quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Memento mori



Em um dos muitos momentos da gloriosa Roma, dos Césares e suas divindades especulares ao próprio orifício umbilical, se pregava a loa de que sempre que um grande general que esteve à frente das legiões em campo de batalha e dela saia vitorioso. Para comemorar mais uma das muitas expansões do império de Roma, se fazia uma fabulosa procissão pelas ruas da cidade com o triunfante general a frente do povo que o saudava.

Essa senão outra era a honraria máxima que um cidadão romano poderia obter do povo, fora o trabalho hercúleo que deveria se predispor para dela desfrutar. Para isso deveria derramar pelo menos o sangue de cinco mil soldados inimigos, humilhar os generais derrotados e leva-los a ferros. Tendo enfrentado um exército inimigo de igual ou superior força a legião comandada e acima de tudo: Tinha que conduzir ao seio de Roma, a sua tropa remanescente.

Apesar de toda esta pompa e circunstancia com a qual os generais triunfantes, alguns como o próprio Júlio Cesar assentaram-se sobre o trono do mundo antigo. O povo romano também levava em alta conta a modéstia pessoal, e em consequência disso desdenhava de qualquer demonstração de soberba.

Mas então o que seria dos generais vitoriosos na hora de desfrutar do gozo das aclamações? Dos ípis e urras?  Das salvas e ovações? E quem sabe até de fogos coloridos se os chineses já os tivessem compartilhado com os romanos.

Para evitar este momento de absoluta oportunidade de desenvolvimento da soberba, o triunfante general carregava a tira colo, na mesma biga, um escravo fiel que tinha uma única função naqueles momentos; sussurrar de quando em quando no ouvido do herói: memento mori! Que sabiamente lembrava ao general a sua posição de homem, humano e mortal. “Lembre-se que um dia você vai morrer!”
Esta era apenas uma das muitas maneiras de o escravo lembrar ao amo não só a parte bonita da filosofia e da temporaneidade, mas também de um sacolejo no bom estilo do “cala a boca e fica na tua que logo, logo todo mundo vai engolir esta farsa de humildade forçada”. Talvez esta seja uma das vantagens do latim; tecer abstrações tão sólidas quando a ponta de uma adaga.

Esta talvez não seja uma verdade comprovada pela história, mas é indiscutível que se trata de uma criativa ideia que poderia ser muito bem copiada pelos chamados políticos-popstar. Aqueles que só veem um objetivo em seu mandato: Conseguir um próximo! Mesmo que para isso tenham que vender até a genitora no mercado em Rabat.

Estes tipinhos que tentam a todo custo encarnar uma quimera de Rodolfo Valentino com Michael Jackson. Não perdem uma oportunidade se quer de estar na ribalta, seja por que motivo for. Não importa se em batizado de cachorro de alguma socialite afetada, ou saracoteando de microfone em microfone pelos corredores do Congresso Nacional. Não importando se a matéria vai sair no JN ou na reprise das quatro da manhã de algum jornal tapa brecha.

Para eles tudo é motivo de publicidade. Desde os momentos mais singulares das suas atividades até os mais íntimos se possível for. Em alguns casos a mesma população que imita a romana do passado com a ojeriza à soberba dá-lhes corda para o próprio cadafalso e eles vão em frente, atirando-se para a morte desde que isso lhes traga um momento de flashes e de microfones para a fanfarrice de sempre.

Até mesmo as suas obrigações constitucionais outorgadas pelo sufrágio embora sejam atos comuns da rotina, lhe são motivo para alarde da mídia que às vezes não tem muito que noticiar e novamente para preencher as lacunas, lá estão eles: as estrelas cada vez mais cadentes e por que não decadentes?

Pois é parte dos anais da física moderna mostrar-lhes que assim como os generais romanos de outrora tinham seus fieis escudeiros a proclamar-lhes a efemeridade da vida. Talvez nossos políticos de reality show tenham o bom e velho Isaac Newton a esperar-lhes às portas do destino e lhes mostrar não intimamente, mas sim abertamente que tudo o que um dia sobre a gravidade leva para baixo. E ao que me consta, aqui pelo mundo real a “gravidade” tem título de eleitor e ficou mais exigente dos tempos de Roma pra cá.

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