da comunicação e nas ações do cotidiano. O discurso passa a ser repetitivo e estranho à vida comum. Indício de fanatismo é quando se perde o sentido de respeito e humanidade para com os diferentes, em nome de uma causa transcendente.
O fanatismo é a intolerância extrema para com os diferentes. Um evangélico fanático é incapaz de diálogo e respeito para com um católico ou um budista. Um fanático de direita não quer diálogo com os de esquerda. Organizações como a Ku Klux Klan são intolerantes igualmente com negros adultos, mulheres e crianças. Por isso se diz que há em cada fanático um fascista camuflado, pronto para emergir em atos de exclusão e eliminação.

O sentimento que no fundo sustenta o fanatismo e o fascismo não é a fé, nem o amor, mas o ódio e a intolerância. O desejo do fanático "autêntico" é dominar o mundo com seu sistema de crença cheio de certeza. No plano psíquico, o lugar do recalque torna-se depósito de ódio e desejo de eliminar todos os que atrapalham o seu ideal de sociedade. Certa dose de paciência doutrinada o faz esperar-agindo para que a "idade de ouro" possa um dia acontecer. 

Alguns personagens "messiânicos" de nosso tempo, como Hitler, Idi Amin, Ronald Reagan, George W. Bush, Ariel Sharon, os grupos dos martírios suicidas do Oriente Médio, entre outros, tem algo em comum: cada um se sente o escolhido para cumprir uma especial missão. 

Hitler discursou que "as lágrimas da guerra preparariam as colheitas do mundo futuro". George W. Bush, na sua ânsia de guerra contra o ditador Sadam. Hussein, não estaria delirando no mesma linha? Não é sem sentido que os EUA, tem sido o solo fértil de seitas cristãs fanáticas. Pelas bandas Tucujús, podemos começar a inferir de que as coisas não são tão diferentes das reflexões sobre a base do fanatismo, quem sabe os pensamentos não sejam semelhantes a Casa dos Filhos de Jeová; uma seita americana que torce para o mundo se acabar logo, porque seus membros acreditam que depois surgirá uma nova civilização do Bem. Vamos torcer para os socialistas estarem errados como em 1917.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Quem quer ser milionário?

Em 1608 meses, um assalariado brasileiro pode ficar milionário. Parece absurdo? Não. Mas se poupar o salário do mês sem gastar nenhum centavo e muito menos contribuir com qualquer encargo terá no final de quatro anos um pouco mais de um milhão de reais.

O que é curioso, não é o fato de em menos de cinco anos você conseguir ficar milionário ganhando salário mínimo, mas a não ser que você seja um ser inanimado que não necessite de nenhum substrato nesse período, não aconselho tal empreitada. Pois mesmo sendo uma possibilidade real e absurda ao mesmo tempo, saber quem nem todo mundo chega a esse patamar de estabilidade financeira de maneira sacrificante como o exemplo citado. É de uma revolta interna muito grande.

A revista Exame divulgou um mapa da riqueza no Brasil e com um dado bastante curioso senão estranho à uma realidade que não justifica de maneira racional a presença de 476 indivíduos com mais de 50 milhões no cofrinho de moedas residindo no Amapá. O que o coloca em 17º lugar no ranking, deixando estados vizinhos como o Pará em 23 º lugar com 182 milionários e Amazonas em 20º lugar com 399 carteiras recheadas. Deixando Rondônia na lanterna em 27 º lugar com apenas 28 bon vivants.

O mapa também mostra uma curiosidade em relação aos seus companheiros do grupo de estados pobres, já que está em paridade em milionários com o Maranhão 16º lugar com 504 milionários e Alagoas em 15 º lugar com 508 contas rechonchudas. Mostra-se que mesmo com o PIB e o IDH bem inexpressivos estes Estados produzem abastados como larvas no esterco.

O Pará e Amazonas possuem um índice de industrialização e economia superiores ao Maranhão, Alagoas e Amapá, sendo que grande parte das grandes empresas dos segmentos da indústria de transformação nos estados do norte, são subsidiárias de multinacionais, o que explica o baixo índice de ricos, já que o dinheiro não fica no Estado ou no País.

Mas em nada explica, uma fortuna média de 2,3 bilhões dissipada entre cabeças privilegiadas em um estado que não tem indústrias expressivas,  pecuária incipiente e o mercado de agro negócios em bocas de fechar as portas devido a falta de incentivos governamentais e logísticos.

Há alguns anos fiz uma auditoria em um cliente, para fins de espólio de uma figura que veio para o Amapá com uns trocados no bolso e uma dedicação extrema a sua linha de negócios, “agiotagem”. O Espólio na época do inventário revelou um patrimônio de 46 milhões de reais em mais de trinta anos de serviços prestados à usura. Mas não chegou ao valor informado pela Exame.

Fica a pergunta: De onde vem esse dinheiro? Como ele foi auferido para justificar um rol de cabeças tão privilegiadas? Será que a máxima do falecido deputado federal João Alves vale neste contexto? “Deus me ajudou e ganhei na loteria várias vezes”. É de se espantar então que o noticiário nacional não tenha relatado esse dejà vu de prêmios milionários para justificar o enriquecimento inexplicável destas pessoas.

Juntas elas poderiam comprar o grupo das empresas de Silvio Santos, por exemplo, mas Silvio Santos amealhou seu patrimônio como quarto poder, a mídia e essa move o mundo e enriquece fácil, Roberto Marinho e Rupert Murdoch são exemplos do poder da mídia sobre as algibeiras. Mas a mídia também não explica esses cofrinhos tão recheados em uma terra onde a mídia ainda engatinha.

Como é que em um Estado cuja economia depende de contracheques e das mesadas do FPE, com quase 70% de representação no fomento da economia local pode justificar tanta abastança? À luz desses questionamentos nos perguntamos friamente sobre as origens de tais cifras. Um tanto estranhas e inexplicáveis. Tão inexplicáveis que talvez, apenas talvez, um dia o tão insone exército de vigilantes da política local, deixe de ser um pequeno grupo e consiga fazer com que a população em geral saia da sua zona de conforto e de sua comodidade de apoiar a política local e passe a se perguntar por que não figura no mapa da Exame, a não ser nas estatísticas de IDH péssimo que muitos dos milionários tentam mascarar com uma cesta básica, uma carrada de aterro ou um DAS em uma sala com ar condicionado...

Dilmongol

Vamos imaginar que um cientista político da Mongólia resolvesse fazer uma análise da situação política do Brasil em 2011, país que mal conhecia quando se propôs essa inusitada empreitada. Vamos imaginar que entende o português, pelo menos o suficiente para acompanhar o que a imprensa brasileira publicou sobre o assunto nos últimos meses.

Ao avançar na pesquisa, sua primeira reação seria de perplexidade. De um lado, pela diferença entre o que leu em nossos grandes jornais (e viu no noticiário dos principais -veículos de comunicação de massa) e o que compreendeu dos sentimentos da população, a partir das pesquisas de opinião disponíveis. De outro, pela discrepância entre o que diz a imprensa nativa e a internacional a respeito do Brasil.

A segunda seria de incredulidade. Se o que afirmam os analistas de nossos veículos de informação for verdade, como explicar que o governo tenha aprovação popular tão expressiva e que a avaliação externa seja quase unanimemente positiva? É possível que as fontes que consultam, normalmente vinculadas aos partidos de oposição, sejam as únicas que estão certas. Mas não é provável.

Nosso analista mongol ficaria desconfiado. O Brasil que viu nesses jornais é incoerente com aquele que esperaria, como cientista político, ao tomar conhecimento de alguns fatos básicos sobre o País.

Temos no poder um partido que venceu três eleições seguidas (cuja lisura não foi questionada por ninguém), em todas apresentando, com a clareza possível nesses casos, uma proposta de governo. E que cumpriu, no fundamental, o que havia prometido: manter algumas coisas, inovar em outras.

Nem Lula nem Dilma inventaram políticas de última hora, sacaram mágicas da algibeira (como havia acontecido há não muito tempo). Não praticaram uma política de terra arrasada para com seus antecessores ou hostilizaram governadores e prefeitos de outros partidos.

Montaram alianças governativas amplas, tentando preservar o núcleo estratégico da administração, mas admitindo que era necessário, nas condições institucionais vigentes, ceder espaço aos aliados. Excessos, quando constatados, foram punidos (às vezes, de forma mais branda que o recomendado). Não foram eles que criaram o modelo nos momentos decisivos. (Não escaparia ao mongol que, na última votação relevante do ano, no Senado, a respeito da “desvinculação das receitas da União”, a chamada DRU, o governo venceu pelo placar de 52 a 13. Em sua opinião abalizada, isso seria uma legítima “maioria operativa”.)

Estabilidade institucional, democracia em funcionamento, governo bem avaliado, avanços na solução de problemas sociais crônicos, uma das economias mais protegidas da crise internacional (e que continua a crescer apoiada em forças autóctones). Com tudo isso, qual é o “grande problema” do Brasil? Por que é tão difícil às nossas oposições, na política e na mídia, entender a razão de não termos “indignados”?

Podemos olhar o que aconteceu em 2011 de duas maneiras: pensando no que é chamado, em inglês, big picture, procurando identificar as coisas realmente importantes, ou prestando atenção no vaivém do cotidiano. Que também é relevante, mas de maneira diferente.

As “crises no ministério”, as “denúncias de irregularidades”, as “desavenças na base do governo”, os “atrasos nas obras do PAC”, os “aeroportos lotados”, tudo isso existe, é preocupante e exige remédios. Mas não muda o “quadro geral”, a “visão do conjunto”.

Na política (como sabe o mongol), é preciso ganhar eleições. Quem não consegue pode acreditar que as suas são as melhores ideias do mundo, considerar-se o mais preparado, o mais ético, o mais predestinado, mas não conseguirá mostrá-lo (a menos que seja dispensado de vencê-las, chegando ao poder por outras vias).

Para o PT, as perspectivas melhoraram, com o sucesso de Dilma. É claro que é cedo e que apenas o primeiro ano transcorreu. Mas o partido já pode raciocinar com duas opções de candidatura para 2014. Ambas, se tudo permanecer como está, terão chances reais de vitória. A escolha será política e não pragmática.

Enquanto isso, indefinidas sobre o que querem dizer ao País, divididas em correntes inconciliáveis, sem nomes nacionais (fora os desgastados), o cenário não é bom para as oposições.

Ao concluir seu relatório, nosso amigo mongol chegaria à conclusão de que, a tomar por 2011, o quadro geral da política brasileira aponta, objetivamente, para um longo período de hegemonia do “lulopetismo” (para desconsolo de alguns).
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