domingo, 13 de fevereiro de 2011

As areias do deserto


-Eu conquistei Áqaba!

Assim o tenente inglês T.E. Lawrence anunciou para seus superiores que tinha iniciado uma revolta de proporções cataclísmicas no mundo árabe no século passado. Entrando para história e depois imortalizado por Peter O’Toole no fantástico: Lawrence da Arábia, de David de Lean.

De Bagdá até Gaza, um misto de apreensão se inflamou esta semana. Após uma grande revolta que culminou com a queda do presidente-ditador Hosni Mubárak no Cairo, emocionou e deu esperança e inspiração a milhares que vivem oprimidos sob regimes autoritários e ditatoriais no mundo árabe. E também forçou opressores a emitirem um posicionamento público reconhecendo, quase a contragosto, a vontade dos egípcios.

No entanto, apesar dos tremores revolucionários, é muito difícil que outros alicerces do mundo árabe tremam diante da queda de Mubarak, desestabilizando assim uma região já conturbada desde sempre. Em países como a Síria, Arábia Saudita e Jordânia esta possibilidade é quase nula.

Apesar do entusiasmo quase purista e jovial, a sombra da revolução egípcia deve recair sobre regimes menos expressivos no tabuleiro geopolítico global. A pobreza extrema dos iemenitas preocupa; afinal Bin Laden não despejou reservas quando passou por lá. Assim como a insatisfação jovem da Argélia, cujo presidente Abdelaziz Bouteflika já proibiu manifestações públicas. No Bahrein, único país no Golfo Pérsico ameaçado, onde a maioria xiita condena a monarquia sunita, o governo esta oferecendo mesada a cada família do país numa tentativa de aplacar a insatisfação.

A monarquia absolutista saudita, maior aliada dos americanos e uma das que mais restringem os direitos civis de seu povo, não se pronunciou, deve estar seguindo a política de Washington de “abil nos lábios”. Há poucos dias, inclusive, preocupado como desfecho da crise no Cairo, o Rei Abdullah chegou a se oferecer para bancar os 1,5 bilhões de dólares em ajuda econômica ao governo Mubarak, casa a Casa Branca desse para trás.

Apesar do medo causado pelas incertezas de mudanças e de uma nova ordem nas peças do tabuleiro, em Riad pesa a favor de Abdullah o fato de que ele não é odiado pela ultraconservadora sociedade saudita que, em geral, se mantém fiel aos velhos costumes tribais.

Se os analistas políticos acreditam que a Jordânia estaria a salvo de uma revolução popular por que apesar da crise econômica, a figura de Abdukllah é unanimidade mesmo entre a parcela religiosa da população, haveria ainda outro governo protegido pelas circunstâncias regionais: a Síria de Bashar AL-Assad.

Pena que David Lean já esteja no andar de cima e que Peter O’Toole já esteja velho demais para reviver a sagacidade de um jovem tenente. Mas a população em si tem tido tantas vitórias quanto o jovem “Orence”, ao subir nos minares de Aqaba!

Domingo de glórias ao povo egípcio, pós-faraó.

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