segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A difícil arte de copiar o filho de Deus

Jesus foi um visionário em tudo o que fez durante as mais de três décadas que passou na terra, tentando de alguma forma, mudar o mundo. Talvez na ânsia de fazer o ditado: “uma andorinha só não faz verão” nunca existir; tentou de muitas formas nos ensinar como é realmente ser humano em todos os sentidos e que não há corrupção que a vaidade não leve.
Sem dúvida dois dos seus ensinamentos mais difíceis, segundo a minha concepção, relatados pelos evangelhos; seriam os que retrato neste texto. A comunhão entre todos os mandamentos de Deus dados a Moisés e relatados no êxodo, sendo: “Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo” e o que diz: “Ofereça a outra face”.
Mais difícil não é amar a Deus, afinal crescemos na cultura da imagem de um Deus punitivo, vingador, que basicamente interfere em nossas vidas a ponto de olhar somente nossas falhas e castiga-las com fogo e medo. Da mesma maneira que nos é pintado que quando agimos de acordo com os mandamentos, agradamos a Deus e não fazemos mais do que nossa obrigação, em retribuição a criação.
Sempre assim, perpetua-se esta imagem, de pai para filho, a ideia do Deus que castiga, Deus que não perdoa, Deus que manda para o inferno... Sendo assim como poderíamos amar um ser tão ditoso em virtudes e tão cruel em piedade a ponto de nos pedir para amá-lo acima de tudo e ainda oferecer seu filho como holocausto as dores do mundo. Seria no mínimo dicotômico contar com um Deus que não sentisse que sua criação é mais do que um rato de biotério, adestrado aos botões prazer-alimento.
Amar a Deus sobre todas as coisas é uma missão bem espinhosa, afinal, desapegar-se das coisas do mundo é tão difícil para quem nasceu rodeado delas. Temos um medo profundo de nos livrar de coisas que podemos precisar em um futuro que não sabemos quando, mas que o instinto pede. Assim como os bens e o dinheiro, que em nossa sociedade é quase impossível existir sem a aceitação de que estes bens são necessários à manutenção da vida. Como que há dois mil anos as coisas eram perdulárias em uma sociedade também perdulária.
Mas amar a Deus sobre todas as coisas ainda é possível. Basta crer, não duvidar, e até mesmo se espelhar nas mazelas de Jó. Mas para isso é necessário que tenhamos o estomago para aceitar as perdas que virão nesta busca em atender a vontade do Pai.
Sem dúvida, amar é fácil, mas perdoar é mais difícil, afinal amar requer apenas o objeto do sentimento, a dedicação e o empenho para amar e tentar ter a retribuição deste amor. Mas perdoar, consentir, esquecer algo que nos fere de morte, é bem mais difícil, afinal a dor física que a ofensa nos causa é bem mais profunda, pois carrega no bojo, o rancor, a mágoa, o ódio e o ressentimento. Amar é fácil, já perdoar...
Tentar se deve, a todo custo converter o mal do ódio em pelo menos na aceitação do erro alheio e a busca do perdão. Jesus devia saber muito bem do que estava falando quando preconizou o perdão e o amor. Mas você deve pensar: - Para ele é fácil, ele é o filho de Deus! Mas e nós também não somos?
Nossa única diferença é termos sido criados por Deus, para amá-lo e amarmo-nos como Ele assim nos ama. Já o Ungido, é o fruto da materialização do Espírito Santo de Deus e sua personificação em carne, nos remete ao ato da criação filial. O Cristo também não sabia o que lhe aguardava até que lhe fosse revelado no Monte das Oliveiras seu destino final e mesmo assim em sua humanidade Ele ainda se deteve diante do Pai e pediu que se fosse possível lhe afastasse o cálice de tanto sofrimento e dor.
Mas a lição vem logo a seguir, quando se reconforta com a vontade do Pai ser realizada e não a Dele próprio. Assim vem o perdão, assim vem a oferta da outra face e, por conseguinte a fusão do amar a Deus sobre tudo e ao próximo como a si mesmo  e ainda assim oferecer a outra face à humanidade que já esbofeteara uma face antes.
Como um pré-doutor que oferece sua tese, defende e comprova sua aplicabilidade, Ele nos mostra que seus ensinamentos cabem à realidade e assim são possíveis em tempos bem distintos de vinte séculos de distancia. Mesmo eu que ainda depois de ter aprendido a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a mim mesmo. Ainda luto diariamente para aprender a dar o perdão e oferecer a outra face, mesmo que isso me custe a própria vida. Mas sou humano, vou continuar tentando...

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