Estou com várias tendinites de novo,
além de dor nas costas, joelhos rangendo. Não vou pôr a culpa no excesso de
trabalho nem em ninguém. O problema sou eu mesmo. Passei as férias lendo os
três grossos volumes da biografia do Getúlio, escrita pelo Lira Neto. Ótima,
aliás. Só que li metade na cama e a outra metade na cadeira de praia. Reclinada
na posição cama.
O resto do tempo, quando não estava
dormindo, cozinhando ou lavando louça, passei lendo notícias no tablet,
checando o Instagram e trocando mensagens por SMS, WhatsApp e e-mail, entre
outras atividades no celular. Alguém pode imaginar a posição do meu pescoço?
Escrevo WhatsApp e na imaginação ouço
vozes pronunciando What’s Up! Mas melhor seria dizer What’s Down! Para baixo! É
para o celular que a gente dobra o pescoço. É com o celular que a gente também
tensiona o indicador, ou o polegar, ou ambos: para digitar. A propósito, também
estou com tendinite na mão direita.
Voltei ao trabalho e passo o dia
inteiro em frente a um computador enorme, lindíssimo. Pescoço projetado para a
frente do corpo, esse é um dos meus vícios posturais. Outro problema é que a
mega tela do computador, descobri hoje, mais de dois anos depois de comprá-lo,
é que é grande demais para mim. Eu, que sou mediano, tenho de levantar a cabeça
para enxergá-la direito, e com isso tensiono o pescoço.
A alternativa seria levantar a altura
da cadeira, mas aí os meus pés não alcançariam o chão e detesto aqueles apoios
de pé. Sinto que fico engessado. Quem acredita que um mobiliário “padrão” serve
para quem é pequeno ou para quem é grande? Quantos serão os “normais”?
Outra alternativa para o meu caso,
pensei agora, seria abaixar a altura da mesa, mas aí eu não poderia dividi-la
com outras pessoas, como faço hoje.
O custo de passarmos mais tempo
conectados não é só de eletricidade, telefonia, troca de equipamentos com
obsolescência programada, atualizações de softwares etc. O custo é de saúde
física.
Mas tem três coisas que eu adoro no
WhatsApp. 1) Funciona. Até em circunstâncias em que o SMS não funciona (não me
pergunte por que o SMS anda tão ruim); 2) Ele não tem publicidade! Que delícia
não ser interrompido por mensagens que não estou interessado em receber 3) É
uma forma de comunicação mais barata que SMS e telefonia.
Mas sou do tipo que entende o WhatsApp
como instrumento de comunicação um a um. Não gosto de receber no WhatsApp
mensagens que não foram escritas especificamente para mim.
Minhas filhas são diferentes. Acho que
meus amigos também, porque todos vivem com o celular sem som, mas sempre
tremendo em cima da mesa por conta do grande número de mensagens que recebem.
Não gosto disso porque me interrompe o fluxo do raciocínio, da memória, do
trabalho. Distrai. Tira a concentração e a produtividade.
Mas ao me deparar com um amigo de
trabalho me mostrando uma DR via whats com todas as onomatopeias possíveis dos
pá, pum, paf, pof pra frente, rendo-me as conveniências da modernidade rezando
por uma nova rede social via celular em que eu apena fale e a pessoa do outro
lado entenda. Aí me lembro que isso já existe há mais de um século: chama-se
telefone!