sexta-feira, 25 de maio de 2012

Roma, Hermanos e os Tucujús



A guarda pessoal e a devoção ao agraciado protegido, é um fenômeno histórico que com graça tem Roma e os pretorianos de Cesar como seu expoente mais ferrenho, com a diferença é que o imperador romano era tido como deus na terra, herança da natureza de o ser humano ter uma divindade com poderes titânicos e superiores aos pobres mortais.


Isso não impediu que muitos líderes incluindo o próprio Cesar dos Césares, Júlio Cesar de ser apunhalado literalmente dentro de seu senado por seus próprios senadores que acharam que isso era para o bem de Roma e para o próprio bem de seus agraciados pescoços.

Cristina Kirchner também tem tido seu momento Cesar, mas não sob a louvação da SPQR mas sim pelos seus próprios correligionários comandados pelo rebento da presidente, Máximo Kirchner, que detém o comando do grupo de jovens devotos de La Cámpora.

Para manter esta pequena milícia Cristina é claro loteou diversos cargos para os camporistas dentro do governo e nas empresas estatais, como a Aerolíneas Argentinas e da agencia estatal de comunicação Telám. Assim como as cadeiras camporistas dentro do próprio congresso argentino ajudam nas decisões mais radicais da presidente.

Como prova disso, as ações de Cristina em “benefício” de seu povo, tentando um discurso peronista fadado ao fracasso, resolveu reencarnar as ações do cocaleiro Evo Morales que num ímpeto nacionalista factoide foi à boca da fronteira e expropriou o que encontrou pela frente incluindo nossa Petrobrás, sob o olhar de Lula que agiu como o pai que vê o filho defecar no tapete da sala e diz com ternura: _ Que bonitinho!

A Espanha fez que fez e bateu o pé contra a decisão de Cristina, apoiada pela sua milícia, de expropriar a YPF. Como não se tem politica, se faz com militância legislativa, afinal foi assim que Hitler conseguiu aos poucos a maioria no congresso, para que o partido Nazista forçasse o presidente Hindenburg a lhe abrir os caminhos para chegar a onde chegou.

Mas la Càmpora não tem dedicado seu tempo a apoiar e aprovar a politica econômica e as ideologias de Cristina, mas no cerco à liberdade de imprensa. Prova disso foi a lei que, pasmem, tornou o papel jornal, item de interesse público, sujeito a controle do estado assim como o papel moeda.

Essa história é velha conhecida dos argentinos, já que o grande Perón também não era chegado a uma critica jornalística, que quando não rebatia veladamente através de seu séquito militar, o fazia diminuindo a importação de papel jornal para a Argentina. Fazendo assim com que os jornais opositores saíssem mirradinhos, alguns com quatro paginas apenas e pouco espaço para exposição de muitos problemas.

Em rebate, já que não se vive mais a era Perón. Jornais como Clarín e La Nación, os maiores da Argentina, aumentaram suas reservas de papel, ironicamente combustível em duplo sentido ao fogo que promete se alastrar nos próximos meses.

Ao que parece, Cesar não tinha estes problemas, pois em Roma os arautos desapareciam misteriosamente sem aviso prévio quando algo desagradava os imperiais e divinos ouvidos do imperador. Na argentina os Hermanos podem padecer por falta de noticia impressa e papel para uso em higiene sanitária, o que deve ser uma pena, já que o papel que os colocou nessa lastimável situação, foi o da cédula de votação.

E infelizmente no Amapá, parece que a imprensa tem papel (em duplo sentido), tem noticia, o governo tem Cesar e tem pretorianos dispostos a manchar as folhas de jornal com sangue se preciso for, para proteger a divindade passageira pela qual se ajoelham para agradecer as benesses materiais do pão de cada dia.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

E na França havia fifi...


Não entendo esse frisson todo em cima da chegada de François Hollande à presidência da França. Afinal o governo deve se alternar em comando, por ideologias e partidos. Isso é saudável, me recorda até mesmo Eça de Queiroz quando diz que fraldas e políticos devem ser trocados constantemente pelo mesmo motivo. Vejo como uma mudança salutar a saída de Nicolas Sarkozy do poder após um mandato meio truculento e cheio de altos e baixos durante os cinco anos em que dormiu no Eliseu.

Sarkozy prometeu uma nova França, apesar de ser uma promessa bem difícil de cumprir, pois apesar da bimilenar existência a França não vive nas trevas e nem necessita de modernismos que não os que já passaram por lá desde a queda da Bastilha. O resto mostra que a França já viu mais ou menos tudo o que poderia ser visto, sem novidades, como a descoberta da pólvora proposta pelo marido de Carla Bruni.

Muito nos ensina que nestas promessas de mudança, feitas aqui no reino tucujú ou na elitista França, o resultado final mostra que as coisas continuam muito parecidas com as de anos atrás, nem bom, nem ruim e nem o milagroso futuro dourado. E ao que tudo indica tanto o Amapá quanto a França vão continuar incólumes a promessas feitas em pré e pós eleições.


Mas o que me surpreende é que após as eleições, mesmo depois da luta ferrenha entre direita e esquerda, na segunda feira pela manhã tanto a França quanto o Amapá continuavam os mesmos da véspera. Nenhum cogumelo nuclear, nenhuma virulência e nem mesmo uma praga bíblica para dar vazão às previsões do fim dos mundos; franco e tucuju.

Vivi na França de François Mitterrand e de Jacques Chirac, até respirei o ar impregnado do socialismo de proveta regurgitado por Lionel Jospin, assim como também sobrevivi ao governo de pai e agora filho da dinastia Capiberibe. O suficiente para ver e ouvir a mesma cantilena que os políticos dizem sobre o que a mídia querer explicar como o mundo deve funcionar, tentando mostrar a verdade da razão assim como tentar adivinhar o próximo realinhamento planetário, para no fim de tudo demonizar a imprensa.

Vi a politica segregacionista e xenófoba de Sarkozy de perto e com a mesma credulidade com que vejo as pregações apocalípticas de Hollande ou os lamentos do Jovem Capiberibe sobre um estado devastado e estéril que insiste em sonhar com a ponte milagrosa sobre o rio Oiapoque. 

Comparar os dois reinos é quase uma heresia de minha parte, afinal na França os problemas são bem mais cosmopolitas do que os nossos bucólicos problemas domésticos tucujus. Mesmo com a crise europeia, a França ainda é um dos países mais bem sucedidos do mundo. Enquanto nós protegemos nossos cordões e carteiras, os franceses mal sabem o que é um assalto á mão armada ou um arrastão de rua.

Dentre as condições de infraestrutura da qual desfrutam os mais de 65 milhões de franceses, estão um PIB per capta maior que 40 mil dólares por ano. Os transportes estruturados, que não deixam passageiros abandonados pelas paradas inexistentes ou que os proprietários de veículos não fazem ideia do que seja uma cratera viária nos mais de onze mil quilômetros de estradas francesas.

Com um aproveitamento produtivo inegável, soube usar com eficiência o espaço para produção em um território 94% menor que o disponível pelos brasileiros. E enquanto nos batemos por um aumento de 5 ou 7 % em nossos parcos R$ 622 de salário mínimo as classes que dependem desse provento já evoluíram ha mais de um século.

Em suma, comparar os problemas da Europa ou até mesmo da França em particular aos nossos é de uma temeridade bem estranha, mas muito ouvida na teoria por socialistas históricos e pelo jeito moucos. Pois simplesmente pelo regime socialista trazer alguma semelhança em seu DNA, fato que eu particularmente desaprovo, pois as ideias de um sujeito que nunca empunhou uma arma e a caminhada maior que fez na vida foi a do caminho da biblioteca pública de Londres para sua casa, fazem de Marx uma leitura incompreendida assim como Maomé.

Mas o grande desafio dos socialistas aliados a Hollande, talvez sejam os mesmos que enfrentamos aqui pelos trópicos, afinal o desemprego é um monstro que ainda devora muito mais que o demônio da inflação, que por aqui parece estar exorcizado e no claustro sob forte cadeado. Mas os franceses devem ter poucos problemas por enquanto com a imigração ilegal dos “pobres do mundo” como costumava alcunhar Sarkozy.

A França ao contrario do Brasil, tem a sorte de não necessitar de seus políticos para conservar tudo aquilo o que conquistou e soube construir desde que cabeças rolaram por Paris. Mas algo é certo, como a morte e o pagamento de impostos. A politica continua a fazer as cabeças girarem com promessas de salvação ou de danação, dependem do santo padroeiro, mas será que somos muitos, de direita, de esquerda, os presbiterianos, os socialistas, os ecologistas e tantos outros para nos dar ao luxo de nos dilacerar e enfrentar de forma dispersa os donos de um poder insensível à nossa razão de viver?

quarta-feira, 23 de maio de 2012

As fantasias susttentaveis


Analisando os valores de receitas tributarias do estado do Amapá de 1994 e 2001 observa-se que a mesma quase quadruplicou neste período, mas que isso foi fruto de um crescimento desordenado, quase obra do acaso e não de uma receita pronta de qualquer gestor. O modelo econômico que vigorou em amis de 50 anos de território federal, não foi orientado por qualquer politica de desenvolvimento capaz de induzir o aproveitamento racional dos abundantes recursos naturais da região, instalar uma infraestrutura básica da rede de prestação de serviços públicos e de mobilizar a participação da sociedade civil.

Com isso faltaram à economia do Amapá condições básicas para a decolagem e consolidação de um processo de desenvolvimento econômico, que ainda afunda o estado em desigualdades sociais entre as diversas camadas da população. Em um quadro de fragilidade da base econômica, além de provocar o desequilíbrio da ocupação do espaço físico, concentrando o grosso da população na capital do então território, o que sem novidade transformou o governo estadual no grande empregador.

Em 1995 o Amapá deu inicio a construção de um modelo de desenvolvimento diversificado de atividades produtivas, fundamentado na agregação de valor ao produto local e no respeito aos princípios da sustentabilidade econômica social e ambiental. As dificuldades reais de levar o PDSA á prática, dada a importância da parte técnica e científica, se expressa na afirmação de que lidar com recursos naturais, envolve ciência.

Como o argumento politico foi mais forte do que a vontade em si de transformar o estado em um polo de crescimento e desenvolvimento sustentável, exemplo na Amazônia. O que se viu foi um peso da ausência do conhecimento científico e investimento em educação, que para qualquer atividade são necessários para que se dimensione o impacto ambiental, social e tecnológico.

Um exemplo marcante deste período em que se ousou ousar, mas pelas pernas dos outros se falhou, vem na tentativa frustrada de exportar castanha-do-Pará infestada por aflotoxina, fazendo com que o carregamento inteiro fosse rejeitado pelo mercado internacional. Fato triste, não pelo fracasso, mas pelo atropelo sobre as fases do processo extrativista, onde muitos erros foram cometidos e ignoradas varias fases que talvez fizesse com que o programa fosse um sucesso e não o fiasco que se ignora ter sido.

Não se pode avançar sem estudos sociais em que grande parte da população do estado não é oriunda de suas raízes, logo não se pode esperar que essa mesma população rural domine a cultura do extrativismo amazônida, pois suas relações ecológicas com seu estado de origem diferem profundamente da nossa. Também foram ignoradas as propostas concretas, apontando caminhos alternativos na geração de emprego, ocupação e renda de forma a minimizar os efeitos drásticos advindos do inchamento populacional na sua maioria compostas por maranhenses e cearenses.

O extrativismo desenfreado de uma cultura como a castanha, por exemplo, é uma forma errônea de se avaliar desenvolvimento sustentável, visto que uma castanheira pode atingir facilmente a altura de 50 metros, com idade estimada entre 800 e 1200 anos.  O que dificilmente produz um reflorestamento viável a base desta espécie.

Da mesma maneira que problemas de natureza social também não forma avaliados adequadamente como a presença do atravessador que faz o aviamento dos coletores e lhes proporciona mantimentos e insumos para os períodos de permanência do extrativista na mata durante a realização do trabalho. Em troca, o atravessador compra toda a produção retirada da floresta, mas paga preços aviltantes. Já os preços do aviamento são superestimados, de forma a colocar o extrativista num ciclo de dívidas que o leva inevitavelmente a uma “escravidão branca”. No município de Laranjal do Jari, por exemplo, até a poucos anos era comum um castanheiro trocar vários quilos de castanhas por uma lata de leite em pó.

Enquanto exploram os trabalhadores da floresta, os atravessadores são também explorados numa outra ponta da cadeia produtiva. Isso ocorre porque o comércio de produtos da floresta é extremamente concentrado, o que leva à formação de cartéis e de monopólios, como acontece com todos os demais produtos da Amazônia (açaí, seringa, palmito, frutas, tropicais, etc.).

Hoje é muito simples se falar em desenvolvimento sustentável na Amazônia, mostrando uma ou outra experiência favorável, mas efêmera. O encontro: Sustentabilidade Sem Fronteiras – Alianças climáticas e outras experiências, que aconteceu em Berlim, contou com a presença do senador amapaense Capiberibe, contando apenas a parte positiva de sua incursão mateira, omitindo do relato aos alemães que o sonho do PDSA, só não solidificou por que os anseios políticos de Capiberibe foram mais sustentáveis do que desenvolvimentistas... Kann man nicht betrügen mehr senator!
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