Quando
me pedem uma análise rápida sobre cenário tucuju atual, as pessoas se assustam
quando começo com a velha cantilena do Pedro e o lobo, para quem não conhece a
historieta infantil de Sergei Prokofiev é muito simples explicar, já que Pedro
sempre gritava a vinda de um suposto lobo que assustava todos ao seu redor e
cada um corria para se abrigar do lobo feroz que no fim das quantas nunca
aparecia. Talvez por tantos alarmes falsos Pedro tenha perdido a credibilidade
perante os seus, e quando finalmente o lobo resolveu atacar e Pedro gritou sua
vinda, ninguém mais acreditou e o resultado é que todo mundo foi parar na
barriga do lobo.
Basicamente
é assim o cenário atual, afinal todo mundo está sempre muito ocupado resolvendo
coisas indizíveis naquelas eternas reuniões dos funcionários públicos em que
sempre Pedro está gritando a vinda do lobo e sempre se orquestra uma reunião
para falar de Deus ao diabo.
Ora
bolas, reuniões devem ser esporádicas, emergenciais e/ou balancetes anuais. Há
que se trabalhar. Para o povo. Murais, folhetos, folhetins, avisos, papéis –
dezenas de milhares de reais gastos – internamente. Para que? Para um ficar sabendo
da vida do outro colega? Reparem nisso. Em toda repartição pública você nota
dezenas de murais, avisos, ordens, até compra e venda de imóveis. Tudo interno.
Aniversário, casamentos, noivados, batizados...
Porém,
o pior problema são os funcionários públicos de algumas repartições que, por
ser palavra antiga, muito usada no filme “Carnaval na Atlântida”, com Oscarito
e Grande Otelo, prefiro registrar, instituições públicas.
Dia
inteiro em reuniões, cursos, debates internos, encontros, festividades internas...
Tudo em nome da luta contra o câncer da mama, fuga de stress, integração
emocional, luta contra a pressão arterial, contra o fumo, contra a depressão,
cursos de informática, de liderança de grupo, de racionalização dos serviços e,
pasmem, entre tantos outros milhares de encontros internos, a eficiência em
atender ao cliente, ao público que paga de seu próprio bolso tudo isso!
E,
justamente esse público é que fica sem atendimento. Valorizam o funcionário e
se “esquecem” do público, a razão maior de tudo e que até, certa vez, o governo
brasileiro criou um tal de “ministério da desburocratização” que foi um
verdadeiro mistério...
Mudou
tudo. Antigamente (adoro essa palavra) o cliente, o público era o alvo
principal das instituições públicas. Hoje é o funcionário!
Você
entra num banco. Cadê o gerente? Está em reunião sobre como atender bem o
público! Portanto, o público fica mesmo sem atendimento!
Numa
secretaria de Estado, cadê o secretário? Está em reunião. Nunca, em toda a
minha vida, encontrei um secretário de Estado que não estivesse em reunião.
Só
as telefonistas é que nunca estão reunidas. Antes de serem contratadas, recebem
a ordem, por escrito, de falarem, primeiro, que o patrão não está. Depois de
identificado, pede o seu telefone para retornar a ligação, e esta nunca
retorna.
Até
certo ponto acho correta esta última atitude pois é lamentável/paradoxal você
se dirigir a algum órgão público e ficar horas a fio olhando a cara do
funcionário com quem deseja orientar-se – às vezes apenas para saber onde fica
determinada sessão – falando e atendendo as pessoas que ficam telefonando para
ele. Até você se cansar, perder um tempão e ir para casa telefonar para ele, na
certeza absoluta de que, pelo telefone será atendido!
Ou
como faço e passo a ensinar meu público leitor. Sentado à frente do gerente que
não para de atender ao telefone, ligo de meu celular para o telefone dele e
faço a mais absoluta questão de, cara a cara, falar com ele pelo celular.
Mas
talvez o mal maior destas intermináveis reuniões seja o fato de que quando o
chefe maior pergunta como está sendo resolvida determinada situação, o “povo da
reunião” sempre responda: Está tudo a
mil maravilhas!”.
Se
você gestor ouvir isso de sua equipe, pode ter certeza de uma coisa: Pedro está
gritando que o lobo vem e desta vez ele vem mesmo!
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