Acompanhamos
nos últimos anos uma onda conservadora ganhando força e disputando a sociedade,
como exemplo disso temos a eleição presidencial passada, onde o debate se deu
em torno de questões progressistas e contraditoriamente rechaçada por uma
parcela conservadora da sociedade.
Da
demagogia ao falso moralismo: a gorda e o magro travam suas piadas sem gosto
enquanto apenas assistimos sem surpresa ao espetáculo!
O
falso moralismo é tão pusilânime quanto à hipocrisia. Infelizmente estes dois
elementos estão na ordem do dia quando analisamos o quadro atual do Amapá, onde
um tenta escapar do fundo da lama vestindo-se de marrom. Certamente que para a
tal da democracia isso não contribui em nada.
Não
vou fazer abordagem na politica, muito já se fala disso. Mas polarizando dois
temas bem polêmicos; de um lado, se encontra a cretina discussão em torno do
aborto. Não que o tema não seja importante, mas na boca dos moralistas o
discurso da vida plena, se afoga na praia quando vemos tantos mortos vitimados
pelos mais diversos motivos, sendo o maior a própria violência.
Provocar
os grupos pró e contra o aborto para construir a imagem de ser pró-vida ou
contra a vida é deprimente. Fico surpreso com a incrível (in) capacidade que
estes péssimos atores têm de macular qualquer discurso político relevante. De
um lado, aquela sombra humana, do outro, aquela em prol da democracia tentando a
aproximação aos membros do clero, provar que não são inimigos da vida. De qual
vida?
Trazer
este tema juntamente com as velhas demagogias religiosas, as quais a
contribuição ao dia a dia é irrelevante tem sido um total desrespeito ao bom
senso. O aborto é um tabu, um dos ícones do discurso teológico, um dos
elementos mais significativos do maniqueísmo, da ignorância que ainda vigora em
nosso país. Nem a igreja tem legitimidade para discuti-lo, muito quem não paira
para saber o que se sente, nem eu estou habilitado a criticar ou defender.
Por
outro lado, o tema do homossexualismo, outro tema importante e ainda repleto de
idiossincrasias sociais. Declarar o seu apoio ao homossexualismo significa
exatamente o quê? Prova não se é preconceituoso? Ou que se é 'liberal'? Quem
não acha graça de piadas de mau gosto sobre gays? O discurso é tão rasteiro que
se metamorfoseia em uma cacofonia desesperadora!
Certo
dia uma ONG de lésbicas entrou com processo judicial para retirar crucifixos
das repartições públicas gaúchas. Em que mal está a imagem do Cristo
crucificado a condenar opções sexuais? Cada um é responsável pelo seu cada
qual. Mas nem por isso vamos entrar com ação e retirar o Cristo do alto do
corcovado só por que temos vergonhas de nossas escolhas ou do falso moralismo
novamente implícito.
Mas
nada disso importa; todas as mesmices, as bazófias, todas as pieguices e
descabidos, todos esses discursos desastrosos, todas as denúncias serão
fundamentalmente esquecidos, já que eles representam a grande maioria de uma
sociedade que está acostumada a ser dirigida não pelo seu melhor, mas por
aquilo que ela mesma traz no seu cotidiano. Como todos nós, o prazer está em
observar a crise, mas nunca em construir uma sociedade social responsável e
participativa.
Curioso
é que aqueles que tanto difamaram estejam, agora, surpresos com a própria difamação,
mas nenhum dos lados realmente se incomoda em nos jogar na cara a nossa própria
falta de vergonha por permitir um espaço político tão medonho, risonho e até
desprezível, no qual o pior é a regra do dia. Através de suas mesquinhas
discussões populistas perdemos mais uma oportunidade de (re) descobrir o que
realmente somos o que realmente esperamos e o que devemos assumir para
compartilhar com ações e reações efetivas, para não continuarmos passivamente
assistindo a este ridículo teatro mambembe. Ainda que este seja mais fácil do
que realmente construir alguma coisa ou pelo menos assumir alguma
responsabilidade. Pelo menos (mas não todos), sempre podemos nos socorrer dos
canais por assinatura ou apenas desligar a televisão e o rádio! (o que é outra imoralidade
e covardia).
Recorda-me
muito o Paulinho da viola que em seus acordes produziu “Falso Moralista”, fazia
tempo que não acompanhava uma postagem a uma música, mas acho que hoje vou
matar a saudade.
Falso
Moralista – Paulinho da Viola
“Você
condena o que a moçada anda fazendo
e
não aceita o teatro de revista
arte
moderna pra você não vale nada
e
até vedete você diz não ser artista
Você
se julga um tanto bom e até perfeito
Por
qualquer coisa deita logo falação
Mas
eu conheço bem o seu defeito
e
não vou fazer segredo não
Você
é visto toda sexta no Joá
e
não é só no carnaval que vai pros bailes se acabar
Fim
de semana você deixa a companheira
e
no bar com os amigos bebe bem a noite inteira
Segunda-feira
chega na repartição
pede
dispensa para ir ao oculista
e
vai curar sua ressaca simplesmente
Você
não passa de um falso moralista.”
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