quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A Banca do Destino

Um dia feriado para se recordar os finados. Não poderia esquecer de postar algo não tão funesto para não enevoar o dia. Assim como não falar de futebol em época de copa do mundo; vamos procurar ser mais criativos e não achincalhar os vivos pelo menos hoje.
Mas vale lembrar que a soberba ainda caminha solta sobre a terra e como não pode faltar, vamos deixar para um finado, morto, falecido; dar o recado do dia. Deixo para meu conterrâneo Billy Blanco, que se foi este ano, em meados de julho, a missão de dar o recado musicado através de uma criativa peça que apesar de ser da “Época da Bossa”, ilustrou muito bem as crônicas de costumes do Rio de Janeiro, nos dourados anos 50. E a lição ainda cabe nos dias de hoje.
Apesar de ser uma espécie de acerto de contas para um relato que Dolores Duran fizera ao compositor, sore um fato preconceituoso ocorrido na década de 50 no beco das garrafas lá em Copacabana. 
Havia um homem que ia aos shows de Dolores por que gostava muito dela, porém odiava negros e Dolores era negra.
O “Doutor” ia ao show todas as noites, sentava-se a primeira fila de mesas, mas sempre de costas para o palco. Não dirigia uma única palavra a ela por que não falava com negros, sequer a olhava! Quando queria uma música, dirigia-se ao garçom com um bilhetinho na mão: “Manda a neguinha cantar esta aqui!”
Profissional paciente era Dolores, que sempre atendia aos pedidos do “Doutor”. Um dia muito aborrecida com a grosseria do sujeito pedante, contou a história a Billy, que de imediato compôs o samba “A Banca do Distinto” para na noite seguinte, Dolores lavar a sua honra e cantar o samba ao sujeito:
Não fala com pobre
Não dá mão a preto
Não carrega embrulho
Prá quê tanta pose, doutor?
Prá quê esse orgulho?
A bruxa que é cega
Que carrega a gente
E a vida estanca
O infarto lhe pega, doutor
E acaba essa banca
A vaidade é assim
Põe o homem no alto
E retira a escada
Mas fica por perto
Esperando sentada
Mais cedo ou mais tarde
Ele acaba no chão
Mais alto o coqueiro
Maior é o tombo do côco
Afinal, todo mundo é igual
Quando o tombo termina
Com terra por cima
E na horizontal.
Sábias palavras para o caminho de todos nós...

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