quinta-feira, 24 de maio de 2012

E na França havia fifi...


Não entendo esse frisson todo em cima da chegada de François Hollande à presidência da França. Afinal o governo deve se alternar em comando, por ideologias e partidos. Isso é saudável, me recorda até mesmo Eça de Queiroz quando diz que fraldas e políticos devem ser trocados constantemente pelo mesmo motivo. Vejo como uma mudança salutar a saída de Nicolas Sarkozy do poder após um mandato meio truculento e cheio de altos e baixos durante os cinco anos em que dormiu no Eliseu.

Sarkozy prometeu uma nova França, apesar de ser uma promessa bem difícil de cumprir, pois apesar da bimilenar existência a França não vive nas trevas e nem necessita de modernismos que não os que já passaram por lá desde a queda da Bastilha. O resto mostra que a França já viu mais ou menos tudo o que poderia ser visto, sem novidades, como a descoberta da pólvora proposta pelo marido de Carla Bruni.

Muito nos ensina que nestas promessas de mudança, feitas aqui no reino tucujú ou na elitista França, o resultado final mostra que as coisas continuam muito parecidas com as de anos atrás, nem bom, nem ruim e nem o milagroso futuro dourado. E ao que tudo indica tanto o Amapá quanto a França vão continuar incólumes a promessas feitas em pré e pós eleições.


Mas o que me surpreende é que após as eleições, mesmo depois da luta ferrenha entre direita e esquerda, na segunda feira pela manhã tanto a França quanto o Amapá continuavam os mesmos da véspera. Nenhum cogumelo nuclear, nenhuma virulência e nem mesmo uma praga bíblica para dar vazão às previsões do fim dos mundos; franco e tucuju.

Vivi na França de François Mitterrand e de Jacques Chirac, até respirei o ar impregnado do socialismo de proveta regurgitado por Lionel Jospin, assim como também sobrevivi ao governo de pai e agora filho da dinastia Capiberibe. O suficiente para ver e ouvir a mesma cantilena que os políticos dizem sobre o que a mídia querer explicar como o mundo deve funcionar, tentando mostrar a verdade da razão assim como tentar adivinhar o próximo realinhamento planetário, para no fim de tudo demonizar a imprensa.

Vi a politica segregacionista e xenófoba de Sarkozy de perto e com a mesma credulidade com que vejo as pregações apocalípticas de Hollande ou os lamentos do Jovem Capiberibe sobre um estado devastado e estéril que insiste em sonhar com a ponte milagrosa sobre o rio Oiapoque. 

Comparar os dois reinos é quase uma heresia de minha parte, afinal na França os problemas são bem mais cosmopolitas do que os nossos bucólicos problemas domésticos tucujus. Mesmo com a crise europeia, a França ainda é um dos países mais bem sucedidos do mundo. Enquanto nós protegemos nossos cordões e carteiras, os franceses mal sabem o que é um assalto á mão armada ou um arrastão de rua.

Dentre as condições de infraestrutura da qual desfrutam os mais de 65 milhões de franceses, estão um PIB per capta maior que 40 mil dólares por ano. Os transportes estruturados, que não deixam passageiros abandonados pelas paradas inexistentes ou que os proprietários de veículos não fazem ideia do que seja uma cratera viária nos mais de onze mil quilômetros de estradas francesas.

Com um aproveitamento produtivo inegável, soube usar com eficiência o espaço para produção em um território 94% menor que o disponível pelos brasileiros. E enquanto nos batemos por um aumento de 5 ou 7 % em nossos parcos R$ 622 de salário mínimo as classes que dependem desse provento já evoluíram ha mais de um século.

Em suma, comparar os problemas da Europa ou até mesmo da França em particular aos nossos é de uma temeridade bem estranha, mas muito ouvida na teoria por socialistas históricos e pelo jeito moucos. Pois simplesmente pelo regime socialista trazer alguma semelhança em seu DNA, fato que eu particularmente desaprovo, pois as ideias de um sujeito que nunca empunhou uma arma e a caminhada maior que fez na vida foi a do caminho da biblioteca pública de Londres para sua casa, fazem de Marx uma leitura incompreendida assim como Maomé.

Mas o grande desafio dos socialistas aliados a Hollande, talvez sejam os mesmos que enfrentamos aqui pelos trópicos, afinal o desemprego é um monstro que ainda devora muito mais que o demônio da inflação, que por aqui parece estar exorcizado e no claustro sob forte cadeado. Mas os franceses devem ter poucos problemas por enquanto com a imigração ilegal dos “pobres do mundo” como costumava alcunhar Sarkozy.

A França ao contrario do Brasil, tem a sorte de não necessitar de seus políticos para conservar tudo aquilo o que conquistou e soube construir desde que cabeças rolaram por Paris. Mas algo é certo, como a morte e o pagamento de impostos. A politica continua a fazer as cabeças girarem com promessas de salvação ou de danação, dependem do santo padroeiro, mas será que somos muitos, de direita, de esquerda, os presbiterianos, os socialistas, os ecologistas e tantos outros para nos dar ao luxo de nos dilacerar e enfrentar de forma dispersa os donos de um poder insensível à nossa razão de viver?

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