Ceium
Secundum é igual aos nossos candidatos ao pleito municipal de 2016. Melhor
dizendo: Nossos candidatos são iguais a Ceium Secundum. Mas afinal, quem é
Ceium Secundum?
Ele
é, antes de tudo, um morto. Ele morreu quase 2000 anos atrás, quando as cinzas
do Vesúvio soterraram Pompéia, em 24 de agosto de 79 DC. Ele é, portanto, um
morto e uma múmia. Além de ser um morto e uma múmia, Ceium Secundum, no momento
da tragédia que matou todos os moradores da cidade, era candidato a um cargo
público.
Quando
os arqueólogos italianos, no século XIX, desenterraram Pompéia, encontraram
alguns de seus cartazes de propaganda eleitoral. Um deles dizia o seguinte:
“Ceium Secundum para
duoviro. Seu pai o apoia! ”
É
nisso que Ceium Secundum e nossos candidatos se assemelham. Tanto um quanto o
outro só possuem um atributo eleitoral: o apoio de quem os gerou. O primeiro
tem o apoio do pai, o segundo tem o apoio de inúmeros padrinhos. Mas até agora
só ouvimos os afilhados, e uma pergunta ecoa por aí nas cabeças dos formadores
de opinião: O que pensam os padrinhos? Afinal se eles nunca falam, nem sobem em
palanques, o que será que eles pensam?
Para
alguns candidatos o que conta mesmo é quem os apoia, quer seja para duoviro,
quer seja para vereador ou prefeito, não importa, pois, nós meros eleitores não
sabemos na verdade o que “eles” pensam.
Mas
se nossos candidatos são iguais a Ceium Secundum, podemos comparar alguns a
Cuspium Pansam. Os cartazes de propaganda eleitoral desse segundo ilustre
desconhecido também resgatados nas ruínas de Pompéia, aludiam exclusivamente à
figura de seu padrinho:
“Cuspium Pansam para
conselheiro.”
Quem
pede para votar nele é Fabius Eupor, o príncipe dos libertinos.
Os
padrinhos de alguns candidatos, em fotos (não mais em cartazes manuscritos como
em Pompéia de 79 DC) pedem para votarmos neles. Na verdade, esses padrinhos,
parece que batizaram seus afilhados na última missa de domingo, pois até antes
disso, nunca tínhamos ouvido falar deles, nem uma única linha de elogio, ne se
quer um rabisco em discurso; nada, nada.
Mas
agora eles surgem, vem pedindo votos, com sorrisos e elogios com uma ternura
secular, num gesto de pura libertinagem eleitoral tentam incutir na cabeça do
incauto eleitor uma intimidade inexistente para com seus afilhados.
Alguns
padrinhos tem um grande senso de oportunidade. Se um sagui é capaz de escolher
o momento certo para entrar pela janela da cozinha e pegar um cacho de bananas,
alguns padrinhos são capazes de escolher o momento certo para atropelar as leis
e apoiar seu afilhado. Assim como Ceium Secundum e Cuspium Pansam, as múmias
pompeianas, esses afilhados sempre se mantiveram à sombra de alguém e não
gratuitamente vão permanecer sob as asas do padrinho.
O
curioso de tudo isso, é que ao longo dos anos, quando conseguem adentrar na
vida pública, esses afilhados trocam de padrinhos, como um motel troca de lençóis
em sexta-feira de pagamento do funcionalismo. Logo no primeiro ano, já os vemos
sob novas legendas, sob novos padrinhos, sob novas ideologias, ou simplesmente atrás
de uma cerca intransponível entre eles e o eleitor.
Vigiai
ó eleitor, vigiai! Pois sobre Ceium Secundum e Cuspium Pansam os pompeianos
nada puderam fazer, pois o Vesúvio explodiu em cinzas ardentes antes das
eleições acontecerem e nos darem no resultado do pleito; qual foi o melhor
padrinho, se o pai de Ceium Secundum ou o príncipe dos libertinos que apoiava Cuspium
Pansam.
Por
aqui pelo Amapá, não temos o velho vulcão, mas uma força muito mais titânica
pode se mostrar mais eficiente contra a eleição de “postes”, “marionetes” e
oportunistas. O “Vesúvio das urnas”, o eleitor amapaense.
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