Quando se vê um discursos de políticos
pedindo o fim do financiamento privado em campanhas eleitorais, tentando jogar
a conta nos bolsos dos contribuintes, ou até mesmo aquele personagem já caricato
por comprar votos falando de probidade, nos questionamos: que moral é essa?
Nossa cultura se baseia na crença
predominante de que a moral surge com o intuito de cristalizar as verdades e
definir as noções de “Certo” e “errado”. Mas quando é cegamente reproduzida,
pode ocasionar efeitos contrários ao seu real objetivo, que seria a convivência
harmônica entre os indivíduos de uma mesma sociedade.
A moral existe. E o indivíduo que
nasce naquela cultura, irá reagir a ela, sendo de acordo em algumas coisas,
desacordo em outras, mas enfim, sempre a partir de algo pré-formulado. Ou seja,
suas atitudes não são ações, são reações, construções.
A incoerência começa a surgir quando
essa reação á moral é baseada na conveniência e não no conhecimento.
É mais ou menos assim: Se trair é
imoral, mas a vontade é grande, eu me lembro daquele conceito machista de que
“homem é assim mesmo” e faço. Depois eu vou ao padre aliviar a minha culpa e
acredito no conceito cristão de que “o importante é se arrepender”.
No entanto, sou capaz de esquecer
rapidamente o machismo, quando chegam as contas e chamo a minha linda esposa
pra dividir. E aproveito pra falar mal dos padres pedófilos, no momento em que
eles me pedem um trocadinho pra mudar a pintura da igreja. E assim, sempre que
eu preciso, eu mudo os meus padrões morais e faço um verdadeiro leque de
conveniência.
Isso é o que chamamos de “falsa
moral”, ou seja, a utilização de justificativas morais para poder cometer
confortavelmente os deslizes e viver de acordo com o que melhor o convém.
A diferença entre o falso moralista
e os demais errantes, é que ele afirma estar dentro dos padrões morais, se acha
muito correto. Além de se sentir no direito de julgar os demais.
Quando na verdade, a moral não
existe pra isso. Ela existe para disciplinar uma dada sociedade, de forma que
as pessoas tenham um padrão de “certo” e “errado” razoáveis para viver bem em
comunidade.
Alguns vão copiar os padrões
ditos “corretos”, outros irão confrontá-los, outros irão propor mudanças que com
o passar do tempo poderão se tornar efetivas, mas todos trabalhando “a partir”
dela e não “a representando”.
Porque o falso moralista, na verdade
se acha o próprio representante da moral, o dono da verdade, mediador entre o
certo e o errado. E isso é utópico, portanto, falso. Porque a moral é um padrão
não uma realidade praticável em sua plenitude. E nem se faz necessário, porque
o próprio exercício de uma conduta moral é subjetivo. Enquanto a moral é
objetiva.
Outra coisa interessante nas pessoas
que seguem cegamente alguns preceitos morais, é que elas têm a sensação de que
aquilo sempre existiu e sempre existirá. Quando na verdade, muitas vezes aquele
preceito nem existia há algumas poucas décadas atrás, ou se existiam, eram
abomináveis. E de repente, passou a ser louvável.
E muitas vezes, uma mesma pessoa,
segue crenças opostas e conflitantes, e acreditam estar tendo uma conduta
retilínea. Na verdade, por si só, aquelas crenças não são coerentes nem
com elas mesmas.
Por exemplo, alguém já viu a venda
um São Francisco de Assis com uma manta caríssima e com detalhes em ouro? E o
pior, uma pessoa que se diz devota comprando? Por acaso a pessoa que produziu e
principalmente, a que está comprando, conhece os ideais franciscanos?
Será que alguém já viu uma mãe
gritando com o filho e pedindo pra que ele faça silencio? E se questionou a
noção de silencio essa criança tem?
O que se vê muito são campanhas
agressivas contra a agressividade, violência para solucionar violências, medos
para evitar perigos, individualismos procurando companhias, saudades de quem
não quer que volte... E são assim as falsas procuras, falsas soluções, baseadas
na falsa moral.
Pensar antes de falar, conhecer
antes de seguir, e fazer silencio na ausência de algo melhor a dizer, faz parte
de uma conduta coerente. Seja ela imoral ou não.
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