terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Corretora Mãe Joana


Nos momentos finais do julgamento do mensalão deparamo-nos com uma situação bem exótica, fruto das costuras nos meandros do vasto patchwork do congresso nacional e a tão afamada imunidade parlamentar.

Estabelecida como prerrogativa necessária, concedida para o exercício da função de representante do povo e para o fortalecimento e independência do Poder Legislativo, foi instituída a fim de assegurar a liberdade de expressão e a liberdade pessoal do parlamentar. Algo que com o tempo sofreu uma leitura não oficial como um passaporte para atos obscuros a atividade dos portadores da voz popular.

No Brasil, as imunidades parlamentares existem desde a Constituição imperialista de 1824. Em sua evolução, houve alterações positivas e negativas até chegar à atual redação constante na Constituição Federal de 1988. O objetivo da elaboração dessas prerrogativas não foi para benefício pessoal do parlamentar e sim da Instituição a qual ele representa.

No entanto, ao longo da história, têm chegado ao conhecimento da sociedade, através dos meios de comunicação de massa, os mais variados casos de abusos dessas imunidades, que nem sempre receberam a devida punição, apenas deixaram manchas na imagem do Legislativo, que se desgasta cada vez que um de seus integrantes é pilhado em ato de decoro cada vez mais explícito.

Haja vista que a casa maior do parlatório brasileiro já acolheu em berço esplêndido e amamento com suas fartas mamas figuras impares como Luís Estevão que sob a benção do Juiz Nicolau, o “lalau” locupletaram-se nas verbas do TRT paulista, levando Luís a perda do mandato por obra e graça de seus pares, mas não sem antes protelar a data do cadafalso.
Sem contar que lá também foi refúgio de Hildebrando Pascoal, que além de ostentar no currículo a qualificação de Deputado Federal, pelo Acre, também acumulava milhagens em sua  motosserra, usando desafetos em lugar de madeira. Um proclamado chefe de esquadrão de extermínios.

E como não existe um sem dois nem dois sem três. Por aqui nas bandas macapabas não poderia ficar de fora a rocambolesca história do casal João e Janete Capiberibe, respectivamente Senador e Deputada Federal, cassados por compra de votos em suaves parcelas. Após protelarem o máximo possível a queda iminente sob o olhar do cidadão inerte.
E contabilizando o mais recente caso de Demóstenes Torres que como muitos ainda incólumes posava de "o pai da moralidade" que suspirava princípios e regurgitava bravatas distribuindo justiça nas falsa lições ao alto da soberba. Mas que também tinha muita fé no jogo do bicho e uma intimidade arrebatadora com quedas d’água.

Daí aferir-se: até que ponto as imunidades protegem a instituição ou servem apenas para privilegiar seus detentores? A Constituição traz imunidades e garantias aos detentores de funções do Estado, Poder Legislativo, Executivo, Judiciário e Ministério Público, dessa forma, legitimando o tratamento diferenciado prescrito aos seus membros em face do Estado Democrático de Direito e do próprio Princípio da Igualdade.

Mesmo com um histórico de cassação, o tempo despendido entre todos os ritos pomposos e salamaleques ainda é longo. O que nos leva a questionar quem realmente tem a razão, se o Judiciário ou Legislativo. Afinal qual estranho seria se um cidadão condenado pela mais alta casa do judiciário brasileiro, a regime fechado, saísse saltitante pela manhã da Papuda, rumo à Praça dos Três Poderes para bater ponto no Palácio do Congresso Nacional e no crepúsculo retornar ao cárcere e ainda assim se intitular a voz do povo.

Mas constante na Constituição Brasileira o preceito de que a perda de mandato é prerrogativa privativa do poder legislativo, não se pode contrariar a Carta Magna, mas com certeza é de se pensar que os tão notáveis juristas brasileiros, que se incomodam e se quedam em dilemas morais sobre a presença de crucifixos em repartições públicas assim como a presença do nome de Deus nas notas de Real, passem a se interessam pelos temas que realmente atentam contra a lógica da moralidade que tanto falta neste ambiente politico que de tantas moradas existentes fazem a Mãe Joana parecer uma corretora de imóveis, pela fartura de tantas casas onde morar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...